Skip to main content

Guerra do Chaco, 84 anos

Terminava em 12 de junho de 1935 a Guerra do Chaco, portanto a 84 anos.

Foi o maior conflito na América do Sul no século XX onde foram empregadas armas modernas à época e que podem servir de inspiração aos modelistas.  Um dos fatos curiosos foi a atuação de russos pelo lado paraguaio...

No Panteão Nacional dos Heróis em Assunção há uma placa com a cruz ortodoxa e a seguinte inscrição: “Memória eterna”. Nela estão os nomes de seis oficiais russos que emigraram ao Paraguai para escapar da perseguição dos bolcheviques, após a Revolução de 1917, e lutaram na Guerra do Chaco: Ivan Beliáev, Víktor Kornilovitch Serguêi Salázkin, Nikolai Goldschmidt, Vassíli Maliutin e Boris Kasiánov.
 
O general Ivan Beliáev foi o primeiro a chegar ao país latino-americano, em 1924, e logo acabou sendo contratado como professor de fortificação e de francês na Escola Militar de Assunção. No entanto, preocupado com o destino de outros oficiais “brancos” que percorriam o mundo em busca de um lugar seguro, Beliáev fechou um acordo com o governo do Paraguai para a criação de uma colônia russa. 
Assim, o general foi seguido por seus ex-companheiros de armas, que haviam superado a Primeira Guerra Mundial e a Guerra Civil na Rússia. Alguns deles abriram pequenos negócios no Paraguai; outros trabalhavam como engenheiros, topógrafos ou ministravam aulas na academia militar e na universidade locais.
 
“Paraguai, nossa segunda pátria”
 
Com a eclosão da Guerra do Chaco (de 1932 a 1935), os oficiais russos se reuniram.
Doze anos se passaram desde que perdemos nossa amada pátria e há doze anos que temos que agir. O Paraguai nos acolheu com calor e afeto, mas hoje chegaram dias difíceis. O que estamos esperando? O Paraguai é a nossa segunda casa, é preciso defendê-la, e todos nós somos oficiais”, disse então o capitão Nikolai Korsakov.
No dia seguinte, todos os russos se alistaram como voluntários no Exército paraguaio; os oficiais militares mantiveram suas patentes anteriores, porém acrescentaram duas letras: ‘H.C.’, que significa “Honoris Causa”.
O número de oficiais russos que lutaram no lado do Paraguai variam segundo fontes diversas, mas sabe-se que no comando das tropas paraguaias havia 20 capitães russos, 13 majores, 4 tenentes-coronéis, 8 coronéis e 2 generais (um deles, Beliáev).
Alguns oficiais, entre eles Salázkin, Kasiánov, Goldschmidt, Maliutin e Kornilovitch, perderam a vida durante o conflito.
 
“Que lindo dia para morrer”
 
O primeiro oficial russo que morreu na Guerra do Chaco foi o capitão Vassíli Oréfiev-Serebriakov, um cossaco da região do rio Don. Ele comandou um batalhão durante Batalha de Boquerón, onde se deram as principais disputas do conflito.
 
Reza a lenda que o capitão russo comandava os soldados paraguaios durante os ataques sob os gritos de “Adiante, a Boquerón!” e “Viva o Paraguai!”. No entanto, Oréfiev-Serebriakov foi atingido no ataque quando faltavam apenas alguns metros até a primeira linha de defesa. Os soldados levaram o comandante ferido do campo de batalha somente para escutar suas últimas palavra: “Eu cumpri a ordem. Que lindo dia para morrer!”.
Após sua morte, o capitão foi premiado com a patente de major (HC) do Exército Nacional paraguaio, e uma cidade do país foi nomeada em sua homenagem: Fortín Serebriakoff (transliteração local do nome Serebriakov).
 
Kasiánov e a luta após a morte
 
Os soldados paraguaios tinha tanto apreço pelo capitão Boris Kasiánov que o russo recebeu o carinhoso apelido de “neném”. Um de seus subordinados chegou até a escrever que “estavam dispostos a seguir o comandante russo até ‘a boca do diabo’”.
Certa vez seu grupo teve de enfrentar forças superiores do inimigo. Os soldados paraguaios recordavam como o capitão havia coberto com seu corpo a enorme metralhadora do inimigo. O relatório oficial dizia que “Kasiánov morreu como um herói, silenciando a metralhadora inimiga à custa de sua própria vida”.
Mas a história do capitão teve continuação. Desde que era um estudante em Moscou, Kasiánov tinha um grande amigo chamado Nikolai Iemeliánov. Quando a Primeira Guerra Mundial começou, os dois se alistaram como voluntários no Exército, fizeram um curso intensivo na escola militar de cavalaria e marcharam à frente de batalha.
Com a Revolução de 1917 e a Guerra Civil, os amigos perderam contato. Kasiánov foi para o Paraguai convidado pelo general Beliáev, enquanto Nikolai conseguiu se estabelecer em Paris; ali encontrou trabalho em um banco e depois abriu seu próprio escritório de advocacia. Mas, quando soube por um jornal de imigrantes que o amigo havia morrido no distante Paraguai, fechou seu negócio na capital francesa e partiu para Assunção a fim de substituí-lo.
O ministro das Relações Exteriores de Paraguai se referiu a Iemeliánov como “o cavaleiro romântico da Rússia, movido pela grande força de espírito, o desejo de justiça e sentido de dever para com o seu companheiro morto”, e o capitão russo assumiu um esquadrão com 50 caças.
 
Após ser ferido, Iemeliánov teve que se retirar do campo de batalha. No entanto, seu amigo continua homenageado nas ruas de Assunção, onde há uma rua que leva o seu nome: Boris Cassiánoff (transliteração local do sobrenome russo Kasiánov).
 
Fonte: História Militar / Carlos Daróz
Original Post
×
×
×
×