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Estou lendo o livro "Memoirs of a Stuka Pilot" do piloto e comandante Helmut Mahlke e é realmente surpreendente os detalhes aqui expostos, o autor faz comentários e descrição que vão desde o armamento e aviões até os locais por onde a sua Staffel passou, da campanha na Polônia até a frente russa, as dificuldades diversas, do frio ao calor abrasador do deserto, e também é interessante o período em que combateu sobre Malta, voos de 6 horas de duração enfrentando o mar e o inimigo, a resistência do Stuka, desde sua operação no deserto sem filtro para a areia (uma transferência de emergência) bem como ao duro castigo recebido do fogo inimigo e mesmo assim continuar voando...

Vou destacar aqui algo que soube agora, as operações dos Stukas sobre a Inglaterra.  Sempre li que foi um desastre e que não operavam mais depois de algumas missões, mas não foi assim, eles continuaram a atacar de dia e de noite...   Aqui destaco os ataques contra navios no rio Tâmisa...

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Em 1 de novembro de 1940 o Gruppe recebeu ordens para atacar um comboio inimigo nos confins do estuário do Tâmisa. Uma forte escolta de caças de dois Jagdgeschwader completos, aqueles comandados por Mölders e Galland, nos dariam cobertura.

 Baseamos nosso plano de ataque na fórmula em que trabalhamos no verão.

Cada Ketten separado procuraria os maiores navios do comboio da seguinte forma: o 7. Staffel no terço sul, o 8. Staffel no terço do meio e o 9. Staffel no terço do norte do comboio.

 Nós nos aproximaríamos do norte realizando nosso ataque e depois nos retiraríamos em uma altitude mais baixa enquanto formamos um "Sauhaufen" (formação escalonada disruptiva).  Eu voaria a uma velocidade reduzida, mudando de curso um pouco de vez em quando para permitir que todos  fechassem a formação o mais rápido possível antes de abandonar a área de ataque e retornar a base.

Levantamos voo as 14h30. No ponto pré-estabelecido nossos caças sob o comando de Mölders assumiram suas posições de escolta. Protegidos como nunca antes, definimos o curso para a área do alvo, mas hoje os caças inimigos apareceram em maior números e já alertas antecipadamente. Uma luta de cães e gatos iniciou e girava ao nosso redor bem como acima de nossas cabeças. Onde quer que você olhasse havia um caça caindo em chamas ou soltando fumaça, aqui e ali um piloto descia lentamente de pára-quedas.

De vez em quando algum Spitfire conseguia penetrar o anel de caças que nos cercavam mas em segundos um ou mais dos nossos Me-109s já estavam colados em suas caudas e eles imediatamente perdiam todo o interesse em pressionar seu ataque e escapavam para longe. A faixa de navegação que descia do nordeste para o estuário do Tâmisa estava lotada com mais tráfego de comboio do que nunca vimos em nossas vidas, ambos de entrada e de saída, com barcos de todas as formas e tamanhos até onde os olhos podiam enxergar. Graças à nossa excelente cobertura de caças, cada Kette conseguiu se espalhar, observar e decidir-se antes de lançar seu ataque, conseqüentemente, dificilmente houve uma bomba que não atingiu o alvo pretendido.

Nossas novas táticas estavam pagando seu preço generosamente.

Desacelerando logo após minha recuperação da picada, comecei a me afastar em um nível baixo para dar aos que vinham atrás de mim a chance de se reunirem para formar o bando.

Foi nesse ponto que as coisas começaram a ficar um pouco erráticas.

Um dos pilotos mais jovens recuperou-se bem após o mergulho mas depois perdeu de vista seu líder de Kette na neblina que pendia sobre a água, e supondo que ele já estivesse muito adiante, acelerou para segui-lo. O resultado foi que ele mesmo ficou a frente da liderança enquanto o resto do esquadrão tentou acompanhá-lo. Demorou um bom tempo antes acertar a formação com segurança para fazer o retorno com mútua cobertura.

Felizmente, apenas um caça inglês tentou nos atacar enquanto estávamos nos ajustando e conseguimos expulsá-lo. Todas as nossas máquinas retornaram de forma segura para a base.

 Cada Kette (de três aeronaves) reclamou um navio afundado. As novas táticas de atacar as embarcações inimigas de frente provaram ser um sucesso na medida em que nenhuma máquina foi danificada pelas explosões das bombas da aeronave anterior. Algumas máquinas haviam coletado um ou dois buracos de bala, mas estes foram rapidamente remendados.

