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Poucos homens nascem, morrem e são lembrados. Uma ínfima parte desses poucos são admirados. Não existe perfil para ser admirado (embora exista para ser rechaçado); não existe fórmula: o acaso, as circunstâncias, o modo como alguém opera perante as intempéries desse oceano chamado vida, a sobrevivência em meio ao caos, a capacidade de dobrar o orgulho alheio e conseguir seguidores, e não ser dobrado ou seguir os outros… tudo isso pode fazer um grande nome para figurar na história e na memória daqueles que passam conscientes pela existência. Quando morrermos, aquilo que restou da maioria absoluta de nós se perderá para sempre; restarão fotos, objetos, propriedades que não serão mais associados aos nossos feitos, às nossas conquistas e perdas, nem a nós mesmos. Duas ou três gerações depois da nossa morte bastarão para que sejamos definitivamente apagados da existência, e contaremos apenas como estatísticas de um passado recente, ou como nomes a figurar numa árvore genealógica de um jovem descendente curioso. Às vezes nem isso… sabia? A verdade é que muitos vivem como se não fossem morrer, e depois morrem como sequer tivessem existido. Essa é a regra. Apenas os Grandes viverão para sempre (ao menos enquanto a humanidade durar), seja nas notas de rodapé dos livros, nas biografias em seu nome, nos nomes de praças e ruas, na memória dos estudantes de História, nos pequenos batizados em sua homenagem, seja nas marcas no tempo e no espaço impossíveis de serem apagadas. E dentre os maiores Grandes que já passaram pela Terra, figura um que, desde os primeiros anos de vida, tinha tudo para dar errado. E o universo ora conspirava ao seu favor, ora contra, e adianto-lhes: ele venceu. Seu nome era Frederico, o Grande, e há mais de dois séculos após a sua morte milhares de pessoas ainda se lembram dos seus feitos. Eu sou um deles. Então permita-me contar um pouco sobre sua história.

A MORTE DO MENINO E O NASCIMENTO DO REI

O Rei Frederico II, o Grande, nasceu em Berlim em 24 de Janeiro de 1712. Num Inverno. Filho de uma nobre princesa alemã com o príncipe-herdeiro ao Trono da Prússia (país que hoje não existe mais), desde cedo enfrentou as violências e humilhações públicas do pai, sempre muito desconfiado com relação a tudo o que Frederico fizesse. E embora tenha ficado adolescente em meio a nove irmãos que poderiam muito bem tirar-lhe da atenção do pai e pulverizar mais um pouco sua raiva, as violências apenas aumentaram, fazendo do jovem Frederico um verdadeiro palhaço até mesmo entre os empregados palacianos, que vendo seu Rei maltratar o próprio filho, não desperdiçavam tempo para também se aproveitar de impotência e constrangimento do herdeiro. Seu pai, coroado como Frederico Guilherme I da Prússia um ano após o nascimento de Frederico, nunca escondeu a preferência pelo outro filho, Augusto Guilherme, dez anos mais jovem do que o herdeiro, pois aquele era uma criança que gostava de brincar de soldadinho e de participar com o pai de treinamentos e cerimônias militares — atividades que Frederico detestava.

Cada vez mais isolado em sua própria casa, o jovem Príncipe Frederico encontrou no tenente Hans Hermann von Katte o amigo que nunca teve entre seus irmãos e escassos cortesãos. O próprio von Katte quem instruiu Frederico ao tiro e à esgrima, ajudando a tornar menos pior a relação dele com o violento Rei, conhecido por todos como o Rei-Soldado. A gentileza, a erudição e a lealdade do tenente logo conquistaram o jovem Príncipe. Reza a lenda que foi aquele militar o primeiro e também o último grande amor do nobre solitário.

A proximidade entre Príncipe e tenente ficou cada vez mais explícita, e o Rei Frederico Guilherme pôs em questão a felicidade e o entusiasmo nunca antes vistos no filho quando este estava na companhia do amigo. Por causa disso que Frederico brigou com seu pai, e pouco depois, em 5 de Novembro de 1730, com então 18 anos, decidiu fugir com von Katte para a Inglaterra, escoltado por um grupo de soldados. Seria na terra de Shakespeare que Frederico buscaria asilo e suporte, pois era onde reinava o irmão da sua mãe, seu tio Jorge II.

