Skip to main content

Pessoal, mais um da série.

          Citroen Traction Avant 11CV – Tamiya, escala 1/35.

Clássico, icônico, “cult”, o Citroen Traction Avant merece todas as honrarias, pois é um dos grandes marcos na história do automobilismo. Lançado em 1934, este carro revolucionário tinha carroceria monobloco toda soldada eletricamente, tração dianteira, motor flutuante, freios hidráulicos, suspensão independente nas rodas dianteiras e outras novidades técnicas, além de um design com linhas curvas e agradáveis. A tração dianteira eliminava o túnel de transmissão, que passava por dentro de todos os carros na época. Por isso, o Citroen era incomunmente baixo e tinha grande estabilidade. A propaganda do fabricante dizia que, se você conseguisse capotar com um Citroen, ganhava outro novinho em folha, da fábrica.

Imensamente popular na Europa dos anos 30 e 40, o Citroen foi dirigido por pais de família e por mafiosos de Marselha. Por comerciantes civis e oficiais do Exército Francês. Por soldados da Wehrmacht e pelos maquisards do FFI.

A legenda desta foto dizia que estes dois cavalheiros são gângsteres, examinando um Traction Avant roubado.

 

Dupla elegância.

 

Todos os cinco ou seis membros da Resistência que viajavam neste Citroen foram metralhados pelos alemães em Paris, durante a libertação, quando tentavam furar um bloqueio num cruzamento. Até hoje existe uma placa naquela parede, homenageando os maquisards executados.

O Traction Avant foi exportado para vários países e também fabricado na Inglaterra, sob licença. A produção foi suspensa durante os anos da guerra, retomada em 1947 e finalmente encerrada em 1957. O Brasil importou muitos, entre 1945 e 1951, sendo vistos por aqui até o final dos anos 60 ou mais. Meu pai gostava tanto desse carro que teve três, em épocas distintas. E lembro de, ainda criança, passear e ir à escola com meu velho dirigindo seu Citroen, todo satisfeito.

 Sempre quis ter um Citroen na minha coleção, então comprei dois quando a Tamiya lançou o kit. Infelizmente, uma das piores goiabas já lançadas por este fabricante, mas vejamos o que pode ser feito com algum esforço extra.  Meu modelo vai representar um Citroen usado pela Resistência Francesa, marcado com as iniciais FFI (Forças Francesas do Interior) e a Cruz de Lorena. Pintura preta, com rodas amarelas, como vinha de fábrica. O kit Tamiya representa basicamente um veículo fabricado em 1938. 

Começando pela carroceria. As marcas de injeção e outras imperfeições foram lixadas. Colei chapas de plasticard nas janelas para que uma fenda de 0,2mm fosse criada, ao redor das quatro. O kit da Tamiya é muito pobre aqui.

Ampliando a foto (botão direito do mouse) dá para ver bem as fendas dos vidros, depois que o plasticard foi colado . Cada um deles terá 0,2mm de espessura. Os vidros sairão pelas fendas, e não colados pelo lado de fora do carro, como recomendado no kit (putz).

 

Nas setas, os debruns da carroceria, feitos de sprue. Também abri duas das portinholas laterais do capô. São entradas e saídas de ar. Geralmente as quatro portinholas trabalhavam ao mesmo tempo, mas existem fotos mostrando duas abertas e duas fechadas.

Fabriquei também os dois suportes dos faróis e a parte mais visível do radiador, usando sobras de photoetch de um outro modelo.

 

O detalhamento interno.

À esquerda, um dos kits, ainda intocado. Compare os dois.

 

Aquelas letras no teto do carro e as marcas dos pinos de ejeção têm que sair.

 

A porta do carona, com os melhoramentos feitos. A porta do motorista vai ficar aberta.

Repare o acabamento em relevo aplicado ao redor das portas e janelas. Numa carroceria fechada, fazer estes detalhes  é complicado. A faixa em relevo ao redor das janelas é feita com uma tira fina da Evergreen, colada um pouco de cada vez. No final, a junção de uma ponta com a outra tem que bater certinho e a emenda ficar invisível. Dá para ver onde foi?

 

Os detalhes embaixo do paralamas foram refeitos.

Esqueci de comentar antes, referências sobre o Citroen não faltam. Eu baixei fotos (centenas e centenas), além de publicações, manuais de fábrica, de vendas, de peças, também vídeos e o escambau. Existem fóruns de discussão mantidos por aficionados, restauradores e colecionadores, além de sites de compra e venda de peças originais, sempre com abundância de imagens.

Essa imagem mostra as bases dos faróis. Feitos com plasticard, tubo plástico e Durepoxi.

 

A goiaba original como é.

