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TENENTE HARUO YOSHINO

Quem eram os homens que atacaram o atracadouro dos encouraçados em Pearl Harbor?
Em uma entrevista com Jeffrey L. Ethell e Colin D. Heaton, Haruo Yoshino descreveu sua emoção ao ser aceito na Academia Naval de Etajima em 1938, porque “A Marinha era considerada a elite das forças armadas, e ser um piloto era a maior honra, e considerada uma missão digna de um samurai”. Sobre o seu período de treinamento, Yoshino relembra: “Fisicamente e mentalmente era brutal. Nós éramos doutrinados desde pequenos a acreditar na honra de cumprir nossa missão acima de tudo, e esta era a nossa filosofia. Nós recebíamos treinamento em artes marciais, exercícios pesados e disciplina. Nós viveríamos e morreríamos pelo imperador e pela nossa pátria. Morrer na batalha era a maior honra, e isto é algo que muitos ocidentais não conseguem entender a nosso respeito. Nosso treinamento abrangia matemática, mecânica, geografia, topografia, navegação, ginástica, e tudo isto pelo período de dois anos, antes de sermos aceitos no programa inicial de vôo”.
“Aos instrutores era permitido nos castigar com socos, varas, por qualquer motivo, mesmo as pequenas infrações”. Ele adiciona: “Uma vez eu estava tossindo durante uma formação no inverno, e o instrutor sênior me bateu na cabeça com uma vara de ratan, a mesma utilizada nas aulas de Kendo, e acabei desmaiando. Nós nunca podíamos lamentar, isto significaria uma fraqueza”.
Muitos alunos não agüentavam, e eles eram “expulsos”. Yoshino lembra que apenas 20% dos que iniciaram o curso com ele conseguiram se formar.



Tenente Ichiro Kitajima, líder do grupo de bombardeiros torpedeiros B5N2 do porta-aviões Kaga, dá instruções sobre o ataque a Pearl Harbor para as tripulações. O raide aconteceria no dia seguinte. Um diagrama de Pearl Harbor e do plano de ataque dos aviões está desenhado com giz no convés. A data desta foto é 6 de dezembro de 1941.

Após a qualificação, o suboficial de primeira classe (PO1c) Haruo Yoshino se tornou o comandante de um bombardeiro torpedeiro Nakajima B5N2, ocupando a posição de navegador/bombardeador. Ele foi designado ao porta-aviões IJN Kaga. Antes da operação contra Pearl Harbor, ele diz: “Nós recebíamos instruções continuamente, fotos aéreas para reconhecimento, boletins do tempo, e fazíamos constantemente a conferência de nosso equipamento. Eu lembro que na noite que antecedeu ao ataque, todos nós visitamos o santuário Shinto, a bordo do nosso navio, até o capitão e os comandantes de voo. Nós rezamos pela vitória e bebemos o saquê cerimonial, mesmo sabendo que a maioria de nós não imaginava o que iria realizar. Eu não conseguia dormir, estava muito nervoso, mas era um nervosismo do tipo excitante. Eu não sentia medo apesar de tudo. Nós falamos a respeito da possibilidade de um ataque surpresa e o fato de que este tipo de ataque não ser muito honrado. Eu sei que muitos ocidentais acham difícil entender esta questão. Esta seria minha primeira missão de combate, e muitos pensamentos passaram pela minha mente neste momento”.
“Existia um código de ética para vivermos, era o Bushido dos samurais. Não tínhamos permissão para simplesmente ir e matar, ou preparar uma armadilha para nossos inimigos. O ocidental chama isto de cavalheirismo, mas para nós é simplesmente uma questão de tradição bem antiga. Nós cremos que se vamos atacar um inimigo, devemos avisá-lo, e isto é honra! Todos nós, especialmente os oficiais, acreditávamos nisto, e eles deviam dar o exemplo para o próprio bem da missão”.
“Na verdade, nós fomos informados que os Estados Unidos seriam avisados por meio de uma declaração de guerra formal pelo menos uma hora antes de atacarmos, mas naturalmente eles não saberiam nem onde e nem como seria este ataque. Só mais tarde é que ficamos sabendo que isto não aconteceu, e o orgulho pela vitória foi de certa forma, manchado pela sensação de vergonha que tivemos”.



O avião AII-305 que levou Haruo Yoshino até Pearl Harbor.