Mas o intento de fuga não deu certo. Alguém revelara o plano ao Rei. Caçados por toda a Prússia, Frederico, von Katte e seu séquito foram encontrados e presos. O Rei então exige do filho a abdicação ao posto de Príncipe-herdeiro da Prússia para poder condená-lo à morte, mas sua proposta encontra resistência da Dieta Imperial do Sacro-Império, já que Frederico era também herdeiro ao título de Eleitor de Brandemburgo, e uma condenação sumária do herdeiro de um Eleitorado sem transgressão justificável poria em risco o próprio sistema eleitoral ao Trono Imperial o qual Frederico Guilherme devia obediência. O Sacro-Imperador Carlos VI intervém a favor de Frederico e impede sua morte. O Rei desiste da intenção de executar o próprio filho, mas encontra na vingança contra o tenente von Katte um modo de punir o Príncipe. Ainda preso, Frederico é obrigado a ver a execução do seu amado amigo, a quem profere as últimas palavras, em francês: “Veuillez pardonner mon cher Katte, au nom de Dieu, pardonne-moi!” (“Por favor, meu querido Katte, em nome de Deus, perdoe-me!“) Então ele vê o sangue jorrar e a cabeça do belo amigo rolar pelo chão. Frederico desmaia. A espada do carrasco cintila com sangue quente, e a Modernidade começa a tomar um novo rumo…

Nesse momento o futuro do mundo é completamente modificado: graças a ele o mapa da Europa sofrerá mudanças, a Prússia dominará parte dos demais Estados Alemães, inventará o Despotismo Esclarecido (divisor de águas entre o absolutismo antigo e o constitucionalismo modero hoje tão exaltado), a Guerra dos Sete Anos (causada diretamente por ele) arruinará econômica e colonialmente a França (dando margem para a Revolução Francesa de mais tarde) e reinventará o modo de fazer guerra e política. Pelo sentimento de vingança contra a morte do amado, Frederico colocará a Prússia no tabuleiro das nações. A morte de um amado e a vida amargurada de um só homem serão cruciais para moldar o mundo tal como conhecemos. Mas a explicação disso deve ficar para as conclusões.

A IMPLACÁVEL BUSCA POR VINGANÇA

Frederico Guilherme só dá a liberdade ao filho após casá-lo forçadamente com uma jovem duquesa chamada Isabel, em 1733. Nos sete anos seguidos, pai e filho trocarão brevíssimas palavras um com o outro.

A morte só veio para Frederico Guilherme em 1740. Dez anos de prisão domiciliar tornaram Frederico um homem erudito, instruído em política e guerra, e um flautista quase profissional. Nessa época ele compôs vários concertos para flauta; escreveu um livro, O Anti-Maquiavel, para moralizar novamente a política e argumentar que a única função do soberano é a de produzir felicidade e bem-estar para todos sem utilizar-se da tirania (obra esta que muitos diziam ser dedicada ao seu pai, que nunca chegou a lê-la, pois ela só foi publicada um ano depois de sua morte); correspondeu-se com filósofos de toda a Europa, em especial para Voltaire, que viria a ser seu amigo, chegando a convidá-lo para morar em seu palácio (uma estadia que durou seis anos). Foi nessa época que ele traçou o que seria o Despotismo Esclarecido: o absolutismo monárquico casado com valores iluministas, pelos quais Frederico, graças à amizade com Voltaire, era apaixonado. Berlim, a capital do Reino da Prússia, nunca mais seria a mesma; pela primeira vez a cidade sediava grandes eventos, verdadeiras turnês de espetáculos sinfônicos e dramáticos que a colocaram no mapa da cultura europeia. A ciência e a filosofia ressurgiram na Academia Real de Berlim, deixadas de lado no reinado de seu pai. Naturalistas receberam o financiamento real para percorrer o mundo conhecido em busca de novas espécies e descobertas. Arquitetos da Suécia, da Península Itálica, da França e da Áustria foram para a Prússia apresentar seus projetos ao Rei Frederico, cuja intenção era a de tornar as cidades do seu país tão belas quanto aquelas do coração francês (como Paris, Versalhes, Saint-Denis e Orleãs). Mas apesar de toda a beleza que Frederico intencionava para a Prússia, seu primeiro ato como rei foi buscar a vingança.

Frederico tinha absoluta certeza de que os austríacos estavam envolvidos com a delação do plano de fuga ao seu pai, cuja consequência foi a morte do seu amado von Katte, embora o próprio Imperador Carlos VI lhe tenha socorrido de última hora da execução. Assim como a Prússia ficou de luto pela morte do seu monarca, Frederico Guilherme, em 31 de maio de 1740, a Áustria também foi abalada com a morte de seu Imperador, Carlos VI do Sacro-Império, morto em 20 de outubro do mesmo ano. Nessa altura Frederico já era rei há pelo menos cinco meses, e foi graças ao morte do Imperador que ele viu o momento certo de promover sua tão esperada reparação.

A descendência de Carlos VI era só de mulheres, o que criou uma crise dinástica. Espanha e Prússia viram em um Príncipe da Casa de Wittelsbach, da Baviera, chamado Carlos Alberto, a melhor alternativa para um Imperador, a quem poderiam, mais tarde, controlar no trono em Viena. Mas ninguém ousou contestar publicamente a possibilidade de uma mulher, Maria Teresa, filha de Carlos VI, subir ao trono… até Frederico atacar a Silésia, território austríaco, anexá-la à Prússia e iniciar o que ficou conhecido na história como a Guerra de Sucessão Austríaca. Iniciou-se em 16 de Dezembro de 1740, sete meses após Frederico subir ao trono. Bastou um ano, em 1741, para que os austríacos saíssem de uma vez do rico território, escorraçados na Batalha de Mollwitz, a primeira travada pelo jovem rei, e também a última que ele abandonaria seus soldados em campo de batalha, pensando que havia perdido para os austríacos, embora tivesse vencido. Até o fim da vida Frederico se referia a Mollwitz como “minha escola”, pois depois dela jurou que nunca mais abandonaria seus soldados e nunca mais esperaria o inimigo atacar primeiro. Veio daí o ditado que terminou apenas na Primeira Guerra Mundial (1914-1918): “O Exército Prussiano sempre ataca primeiro“.