 

Todos os detalhes da traseira foram refeitos. Certas peças, como as maçanetas que abrem o porta-malas, e a tampa do bocal de gasolina serão colados depois da pintura.

 

O detalhe das dobradiças que rebatem a tampa do porta-malas. Esta parte do kit Tamiya é grosseira, pois ali deveria ter uma grande cavidade onde metade do estepe fica encaixado. A outra metade fica tapada por aquela grande peça redonda. Que por acaso também está errada, por ser grande demais. Ainda bem que, depois de terminado, a falta da cavidade não será muito óbvia.

 

 

Continuo daqui a pouco.

Last edited by Carlos Chagas
Original Post

Replies sorted oldest to newest

O chassi precisou de uma reforma geral. Toda a suspensão dianteira foi refeita em estireno. Só aproveitei os dois amortecedores, com modificações. O diferencial, feito em estireno a partir de fotos e desenhos, é removível para facilitar a pintura. O piso do carro foi modificado, eliminando tudo que veio moldado nele e acrescentando uma elevação, onde os bancos são fixados. O assento traseiro é curto demais no kit. Depois de serrado ao meio, colei um enxerto de estireno e lixei bem. Aquele pregueado  dos bancos pode sair sem dó. Ele existe em outros modelos de fabricação do Traction, mas não neste. Aqui os bancos eram lisos e com botões.

 

Antes e depois.

 

Se você confia no seu olhômetro Mk.I para ajustar os ângulos das rodas num modelo, beleza. O meu não é ruim, mas eu usei o Princípio de Ackermann para que no meu Citroen o efeito fosse o mais exato possível.

Na internet se acha um monte de diagramas com a fórmula bem explicada. Aqui tem dois exemplos:

Depois que você entende  como a fórmula funciona, é fácil riscar num papel uma espécie de gabarito sob medida para o modelo que está montando. Alinhando o  modelo em cima do gabarito, fica moleza fixar as rodas no ângulo certo, sem tentativa e erro. Não vou descrever o processo todo aqui. Para quem se interessar, já sabe o que pesquisar no São Google.

 

Exceto pelas buzinas, e alguns cabos e fios, essa parte está pronta para a pintura final.

Colar os suportes em “V” do para-lamas na altura e ângulo certos precisou de um gabarito, do contrário eles têm umas 10 possibilidades de ficarem assimétricos e os para-lamas, tortos.

 

O diferencial se encaixa sem dificuldades e sem precisar de ajustes quanto à profundidade e o ângulo, pois a parte macho e a parte fêmea são quadradas. Aquele bocal na frente do diferencial, onde entra a manivela de partida do motor, precisa tocar de leve a parte correspondente na grade do radiador, por dentro. Se ficar muito para fora, a grade do radiador depois vai bater nele, sem encaixar direito na frente do modelo.

Como tem cor diferente, preferi deixar a peça solta até a hora da pintura. Mas a tentação de colar agora é grande!

 

As rodas “Pilote”, introduzidas em 1938, são muito mal feitas no kit. Para incrementar o modelo, eu encomendei as de resina, da Hauler. Mas cortei fora as calotas e vou aproveitar as da Tamiya. Estas também são moldadas numa peça única, nas rodas de plástico. Mas com cuidado, dá para serrar e canibalizar as peças. Tive este trabalho extra só porque vai ser mais fácil para pintá-las de cor diferente. Eram cromadas.Também comprei um set de PE da Aber e outro da Voyager. A bela grade do radiador merece um photoetch.

 

O banco traseiro corrigido. Nos arcos das extremidades dele, fiz um acréscimo com estireno, que vai tapar o buraco que a Tamiya deixou ali.

Como era antes. Imagina um carro de passageiros com uma fenda dessas, passando a toda sobre uma poça de lama...

Começando a se parecer com um Citroen Traction Avant CV 11.

 

Continua em breve.

 

Last edited by Carlos Chagas

Nos anos 70, teve um vizinho meu que o teve, no Rio de Janeiro no Irajá,  preto, nunca os vi de outra cor, parece que era motor V8, morávamos em uma ladeira, um dia o carro não subiu, e ficou em cima da calçada na rua principal durante meses.

Chagas,
 
Como sempre gostei de Citroens, montei há tempos um Legere Matchbox 1/32, me surpreendi por ser bastante detalhado, tem algumas peças um pouco "brutas", mas considerando que foi injetado há 30 anos... Pena que ficava um pouco "avantajado" quando colocado ao lado de algum 1/35.
 
Assim que a Tamiya lançou este kit pensei ter realizado meu sonho de um Citroen 4 portas decente em 1/35, qual não foi minha decepção ao receber o modelo!
 
