O Japão era uma naÇão em guerra muito antes de seu ataque à Pearl Harbor. A ofensiva japonesa na China, que comeÇou em 1937, permitiu aos militares americanos observarem em primeira mão a capacidade militar do Japão. Seus relatÓrios, e os relatÓrios de outros informantes militares e especialistas em aviaÇão civil que estavam estacionados na China, deveriam ter imediatamente alterado a avaliaÇão das forÇas aÉreas japonesas. Em vez disso, esses relatÓrios eram muitas vezes recebidos com incredulidade, às vezes ridicularizados, e rotineiramente ignorados. E foi assim que nos meses seguintes ao ataque à Pearl Harbor, os pilotos americanos ficaram chocados com as caracterÍsticas de vÔo de um caÇa misterioso, o Mitsubishi A6M2 "Zero". Eles não precisavam de ter sido surpreendidos.
ComeÇando no final da Primavera de 1940, Claire Chennault reuniu uma avaliaÇão substancialmente precisa das capacidades do caÇa "Zero" que jÁ estava sendo utilizado em combate contra as forÇas aÉreas chinesas. Em dezembro de 1940, Chennault foi capaz de explicar sobre as capacidades de vÔo e de combate do "Zero" diretamente para o General George C. Marshall, o novo comandante do ExÉrcito. Marshall parece ter aceito o relatÓrio de Chennault sobre a sÉria ameaÇa que representava o novo avião de caÇa japonÊs. Profundamente preocupado com a escassez e o desempenho limitado dos aviÕes de caÇa norte-americanos, Marshall passou as informaÇÕes de Chennault para o tenente-general Walter C. Short que estava no HavaÍ, durante a primeira semana de fevereiro de 1941. Ao mesmo tempo, um alerta semelhante sobre as deficiÊncias dos caÇas Seversky P-35, que estavam sendo utilizados nas Filipinas, foi enviado ao major-general George Grunert:
"Embora o número de esquadrÕes de caÇa fosse aumentado de um para trÊs e novos aviÕes jÁ estarem disponÍveis, percebemos que estes caÇas não tem o padrão de desempenho desejado, embora tenha havido uma decidida melhoria em números e qualidade. As deficiÊncias são muito evidentes quando comparado com o desempenho do atual caÇa embarcado pelos porta-aviÕes japoneses. AliÁs, o novo avião japonÊs possui velocidade de 322 milhas por hora, com uma capacidade de subida muito rÁpida, com tanques de combustÍvel auto-vedantes e blindagem, e com dois canhÕes 20 mm e duas metralhadoras calibre .30". (Larry I. Bland, ed., The Papers of George Catlett Marshall II - Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1986, pp. 411-416).
No inÍcio de 1941, o adido militar baseado em TÓquio, Stephen Jurika, entrou na cabine de um "Zero" que estava em exposiÇão estÁtica em um show aÉreo japonÊs. Cuidadosamente, gravou as informaÇÕes escritas em uma placa na cabine e relatou à ONI. Essa informaÇão foi analisada em Washington, e considerada obviamente como imprecisa: tinha de ser um erro, pois os dados de desempenho do novo caÇa eram irreais se comparados aos modelos de aviÕes japoneses atualmente em uso. Jurika foi orientado para ter mais cuidado na elaboraÇão de relatÓrios futuros (John Prados, livro jÁ citado, pÁgina 39). NOTA: Apesar deste trecho fazendo uma citaÇão de Stephen Jurika... a aeronave na qual Stephen Jurika sentou-se em janeiro de 1941 não foi o infame A6M Zero. A primeira exibiÇão pública da qual o avião esteve presente no Campo Haneda, foi no inÍcio de novembro de 1941. As exibiÇÕes públicas no Campo Haneda para exibir aeronaves doadas pelo civis para a Marinha (Hokoku) e para o ExÉrcito (Aikoku) foram realizados em muitos outros campos de pouso e muitas vezes... e mais de uma vez por ano. Um destes aviÕes foi uma doaÇão de cidadãos japoneses "que viviam no MÉxico".
O primeiro relatÓrio sobre o caÇa "Zero" que chegou aos Estados Unidos foi levado por um capitão aposentado da USAAC, que trabalhava para o governo chinÊs. E este "capitão aposentado da USAAC" era, evidentemente, Claire Lee Chennault, que preparou um relatÓrio completo sobre a caÇa do tipo "Zero" para Washington. Prados citou uma fonte junto com a citaÇão de Stephen Jurika. Se Prados não citou as informaÇÕes corretamente, É possÍvel que Jurika tambÉm não. Jurika simplesmente não sabia o tipo de avião em que ele estava sentado.