Vitorioso e com um território a mais à sua fragmentada e pobre Prússia, Frederico não se deu por satisfeito. Embora os austríacos tivessem neutralizado a ganância do rei prussiano cedendo-lhe a Silésia por tratado em 1742, só dois anos mais tarde, em 1744, ainda com a Guerra de Sucessão Austríaca acontecendo, Frederico invadiria a Boêmia, território da Áustria, e marcharia sobre Praga. Contudo, dessa vez não conseguiu êxito, e decidiu encastelar-se na Silésia. Feita as pazes com os austríacos novamente, em 1745, após a vitória decisiva na Batalha de Hohenfriedberg, e terminada a guerra que ele iniciara, Frederico se retirou para Berlim, onde promoveu uma rápida ascensão de seu país, agora com um território maior e muito mais gente para participar de suas fileiras e para trabalhar nos quase vazios campos de Brandemburgo. Começa também a construir uma obra-prima da arquitetura fredericana: o Palácio de Sanssouci, em Potsdam. Mas Maria Teresa, a Imperatriz do Sacro-Império (e também da Áustria), a arquitetava alianças em busca de vingança contra Frederico, a quem ela nunca chamava pelo nome, tratando-o por “aquele homem mau“.

 

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FRIDERICUS REX RESSURGE: INICIA A GUERRA DOS SETE ANOS

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A morte de von Katte, no entanto, parecia não estar superada no coração do Rei da Prússia. Frederico poderia muito bem contentar-se com os territórios conquistados, com o prestígio de um rei jovem, de apenas 30 anos de idade, erudito e revolucionário, mas seu coração pedia por mais vingança. A Áustria e sua aliada quase que siamesa, a Saxônia, eram alvos que pediam para serem atacados novamente. A Imperatriz Maria Teresa, que conseguira finalmente subir ao trono graças à morte por exaustão de seu distante primo bávaro Carlos Alberto (que Frederico quis ver sentado no trono Imperial), dava sinais de unir-se aos russos, franceses e suecos para retomar a rica província da Silésia, cujos minerais e comércio já faziam falta ao seu vasto país.

A Vingança de Maria Teresa, no entanto, demorou demais para começar, e foi a Segunda Vingança de Frederico, talvez muito mais potente do que qualquer outra, que estourou quando ele uniu-se ao Reino Unido de seu tio Jorge II para ter a audácia suficiente e ressurgir com uma segunda guerra contra a Áustria ao invadir a Saxônia no Verão de 1756. A reação contra isso foi quase que imediata, e o Império Russo da Czarina Isabel, a Suécia de Adolfo Frederico, a França de Luís XV e a Áustria de Maria Teresa decidiram invadir a Prússia simultaneamente, de modo que as defesas de Frederico, quase débeis no leste e no norte, não puderam resistir por muito tempo. Frederico deu início à Guerra dos Sete Anos.

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A França, aliada da coalizão liderada por Maria Teresa, entrou na guerra esperando obter vitórias coloniais sobre os britânicos, que logo se sucederia num verdadeiro fracasso e no fim do Império Colonial francês do século XVIII — perdeu o Quebec, territórios na Índia e no Caribe, sem os quais a Corte Francesa encontrou dificuldades para manter o seu estilo de vida.

Portugal, aliada eterna dos britânicos, acabou se deparando com a Espanha na guerra, que esperava retomar para si o território lusitano, independente da coroa de Madrid desde 1640. Graças à expertise administrativa e militar do Marquês de Pombal, recém-contratado pelo rei Dom José, e graças às tropas britânicas estacionadas em Lisboa, a invasão espanhola a Portugal acabou se tornando um verdadeiro fracasso: 60.000 soldados franco-espanhóis enfrentaram 14.000 soldados luso-britânicos e mesmo assim levaram uma vergonhosa surra. Esse conflito, já nos últimos momentos da Guerra dos Sete Anos, ficou conhecido como A Guerra Fantástica, devido à bravura e à estratégia dos defensores, perdendo em número numa relação de 1 para 4. Como se a derrota das tropas espanholas e francesas não bastasse, o número de vítimas também foi acachapante: apenas 1.000 soldados morreram do lado defensor, enquanto que 25.000 pereceram do lado invasor. Tropas inimigas só voltariam a invadir Portugal em 1807, no contexto das Guerras Napoleônicas. Vale lembrar que o Grande Terremoto havia arrasado Lisboa no ano de 1755, um ano antes da guerra começar, e que parte do orçamento do Reino de Portugal fora convertido para a reconstrução da cidade, deixando sua própria defesa debilitada.

