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Quando o mais é demais... E menos peças não significa menos detalhes.

Artigo interessante do Spencer Pollard sobre a complexificação dos kits.  Alguns pontos eu concordo, outros nem tanto.

Fiz uma tradução meio tosca, mas acho que principal está mantido.  Se quiserem ler no original, be my guest! (https://thekitbox.wordpress.co...ow-much-is-too-much/)

Abrsssss,

A Raguenet

 

Olha, os kits estão se tornando mais complexos, não estão? Isso é fato, certo? A gente já não espera mais comprar uma pequena caixa com peças de plástico que possamos montar na mesa da cozinha em uma tarde de sábado chuvosa, enquanto escutamos o jogo de futebol. Agora esperamos que cada porca, parafuso e rebite esteja presente no formato correto e que todas elas venham em partes separadas. É tudo uma questão de detalhe!

Quando criança lembro-me de folhear os catálogos da Airfix e ser atraído pelos kits que continham mais de 100 peças. Estando acostumado a kits que continham 25, adorava a ideia de que alguns realmente valiam o que eu pagava ao oferecerem um maior número de peças para colar. O fato de que o modelo resultante não ser maior, não mais detalhado e, muitas vezes, sobre um assunto ao qual eu não dava muita bola, era irrelevante: queria esses kits e eu – quase – não me importava com o que fazer para tê-los.

Com o passar dos anos, os kits que incluíam 100 partes tornaram-se regra, os detalhes aumentaram e, como resultado disso, o número de peças também foi aumentado. As restrições de moldagem e fabricação foram sendo removidas pouco a pouco e com a introdução do CAD e a facilidade de não produzir moldes para peças que estão sendo incorporadas nas versões mais recentes, os projetistas puderam oferecer níveis de detalhe e finesse até então inimagináveis. Com detalhes vieram peças; com a finesse veio complexidade; com a complexidade, houve uma mudança de kits simples, de construção rápida, para os kits ultra complexos que vemos hoje.

Embora ainda sejam oferecidos pelos fabricantes de kits por todo o mundo, os kits mais simples são menos prevalentes do que antes e a ideia de que era legal oferecer peças maiores e detalhadas, agora, as seções sub-divididas são a norma. Tudo bem que nós temos mais detalhes para apreciar, mas o que me irrita é que detalhes desnecessários são oferecidos, não pensando no modelo ou no modelista, mas mais como algum tipo de justificativa por parte dos projetistas como “viu como somos inteligentes?”. Kits, em muitos casos, significam hoje menos um passatempo relaxante e mais uma guerra de resistência do tipo Iron Man Challenge.

Os kits de blindados são, muitas vezes, os mais afetados. Hoje em dia é comum ver kits com mais de 1000 peças. Os interiores completos são a norma, pequenas seções de detalhes invisíveis divididas em subconjuntos que levam uma noite para montar. Algumas horas de montagem resultam em pouco mais do que uma pilha de peças irreconhecíveis, parte de um modelo que mal chegou na metade da montagem. Kits que costumavam levar semanas para finalizar, agora levam meses para montar. Os modelistas agora estão construindo dois modelos por ano, quando no passado eles podem ter construído dez.

 Olhando esses kits incrivelmente complexos, não posso deixar de me perguntar como Shep Paine e Francois Verlinden se sairiam hoje. Durante a década de 1970, parte do fascínio era que eles estavam construindo dioramas na base de um por semana, novos lançamentos sendo sugados assim que chegavam nas prateleiras das lojas. Muitos dos kits que eles apresentaram eram simples e que poderiam ser construídos em alguns dias e cuja a pintura durava apenas algumas horas. Como eles fariam hoje quando confrontados com os últimos kits de alguns dos fabricantes mundiais? Claro que na época eles também tinham menos opções, algo que pode relativizar o problema, mas quantos Smerch da Trumpeter você acha que eles poderiam ter construído em um ano – um? dois? três? E não, não estou criticando a Trumpeter!!!