Ao debriefing, provou-se um pouco difícil avaliar os verdadeiros resultados da operação, já que não tínhamos nenhuma maneira confiável de estimar adequadamente os tamanhos dos navios que havíamos atacado. O melhor que podíamos fazer foi através do número de escotilhas de cada navio de cargas. Cada escotilha de acesso de carga foi calculado para representar cerca de 1.000 grt. Esta regra de ouro mostrou-se razoavelmente precisa, o único problema foi que no calor da batalha as tripulações individuais nem sempre contavam as escotilhas e embora isso não fosse surpreendente quando você considerava tudo sobre o que um piloto tinha que observar e se preocupar durante esses poucos segundos vitais do ataque, de forma geral foi possível anotar esta informação. Depois de avaliar todos os relatórios das tripulações, o III./StG 1 sentiu-se confiante em reivindicar 21 mil toneladas de navios inimigos, sem nenhuma perda entre os nosso aviões.  Isso foi tremendamente encorajador, mas o nosso sucesso se deveu em parte à excelente proteção de caça que desfrutamos, sem isso dificilmente teríamos conseguido chegar até o comboio e muito menos atacá-lo.

Os pilotos de caça também ficaram satisfeitos com os resultados do dia com vários caças inimigos abatidos, a única coisa que ainda nos deu dor de cabeça foi aquele período imediatamente após o ataque entre a recuperação do mergulho e a formação do bando para o vôo de volta à base.

 Como podiamos impedir o Gruppe de se tornar completamente desorganizado em uma situação destas como aconteceu hoje tendo em mente que também precisamos proteger as tripulações mais jovens e menos experientes?

Uma ordem do Alto Comando apontou o caminho para uma solução. A ordem em questão decretou que devido às recentes altas taxas de perda entre os líderes das unidades, e as crescentes dificuldades em encontrar substituições adequadas, tais líderes já não deveriam voar na cabeça de suas formações, mas deveriam ocupar uma posição no meio de suas unidades e liderar a partir daí. Minha primeira reação a isso, é claro, foi pensar como essas pessoas imaginam que uma unidade Stuka é levada a ação? Confiamos inteiramente em sinais visuais, que eu só podia dar voando a frente, caso contrário, exceto em casos de emergência, observamos um estrito silêncio de rádio, já que o inimigo monitorava constantemente nossas freqüências. A mensagem mais curta transmitida no ar poderia ser suficiente para alertar as defesas inimigas de nossa presença. Isso nos aconteceu em uma ocasião durante a campanha na França quando nos encontramos na mesma freqüência de uma unidade francesa. Assim que um dos nossos pilotos pressionou o interruptor do transmissor e falou algumas palavras ouvimos uma voz em gaélico excitada nos nossos fones de ouvido: "Alloh-Alloh! Shtukah! Shtukah! Depois disso, era apenas uma questão de tempo antes de termos caças inimigos em nossos pescoços.

 E não é provável que sejam diferentes durante nossas operações em relação à Inglaterra.  De uma coisa eu estava certo, no entanto, eu só poderia liderar meu Gruppe corretamente se eu estivesse voando na sua frente. Então, e a última missão? À medida que nos retiramos em uma altitude mais baixa da área alvo, a coisa quase falhou simplesmente porque os pilotos não podiam reconhecer minha máquina e não sabiam quais as aeronaves que deveriam seguir. Isso me fez perceber que não só eu tenho que voar na frente da formação mas também que eu teria que aplicar alguma forma de marcação distinta para o meu avião, e preferencialmente que meu Staffelkapitäne faça o mesmo para que todas as equipes pudessem ver quem se formava ao montar o bando. Falei com o meu Staffelkapitäne e decidimos que as pontas traseiras das pernas do trem de aterrissagem das nossas máquinas seriam pintadas de um amarelo brilhante. Meu avião teria as duas pernas amarelas, as dos comandantes imediatamente atrás teriam apenas uma cada. Todo piloto que está atrás de nós poderia assim escolher nossa aeronave e formar-se de acordo com cada grupo.

E se nossas marcas adicionais atraíssem a atenção dos caças inimigos, tanto o melhor, nós teríamos mais chance contra eles do que as tripulações mais jovens.

O meu Staffelkapitäne estava totalmente de acordo com estas propostas. Eles achavam que era a solução mais sensata e as ordens foram devidamente dadas para pintar nossas máquinas. Naturalmente tive que enviar um relatório ao nosso Geschwaderkommodore, Oberstleutnant Hagen, estabelecendo as medidas que propusemos tomar, ou talvez seja mais preciso dizer que "eu o impus gentilmente" pois nós já o tínhamos feito.

 Eu sabia que ele considerava a liderança tática de uma unidade como uma questão que melhor restava nas mãos do líder da unidade. Não surpreende, portanto que ele tenha dado uma aprovação tácita ao nosso esquema. Ele certamente deve estar ciente de que a decisão se baseou na experiência operacional.