 A BATALHA DE ROSSBACH E A VERGONHA DE LUÍS XV

Foi em Maio de 1757 que Frederico invadiu Praga com o grosso do seu exército e tomou-a dos austríacos pela primeira vez na vida. Seu exército era numericamente superior (66.000 soldados prussianos contra 60.000 austríacos), embora tenha perdido 1/4 dele em batalha, ficando com 52.000 homens para resistir durante os próximos anos de Guerra. Mas ele não se deu por vencido e dividiu suas tropas em duas: enviou 22.000 para a Saxônia, a oeste, e 30.000 para defender a Silésia da iminente invasão austríaca, cujos exércitos estavam todos se concentrando em Viena, a sul. Com parte das forças de Frederico em pleno avanço sobre a Saxônia, no bimestre Novembro-Dezembro de 1757, Áustria pede o socorro das tropas francesas estacionadas na Baviera e é imediatamente ajudada. O Rei Luís XV da França envia para lá o seu melhor marechal, o Príncipe de Soubise, Carlos de Rohan, com um quarto das tropas francesas, enquanto que a Áustria envia a maior parte do seu contingente para a Saxônia e a outra metade para invadir a Silésia sob o comando do Príncipe Carlos Alexandre de Lorena, cunhado da Imperatriz Maria Teresa.

O total desse grande exército marchando simultaneamente para o norte, contra Frederico, era de 108.000 soldados mais 360 canhões. Frederico, contando com um exército de 22.000 soldados e 72 canhões para invadir a Saxônia, não poderia resistir na Silésia se perdesse muitos soldados nessa região. Ele tentou então, enganar o inimigo, fingindo que estava fugindo para o leste. Uma magnífica armadilha estava sendo preparada. Deu-se, então, a Batalha de Rossbach.

Soubise invade Rossbach, território saxão sob controle prussiano, com os 33.000 soldados para deter o avanço de Frederico pelo coração da Europa. Une-se aos 9.000 austríacos que ali estavam para formar um exército de 42.000 homens. Ali encontra os 22.000 soldados prussianos sob comando pessoal do rei, observando-os por cima de um monte a norte. As tropas sob o comando do Príncipe francês contornam a região pelos montes do sul e seguem adiante por um vale, imaginando que, dali, poderiam dividir o exército prussiano em dois. Mas os franceses foram pegos de surpresa: uma linha com todos os 72 canhões prussianos estava estacionada no alto de um monte para o qual o vale corria e encontraram um alvo perfeito na coluna massiva de inimigos marchando todos concentrados num espaço de pouco menos de 1 km de largura. As balas dos canhões atingem todas as filas inimigas, ricocheteando até pararem, como num jogo de boliche, destroem os canhões que estavam rebocados, derrubam pelotões inteiros de cavalaria… tudo isso apenas na primeira saraivada.

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Mas as ordens de Soubise não são para recuar. Ao chegarem num campo onde o vale se alargava, no norte, as tropas francesas, sem dar sequer um tiro, são surpreendidas por 3.500 cavaleiros prussianos descendo o monte à sua direita. Ainda recebendo fogo grosso da artilharia prussiana à frente, os inimigos são atropelados pelos cavalos e todo o restante da tropas inimigas dá meia volta para tentar ir embora. O próprio Príncipe de Soubise quase foi morto quando seu cavalo recebeu um disparo de artilharia. Enquanto isso a infantaria de Frederico vinha tomando o alto dos montes à esquerda dos inimigos e, numa orquestrada movimentação, conseguem garguelar todo o exército sob o comando francês. Ao final da batalha, que durou apenas 90 minutos, Frederico saiu vitorioso tendo perdido apenas 170 homens. Do lado inimigo, mais de 1.500 foram mortos e outros 2.000 feridos. Mais de 7.000 homens e 70 canhões foram capturados. Mas Frederico não decide perseguir o restante dos inimigos em debandada para o oeste, como qualquer vitorioso soberbo faria; sua preocupação passou a ser a Silésia, então prestes a ser invadida por 75.000 austríacos sob o comando do Príncipe Carlos. Em Junho daquele ano de 1757,  os austríacos sob comando do Marechal Leopoldo von Daun fizeram Frederico amargar uma dura derrota em Kolín, a primeira derrota de Frederico na Guerra dos Sete Anos — o que lhe obrigou a retirar suas tropas da Boêmia, abandonando a pretensão de invadir Viena, mais ao sul. Carlos ingenuamente esperava que Soubise desse conta do resto das tropas de Frederico em Rossbach, mas acabou se arrependendo depois…

 

A FÚRIA DE MARIA TERESA: A ÁUSTRIA FICA DE JOELHOS

Era início de Dezembro quando Frederico retornou à Silésia. Também estava preparado para vingar-se da audácia promovida por 5.100 cavaleiros húngaros a serviço de Maria Teresa que invadiram Berlim em 16 Outubro e fizeram a cidade refém, libertando-a apenas depois de receberem um resgate de 250.000 táleres de prata. Um de seus exércitos havia interceptado os húngaros, e acabaram reavendo a quantia para os cofres prussianos.