“Nós voamos próximos da ponta Kaena, que estava anotada em nossos mapas, e todos nós tínhamos mapas com as rotas e fotografias dos encouraçados no porto. Todavia, nós tínhamos a expectativa que algum porta-aviões poderia estar ancorado. Estes eram os nossos alvos principais”.
“Os pilotos do meu grupo não tinham alvos específicos para atacar, por isso deveríamos seguir o nosso líder de vôo, e assim que estivéssemos ao alcance de lançar o torpedo, precisaríamos escolher o alvo mais fácil para atacar. A formação dos torpedeiros dos porta-aviões IJN Akagi e IJN Kaga foi dividida em dois grupos de 12 torpedeiros cada um, o que nos ajudaria a atingir com facilidade qualquer alvo que escolhêssemos. Isto provou ser bastante efetivo”.
“Nós voávamos alto, e somente após passarmos pelas montanhas e manobrar para a esquerda em direção ao canal que constatamos não ter nenhum porta-aviões ancorado. Os encouraçados eram o segundo alvo em prioridade caso estivesse lá, e eles estavam lá, e contra eles nós dirigimos o nosso ataque e os bombardeiros de mergulho também...”
“Eu voei sobre o canal e procurei avistar os outros aviões da minha unidade, todavia eu estava muito a frente deles. Num primeiro momento eu estava maravilhado de que não havia reação da artilharia antiaérea durante o vôo de aproximação. Eu pensei: Por que eles não estão reagindo ao ataque se nossos países então oficialmente em guerra?”
“Como o piloto do meu avião, o suboficial de segunda classe (PO2c) Ichiji Nakagawa, viu um grande navio a nossa frente, ele diminuiu a altitude de vôo de 500mt para cerca de 10mt sobre a água. Ele alinhou a mira e quando a silueta do navio extrapolou a medida da mira fui avisado para lançar o torpedo.
Ao soltar o pesado torpedo, meu avião deu um salto para cima, mas novamente nosso piloto forçou o nariz do avião para baixo pra observar se tudo estava em ordem. Eu sabia que poderíamos nos chocar com o navio, então ele fez o avião subir e passamos próximo da superestrutura do navio. Ele manobrou para a direita e subimos, ficamos circulando para ver os outros aviões realizarem seus ataques. No momento em que nós retornamos para a formação com os outros bombardeiros para juntos voltarmos para o IJN Kaga, os americanos estavam atirando tudo que tinham contra nós. Eu vi três B5N2, todos torpedeiros, expelindo fumaça, e um deles virou e se chocou com a água. Algumas balas incendiárias se aproximaram do meu avião, mas eu não fui atingido. Nosso avião (código de cauda AII-305) foi atingido oito vezes enquanto seguíamos no ataque para lançar nosso torpedo contra o USS Oklahoma. Nosso artilheiro, aviador de primeira classe (F1c) Mitsuo Kawasaki, ficou tão ferido que posteriormente deu baixa da Marinha por invalidez”.
“Eu constatei que todos os membros da minha ala escaparam com sucesso e nos agrupamos. Mas eu percebi que dos seis aviões da segunda formação, cinco estavam faltando antes que deixássemos o porto”.
Após o seu retorno ao IJN Kaga, Yoshino diz: “Havia uma grande excitação. Pouco antes de deixarmos a ilha de Oahu para trás, a segunda onda de ataque decolou, liberando o convés de voo para nós. Após pousarmos, cada um de nós pegou seu saquê e brindamos. Nosso sentimento era de vitória!”.



Foto de um grupo de tripulantes de B5N2 do porta-aviões IJN Kaga. Nesta foto estão dois sobreviventes da guerra, Haruo Yoshino e Takeshi Maeda

RABAUL, JANEIRO DE 1942.

