Continuando essa pequena série...
Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa (Rio Negro, Paraná, 5 de Dezembro 1908 - São Paulo, 28 de fevereiro de 2011) foi uma poliglota brasileira que prestou serviços ao Itamaraty, tornando-se a segunda esposa do escritor João Guimarães Rosa.
Aracy também é conhecida por ter seu nome escrito no Jardim dos justos entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Israel, por ter ajudado muitos judeus a entrarem ilegalmente no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas. A homenagem foi prestada em 8 de julho de 1982, ocasião em que também foi homenageado o embaixador Luiz Martins de Souza Dantas. Ela É uma das pessoas homenageadas também no Museu do Holocausto de Washington (EUA). É conhecida pela alcunha de O Anjo de Hamburgo.
Biografia
Paranaense, nasceu em Rio Negro, filha de pai português e mãe alemã e ainda criança foi morar com os pais em São Paulo. Em 1930, Aracy casou-se com o alemão Johann Eduard Ludwig Tess, com quem teve o filho Eduardo Carvalho Tess, mas cinco anos depois, separou-se, indo morar com uma irmã de sua mãe na Alemanha. Por falar quatro línguas (português, inglês, francês e alemão), conseguiu uma nomeação no consulado brasileiro em Hamburgo, onde passou a ser chefe da Seção de Passaportes.
No ano de 1938, entrou em vigor, no Brasil, a Circular Secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy ignorou a circular e continuou preparando vistos para judeus, permitindo sua entrada no Brasil. Como despachava com o Cônsul Geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. Para obter a aprovação dos vistos, Aracy simplesmente deixava de pôr neles a letra J, que identificava quem era judeu.
A própria história não conta ao certo, mas algumas pessoas que conviveram com esta verdadeira heroína brasileira afirmam que ela própria ajudou a mais de 100 pessoas de origem semita a se livrarem do horror da morte. A biografia desta brasileira já lhe rendeu menções honrosas nos quatro cantos do planeta, inclusive nos Jardins dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto em Israel.
Nessa época, João Guimarães Rosa era cônsul adjunto (ainda não eram casados). Ele soube do que ela fazia e apoiou sua atitude, com o que Aracy intensificou aquele trabalho, livrando muitos judeus da prisão e da morte.
Aracy permaneceu na Alemanha até 1942, quando o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas com aquele país e passou a apoiar os Aliados da Segunda Guerra Mundial. Seu retorno ao Brasil, porém, não foi tranquilo. Ela e Guimarães Rosa ficaram quatro meses sob custódia do governo alemão, até serem trocados por diplomatas alemães. Aracy e Guimarães Rosa casaram-se, então, no México, por não haver ainda, no Brasil, o divórcio. O livro de Guimarães Rosa "Grande Sertão: Veredas", de 1956, foi dedicado a Aracy.
Sua biografia inclui também ajuda a compositores e intelectuais durante o regime militar implantado no Brasil em 1964, entre eles, Geraldo Vandré, de cuja tia Aracy era amiga.
Aracy enviuvou no ano de 1967 e não se casou novamente. Sofria do Mal de Alzheimer e faleceu no dia 28 de fevereiro de 2011, em São Paulo, de causas naturais, aos 102 anos. Foi sepultada no Mausoléu da da Academia Brasileira de Letras, ao lado de seu marido, no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.