O Príncipe Carlos de Lorena, já sabendo que o resto dos franceses sob Soubise voltara à França e que o Rei Luís XV, sabendo da vergonhosa derrota, se recusara a lutar contra Frederico novamente, adiantou-se e tomou Breslau antes da chegada dos prussianos, que aconteceu no dia 4. No dia 5 ele comandou 66.000 soldados e 250 canhões para defender-se dos prussianos na cidade de Leuthen. Ele não sabia que Frederico tinha apenas 33.000 em suas fileiras e 165 canhões — ou seja, Carlos estava em superioridade numérica de 2 para 1.

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Uma grande linha austríaca com duas colunas de batalhões tomava os campos de Nippern (atual Mrozów) a Sagschütz (atual Zakrzyce). Eram 8 km de homens esperando o ataque frontal de Frederico. Carlos de Lorena estava crente que o grosso das tropas de Frederico, que até então ele não sabia exatamente a dimensão, pretendia invadir Frobelwitz (atual Wróblowice), e manteve seus cavaleiros, canhões e soldados estacionados. Era manhã  com nevoeiro denso quando as tropas austríacas viram um pequeno grupo com quatro batalhões marchando em sua direção. A atenção de Carlos se concentrou naqueles poucos prussianos, mas não mandou atacar. Em Leuthen (atual Lutynia), a sul, a exposição do flanco esquerdo austríaco acabou se tornando o calcanhar de Aquiles para Carlos de Lorena: ali estava o real grosso do exército de Frederico, 30 mil soldados com cavalaria e artilharia, destruindo batalhão por batalhão com cargas de artilharias, fuzis e baionetas, além das esmagadoras cargas de cavalaria. Carlos demorou mais de duas horas para saber que seu flanco esquerdo estava exposto e colapsando e que a batalha estava acontecendo ali, e não nas florestas contra aqueles quatro batalhões prussianos que disparavam contra as suas fileiras da direita. Assim que ele desceu para o sul na tentativa de reorganizar seus flancos, Frederico e seus soldados forçaram o recuo dos austríacos até que, impossibilitados de manter a linha perante os ataques oblíquos da infantaria e da cavalaria prussianas, decidiram recuar.  A mesma estratégia de Alexandre, o Grande, foi repetida por Frederico: um batalhão de vez, um atrás do outro, quebrando a fileira estável dos inimigos, como ondas humanas que batem numa muralha até colocá-la abaixo.

Era final de tarde quando todo o exército austríaco colapsou, incapacitado de continuar lutando devido ao assédio e à movimentação constantes das tropas prussianas. Carlos e o que restou de suas tropas fugiram para o leste, e dessa vez foram caçados por Frederico até metade dos austríacos estarem mortos, feridos ou aprisionados. Um quinto das tropas prussianas havia morrido em combate, enquanto do lado austríaco, 22.000 dos 66.000 iniciais pareceram. Maria Teresa, extremamente irritada com lerdeza do cunhado, obrigou-o a aposentar-se do serviço militar e transferiu o comando do seu exército ao austríaco Conde Leopoldo José von Daun. Nenhum austríaco enfrentaria novamente os prussianos em campo aberto, ainda mais com Frederico ao seu comando.

A EXAUSTÃO PRUSSIANA E A IMPLACÁVEL MARÉ RUSSA

O panorama da Guerra dos Sete Anos modificou drasticamente com o avanço das tropas russas, que começou em 1758, após as vitórias fredericanas ao longo dos dois anos anteriores. Àquela altura Frederico já tinha mudado completamente o mapa da Europa: pôs o Reino Unido em confronto direto contra a França, diminuindo drasticamente a influência e o poderio francês tanto em terra quanto em mar; retirou da Áustria a hegemonia sobre os Estados Alemães, principalmente sobre a Baviera, o principal baluarte de Viena contra qualquer invasão vinda do oeste (Napoleão se aproveitaria disso, mais tarde); indiretamente promoveu, pela primeiríssima vez, o avanço russo sobre territórios da Europa continental, embora essa nunca tenha sido sua vontade; jogou a última pá de cal sobre as intenções imperialistas do moribundo Reino Sueco, que trinta anos mais cedo,  em 1721, perdera o respeito e a influência com a derrota contra a Rússia de Pedro, o Grande, e a morte do seu ousado rei Carlos XII.