Tenente (JG) Stephen Jurika, que na Época era o assistente do adido naval americano para assuntos aÉreos no Japão, parecia cÉtico sobre os relatÓrios que chegavam da China. No Japão não havia nenhuma notÍcia ou boato sobre este caÇa. Finalmente, ele encontrou algumas informaÇÕes sobre um caÇa "tipo 100". Seu relatÓrio de 9 de novembro de 1940 lista as caracterÍsticas de um caÇa "Mitsubishi tipo "Zero" 1940", avião bimotor cujo projeto foi baseado no caÇa holandÊs Fokker D-23?. Este caÇa se tornaria o Ki-46, bombardeiro tipo 100, construÍdo pela Mitsubishi para a forÇa aÉrea do exÉrcito japonÊs, que mais tarde receberia o codinome "Dinah" dado pelos Aliados.
Em seu relatÓrio de 7 de abril de 1941 sobre a cerimÔnia no Campo Haneda, Jurika fez uma lista de caracterÍsticas distintas do novo caÇa "Tipo Zero Zero", incluindo "dois tanques descartÁveis auxiliares nas asas", e sugeriu que o avião fosse apenas uma "nova versão do antigo caÇa monoposto Tipo 97 com rodas retrÁteis e maior potÊncia". O caÇa tipo 97 que ele se referia era o Ki-27 do ExÉrcito, mais tarde chamado de "Nate". Talvez ele estivesse sentado em um "Nate" e imaginou como uma versão atualizada poderia se parecer.
O historiador David Aiken afirma que o dia 8 de novembro de 1941 foi a primeira vez que o caÇa "Zero" foi exibido durante uma cerimÔnia de entrega de aviÕes pagos com doaÇÕes. Um destes "Zero" recebeu o número Hokoku 433. A foto abaixo foi feita durante a cerimÔnia e foi publicada no livro: Japanese Army Wings, editora Burindo, ano de 1972.
As informaÇÕes disponÍveis sobre o "Zero" - sem uma foto ou perfil desenhado - fizeram seu percurso e foram editadas no manual de campo MID, em marÇo de 1941, a última ediÇão publicada antes do ataque à Pearl Harbor. Relatos pÓs-guerra sugerem que este manual não se tornou disponÍvel aos esquadrÕes de caÇa. Os pilotos dos esquadrÕes de caÇa baseados nas Filipinas, por exemplo, disseram que sabiam pouco ou nada sobre a qualidade das forÇas aÉreas do Japão. AlÉm disso, eles acreditavam que os aviÕes japoneses eram inferiores aos seus prÓprios aviÕes, e pensavam que os pilotos japoneses eram fisicamente incapazes de participar de um combate aÉreo rigoroso. Os pilotos que viram este manual consideraram as informaÇÕes com ceticismo ou totalmente ridÍculas (William Leary, livro citado, pÁgina 276).
O historiador William Leary observou que, ''Apesar da InteligÊncia Americana possuir informaÇÕes tÉcnicas abundantes sobre os aviÕes japoneses, MID e ONI, eles consideravam a sua funÇão como essencialmente tÉcnica de comunicar dados para suas equipes e outros nÍveis operacionais, geralmente deixando de considerar seus "clientes'' (Ibid.)
Deixando de lado a questão dos aviadores americanos, essas avaliaÇÕes revelam claramente os preconceitos e estereÓtipos raciais da Época. AlÉm disso, em 1941, com apenas uma rudimentar organizaÇão de inteligÊncia atuante, não existia um processo formal para criar uma InteligÊncia aperfeiÇoada, desenvolver as avaliaÇÕes, e em seguida informar os pilotos que iriam enfrentar os japoneses em combate.
Os dados tÉcnicos sobre o caÇa "Zero" simplesmente não foram explorados para desenvolver tÁticas, armas, ou maneiras de contra atacar. O autor John B. Lundstrom relata que o Tenente Comandante Jimmy Thach recebeu estas informaÇÕes sobre o caÇa "Zero" em um boletim da Unidade de InteligÊncia do Esquadrão AÉreo TÁtico no verão de 1941. Supostamente, ele ficou tão impressionado com a seriedade das informaÇÕes que comeÇou imediatamente a elaborar e praticar as tÁticas para combater a impressionante capacidade do "Zero" quanto a razão de subida, velocidade e sua grande manobrabilidade. Essas tÁticas foram a base da manobra de defesa conhecida como "Thach Wave". Se Lundstrom estiver correto, então os pilotos da Marinha americana tinha informaÇÕes oportunas e precisas sobre as capacidades do caÇa "Zero". As perdas americanas em combates aÉreos por causa de tÁticas deficientes poderiam, então, ser atribuÍdas à falta de divulgaÇão ampla do relatÓrio entre os pilotos, e a falta de crÉdito destes pilotos as informaÇÕes divulgadas, ou a falha de seus comandantes de esquadrão para compreenderem a importância da informaÇão. Talvez a combinaÇão das trÊs falhas. Este assunto estÁ registrado no apÊndice 4 do livro First Team: Pacific Air Combat from Pearl Harbor to Midway, by Lundstrom (Annapolis, MD: Naval Institute Press, 1985, pp. 480-481).
TRADUÇãO LIVRE: JaponÊs (03/01/2010)
FONTE: Mitch Williamson