Este Tamiya realmente é muito singular, um kit extremamente básico e simplificado, até demais... Os pedais por exemplo parecem uma piada... Tem uns errinhos grosseiros e difíceis de arrumar, especialmente como você observou, na traseira... Ao menos a figura não é de todo ruim!
 
Como são kits pequenos, o Tamiya direto da caixa até fica bonitinho, mas sinceramente meu Jurássico Matchbox continua ainda mais bonitinho...
 
Agora este que está produzindo, está um show à parte, não sei se os demais colegas tem noção das dimensões diminutas, mas minha sugestão é de fotografar estes detalhes junto com uma moeda ou algo similar... Idem para o Mercedes...
 
PlastiAbraços

Paulo, valeu.

Guacyr, agora que você falou, lembro de uma ladeira perto do Grajaú, onde meu pai passava de vez em quando. O Citroen dele ficava meio lento ali.

Cledson, vai fundo, que você consegue!

Rubens, eu também comprei o kit da Matchbox, faz muito tempo. Concordo, até que não era ruim para a época, e será o doador das buzinas (devidamente modificadas) para o da Tamiya.

Eu corrigi tudo o que pude neste modelo, como mostrarei aqui. Inclusive os pedais e aquela tampa grande do estepe, hehe. Vou tirar as fotos que você sugeriu.

Abraço e obrigado aos que acompanham.

Last edited by Carlos Chagas

É claro que eram carros antigos, com mais 30 anos de uso, mas o Sinca Chambord novo tinha este problema também, e para subir ladeira bem, era de marcha ré! E cheguei a ver dos Citroens como táxis no Rio, em ponto de táxi!

Por sugestão do Rubens, taí as fotos mostrando o tamanho dos modelos.

Ambos são pequenos, menores que a mão.

 

O Mercedes e o Citroen são quase do mesmo tamanho. Sem os para-choques, o Citroen mal chega a 12 cm.

Rubens, olha aí os pedais do Citroen. O "duplo chevron" é bem representado no photoetch que comprei. É difícil conseguir uma boa foto sem reflexo. Ele parece distorcer as peças de metal, mas os 3 pedais são muito bem definidos.

Nesta péssima foto, como os pedais vão ficar no modelo. Sem cola, ainda.

 

Mais tarde eu continuo o tópico com o restante das peças.

Last edited by Carlos Chagas

Todos os 1200 que foram importados pelo Brasil eram pretos. Meu Pai chegou a possuir um, mas vendeu em poucos meses. Ainda devo ter uma ou outra foto do Citroen...Vou procurar.

Quanto à montagem do Chagas, nem tenho mais palavras para expressar minha admiração...

Agora sim!

Muitos tem noção de um Sherman ou Panzer 1/35, mas nem todos destas "pulguinhas" ainda mais se não as montou.

Muitas das tuas fotos tem um excelente macro e definição, o kit parece maior, como este:

Quem não conhece, dificilmente adivinha escala...

PlastiAbraços 

Marluf, se achar a foto, posta ela aqui. Eu devo ter uma ou duas também, ainda criança, no Citroen do velho. E obrigado pelo cumprimento.

Rubens, este não é um modelo da Burago? Meu pai ganhou um de presente, há uns 15 ou 20 anos. Bem bacaninha. As portas abrem, o capô, o porta-malas. Mas é um Citroen dos anos 50, com muitas diferenças em relação ao modelo 38 e outros da época da guerra. O modelo está agora na casa do meu irmão.

 

Continuando,

A grade do radiador, original do kit , e a grade em PE da Aber, com o número correto de barras verticais. A que veio no set da Voyager está errada por causa disso.

 

É um bocado de plástico maciço para ser removido e deixar só a moldura, então é trabalho cuidadoso e feito sem pressa, para não quebrar nada.

Primeira demão de primer. A diferença entre as duas grades é brutal. E o adorno em relevo no topo da peça ainda precisa ser refeito.

 

Dependendo do ano, existia uma barra em “V”, no lado interno da grade, como reforço. O Citroen 1938 tinha. Fiz com arame de latão.

 

A grade só encaixada sem cola, e o efeito é jóia. Todo kit deveria vir com as grades do radiador feitas em photoetch. Grades de plástico maciço são da era jurássica.

 

Continua em breve.

Last edited by Carlos Chagas

Chagas,

É um Heller 1/8 modelo 1952, como eu disse, só a foto não dá uma noção exata da criança:

Uma vez vi uma caixa destas e fiquei impressionado, tem até alça para carregar!

PlastiAbraços

João Henrique posted:

Mon cher ami Carlos,
Il est une belle voiture le résultat d'un excellent travail!
Mes compliments à l'artiste de l'échelle!
Etreinte de son ami et admirateur
Jean

Merci beaucoup, mon ami Jean le Baron de la raquette qui tue le moustique.