Seguidas batalhas ocorreram ao longo de 1758, e a maior parte delas foi de derrotas: Hochkirch, em Outubro (30.000 prussianos contra 80.000 austríacos); Maxen, em Novembro; Meissen, em Dezembro. Em Agosto de 1759 Frederico sofreu a sua maior derrota de sempre: a Batalha de Kunersdorf, contra uma coalizão russo-austríaca, na qual ele entrou com 55.000 homens e saiu com apenas 3.000. Desesperado, confessou que aquela era a sua derrota, e chegou a despedir-se de seus generais, dizendo que depois daquela batalha estaria “tudo perdido, tudo perdido para sempre!” Mas felizmente os sobreviventes de Kunersdorf restauraram o brio e as tropas do seu rei e voltaram para defender sua capital, Berlim, que estava a um triz de ser definitivamente invadida pelos russos. A Imperatriz Isabel da Rússia, que nessa época já dava indícios de estar fisicamente abalada por uma doença, pediu aos seus generais que esperassem o melhor momento para acabar com a Prússia, pois os austríacos ainda tentavam recuperar a Saxônia e a Silésia das mãos de Frederico.

Em Julho de 1760 Frederico perdeu por um cerco a Dresden, capital da Saxônia, mas escapou a tempo antes da cidade ser tomada; depois venceu os austríacos em Liegnitz, em Agosto; mas em Outubro o cerco austro-russo se fechou novamente e Frederico viu Berlim sendo invadida, ficando desmoralizado e praticamente abandonado. Seu moral já estava abalado, mas continuou o seu avanço pela Saxônia até fazer os austríacos abandonarem a capital prussiana para tentar deter Frederico, que não parava mesmo com a invasão à sua cidade. Após a derrota do Conde von Daun na Batalha de Torgau, em Novembro de 1760, os russos decidiram dar meia-volta, sabendo do recuo dos seus aliados austríacos, e indiretamente permitiram que o espírito prussiano continuasse existindo. Berlim foi novamente recuperada, embora seus cidadãos começassem a contestar seu rei e sua guerra.

A MORTE RUSSA BATE À PORTA: O COMEÇO DO FIM PARA FREDERICO

Mas em 1761 começou a hecatombe do Moral Fredericano e o rei, pela segunda vez desde Kunersdorf, começou a vacilar perante o reforço russo de 77.000 soldados marchando em conjunto com o restante dos austríacos, também completamente exauridos. A Prússia Oriental, a nordeste, já estava completamente tomada, e de território só lhe restava Brandemburgo, que desde 1758 vinha sofrendo atritos por parte da Suécia. O reino nórdito, mesmo com pouquíssimas tropas para lutar, conseguiu êxito na maioria das batalhas em que lutou contra os prussianos. O resgate da Real Marinha Britânica nunca veio, e toda a costa prussiana do norte ficara exposta à Real Marinha Sueca, que destroçara as poucas esquadras prussianas que defendiam seu território marítimo. O atrito contínuo sueco durou longos quatro anos, terminando apenas em 1762, quando os russos já tinham tomado praticamente todo o território prussiano. Frederico, com menos de 24.000 soldados, esperava a sua última batalha contra mais de 80.000 russos e outros tantos austríacos. Mais uma vez escrevera cartas de despedidas a seus irmãos e generais, em especial para seu irmão preferido, o Príncipe Henrique (que também era seu general) prometendo que, se os russos invadissem Berlim novamente, ele se suicidaria. Felizmente a Áustria desde 1760 não avançava contra a Prússia, pois não havia qualquer recurso humano ou financeiro de reunir um exército e marchar. Maria Teresa dirigiu suas orações aos russos, decididos a invadir e arrasar Berlim a pedido da Imperatriz Isabel. A ordem era destruir toda construção que houvesse na cidade, executar Frederico e espoliar a Prússia.

E foi justamente graças a Isabel que Frederico viu o desfecho da guerra modificar completamente ao seu favor. Em 5 de Janeiro de 1762 a Imperatriz Russa morreu após reclamar de  fortes dores de cabeça e se recusar a tomar remédios. O herdeiro da Imperatriz agora morta, seu sobrinho Pedro, era um grande admirador de Frederico, e encontrara-se com ele durante os tempos de paz, na década de 1740. Frederico quem o apresentara à jovem prussiana chamada Catarina de Anhalt, filha de um dos seus nobres marechais, o Príncipe Cristiano Augusto von Anhalt-Zerbst. Graças à ajudinha do Fritz que Pedro e Catarina casaram-se em Agosto de 1745.

 O MILAGRE DE BRANDEMBURGO: FREDERICO RESPIRA ALIVIADO

Com a subida de Pedro ao trono imperial da Rússia, sucedendo a tia morta, seu primeiro ato foi o de exigir o imediato recuo do grande exército russo, ordenando-o a não invadir a capital prussiana, Berlim. Com um édito, Pedro III fez com que a Rússia mudasse de lado na guerra: passou de inimiga de Frederico para aliada, e ainda ofereceu 12.000 soldados para reforçar as colunas fredericanas que tentavam resistir contra o último avanço austríaco, vindo da Saxônia. Esse acontecimento, a morte da Imperatriz Isabel e a subida ao trono de um admirador de Frederico, ficou conhecido como o Milagre de Brandemburgo, a morte que fez o rei prussiano respirar aliviado.

