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Box-art do kit da Hasegawa com o avião de Yamakawa.

A primeira impressão de Shinsaku Yamakawa sobre o Havaí foi de uma beleza sem igual. Do ar, ele conseguia ver os telhados coloridos das casas misturados com o verde luxuriante da folhagem.
“Os telhados eram de cor vermelha, amarela e verde...era algo maravilhoso”, ele relembra. Todavia, ele teve pouco tempo para apreciar esta vista.
O céu a nossa frente estava nublado e com fumaça que subia em decorrência das bombas já lançadas, criando um aspecto sinistro.

Pouco tempo depois, Yamakawa já estava conduzindo seu bombardeiro de mergulho pelo céu repleto de fumaça e luzes vermelhas brilhantes ocasionadas pela ação da artilharia anti-aérea logo abaixo.
Yamakawa procurava por um alvo. O primeiro navio escolhido foi descartado por já ter sido atingido, então ele escolheu outro que estava próximo: “Eu não estava pensando em nada”, ele se recordou deste detalhe durante uma entrevista dada para a imprensa, “Eu estava apenas procurando por um navio para atacar, e o USS Maryland ainda não tinha sido atingido.

Yamakawa entrou num mergulho e largou sua bomba: “Eu senti que iria atingir o alvo... Era como se o navio tivesse sugado minha bomba. Parecia que tudo acontecia em câmera lenta... Eu observei uma explosão e fumaça... quando minha bomba o atingiu, eu pensei: Consegui!”.

Após o ataque, Yamakawa decidiu retornar ao seu porta-aviões sozinho após ir até o ponto de encontro localizado próximo da ponta Kaena e não encontrar nenhum outro avião japonês. Esta volta solitária tinha apenas a companhia de seu observador/artilheiro de ré, o aviador de primeira classe (F1c) Katsuzo Nakata. Eles teriam que encontrar a força tarefa por si mesmos. Um pequeno dano no motor que foi causado pela artilharia anti-aérea causou uma perda de potência, resultando em um voo de retorno mais demorado. Finalmente, após quase duas horas e meia de voo, durante as quais Yamakawa quase se desesperou por não conseguir encontrar a Kido Butai, ele sobrevoou um dos submarinos japoneses destacados para missão de observação. Eles ficaram consolados ao ver os marinheiros localizados na torre de observação do submarino acenando com uma bandeira do Sol Nascente.
Incialmente ele pensou em amerissar próximo do submarino, mas após algum tempo mais de voo ele encontrou o IJN Kaga. Ao se alinhar com a esteira do seu porta-aviões e se aproximar do convés de voo, o motor de seu “Val” apagou por falta de combustível antes dele tocar com seus pneus o convés de voo. Yamakawa pisou fundo nos freios assim que a barreira de proteção foi acionada logo a sua frente. Seu bombardeiro de mergulho empinou com o nariz para baixo, com a hélice tocando o convés. Na preocupação de conseguir pousar rapidamente com segurança, Yamakawa tinha esquecido de acionar o gancho de parada. O horário de seu pouso: 12h46, após quase 6 horas de voo em missão de combate!
Yamakawa continua sua entrevista: “Após tudo terminar eu retornei ao meu porta-aviões. Fiz meu relatório de combate ao falar com meu oficial, e afirmei positivamente ter atingido um navio. Isto foi tudo e retornamos para casa“.

Sessenta anos após o ataque, Yamakawa e todos os japoneses estão esperando para se encontrar novamente com Pearl harbor - agora pela ótica de Hollywood.
“Eu vou adorar assistir este filme”, disse o veterano Yamakawa, 80 anos, em Iwanuma, sua cidade localizada no nordeste do Japão, aonde ele continua a treinar pilotos. “Eu quero assistir o filme porque eu participei deste ataque... Estive lá!”.
Quase 30.000 pessoas são esperadas na premier do filme “Pearl Harbor” que vai ocorrer na sexta-feira, no estádio Tokyo Dome. O diretor Michael Bay e os atores Ben Affleck e Josh Hartnett estarão presentes no evento.

Mas o tema deste filme, o ataque a Pearl Harbor, não está livre das controvérsias...
Filmes americanos com temas militares não são incomuns nos cinemas japoneses, e este filme em particular está sendo considerado como mais um sucesso (blockbuster) de verão vindo de Hollywood.
Seu distribuidor enfatiza que é uma estória de amor, e não uma tentativa de retratar os japoneses com um inimigo terrível.
No Japão, os frequentadores de cinemas são em sua maioria formados por jovens que possuem pouco conhecimento sobre o ataque e por este motivo reagem de maneira diferente dos mais velhos.
O colegial Naotaka Tominaga, 18 anos, disse que procurava por ingressos para ver o filme, mas ficou inseguro ao ser perguntado sobre o ataque a Pearl Harbor.
“Eu lembro ter ouvido sobre este tema durante uma aula”, ele disse, “Mas eu não sei o que aconteceu”.

