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Resposta to "O Ultimo Panther"

Fuga do Kessel

Dizer que não estávamos sozinhos no Kessel seria uma subavaliação terrível. O Kessel consistia de toda a Floresta Spree, a Leste de uma pequena cidade chamada Halbe, que era um lugar que eu nunca tinha ouvido falar antes, mas nunca serei capaz de esquecer. O Spree continha antigos bosques de carvalhos, pinheiros e vidoeiros que se estendiam por uns 30km de leste a oeste, pontuada por pequenos lagos, charnecas e  canais escavados para quebrar incêndio florestal, onde nenhuma árvore cresce. Toda esta área estava viva, cheia com as pessoas, com dezenas de milhares de pessoas.

As trilhas da floresta  e seus caminhos de terra foram dimensionados para pequenas carroças e deslocamentos a pé e não para um exército de gente andando, mancando, dirigindo e caminhando para o oeste.  Muitos eram soldados, de todos os escalões, insígnias e uniformes, incluindo a Wehrmacht, Waffen SS e Volkssturm (força de defesa civil), todos misturados.

 Os homens da Volkssturm estavam vestidos com roupas civis, com Panzerfausts (bazucas de um único tiro) e sub-metralhadoras fabricadas especificamente para o seu uso.

Muitos estavam feridos e se deslocavam com muletas ou viajavam subindo em qualquer veículo que os aceitassem, podia ser um panzer, caminhão ou carroça puxada a cavalo.

 Os homens dormiam nos decks dos panzers rastejando lentamente ao longo das estradas, ou sentados sobre as torres,  para-lamas ou nos próprios canos das armas, suas cabeças balançando enquanto dormiam em pé, muitos eram civis, homens idosos, mulheres de todas as idades e crianças, todas misturadas com as tropas, cavalgando ou implorando por lugares ao lado dos soldados.

Alguns dos civis estavam armados com espingardas, pistolas ou fuzis militares, e caminhavam quase como tropas, com apenas mochilas e suas armas. Outros estavam tentando mover seus pertences em carrinhos de mão ou vagões puxados por cavalos ou bois. Alguns refugiados  traziam seus animais com eles, e não era incomum que tivéssemos que descer do Panther para limpar o caminho de um amontoado de vacas, porcos ou cabras sendo dirigido por um Velho fazendeiro com uma vara. 

Atrás dos nossos dois Panthers sobreviventes, os King Tigers da Waffen SS davam carona apenas para os homens da SS, dezenas de homens em cada panzer, seus uniformes de camuflagem mesclando bem contra a folhagem e luz refletidas.

Nesta faixa estreita, cheia de obstáculos e veículos abandonados, o nosso progresso foi agonizante e lento, e vimos coisas terríveis à medida que avançávamos entre os carvalhos. Várias vezes, aviões soviéticos voaram sobre o dossel das árvore, disparando aleatoriamente sobre o chão da floresta, evidentemente não se importando se atingiram qualquer coisa, ou sobre o que foi alcançado. Em um destes ataques o avião russo enviou uma salva de balas traçantes de canhão rasgando diagonalmente através dos galhos das árvores, arrancando ramos pesados e incendiando-os. Um ramo de árvore caiu sobre uma família empurrando um carrinho de mão,  uma mãe, avó e filhos, matando as duas mulheres.  Seus corpos foram deixados no mato e as atordoadas crianças tiraram alguns pertences do carrinho e simplesmente começaram a andar  logo desaparecendo na coluna de pessoas a pé.

 Foguetes Katyusha também explodiam nas árvores, os estilhaços chovendo sobre nós junto com lascas de madeira das árvores que rasgavam as pessoas aboletadas sobre os veículos.

A mulher civil agindo como minha guia, que estava de pé no deck traseiro do meu Panther foi atingida no braço por uma tal lasca, e eu dei-lhe uma bandagem de nosso pacote de primeiros socorros.  Ela se endireitou com os dentes cerrados, os olhos cheios de lágrimas.  Em um ponto, à tarde, paramos para adicionar óleo aos motores e permitir que os motores parados esfriassem pois a baixa velocidade e várias horas de funcionamento causavam superaquecimento de forma perigosa. Nós orientado nossos dois  Panthers para saíram da pista e estacionarem entre as árvores.  Com os motores dos Panther desligados, o metal ressoou enquanto se contraía, e a grande unidade do motor Maybach assobiava e estalava. Os King Tigers pararam ao lado de nós, seus motores emitindo fumaça e calor. Os tripulantes abriram as grelhas do motor para permitir o arrefecimento.  Os motores dos Panther e Tiger eram de desenho semelhante, uma unidade motora, uma sólida caixa de aço blindado, com os radiadores em caixas de aço separadas em ambos os lados.  Isto foi assim projetado para dar proteção contra a água se o panzer tivesse que vadear um rio, eram poucas as pontes que podiam suportar o peso de quarenta e oito toneladas do Panther ou as quase 70 ton. do King Tiger. Mas este projeto de proteção fez com que a unidade se superaquecesse facilmente em seu caixão de aço, e os incêndios de motores eram um problema comum após várias horas em funcionamento contínuo.