A Áustria, surpreendida com uma aliança inesperada entre russos e prussianos, decidiu desistir de uma vitória decisiva contra Frederico. Maria Teresa enviou embaixadores para São Petersburgo, capital russa, e pediu um tratado de paz, que não veio, pois Frederico ainda insistia em retomar a Saxônia e a Silésia. E depois de retomá-las ao longo de 1762 após o Tratado de Hamburgo e o de São Peterburgo, ambos em Maio daquele ano, que respectivamente retiraram Suécia e Rússia oficialmente da guerra, Frederico expulsou os austríacos pela última vez após a Batalha de Freiburg e seu nome foi finalmente gravado no pedestal da história.

Frederico e seu novo aliado, Pedro III, começaram a arquitetar um ataque conjunto contra a Dinamarca, que não deu certo: o Imperador russo foi assassinado pelo amante da sua própria esposa, no mesmo ano da aliança com Frederico, em 1762. A paz definitiva entre Maria Teresa e Frederico veio com o Tratado de Hubertusburg, em Fevereiro 1763. A Imperatriz e Luís XV desistiram finalmente de conspirar contra a Prússia, que já figurava como uma reconhecida potência política e militar numa Europa continental que antes era dividida apenas entre França, Áustria e Espanha.

AS CONSEQUÊNCIAS DE SE TER UM FREDERICO COMO REI

Áustria e França, extremamente arrasadas com a guerra, experimentaram uma rápida decadência social e política, enquanto que a Prússia sob Frederico passou a experimentar o Despotismo Esclarecido, que, ao final das contas, diminuiu as tensões sociais e permitiu que a rápida ascensão dos valores iluministas relativizassem as ondas revolucionárias de mais tarde. Com Frederico a Prússia experimentava há pelo menos quatro décadas o xarope iluminista que, em outras nações, especialmente na França, virou veneno. A política iluminista fredericana de liberdades religiosa e econômica, de igualdade jurídica e de fraternidade social, tão exaltada por filósofos como Immanuel Kant — que nomeou o século XVIII como O Século de Frederico —, somada à hierarquia militar e ao grande apego ao espírito da pátria (heimatgeist), tornaram aquele continente, e consequentemente todo o resto do mundo, tão diferente do que jamais fora. O homem Frederico e o Reino da Prússia modificaram o mundo a partir de então. Motivado por vingança contra a morte do seu amado, que ele sempre atribuía responsabilidade aos austríacos, ocasionou quatro guerras consecutivas — nas quais venceu todas: três por habilidade e sagacidade, e uma por sorte. Ainda foi o arquiteto da Partilha da Polônia de 1772, que fez o país desaparecer por 200 anos, junto com José II do Sacro-Império. Frederico ainda ajudou os americanos em sua independência, ao receber John Adams em Sansouci e enviar, em 1777, o Barão von Steuben, um dos seus generais na Guerra dos Sete Anos, para treinar o Exército Continental sob comando de George Washington — que saiu vitorioso contra os britânicos, fundando, assim, os Estados Unidos da América.

Frederico passou o resto da sua longa vida em Sanssouci, um palácio de arquitetura rococó construído especialmente para ele. Sem Preocupação, na melhor tradução do francês, era o lugar do seu merecido descanso. As consequências das guerras que ele causara repercutiram sobre povos do mundo todo, e a Guerra dos Sete Anos (a efetiva Primeira Guerra Mundial da humanidade graças à sua presença nos quatro continentes até então conhecidos) lhe trouxe a tão merecida vingança contra os austríacos.

A única preocupação do seu povo agora era com a descendência do rei. Embora Frederico fosse casado com a Duquesa Isabel Cristina de Brunsvique-Volfembutel-Bevern, eles nunca dormiram juntos, tampouco conceberam um filho. Em tempo de paz Frederico a via apenas uma vez por ano, por algumas horas, e no restante do tempo a ignorava completamente. Ele nunca a convidava para conhecer Sanssouci, e tampouco ia ao Palácio de Schönhausen, onde ela morava, para visitá-la.

Corriam boatos de que o Rei fosse homossexual, ou no máximo assexuado, mas sua orientação nunca ficou comprovada. Toda a sua história de vingança pela morte do tenente von Katte promoveu as mais diversas teorias sobre Frederico, mas muitos consideram que sua atitude foi puramente técnica e política, aproveitando-se de um momento de fraqueza extrema da Áustria numa crise sucessória, da qual ela só voltaria a levantar-se após o Tratado de Viena de 1815 que fez retornar o absolutismo na Europa.

Em 1806, após invadir a Prússia com um exército avassalador, a primeira localidade que Napoleão Bonaparte visitou na recém-conquistada Berlim foi a tumba de Frederico. Ali, com uma mão descansada sobre o sarcófago do Rei da Prússia, ele disse aos seus generais: “Senhores, se este que aqui jaz estivesse vivo, dificilmente estaríamos aqui”.

