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João Fábio Bertonha é professor de história da Universidade Estadual de Maringá e atualmente um dos maiores expoentes da história militar no Brasil. Autor de diversos ensaios sobre o tema, escolheu a controversa figura do General George Smith Patton Jr. para compor uma biografia leve, agradável e informativa, sobre a figura de um líder militar de moldes medievais em um mundo moderno.



A Editora Contexto vem trabalhando há algum tempo em uma linha de livros sobre história militar – o que é extremamente raro e louvável no Brasil dos últimos 30 anos – e “Patton – O Heroi Polêmico da Segunda Guerra” foi um dos primeiros títulos desta linha.



Bertonha usou vasta documentação para compor um traçado interessante da vida de Patton, considerado um dos mais capazes guerreiros que os Estados Unidos da América produziram no século XX, ao mesmo tempo em que representou uma dor de cabeça para muitos de seus superiores.



Desde o berço, Patton pode ser considerado uma criança especial. Nascido no seio de uma rica família sulista, cujo avô havia sido um coronel durante a Guerra Civil Americana. Ele admirava o retrato do General Robert E. Lee acima da lareira como se fosse Deus, e sua educação sempre o moldou para a carreira militar.



O autor descreve esta fase da formação da personalidade de Patton com bastante detalhes e destreza, preparando o leitor para o que seu protagonista se tornará no auge da carreira na Segunda Guerra. Um exemplo disso são as raízes racistas de Patton, fruto de sua educação sulista. Embora tenha sido mais tarde um defensor aguerrido da segregação racial nas Forças Armadas, quando jovem, em viagem pela Europa, defendeu um soldado negro – acusado de ter cometido um crime – do linchamento público; claramente, seu respeito pelo uniforme militar estava acima de quaisquer outros valores que tivesse.



Ao graduar-se em West Point, Patton perseguiu uma carreira na cavalaria, cujos rápidos desenvolvimentos da mecanização naquele período levariam à fama lendária dos blindados nos dois conflitos mundiais. Ávido pelo combate, Patton embarcou para o México em 1916 para perseguir o revolucionário Pancho Villa sob a tutela de seu protetor, General John Pershing. No ano seguinte, com a entrada dos EUA na Primeira Guerra Mundial e a nomeação de Pershing para o comando da Força Expedicionária Americana, Patton teve sua grande chance de conhecer a guerra em primeira mão.



Chegando à Inglaterra em maio de 1917, foi posto em contato com uma novidade chocante da arte da guerra: o veículo blindado, já então popularmente conhecido como tanque. Ao estudar suas capacidades, Patton se tornou um dos primeiros oficiais a enxergar seu verdadeiro potencial, especialmente quando pôde conferir com os próprios olhos o terrível desperdício de sangue que era a guerra de trincheiras.



Usando uma linguagem bastante didática, Bertonha mostra como essa marcante experiência moldou Patton e fez dele um comandante obcecado pelo movimento constante: ele vira o que uma guerra de posição pode acarretar.



Ao mesmo tempo, a pouca destreza política de Patton fez com que ficasse para trás em promoções quando comparado aos colegas de classe em West Point, como o promissor Dwight D. Eisenhower, que já no fim dos anos 1930 atingira prestígio invejável até mesmo dentro da Casa Branca.



Foi somente graças ao seu fantástico talento operacional para o comando direto de tropas que colocou Patton na primeira leva de generais americanos a entrar em combate, no Norte da África em 1942; e apesar de seu bom desempenho após a Batalha do Passo Kasserine, ele começa a mostrar o desgaste com escalões superiores e juniores, devido ao seu estilo notoriamente agressivo de liderar.



Bertonha descreve o Massacre de Biscari, ocorrido na Sicília em 1943 – quando homens da 45ª Divisão fuzilaram uma centena de prisioneiros alemães rendidos – recuperando a defesa de muitos dos acusados, que disseram ter-se achado no direito de assassinar após ter escutado os discursos motivadores de Patton, recheados de termos agressivos.



A inconstância política da carreira de Patton – que variava entre momentos de adoração e de repúdio por Washington – no entanto, não diminui o brilhantismo de seu comando do 3º Exército na França em 1944, quando quebrou os quase dois meses de impasse militar na Normandia, irrompendo país adentro com seus tanques, em tamanha velocidade que tiveram que parar por falta de combustível.



Seria muito da minha parte seguir adiante enumerando todos os feitos de George Patton na fase final da Segunda Guerra Mundial na Europa, e para tanto sugiro fortemente a leitura do livro. Suas 160 páginas são consumidas com uma rapidez que faz jus ao próprio protagonista, e no final deixam um gosto marcante de dever cumprido.



A biografia escrita por Bertonha ganha no fato de que esclarece as qualidades inegáveis de Patton, sem incorrer no tentador vício de idealizá-lo. Como disse o autor “Patton foi um excelente comandante, mas não era Deus”; uma forma muito adequada de trazer o General George Patton de volta ao mundo dos homens – o que na minha opinião só ajuda para percebermos o homem notável que ele foi.

FONTE: blog Sala de Guerra
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Eu curto o Patton Legal !!!...como custumam dizer em Ingles, ele era totalmente "non nonsense"...Ó pra você.. !!!...o bicho era turrao, verdadeiro e totalmente devotado a ganhar as batalhas em que se metia...

Se tivessem escutado ele, os russos nao teriam chegado a Berlim primeiro...Captou ???

Edilson

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