Tópico 23
Em várias ocasiões, os engenheiros tinham que subir nos troncos se expondo imensamente aos alemães que estavam na parte mais elevada da praia. "Homens se penduravam nas estacas e se apoiavam nos ombros de outros, tudo diante do intenso fogo inimigo" contou o Tenente Comandante Joseph Gibbons, líder da seção naval das Equipes de Assalto e Penetração em uma entrevista três meses depois do Dia D. O preço do sucesso foi considerável. Ambas Equipes foram dizimadas pelo número de baixas. Talton descreveu que a real dimensão da cena precisaria de "três ingredientes essenciais: barulho, cor e o cheiro. Tudo isso combinado, junto com a proximidade dos mortos, feridos e pedaços de corpos cria uma mistura que desafia a descrição verbal e pictórica.". Enquanto Talton olhava em volta, ele viu o motorista de um Sherman Trator (Dozer), ombros para fora da escotilha mas sem cabeça; um soldado da infantaria que tinha perdido parte do rosto, do nariz até o queixo; um homem sem a parte de cima da cabeça como se tivesse sido cortada cirurgicamente e um par de pernas espetado para fora da água, os pés apontando para cima em uma posição grotesca lembrando um macabro sinal de V da Vitória.
O intenso e preciso fogo inimigo impediu que todos as Equipes pudessem completar a sua missão com um mínimo de organização. Os planejadores da invasão obviamente sabiam que o trabalho de colocar os explosivos nos obstáculos, prendê-los, desativar minas e limpar a praia usando explosões era uma tarefa complicada e que exigia a concentração total dos engenheiros. Teoricamente, a infantaria, os tanques DD e os lanchas de desembarque deveriam providenciar o fogo de apoio de modo que as Equipes pudessem ter um espaço de manobra. Porém, o fracasso do bombardeamento pré-invasão, o afundar dos tanques, o desembarque caótico, o cronograma esfacelado e a feroz resistência alemã, tudo fez com que se eliminasse a possibilidade das Equipes poderem fazer o seu trabalho sem serem incomodadas. Ao invés disso, eles tiveram que fazer o seu trabalho desafiador e, AO MESMO TEMPO, lutar por suas vidas. Muitos foram mortos ou feridos minutos depois de desembarcarem ou de tentarem desembarcar; outros tantos estavam completamente absortos na auto-preservação, fosse tanto em revidar ou ficar acuado pelo medo. E isso provavelmente absorveu a maioria da mão-de-obra daquelas oito Equipes.
Mesmo aqueles que conseguissem fazer o seu trabalho ainda que sob condições horríveis, havia um outro fator que conspirava contra o completar dessa missão primordial. Pelo fato de terem desembarcado, em linhas gerais, junto com a infantaria e mais ou menos ao mesmo tempo, logo se estabeleceu o comportamento de uma multidão. Enquanto os engenheiros fixavam as cargas, esticavam o Primacord e preparavam para explodir os obstáculos, eles tinham problema em abrir espaço suficiente para detonar de forma segura. Em várias ocasiões, eles simplesmente não conseguiam convencer os soldados a abandonarem o duvidoso abrigo dos obstáculos. O Tenente Wood e os sobreviventes da Equipe 14 tentaram, por várias vezes, retirar os feridos e os soldados amontoados para longe dos obstáculos preparados para serem implodidos, mas sem sucesso. Irritados, eles acabaram por desistir e simplesmente se juntaram a uma fila de homens que se protegia atrás do banco de cascalhos ao longo da praia Easy Red. O Soldado Primeira Classe Carroll Guidry e outro engenheiro preparam as cargas em um Portão Belga e em outros obstáculos em meio a uma multidão caótica de soldados. "Havia aproximadamente uma companhia de soldados de infantaria no entorno" contou ele. O outro engenheiro preparou as espoletas e, por três vezes, gritou: "Fire in the Hole!" - um sinal conhecido para que todos se afastem e se protejam. "Ninguém se moveu" lembrou Guidry. "Nós estávamos presos dentro do perímetro da explosão da carga… nós todos íamos voar pelos ares. Eu segurei as minhas mãos e rezei. Após suar por alguns minutos que mais pareceram horas, a carga não detonou.". Guidry suspeita que alguém, propositalmente, desativou a espoleta, mas ele nunca teve certeza.
C O N T I N U A