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O Velho Fritz, como era chamado, morreu em 17 de Agosto de 1786, caduco e impossibilitado de andar ou de falar. Voltou a ser um bebê. Foi sentado em sua poltrona, após ter sido alimentado com sopa de batatas, olhando para lareira, que ele partiu aos 74 anos. Sanssouci, em Potsdam, o seu refúgio das preocupações, foi também a sua última morada. Ali ele mandara enterrar seus cachorros, mandara construir o Templo da Amizade em memória de sua irmã favorita falecida tão precocemente, Guilhermina da Prússia, e em memória do seu eterno amado, von Katte.

A EUROPA NÃO SERIA EUROPA SEM FREDERICO

Seu espírito enobrecido, quase que transparente aos olhos dos grandes homens de seu tempo (Voltaire, Kant, Pedro III e Napoleão foram homens que lhe saudaram com palavras e ações), foi laureado até mesmo pelos inimigos. Seja qual tenha sido as verdadeiras intenções de Frederico em promover uma verdadeira máquina de guerra que resistiu a austríacos, suecos, franceses, saxões e russos durante anos, para unificar a Alemanha sob o trono da Prússia (que só viria a acontecer 84 anos após a sua morte, em 1870) ou para vingar-se dos austríacos pela morte do amado, as consequências vieram à galope: o Estado prussiano, militar e iluminista, desenvolveu-se tão cedo que sua burocracia fundou um novo tipo de estado moderno: o estado burocrático, que deu suporte ao fortalecimento da conduta e da política alemãs. Sem Frederico a Prússia com certeza não teria resistido por muito tempo, e outro Estado alemão, talvez a tradicional Baviera, teria promovido a reunificação muito tempo depois. Possivelmente ainda veríamos uma Alemanha fragmentada sem a liberdade religiosa promovida por Frederico na Prússia e sem sua ofensiva tradução de anexação. Sem ele, a Áustria teria mantido sua hegemonia sobre os Estados alemães satélites por muito tempo e concentraria esforços contra os turco-otomanos e contra os estados italianos, suas verdadeiras preocupações antes da repentina invasão prussiana aos seus territórios. Se Frederico Guilherme tivesse executado o próprio filho, como ele queria, as chances da Rússia apossar-se da Europa Central seriam muito maiores, e a Polônia teria desaparecido mais cedo, e a presença russa modificaria cultural, econômica e politicamente toda a região. Sem as reformas iluministas que Frederico instituiu em seu país, o modelo de Despotismo Esclarecido, ou Absolutismo Iluminista, nunca teria ocorrido, e revoluções liberais ao estilo da Revolução Francesa teriam estourado mais agressivamente em outros grandes centros além de Paris, como Viena, Berlim, São Petersburgo e Lisboa (onde déspotas esclarecidos como José II da Áustria, Catarina da Rússia e Marquês de Pombal lideravam). O mundo seria completamente diferente do que ele é hoje.

Outras tantas consequências indiretas sem a presença do brio fredericano teriam ocasionado, mas isso só pode ser considerado por meio de uma grande abstração. A verdade é que sentimos sua presença, embora Frederico tenha morrido há mais de duzentos anos. Nós, Ocidentais, deveríamos observar melhor os homens que transformaram o nosso destino. Um deles foi Frederico, que colocou os alemães prussianos no eixo do mundo depois de entregar a eles as glórias da vitória de quatro guerras. Resta citar o que disse Voltaire sobre Frederico quando ainda residia em Sanssouci:

“Aqui se pensa com ousadia, é-se livre (…) 150.000 soldados; (…) ópera, comédia, filosofia, grandiosidade e graças, granadeiros e musas, trompetes e violinos, os jantares de Platão, sociedade e liberdade… quem iria acreditar? No entanto, é a mais pura verdade. Nada me aborrece (…) Encontrei um porto depois de cinquenta anos de tempestades. Encontrei a proteção de um rei, a conversação de um filósofo, os encantos de um homem agradável, reunidos em uma só pessoa que durante dezesseis anos me consolou no infortúnio e me protegeu contra meus inimigos. Se se pode ter certeza de alguma coisa, é do caráter do rei da Prússia.”

Frederico não perdeu nada existindo. Viveu tudo o que um homem do seu tempo poderia viver. Ele agora figura entre os grandes disseminadores de mudanças, como Alexandre, César e Napoleão. Ao contrário do que acontecerá com a maioria absoluta de nós, que deixaremos de existir quando morrermos, Frederico não acabará e repercutirá sua existência, mesmo tendo morrido na sua poltrona no Verão de 1786.

Nós, reles mortais, ao menos passamos pela vida e conhecemos que homens assim existiram, homens eternos. Nós desta geração morreremos e as futuras nascerão, e elas continuarão a se lembrar dos atos d’O Grande Rei Prussiano enquanto nossos ossos virarão pó debaixo da terra.

FONTE:   https://melancoliacircundante....transformou-o-mundo/

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