Haruo Yoshino participou em 20 de janeiro de 1942 do ataque contra Rabaul.
A grande formação do porta-aviões IJN Kaga era composta por 27 bombardeiros de alto nível. Eles se aproximaram de Rabaul pela costa oriental do porto Simpson, em um curso direto ao encontro de uma firme barragem antiaérea. O grupo era formado por três chutais (ala formada por 9 aviões), e liderado pelo hikotaicho tenente comandante Takashi Hashiguchi. Mas ele, igual a Fuchida, era o tripulante responsável pela navegação/observação. Pouco antes de começar a corrida final de bombardeio, ele sinalizou para o seu ala número dois, que estava posicionado um pouco atrás, para assumir a liderança do ataque. O piloto deste bombardeiro era o suboficial de primeira classe (PO1c) Tatsuya Sugihara, especialmente treinado em bombardeiro horizontal de alto nível, tomou a posição de liderança no ataque. Em sua tripulação estava o principal especialista em bombardeio do porta-aviões IJN Kaga, o oficial (CPO) Katsuo Yamamoto, cujo lançamento de sua bomba seria o sinal para aos outros bombardeiros lançarem as suas. Alguns bombardeiros carregavam seis bombas de 60kg, enquanto outros carregavam uma bomba de 800kg.
Um dos aviões desta formação tinha como observador o suboficial de segunda classe (PO2c) Takeshi Maeda, e ocupava a posição número três nesta primeira ala. Quando ele observou a mudança de posição dos aviões de sua ala, ele removeu o dispositivo de segurança do mecanismo de liberação de bombas. Momentos depois, enquanto ele se preparava para a corrida final de bombardeio, a barragem antiaérea dos australianos começou a explodir em volta da formação japonesa. “Nossos aviões balançavam demais por causa das explosões que aconteciam a nossa volta”. “Eu prestava atenção no avião líder e liberei a nossa pesada bomba, o que causou uma ascensão repentina. De repente, o avião líder pilotado por Sugihara foi atingido pelo fogo antiaéreo e abandonou nossa formação. Depois ficou envolto em chamas e foi se chocar com a encosta do monte Hanasaki, um vulcão. Eu creio que foi um impacto direto, pois tudo aconteceu em questão de segundos. Se nós não estivéssemos na corrida final de bombardeiro, o avião de nosso líder, o hikotaicho Hashiguchi, é que estaria com problemas”.
Apenas seis semanas antes, Sugihara e sua tripulação participaram do glorioso ataque a Pearl Harbor. Agora ele tinha a duvidosa reputação de se tornar a primeira baixa japonesa no ataque a Rabaul.
Dos 109 aviões japoneses que participaram do ataque, apenas este B5N2 foi abatido sobre Rabaul. Mas isto não quer dizer que outros danos sérios não foram causados pela artilharia antiaérea. Haruo Yoshino descreveu esta missão como assustadora. Ele lembra que outros cinco B5N2 foram danificados pela pesada barragem de fogo antiaéreo. Seu próprio avião foi atingido no motor, que ficou vibrando consideravelmente. O longo voo de retorno sobre o mar foi particularmente estressante. “Eu estava apavorado com a possibilidade do motor falhar a qualquer momento por causa da vibração”. “Um punhado de cabos elétricos do motor foi atingido. Em volta desta área havia estilhaços das granadas antiaéreas presas na fuselagem. Então, eu pensei que poderia existir uma granada que ainda não tinha explodido e que estivesse presa dentro do motor... Eu queria desesperadamente retornar para meu porta-aviões!”
O piloto do avião de Haruo Yoshino conseguiu fazer um pouso de emergência a bordo do IJN Kaga, mas a tripulação de outro B5N2 foi obrigada a amerissar no mar ao lado de seu porta-aviões. Os artilheiros australianos também danificaram um bombardeiro de mergulho D3A1. O piloto fez uma tentativa de pouso de emergência em seu porta-aviões, o IJN Shokaku, porém ele se chocou com o convés de voo. Os dois tripulantes acabaram morrendo neste impacto. As baixas japonesas neste primeiro ataque contra Rabaul somaram dois B5N2 e um D3A1.



MIDWAY, JUNHO DE 1942.

Durante a batalha de MIDWAY, Haruo Yoshino voou em uma missão de reconhecimento. Seu B5N2 decolou logo após o lançamento da onda de ataque contra a ilha Midway, na madrugada de 6 de junho. Seu retorno coincidiu com o retorno desta força atacante. Eles chegaram no momento em que os porta-aviões japoneses sofriam o ataque das forças aéreas americanas estacionadas em Midway. O piloto do avião de Yoshino, o PO2c Kazuki Nakazawa, precisou circular junto com a força de ataque que retornava de Midway, aguardando uma oportunidade para pousar. A situação era caótica, e os navios japoneses estavam espalhados como resultado do ataque americano. Quando eles conseguiram localizar o IJN Kaga, o convés de voo ainda estava fechado para pousos e decolagens. O avião de Yoshino ficou voando paralelo a um kanbaku (D3A1) do IJN Kaga.
Após pousar no IJN Kaga, Yoshino se dirigiu para a sala de prontidão. Depois do relatório, retornou para o convés de voo, passando lentamente pela galeria das baterias antiaéreas na parte traseira do navio. Ao se aproximar da torre de comando, ficou de prontidão junto com outros tripulantes para o próximo ataque, aguardando que seus aviões fossem posicionados no convés de voo.
Enquanto esperavam foram ordenados para auxiliar aos observadores, e prestarem atenção no céu, para a possibilidade de aproximação de aviões inimigos. Ninguém sabe quem viu os SBD americanos primeiro, mas às 10h22 vários deles gritaram: bombardeiros de mergulho inimigos!
O IJN Kaga foi alvo deste ataque e quatro bombas o atingiram em cheio, uma delas próxima da torre de comando e do grupo em que Yoshino estava. Vários deles foram jogados no chão, mas Yoshino foi poupado, junto com outros dois japoneses. A situação se tornou caótica com a explosão e os incêndios resultantes. Os três correram para se proteger no deque inferior, próximo dos botes salva-vidas.
Yoshino conseguiu descer mais e pular no mar. Ele estava próximo de um bote lotado com sobreviventes, e observou um destróier se aproximando dele e de outros que estavam boiando no mar. Yoshino decidiu nadar até o destróier. Todavia, de repente o destróier se afastou rapidamente.
Como a situação foi se agravando, Yoshino não sabia se conseguiria sobreviver. Mas no final, o destróier retornou e ele e os outros sobreviventes foram recolhidos do mar.
Após ser recolhido e já no convés do destróier, Yoshino inesperadamente encontrou um parente que era tripulante do destróier. Profundamente envergonhado pela sua situação e por ter sido derrotado na batalha, Yoshino aceitou as roupas secas oferecidas pelo parente. Ele esperava que este conhecido não contasse para ninguém em sua casa sobre a condição lamentável em que estava.
Às 18h56, após o sol se por, Yoshino observou um quadro sombrio. O porta-aviões IJN Kaga estava irremediavelmente perdido. A destruição era tremenda e o navio se transformara na sepultura de centenas de homens. Esta situação causou grande tristeza em Yoshino, que sentia o amargo gosto da derrota pela primeira vez. O destróier japonês torpedeou o IJN Kaga que acabou afundando.