 Em 8 de novembro, fomos novamente enviados contra comboios de navios no estuário do Tâmisa. A decolagem foi às 14.00 horas. E novamente tivemos dois Jagdgeschwader completos para escoltar-nos, desta vez sob o comando geral de Galland.

Tudo foi planejado, como antes. O Tâmisa apresentava uma imagem semelhante e as lutas entre nossos caças e do inimigo ocorriam por toda a parte que olhássemos no céu, mas nossos caças novamente nos cobriram com segurança até ao alvo.

Nossas novas táticas pagaram generosamente seus resultados. Cada Kette reivindicou uma embarcação inimiga, e o reagrupamento após o ataque foi sem incidente.

Como eu fui o primeiro a picar, outro avião rapidamente me alcançou e para a esquerda e para a direita de mim os pilotos aceleravam até próximo, quando íamos reduzindo então a velocidade para que os seguintes fossem alcançando suas posições em diferentes altitudes mas cobrindo-se mutuamente, o limite eram as marcações amarelas na parte posterior dos trem de aterrissagem dos comandantes de cada Staffel, O Sauhaufen foi formado rapidamente e sem problemas. De vez em quando, um Spitfire tentava chegar em algum Ju-87s voando nas bordas externas, mas os pilotos inimigos foram frustrados pela composição em constante mudança da nossa formação deliberadamente fluida. Eles se viam cercados por cima e por baixo e acabavam desistindo por medo de serem atingidos. Nós levamos alguns buracos de bala de volta à base conosco, mas todas as aeronaves fizeram isso e nenhuma das tripulações foi ferida.

 Um dos tanques de combustível da minha asa teve que ser substituído. Tinha sido bastante danificado, provavelmente pela Flak do navio, mas felizmente a proteção auto-vedande de borracha do tanque impediu que o combustível escapasse. Isso também foi bem pois caso contrário eu não teria chegado em casa pois a área do alvo estava no limite do raio de ação. Com um tempo de vôo de 1 hora e 47 minutos, tínhamos uma reserva pequena de combustível sobre o alvo.  Os resultados do nosso bombardeio foram mais uma vez avaliados cuidadosamente com a ajuda de todos os relatórios de combate das tripulações.

Nesta missão o III./StG 1 tinha afundado cerca de 24,000 grt de navios inimigos sem perda para nós mesmos. E mais uma vez nossos caças ficaram felizes com a performance do dia. Eles haviam reclamado um número considerável de abates, nos escoltaram até a área alvo e depois nos trouxeram de volta com segurança. Tudo tinha acontecido exatamente de acordo com o plano. Isto elevou nossa moral mais um pouco. Três dias depois, no dia 11 de novembro, fomos designados para atacar o estuário do Tâmisa pela terceira vez.

 Nosso Gruppe começou a decolar às 12h11. Mais uma vez, a nossa escolta de caças não podia ser criticada. Em primeiro lugar, tudo correu bem. Muito antes de chegar sobre a área do alvo já podíamos ver um número invulgarmente grande de navios navegando em comboio ao longo do lado norte do estuário.

Mas o inimigo parecia ter colocado mais caças no ar hoje. Nossa escolta rapidamente se empenharam em uma constante sucessão de combates, que nos acompanharam até o alvo. Os Me 109s no entanto conseguiram manter os Spitfires fora de nossas costas pela maior parte do tempo, o que nos permitiu montar nosso ataque sem muita interferência.

Visando principalmente os navios maiores no comboio, cada Kette conseguiu atingir o alvo escolhido. O reagrupamento foi feito seguindo-se as pernas amarelas dos aviões dos comandantes para o voo de volta à base, tudo realizado sem dificuldades imprevistas.

Mas logo se tornou aparente que os caças britânicos já haviam estudado a nossa nova tática de se juntar em um bando bem solto. Enquanto nossos próprios caças ainda estavam totalmente envolvidos com os Spitfires que estavam correndo em nossos calcanhares, durante grande parte da nossa abordagem, uma segunda e maior força de caças inimigos estava nos esperando. Agora, quando estávamos a cerca de cinco milhas náuticas ao norte de Cape Margate (nome na época, atualmente North Foreland) - eles de repente vieram decididos em uma altitude mais baixa para nos atacar! Apesar dos nossos melhores esforços, não conseguimos evitar que alguns dos nossos caiassem vítimas de algum Spitfire.