Nós despejamos a última reserva de nosso óleo, então dissemos à nossa infantaria acompanhante que pararíamos por uma hora. Aproveitamos a oportunidade para verificar os nossos links de lagartas e equipamentos de rodagem.  Enquanto a infantaria se esparramava no chão da floresta entre as folhas e árvores, na borda dela alguns dos homens estavam investigando um carro estacionado, um luxuoso Horsch de uso pessoal, do tipo utilizado por oficiais superiores. Eles nos chamaram para ver o que tinham encontrado.  No lugar do motorista, um oficial da SS estava sentado, olhando através do vidro, a cabeça encostada na porta. Ele atirou com sua pistola na própria cabeça, na têmpora, muito recentemente pois o sangue ainda escorria de sua cabeça,  ao lado dele, uma mulher em roupas civis, um elegante vestido de verão e chapéu, também estava morta, com as mãos entrelaçadas no colo, os olhos fechados e um cigarro entre os lábios.

As SS estavam agora aterrorizadas pelos vermelhos.  Após os anos de Rússia, a política de não tomar prisioneiros, as SS tinham uma conta a ajustar, os vermelhos não lhes mostrariam nenhuma misericórdia. E por que os bolchevistas deveriam mostrar misericórdia afinal?  Era muito melhor para um homem da SS morrer com uma bala na cabeça do que cair nas mãos dos vingativos soviéticos.   Não havia nada a ser feito sobre esses dois corpos no carro Horsch. Nós aproveitamos para sifonar fora de seu tanque de gasolina o conteúdo que estava quase cheio, e compartilhamos com os outros blindados.  As sombras estavam se alongando quando nos afastávamos novamente.

 A floresta tinha assim muita vida, e também muita morte, e cada ângulo de pista revelava nova confusão e sofrimentos. Civis a pé nos chamavam perguntando sempre que caminho eles deveriam tomar e implorando para uma chance de subir nos panzers.  Alguns seguravam seus filhos para nós mostrando-nos como esgotado e doente eles estavam, dizendo-nos como eles vinham  a pé andando há mais de cem ou duzentos quilômetros do leste. Não podíamos fazer nada para ajudar essas pessoas e às vezes nosso artilheiro tinha que usar uma pá para bater e expulsar de volta os homens civis que tentavam escalar nosso casco.

À medida que a noite se aproximava, minha guia civil alertou-me  que havia mais três ou quatro quilômetros restantes antes de alcançarmos a área central da floresta.

- Teremos que ter cuidado lá, acrescentou.   "Nós?", Perguntei a ela.        - Suponho que posso ficar no seu panzer - disse ela. "Eu fui útil para sua unidade”

- Como está o seu braço?   'Doi muito.'                                                                             - Gostaria de ter morfina para lhe dar.                                                                             - Você não tem nenhum em sua bolsa médica? Meu braço está muito dolorido agora.                                                                                                                                      - Você me dá morfina, Herr Feldwebel?                                                                     Sinto muito mas usamos tudo madame.                                                                            - "Eu não acredito em você," ela sibilou, segurando seu braço. "Acho que você está guardando para vocês mesmos”.

Eu não disse nada, mas como o meu Panther roncou e se dirigiu para outra parada, em uma junção de três estradas entupidas com carrinhos e até um ônibus civil repleto de feridos, eu pude olha-la com cuidado pela primeira vez. Ela tinha talvez uns quarenta anos de idade, com olhos cinza claros que ardiam de indignação.                                                                                                                                  - Só um pouco de morfina - repetiu ela. 'Por favor.'                                                   Na frente de nosso tanque um carrinho de ambulância estava preso, seu cavalo desmoronando com as pernas dianteiras afundando na lama em exaustão, as tropas feridas no vagão gritavam para as pessoas que passavam ao lado.              - Eu usei a última morfina da minha equipe panzer há dois dias - eu disse. 'Um dos meus homens foi atingido por estilhaços nos rins. Levou três dias para morrer, mas mantivemos ele sem sentir dor durante o tempo que pudemos. Quando nossa morfina acabou, ele me implorou para atirar nele.                                                   Ela enxugou o nariz com a mão, evidentemente resignada.                                        - E você atirou nele?                                                                                                            - Sim, eu atirei nele na cabeça. Espero que alguém faça isso comigo se eu estiver nessa condição, mas escute, eu vou encontrar-lhe alguma morfina ao longo da estrada aqui em algum lugar, você tem sido útil e nos ajudou.