Talvez eu esteja sozinho nisso, mas nos dias atuais, com menos tempo para construir, com a visão falhando e com baixos níveis de energia, a aparição de um novo kit com centenas de peças me enche, se não de horror, certamente de apreensão. Eu trato de avaliar um kit levando em consideração em quanto tempo eu acho que vai demorar para construir para, em seguida, mapear isso até data final. No ano passado, por exemplo, tive em mãos um T-80 que continha a quantidade absurda de 1000 peças. Levei uma semana inteira de trabalho para montar - isso significa mais de 50 horas; e durante esse período, não apliquei uma única gota de tinta. Agora, pense sobre isso e de que maneira um modelista lidaria com um projeto como esse. Conheço alguns caras que têm cerca de 5 horas por semana para construir modelos - isso seria dez semanas para construí-lo e talvez o mesmo período de tempo para pintar. Me desculpe, mas eu teria que gostar muito um assunto para passar 20 semanas em uma construção comum, direto da caixa! Na real, eu simplesmente nem mesmo iria considerar esta opção!

Olha, eu entendo, eu realmente entendo – os modelistas adoram os detalhes e eles adoram a complexidade dos modelos prontos. Mas o negocio é que, em geral, eles não adoram a montagem. Passei inúmeras horas falando com modelistas que me dizem que a montagem é apenas uma distração até o bem maior: a pintura. Sites inteiros, revistas, blogs e grupos de discussão surgiram sobre a arte da pintura, envelhecimento e apresentação dos resultados. Me mostre apenas um que lida com o prazer de colar 1000 pequenas peças plásticas, 750 das quais nunca mais serão vistas! Não existem muitos, existem?

Atualmente e na era do CAD, com hiper kits cujas peças podem ser moldadas em uma espessura proporcional à escala, não vejo nenhuma razão para que os kits não possam ser simplificados. Eu vejo uma grande quantidade de diferentes kits cobrindo todos os gêneros e por várias vezes, quando olho para um subconjunto, eu penso "por que essas cinco peças, quando uma teria bastado?". Kits de tanques com rodas, pneus e núcleos separados: por quê? Sprockets com parafusos individuais: por quê? Kits de aeronaves com motores e sem maneira de mostrá-los: por quê? Diminuam. Se um kit é planejado para ter 1000 peças, mas pode ter 500, que se faça 500 - afinal, isso é o que Tamiya tem feito há décadas! Melhor ainda: faça 300!

 Às 8 da manhã de uma quinta-feira, enquanto escrevo isso, eu já posso sentir a resposta aos meus pensamentos. “Sim, mas você simplesmente não entende que precisamos dos detalhes, queremos construir os modelos mais detalhados que pudermos e nós adoramos esses kits que nos permitem fazer isso!” Sim ... Mas a que custo? Com cada dia que passa, os kits oferecidos são mais complexos, mais difíceis de construir e mais caros. Essas caixas impressionantes que você vê nas prateleiras, elas precisam ser pagas e, como resultado, quanto mais caro for um kit, menos modelistas poderão comprar e o mercado que existe para sustentar essas vendas, encolhe. Pense sobre isso: você tem £150 para gastar em kits: o que ajudará a sustentar melhor o mercado? Comprar um kit de um fabricante, ou três de três diferentes fabricantes, três kits mais simples e mais baratos como resultado? Sim, mas não se trata de uma economia básica! Venda a eles pelo máximo que você pode. É tudo uma questão de resultados! Sim, claro que é, mas com os preços médios dos produtos de alta qualidade chegando perto das £100, quão sustentável é esse modelo de negócio?

Ao final de tudo, realmente não importa o que eu acho: os modelistas sempre escolherão o que eles querem construir. Também não é como se não houvesse opções também; Tamiya, por exemplo, ainda adere religiosamente à sua premissa fundadora de oferecer kits de alta qualidade que são simples de construir e com baixo número de peças. Eu só me pergunto (e, honestamente, me preocupo) se muitos desses itens novos e mais complexos são um passo largo demais e que os modelistas são mais propensos a serem derrotados pela complexidade que eles vêem em cada um dos kits ao invés de se entusiasmar com a perspectiva de montar e exibir os resultados. E me pergunto se, a longo prazo, a natureza cada vez mais complexa e demorada desses novos modelos de plástico será de interesse para os modelistas com menos tempo, menos dinheiro e menos determinação para completá-los.

Last edited by ARaguenet
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