 Na verdade, quando retornamos e chegamos a base as 14.03 horas descobrimos que faltavam duas das nossas máquinas: ninguém tinha visto o que aconteceu com No.9. Dr. Heinrich Unintern Oesterreich de Schönau / Chemnitz e seu artilheiro, Gefreiter Anton Sabinarz, de Kamp-Lintfort / Düsseldorf. Presumiu-se que eles foram abatidos durante a corrida para o alvo ou enquanto mergulhavam no comboio. O Unteroffizier Gerhard Schütz de Hamburgo e seu artilheiro, Obergefreiter Georg Brück, de Essen, foram os da 7. Staffel que haviam caído vítimas de Spitfire próximo de Cape Margate. Mais uma vez tivemos que sofrer a perda de duas equipagens relativamente inexperientes, as mesmas que tentávamos tanto proteger e apoiar  até que tivessem acumulado um know-how operacional suficiente.

 Unteroffizier, o Dr. Oesterreich estava em sua sétima missão; Unteroffizier Schütz, na quarta.

Mas levando em conta a missão desse dia e dado o tempo que ficamos no ar e a oposição que enfrentamos, qualquer um de nós, mesmo os mais experientes, poderiam ter sido atingidos.    Também foi um dia difícil para nossos caças de escolta. Mas se eles não tivessem feito um bom trabalho de nos proteger as nossas perdas sem dúvida teriam sido muito maiores.

 Os resultados verificados durante o debriefing proporcionaram uma certa consolação: para a perda de dois de meus aviões, nossas vinte e uma máquinas haviam afundado sete navios mercantes totalizando cerca de 37.000 grt. Estes números foram incluídos no nosso relatório pós-ação e foram citados no comunicado da Wehrmacht daquela noite, que anunciou: "As unidades alemãs de Stuka afundaram ..."  Isso foi um pouco exagerado, pensamos, enquanto ouvíamos a transmissão de rádio "unidades alemãs de Stuka ! "  essas "unidades" não havia sido mais do que as vinte e uma máquinas da nossa III./StG 1. Mesmo assim, não podíamos deixar de sentir um certo orgulho no fato de que a nossa era a única Stukagruppe atualmente envolvida de dia contra a Inglaterra, embora reconheçamos facilmente o papel desempenhado por nossos caças de escolta, sem a proteção da qual nossas missões teriam sido impossíveis.

 No dia seguinte, visitei o Geschwaderkommodore para o nosso habitual bate-papo da tarde acompanhado de uma xícara de café. O Oberstleutnant Hagen acabava de voltar de uma reunião no Luftflottenkommando 2. Ele me disse que a AOC (Comando Operacional) ficou extremamente satisfeita com o relatório do nosso dia anterior. Ele havia enviado um avião de reconhecimento para fotografar o comboio antes e depois do nosso ataque. O exame das fotos trazidas de volta mostrou que sete navios, totalizando cerca de 37,000grt, estavam desaparecidos nas fotografias posteriores, exatamente os números que tínhamos reivindicado no nosso relatório pós-ação.

Dada a dificuldade já mencionada de julgar com precisão a tonelagem de um navio, contávamos as escotilhas de carga e as entradas de ar, multiplicando por mil! – não era de precisão mas estavam muito próximas da realidade e que foram confirmadas na fotografia oficial tiradas por aviões de observação. Mas isso não me impediu de dizer ao Kommodore: "Espero que você tenha informado o AOC de que sempre nos esforçamos para garantir que nossos relatórios sejam precisos".

Fomos informados que o Jagdgeschwader comandado por Mölders foi retirado da frente e voltou para a pátria para descansar e recompletar.

Isto significava que por hora estavam suspensas nossos ataques bem sucedidos sobre o estuário do Tâmisa, sem escolta apropriada era muito arriscado...

Formação "Sauhaufen"

Comandante Mahlke no centro

 

Last edited by Wolf
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Na Alemanha eles costumam achar coisas bem maiores, já que os ingleses e americanos tinham bombardeiros estratégicos de verdade.

Bomba da Segunda Guerra força evacuação de 70 mil na Alemanha

BERLIM — A descoberta de uma bomba da Segunda Guerra Mundial vai forçar a evacuação de até 70 mil moradores da região central de Frankfurt, na Alemanha. O artefato, apelidado de “blockbuster” pelo seu poder destrutivo, foi encontrado por trabalhadores numa obra na Universidade Goethe, na terça-feira, e a operação para retirada do explosivo está agendada para domingo.

 

“Por causa do tamanho da bomba, medidas de evacuação devem ser tomadas”, informou a polícia local, em comunicado, reforçando que no momento não existe risco de explosão.

A “blockbuster” é uma bomba HC 4000, usada pelos britânicos durante o conflito. Ela tem peso total de 4 mil libras, cerca de 1,8 tonelada, sendo 3 mil libras, ou 1,4 tonelada, de explosivos.
 
31/08/2017
Last edited by paulors

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