Os sons da batalha eram altos ao sul e ao leste, e parecia que os russos estavam investigando nossas forças e nos desgastando.  Soldados da Infantaria correram vindo dos perímetros, gritando que os vermelhos estavam forçando sua entrada no Kessel  em grupos de dois ou três blindados.  As árvores começaram a se enrugar levemente, e em intervalos era possível perceber os aviões soviéticos que moviam sobre as copas das árvores contra o azul do céu. Rodamos o mais próximo das folhagens para esconder nossos cascos e torres, e de olho no céu para seguir os aviões atacantes. Numa clareira exposta entre as árvores, encontramos uma unidade de três magníficos Jagdpanzers  - destruidores de tanque de chassi baixo sobre a plataforma do Panzer IV, uma arma excelente,  e  paramos atrás deles enquanto eles paravam próximo a borda de uma clareira, olhando os céus antes de arriscarem avançar para o outro lado da floresta.

 O segundo veículo parou, acelerou e fez o mesmo, correndo através da borda.  O Jagdpanzer  levou muito tempo para verificar o céu,  até que nossas tropas começaram a gritar para ele se mover ou sair do caminho. Seu comandante ignorou os gritos, até finalmente decidir por mover-se.    Assim que o veículo baixo e atarracado se precipitou pela clareira, as formas de aviões Sturmoviks rasgou sobre nós suas sombras enchendo a estrada. O Jagdpanzer acelerou, comprometido agora a chegar até as árvores mais densas, já estava a meio caminho quando uma salva de foguetes voou esmagando galhos e árvores atingindo o Jagdpanzer diretamente em seu flanco.   A máquina levantou-se no ar, caiu sobre suas lagartas e perdeu o controle. Com a fumaça saindo de suas grelhas, desviou-se para o lado das árvores ao lado da estrada, derrubando várias em seu momentum e inclinando para seu lado. As árvores balançaram e caíram ao chão, e isso expôs o trecho de estrada mais brutalmente, dando aos pilotos vermelhos uma visão mais clara do que estava lá embaixo na floresta.  Chamas saíram do motor do Jagdpanzer quando ele parou em um redemoinho de lascas de madeira que foram atirados para todos os lados quando bateu de frente nas árvores.  As pessoas que se juntaram ao lado do meu Panther e se preparavam para começar a correr para a parte mais densa do outro lado da floresta, depois do que viram se afastaram de nós, longe do alvo dos Sturmoviks. Somente a mulher civil permaneceu, agarrando-se ao deck traseiro, aparentemente demasiado temerosa para mover-se.  Examinei o céu a procura dos aviões e não vi ou ouvi nenhum,  e disse ao meu motorista para dirigir como o diabo através da clareira. Era um risco  mas seria mais arriscado ficar onde estávamos, com a cobertura das árvores quebradas e o Jagdpanzer em chamas para marcar o alvo.  Entrei na torre e fechei a escotilha, e meu motorista nos colocou em movimento com uma força que Jogou-me contra a parede traseira. Através dos periscópios vi a as árvores ardendo junto ao panzer incendiado, com um tripulante tentando arrastar-se para fora da escotilha, o seu torso inteiro em chamas. Então a estrada à nossa frente iluminou-se com foguetes explodindo, que rasgou a terra e as árvores, e enviou uma barragem de estilhaços sobre o panzer, os estilhaços martelando nosso casco enquanto  atravessamos a fumaça das explosões. Os panzers atrás de nós não demoraram em fazer seu movimento, e em um minuto, ambos os nossos Panthers e os dois King Tigers estavam avançando em frente e para a segurança da cobertura de árvore mais espessa. Depois de alguma distância, fizemos uma pausa, e abri minha escotilha subindo para avaliar o estado do meu tanque. Em torno de nós, nossas tropas e civis lentamente foram se juntando, tendo corrido atrás de nós através das árvores.  No convés do meu tanque a mulher civil estava deitada de costas.  As grelhas do motor, as roupas enegrecidas pelos vapores de óleo e despedaçadas pelos estilhaços dos foguetes que explodiram sobre nós.