Porém para Yamakawa esta questão se torna mais complexa.
Igual a muitos japoneses de maior idade, ele acredita que naquela época (1941) seu país foi pressionado a atacar os Estados Unidos. Alguns historiadores tem argumentado que os EUA forçou Tóquio a realizar este ataque surpresa contra a Frota do Pacífico ancorada em Pearl Harbor por causa do embargo de petróleo e outras matérias primas essenciais para o expansionismo japonês.
Yamakawa acredita que o ataque foi um exemplo de arrojo militar estratégico.
“Nós não fizemos um ataque traiçoeiro”, ele afirma.



Perfil colorido do avião de Yamakawa utilizado no raide de Pearl Harbor.

Apesar do ataque de 7 de dezembro de 1941 ter sido um grande golpe, mais tarde levou ao desastre militar e a derrota de seu país. Quando a fumaça se dissipou, 21 navios americanos estavam afundados ou danificados, e cerca de 2.400 americanos mortos. Yamakawa escreveu sobre sua experiência na guerra, e seu livro “Bombardeiro de mergulho embarcado” já vendeu 30.000 cópias desde seu lançamento em 1994.

Décadas depois, Yamakawa iria encontrar com uma pessoa que observou sua bomba atingir o USS Maryland, mas de uma distância bem mais próxima...
No ano de 1992, ele visitou Pear Harbor, acompanhado de outros veteranos japoneses para se encontrar com sobreviventes americanos. Os japoneses foram perguntados, um por um, sobre qual navio eles atacaram.
Quando Yamakawa disse que bombardeou o USS Maryland, um homem de grande estatura ficou em pé e disse que seus amigos tinham morrido neste navio. Este homem ficou bastante emocionado.



Foto do momento em que três bombardeiros “Val” atacam o USS Nevada.

Ele afirmou que duas bombas atingiram o USS Maryland, uma na popa e outra na proa. Ele perguntou qual destas bombas foi lançada por Yamakawa. O piloto japonês afirmou que a sua bomba atingira a popa... O americano disse que foi esta bomba que matou seus amigos...
Num primeiro momento Yamakawa ficou emudecido, mas logo depois disse: “Eu não quero dar desculpas esfarrapadas, mas naquele dia eu tinha uma missão a ser realizada para o meu país, assim como você. Os acontecimentos daquele dia foram entre dois países...”
Este veterano americano estendeu o braço e eles se cumprimentaram, com um afetuoso aperto de mãos. Yamakawa nunca esqueceria deste momento.
Yamakawa acrescentou: “Se hoje me chamarem para lutar pelos EUA, eu iria lutar. Eu lutaria por este país! Isto aconteceria porque muita coisa mudou desde aquela época”.

O ANO DE 1942
O aviador de primeira classe (F1c) Shinsaku Yamakawa nasceu em 1920, e se alistou em 1938, embarcando no porta-aviões IJN Soryu em 1940, depois foi transferido para o IJN Ryujo e IJN Kaga.
Após o ataque contra Pearl Harbor, Yamakawa participou do avanço japones em direção a Austrália, atacando Rabaul, Darwin e nos raides contra os navios aliados que navegavam na região próxima.
Um destas vítimas foi o navio tanque USS Pecos, localizado pelos japoneses no final da manhã do dia 1º de março de 1942. Uma chutai (formação composta por 9 aviões) do porta-aviões IJN Kaga atacou. Yamakawa pilotava seu avião código de cauda AII-256 posicionado por último na formação japonesa. O navio americano conseguiu se evadir das bombas lançadas, menos a de Yamakawa, que o atingiu. Apesar do fraco armamento defensivo do USS Pecos, Yamakawa iria pagar caro para conseguir retornar ao seu porta-aviões. Um tiro certeiro atingiu o tanque de óleo de seu avião. Apesar das dificuldades enfrentadas, com o para-brisa e seus óculos de proteção escurecidos pelo óleo que vazava, Yamakawa conseguiu pousar.


Foto de Yamakawa e seu avião código de cauda AII-256, pertencente ao porta-aviões Kaga.