Rubens posted:

Chagas,

É um Heller 1/8 modelo 1952, como eu disse, só a foto não dá uma noção exata da criança:

Uma vez vi uma caixa destas e fiquei impressionado, tem até alça para carregar!

PlastiAbraços

Ah, é esse kit da Heller. Lembro bem dele, e também cheguei a querer um.

Continuando,

Mais duas imagens com a grade.

 

Os bancos do kit nem de longe se parecem com os do Traction Avant de 1938.  Olha a listinha de modificações feitas nas duas peças:

- Encurtei a altura do assento,

- Tapei o buraco no verso do encosto, com plasticard grosso,

- Emassei e lixei os pregueados,

- Fiz os botões e filetes da costura do revestimento,

- Fabriquei os pés e a alça no top do encosto, com alfinete fino cromado, usando gabaritos para dobrar tudo de maneira igual. Estas  peças eram cromadas no carro de verdade.

- Esculpi um leve efeito de tecido enrugado nas laterais do encosto. O revestimento de couro era mais comum nos Citroens feitos na Inglaterra. Na França eram de tecido, a menos que o comprador pagasse mais.

Algumas camadas de primer depois. É difícil se livrar das marcas daqueles pregueados. Mais uma ou duas demãos de Mr. Surfarcer e eles ficam no ponto, espero. Repare como ficou o efeito do tecido nas laterais. A fita enrolada protege os cromados do primer, mas num deles o cromo descascou um pouco e deu pontos de ferrugem. Será que um verniz ali interrompe o processo?

Continuo daqui a pouco.

Obrigado, Armouredsprue.

A velha propensão da Tamiya em simplificar demais produz coisas grotescas, como esses para-choques no kit sem as alterações. No set da Aber que comprei, vem os para-choques em PE, mas estes também têm pouco a ver com os do Citroen, porque as peças em latão são planas. E este set foi desenhado para instalação nisso que está aí em cima. Erro em cima de erro. Os para-choques reais tinham a lâmina curva, em meia-cana. Impossível fazer este efeito na peça em latão.

Bolei uma solução, aproveitando peças dos dois, Tamiya e Aber. Se alguém quiser fazer também, taí a dica. Primeiro eu refinei as duas lâminas da Tamiya, lixando bem o verso de cada e eliminando tudo o que tinha moldado ali. Depois eu modifiquei as peças da Aber.

Acima, as instruções da Aber. A peça 15 (que seria a lâmina frontal) passou para trás, depois de algumas alterações. As peças menores de latão foram cortadas e dobradas, seguindo as referências fotográficas e desenhos do manual do Citroen. O para-choques traseiro é basicamente igual, com diferença apenas no modo de fixação no chassi.

Agora ficaram assim:

Para-choques traseiro, com os seus dois suportes fabricados de sobras do set da Aber.

 

Esse é o dianteiro.

 

Só encaixado, sem cola. Agora ficou tudo fininho e na escala. O que se vê aqui está muito ampliado.

 

 Simples, né?

Brincadeira. Modificar e dobrar essas peças sem estragar tudo, foi difícil.

 

Continuo em breve.

Vou continuar o tópico em breve, tem mais fotos para postar. É que ultimamente ando com pouco tempo para os modelos.

Meu Citroen vai ser a propriedade de um ou dois Maquisards, Valls. Quero figuras bem caprichadas e cheguei a mandar mensagem para o cara da Reedoak.

Não só caiu o queixo mas como a cara toda, parabéns Carlos, seus trabalhos são sempre de altíssima qualidade. Quando morava aí no Rio fui umas vezes na sua casa e não cansava de admirar um Kubelwagen que tinha até a marca dos dedos no para-brisas quando o motorista segurava para entrar. Parabéns e poste o restante, pois vou aproveitar muitas dicas suas no meu 1/24 da Heller.

 

Carlos Chagas posted:

Vou continuar o tópico em breve, tem mais fotos para postar. É que ultimamente ando com pouco tempo para os modelos.

Meu Citroen vai ser a propriedade de um ou dois Maquisards, Valls. Quero figuras bem caprichadas e cheguei a mandar mensagem para o cara da Reedoak.

È o cara do 3D?Tens alguma coisa dele?

Alarico, há quanto tempo, hein? Obrigado pelos comentários e vou postar mais fotos em breve, sim. Um abraço.

Buhler, é o tal cara, sim. Por enquanto ainda não tenho, mas faço questão de ter uma figura daquelas.

Incluir Resposta

×
×
×
×
Link copied to your clipboard.
×