Seus olhos estavam abertos e ela ainda estava respirando, mas o ar estava escapando de suas feridas no peito em longos sons sibilantes pelos buracos em seu pulmão.   Eu a levantei e passei-a para os civis no terreno. O movimento causou-lhe muita dor, e ela chorou suavemente, com os olhos rolando para trás junto com sua cabeça. O Capo veio e ficou ao meu lado, suas mãos em seus quadris.

- Temos que seguir em frente - disse ele, olhando para a mulher. - Os Jabos estão em toda parte.                                                                                                                       - Prometi encontrar para essa mulher morfina - disse eu. - E não temos mais nada.  Mas ela está morrendo!...                                                                                       - Ela nos ajudou a encontrar o caminho. Ela foi útil para nós.                                    O Capo suspirou e pediu o kit médico de seu próprio tanque. Ele pegou uma ampola de morfina, e injetou em seu braço. A mulher gemeu, e abriu os olhos a medida que o anestésico fazia efeito.   Suas mãos se atrapalharam e ela retirou do bolso uma fotografia que ela empurrou para mim. Eu peguei e a mulher ficou quieta. Imaginei que sua morte estava próxima, talvez mais dez ou vinte minutos . Pelo menos estava sonhando.    Olhei para a foto que ela tinha me dado, mostrava uma jovem de dezoito ou vinte anos, a semelhança com a moribunda sugerindo que era sua filha ou talvez ela mesma mais jovem.

 Eu franzi o cenho e coloquei a foto no bolso da túnica enquanto mais aviões rugiam acima das árvores e a estrada que tínhamos acabado de passar explodia sob as rajadas de tiros e foguetes explodindo com chamas alaranjadas.  Esqueci-me da fotografia até muito mais tarde.

Mais adiante ao longo da pista, a estrada primitiva estava marcada com crateras de bombardeio, e nosso progresso foi retardado com as manobras que tivemos de fazer para evitar as crateras.  Em muitos casos, as crateras estavam sendo cobertas com pranchas e troncos, sendo o trabalho feito pelos homens condenados que chamamos Hiwis.  Os Hiwis eram os Hilfswilliger: os "Ajudantes voluntários". Estes eram soviéticos capturados que se renderam  às nossas forças nos bons anos de 1941 e 1942, quando parecia a todos que o rolo compressor alemão esmagaria a Rússia bolchevista. Estes homens foram confrontados com campos de prisioneiros que consistiam em grandes quadrados de arame farpado, sem telhado, sem tendas, sem abrigo de qualquer tipo. Nenhum alimento, exceto as ervas daninhas, e nenhuma água exceto a da chuva. Quantos morreram nesses campos enquanto nossos guardas viam através do arame farpado os vermelhos se matarem para comer os cadáveres crus?  Os Hiwis se haviam oferecido para ajudar os exércitos alemães e sair desse inferno trabalhando para nós como auxiliares, motoristas e em outros papéis desarmados.  Sua recompensa foi manterem-se vivos, comer uma ração todos os dias e ter um cobertor à noite. Depois de Kursk em 1943, os soldados vermelhos tornaram-se menos propensos a render-se, e os que o fizeram relutaram em trabalhar para nós. Eles nos disseram que a pena por serem capturados era que suas famílias seriam enviadas para um Gulag no Ártico.

Agora os Hiwis no território alemão estavam  entre duas forças esmagadoras.   Se eles parassem de nos ajudar não teriam mais valor e sua punição seria uma bala ou a forca. Seu único consolo era que o os russos não sabiam quem eles eram e assim suas famílias estavam seguras. Mas se eles fossem capturados pelos russos, suas identidades eventualmente seriam descobertas e ambos os Hiwis e suas famílias seriam condenados à morte. O que um homem pode fazer em tal situação diante de tal escolha? Alguns hiwis se mataram enquanto outros continuaram a cooperar com as nossas tropas esperando que desse modo pudessem evitar seu destino inevitável. Seus rostos estavam encovados, máscaras de estresse e medo, e seu trabalho era o trabalho de homens condenados, sombrios e metódicos.