APÓS A GUERRA
Em maio de 1998, Haruo Yoshino participou da expedição do explorador Robert Ballard, em busca dos destroços do porta-aviões americano Yorktown e dos japoneses IJN Akagi e IJN Kaga. Somente o navio americano foi encontrado. No dia 12 de maio, após desistir da busca, Yoshino e outro veterano japonês, realizaram um ritual Shinto, que pertence a uma tradicional religião do Japão. Eles lançaram ao mar flores de lótus, água do famoso monte Fuji, e especialmente o cerimonial saquê. Haruo Yoshino leu uma prece em japonês, pedindo pelo descanso de espírito daqueles que tinham morrido na batalha, de ambos os lados.
Yoshino disse: “Os veteranos de ambos os países deixaram de lado a animosidade, e estão comprometidos pela renovação da paz”. No final da cerimônia, os veteranos americanos e japoneses se cumprimentaram.

No ano 2000, aos 82 anos de idade, Haruo Yoshino participou de uma reunião entre 200 veteranos japoneses e 60 americanos no Havaí, para acontecer reconciliação. A reunião foi amistosa e proporcionou momentos inesquecíveis. Os veteranos dos dois países apertaram as mãos e bateram papo sem reservas. Entre eles não havia nenhum sentimento de antipatia.
Antes da guerra, Haruo Yoshino só conhecia a respeito dos Estados Unidos por meio dos filmes dublados em japonês. “A maioria de nós sabia apenas o que era ensinado nas escolas – o conceito gaijin, que era o termo usado para pessoas sem cultura”. “Eu nunca tive ódio pelos americanos, ou qualquer outro povo”. “Após a guerra o meu respeito aumentou imensamente quando eu conheci muitos veteranos americanos - muitos destes estavam em Pearl Harbor no dia do ataque. Eu gosto dos americanos, e me sinto mal por ter participado de algo como a guerra que travamos”.
Yoshino adiciona: “Eu devo dizer que devemos respeitar todas as pessoas, nunca subestimar um inimigo, e nunca esquecer que meu inimigo hoje poderá se tornar meu amigo amanhã”.



Foto de Haruo Yoshino tirada a poucos anos atrás. Crédito da foto: http://www.beyondpearlharbor.com/Home3.html

No dia 7 de dezembro 1941, 765 aviadores japoneses foram destacados para o ataque contra Pearl Harbor, e decolaram de seis porta-aviões. Em setembro de 1945, apenas 150 participantes deste grupo ainda estavam vivos. Em 1991, nas comemorações dos cinqüenta anos do ataque, apenas 65 ainda estavam vivos. Com o falecimento de Haruo Yoshino (aos 93 anos), ocorrido no dia 12 de novembro de 2011, apenas um veterano que tripulou um B5N2 do porta-aviões IJN Kaga ainda está vivo, é o Takeshi Maeda (91 anos)!

Tradução: Sidnei E. Maneta - Japonês - 18/11/2011

BIBLIOGRAFIA:
Livro: FORTRESS RABAUL: The Battle for the Southwest Pacific, January 1942-April 1943. Autor: Bruce Gamble
Livro: BEYOND PEARL HARBOR: The Untold Stories of Japan's Naval Airmen. Autor: Ron Werneth.
Livro: ROBERT BALLARD: EXPLORER AND UNDERSEA ARCHAEOLOGIST. Autora: Lisa Yount.
Livro: SHATTERED SWORD. Autores: Anthony Tully e Jon Parshall
Revista: MADE IN JAPAN, #46, julho 2001
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