Após seu retorno ao Japão, foi transferido para as unidades de bombardeiro de mergulho do novo porta-aviões IJN Junyo e recebeu uma promoção. Participou do ataque as Aleútas em junho de 1942.
Após realizar seu ataque contra Dutch harbor no dia 4 de junho, Yamakawa voava a altitude de 300 metros, e aproveitava para degustar um bolinho de arroz, quando de repente balas incendiárias passaram próximas da asa direita de seu D3A1. Yamakawa se virou para olhar atrás e avistou alguns caças P-40 se aproximando da posição “seis horas”. Yamakawa realizou uma rápida manobra lateral e seu artilheiro acionou a metralhadora traseira para defender suas vidas. A perseguição se intensificou, e as balas dos P-40 atingiam a superfície do mar, levantando jatos de água. Yamakawa, em desespero, diminuiu consideravelmente a altitude de voo, realizando manobras evasivas.
Quando tudo parecia perdido, dois ases japoneses, WO Saburo Kitahata e o suboficial de primeira classe (PO1c) Yukiharu Ozeki, membros das unidades de caça enviadas para proteger a formação japonesa, apareceram e conseguiram impedir o ataque dos caças americanos.

Yamakawa conseguiu retornar ao IJN Junyo, com a proteção destes dois caças “Zero”, enfrentando um espesso nevoeiro que permitia a visão a distância menor que 1,6 quilômetros. O porta-aviões de Yamakawa parecia um fantasma no meio do nevoeiro, e as luzes de apoio ao pouso brilhando bem fraco no meio da escuridão. Apesar disto, Yamakawa e os dois caças “Zero” conseguiram pousar com segurança. Após o retorno dos aviões, a formação japonesa manobrava em direção do campo de batalha em Midway.

Fora de serviço, os tripulantes dos porta-aviões japoneses gostavam de ficar próximo da sala de rádio, ouvindo as transmissões na expectativa de saber alguma novidade. As notícias eram terríveis. Alguns diziam se tratar de “informações enviadas pelo inimigo para causar confusão”, outros sussuravam que eram verdadeiras. A sala de rádio foi declarada proibida para aqueles que não faziam parte da equipe de operação do rádio.

Na semana seguinte, um destróier se aproximou para realizar uma transferência de aviadores do porta-aviões IJN Soryu. A situação a bordo do IJN Junyo se tornou lamentável com a chegada de marinheiros descalços, sem quepes e descamisados. Yamakawa reconheceu um dos infelizes que subiram a bordo. Era seu companheiro de academia naval, também piloto de Aichi D3A1, o suboficial de terceira classe (PO3c) Motomu Kato. Yamakawa gritou: “O que aconteceu?”, quando seu desolado amigo passou próximo dele. “Nos pegaram!”, foi a resposta curta de Kato. Este grupo de tripulantes do IJN Soryu foram rapidamente segregados, a nos próximos dias qualquer tipo de contato com eles foi proibido. Rumores corriam pelos deques internos do IJN Junyo. Alguma coisa terrível tinha acontecido em Midway.

PÓS GUERRA
Após a rendição do Japão, no ano de 1955 ele se alistou na Força Aérea de Auto Defesa Japonesa, e trabalhou a partir de 1970 na Japan AirLines, como professor de vôo. Ele foi o diretor de uma escola de vôo até o ano de 1994. Seu livro auto-biográfico foi lançado em 1994. Yamakawa faleceu em 12 de setembro de 2006, aos 87 anos.



PS.
Apesar da afirmação de Yamakawa ter atingido o USS Maryland, seu alvo foi o USS Nevada, durante a tentativa deste de sair para o alto mar. Este navio foi atacado por cerca de 23 bombardeiros D3A1 do porta-aviões Kaga e pelo menos cinco bombas atingiram este navio, entre estas estava a bomba lançada por Yamakawa. Informação enviada pelo historiador David Aiken.

COMPILAÇÃO E TRADUÇÃO LIVRE: Sidnei Eduardo Maneta - Japonês (19/12/2010)

BIBLIOGRAFIA:
1. Artigo: A DIFFERENT VIEW, escrito por Chisaki Watanabe para o periódico Milwaukee Journal Sentinel, em 19 de junho de 2001
2. Artigo: ATTACKERS LOOK BACK, escrito por Eric Talmage
3. Livro: AICHI 99 KANBAKU 'VAL' UNITS: 1937-42 - by Osamu Tagaya, ano 2011.
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Oi pessoal.

Vem por aí pelo menos mais 10 partes, que já estão prontas e serão reedições de artigos já publicados aqui no forum webkits.
Tenho outros que precisam ser terminados ainda.

Japonês

Esta semana na coleção de banca "As grandes Guerras Mundiais Vol. 12" da Folha de S.Paulo, justamente fala de Pearl Harbor ( pg. 38 ). Apesar de genérico, achei bacana essa coleção. A foto da pg 62 é do Battleship Row ampliada.

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