Encontramos uma turma de Hiwis, que era de dez em número; Homens vestindo uma mistura esfarrapada de uniformes russos e alemães e roupas civis. Esses homens tinham evidentemente sobrevivido há anos de seu papel, e eram magros, com olhos ocos e cabeças rapadas. Eles estavam puxando um PAK 75mm à mão fora de uma cratera de bomba com a equipe de artilheiros  simplesmente olhando. O trator estava em uma vala ao lado da estrada, seu motor despejando fumaça. Enquanto passávamos, outro grupo de  infantes passava gritando um aviso que os vermelhos estavam perto.  De repente as árvores à nossa esquerda foram destruídas e, quando caíram, vimos o verde focinho de um T-34 empurrando as árvores a sua frente  a apenas cinqüenta metros de distância.   Um pelotão de infantaria vermelha também vinha atrás, trepando sobre os troncos caídos para chegar até nós. Houve gritos dos civis nas proximidades pois, depois de tantos anos de ouvir sobre as bestas vermelhas,  as próprias bestas apareceram de repente em carne e osso.

O Hiwis imediatamente mergulharam na cratera da bomba, deixando a arma PAK cair sobre a borda e os artilheiros correram para pegar seus fuzis e metralhadoras.  Fui para a torre, ordenei que o meu tanque parasse e atirasse nos vermelhos assim que o artilheiro pudesse. Suamos nessa corrida de vida ou de morte para ver quem seria o primeiro a dar o tiro.

 Em duelos de blindados o tiro inicial é freqüentemente  o decisivo, mesmo que não destrua o veículo inimigo ele pode danificar as lagartas ou a concussão atribular a tripulação e com isso ganha-se preciosos segundos para um segundo tiro.  A melhor tática é usar uma combinação de manobra sobre a pista para alinhar o casco para o tanque inimigo ao mesmo tempo que se vira a torre para apontar, a torre é acionada pelo sistema hidráulico sob controle do artilheiro.     É uma estranheza dos nossos Panthers que somente o artilheiro poderia manobrar o canhão,  o comandante não tinha pedais de travagem e controle próprios, e haja fôlego, cada segundo enquanto o artilheiro girava a grande torre a esquerda ou a direita com o rosto fixo no acolchoado da mira da arma parecia uma eternidade, o artilheiro era o homem mais importante na batalha. A torreta do Panther girou lentamente, mas a nossa vantagem já era maior, o T-34 ainda estava avançando sobre as árvores desabadas em nossa direção.

Nosso tiro soou, a traçante voou em sua trajetória vermelha  e naquele intervalo nosso 75mm varou diretamente através da torre do T-34, abaixo do mantelete do canhão. Através do meu periscópio eu vi o tanque vermelho sacudir com o impacto e a máquina caiu contra um carvalho arrancando-a.  A infantaria vermelha espalhou-se ao redor do tanque atingido e sem hesitação,  mesmo quando a torre do T-34 explodiu para fora do casco em uma coluna de chamas e fumaça, caindo sobre vários soldados de infantaria quando ele atingiu o chão - mesmo assim, eles continuaram a avançar contra nós.  Disparamos a metralhadora frontal derrubando muitos dos vermelhos, e ao mesmo tempo meu artilheiro estava avistando o segundo T-34 que vinha de entre as árvores destruídas em sua ânsia de chegar até nós.

 À medida que seu casco se elevava por sobre as árvores caídas, disparamos em sua barriga exposta, mas o nosso tiro foi muito alto e o blindado caiu horizontalmente novamente,  nosso tiro conseguiu apenas ricochetear na blindagem dianteira inclinada em uma nuvem de estilhaços de metal.

Meu artilheiro amaldiçoou, e meu carregador trabalhava como o diabo para municiar e preparar a próxima salva fechando o bloco atrás do obus, mas logo que ele fechou o bloco de culatra, aquele segundo T-34 abriu fogo em cima de nós. Eu esperava receber um obus perfurante ou alto explosivo destinado a arrancar as nossas lagartas mas o que estourou da torre do T-34 foi um longo jorro de líquido ardente, uma torrente de fogo que brotava através das árvores em nossa direção, os salpicos de fogo respingando sobre a  infantaria vermelha enquanto ele se mexia para se posicionar, e incendiando os homens.  Os camaradas dos homens incendiados não fizeram qualquer tentativa de ajudá-los enquanto queimavam. Este T-34 era um Flammpanzer (lança-chamas) equipado com um projetor de líquido incendiário.  Sua aparência se assemelhava a uma arma normal, e sua explosão de chama causou tanta fumaça que era impossível durante alguns segundos ver o próprio veículo. Meu artilheiro murmurou para si mesmo, seu rosto pressionado contra a mira da arma, fazendo estimativas de onde a máquina iria sair da fumaça, e percorrendo uma fração de segundos para colocar o seu tiro lá. Eu disse ao municiador para carregar um obus de alto explosivo, com a intenção de atingir o blindado lança-chamas e soprar a chama de volta ao seu próprio lançador. À nossa direita, a infantaria vermelha trocava tiros com a equipe de artilheiros da PAK e um esquadrão de tropas alemãs que saíram da floresta , mas dos milhares que deviam estar escondidos nas proximidades das árvores, apenas cerca de cinqüenta homens se aproximaram prontos para defender o Kessel.

Quando olhei pelo periscópio através da fumaça, o Flammpanzer surgiu fora das chamas e carregava sobre nós jorrando uma nova linha de líquido incendiário que  voou descontroladamente pela floresta enquanto o blindado se balançava entre as árvores. Eu sabia que se o líquido atingisse nossa grelha traseira as chamas imediatamente entrariam pelo motor causando uma explosão. Nós seriamos reduzidos a cinzas se não pudéssemos escapar do tanque a tempo. Já eu podia sentir o cheiro do combustível incendiário russo, e mesmo senti o calor intenso de sua chama, mesmo através da nossa placa de blindagem.

Nosso tiro foi disparado as pressas e atingiu o canto da torre do T-34, olhando pelo periscópio vi o tiro que atingiu obliquamente a torre ricochetear sem penetrar  e resvalar nas árvores.  O Flammpanzer correu para a frente ao mesmo tempo apontando em nossa direção sua torre para esguichar seu fogo diretamente sobre nós,  elevando seu tubo para certificar-se de que suas chamas viriam abaixo sobre nós. O comandante vermelho não teve essa chance. Nosso tiro seguinte com munição alto-explosiva atingi-o na frente de sua torre e como eu esperava a detonação arrancou o cano, o projetor de chamas, enviando-o girando na direção das árvores, arrastando uma linha de chamas. O líquido inflamado começou a jorrar do mantelete da torre em cascata para baixo e para a frente do casco, com o T-34 dando marcha a ré para escapar-nos, nós aproveitamos para enviar-lhe mais uma salva de alto-explosivo no mesmo lugar.

O efeito foi imediato. O artilheiro inimigo deve ter desligado o líquido do reservatório de combustível para o seu lança-chamas porque a escotilha da torre abriu e uma explosão vertical de fogo disparou pelo ar. Todos nós da tripulação do Panther murmuramos agradecidos que este destino era deles e não o nosso. A explosão dentro do casco apertado do T-34 com toda a quantidade de combustível foi tal que enviou a torre em chamas a trinta ou quarenta metros de altura. Segundos depois as chamas caíram sobre o blindado e ele foi envolto em seu próprio fogo, encravado entre as árvores em chamas enviando espirais de destroços para a floresta,

A batalha ainda não havia terminado. Os soldados de infantaria vermelhos, vendo seus blindados destruídos começaram a recuar, mas mantiveram uma barragem de fogo de metralhadora em nossas tropas...  Eu vi que passando pela cratera da bomba com a arma PAK empoleirada em seu canto, os vermelhos gritaram e gesticularam em triunfo ao descobrir a quadrilha dos homens Hiwis abrigados lá dentro, desarmados. Nossas tropas começaram a responder ao fogo mas timidamente,  talvez conservando suas preciosas munições, mas também eu suspeitei enquanto observava, que não havia vontade de deter os russos e todos olhavam esperando para ver o que os russos fariam com seus compatriotas na cratera.

 Eu abri a escotilha o suficiente para olhar ao redor,  não vi mais blindados inimigos aproximando-se de qualquer direção. O Flammpanzer ainda estava em erupção em chamas alaranjadas.  Também  vi que os russos estavam cercando a cratera, colocando granadas no cano da arma PAK para desativá-lo, e disparando suas sub-metralhadoras para baixo na cova.  Eu podia ver os corpos dos Hiwis tremendo rasgados pelas balas disparadas por seus compatriotas. Gritei para alguns dos nossos da infantaria no chão, interpelei mesmo um jovem Feldwebel para disparar contra os vermelhos e salvar os Hiwis, mas era tarde demais. Sua tarefa estava completa, a infantaria vermelha correu de volta para as árvores em direção a suas próprias linhas, gritando em russo e gesticulando...

Last edited by Wolf
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