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A revista "Der Adler" publicada pelo Ministério do Ar alemão durante a 2ª guerra em diversas línguas continha variegados assuntos e artigos.

Baixei a edição de novembro de 1941, publicado em inglês, e achei um artigo sobre o Marechal Caxias e a guerra da Tríplice Aliança e que vou traduzir aqui...

Brazil, Argentina e Uruguay estavam em guerra com a República do Paraguay desde 1862, e não era visível o fim da guerra mesmo já entrando em seu quinto ano. Ao contrário, os exércitos da Tríplice Aliança estavam condenados a inatividade há meses, impedidos de avançar pois tinham a frente os campos pantanosos de Nembucu.    Seu oponente, Lopez, o feroz Presidente do Paraguay, utilizava o tempo a seu favor.

Bases paraguaias foram reforçadas e os trabalhos de reforço das defesas dos fortes de Tuyuti, Tuyucué, e Humaitá incrementados.  Novas linhas de combate foram levadas adiante das antigas linhas, protegidos pela mata selvagem que encobria e ocultava suas ações do inimigo.   O brasileiro Marechal Caxias estava impotente para enfrentar isso, “alguma coisa tinha que ser feita”, ele falava aos seus oficiais, “eu tenho que saber o que esta acontecendo do outro lado”.

Os oficiais encolhiam os ombros em perplexidade, “nossos cavalos afundam nas terras pantanosas...”, fazer um reconhecimento por terra é impraticável.   Caxias bateu com o punho na mesa, “eu sei deste fato, não saberiam dar uma resposta melhor?”  O silêncio reinou no pequeno  recinto, nem um som se ouvia, apenas o tinir das esporas e o chacoalhar dos longos sabres denotando o embaraço dos oficiais presentes.  Subitamente o Marechal levanta e seus olhos abertos brilham.  “Cavalheiros, eu tenho um ideia”, a solução é fácil como rolar um tronco.  Nos vamos trocar nossa patrulha de cavalaria por balões.   Um mês a mais ou a menos não vai fazer diferença na guerra.

Caxias não estava lutando na Europa e levaria tempo para trazer o balão.  Ele esperaria de qualquer forma e os paraguaios não tinham a intenção de atacar.  Os soldados paraguaios permaneciam em seus fortes como uma defesa fixa.  Mas todos estes problemas foram em vão quando finalmente chegou o balão pois quando foram acender a mecha a chama acabou se propagando por todo o balão destruindo-o.   O Marechal Caxias ouvia distraidamente o rol de acusações contra o piloto que ao atear fogo na mecha perdeu o controle do combustível na hora de verte-lo e estava sob suspeita de sabotagem, traição ou atentado.  Caxias não se deixou abalar, mas o balão que custara $15 mil dólares em espécie foi dado como perda total.  O jeito foi ordenar a compra de mais dois balões que chegaram ao Rio de Janeiro e depois despachado a frente de combate no começo de junho, e desta vez acompanhado de um piloto norte-americano.  Do predecessor piloto francês nada mais se ouviu.    O balão era controlado através de um longo cabo de cerca de 650 pés em comprimento e que era segurado por soldados que se moviam lentamente de um lado para o outro instruídos pelo piloto que ia na cesta junto com um oficial de observação que se comunicava com os oficiais em terra através de sinais usando pequenas bandeiras.

Continua....

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Piloto e observador estavam completamente alheios ao inimigo até que as primeiras balas começaram a passar  zunindo pelo ar.  Felizmente nenhum os atingiu porque o piloto havia orientado bem o pessoal que segurava os cabos que iam e vinham, ao mesmo tempo subindo e descendo alguns metros, e assim evitando um alvo fixo.   O Marechal ficou satisfeito com o resultado da observação e ordenou a continuação desta tarefa e designou que se formasse um grupo de reserva para manejar o balão em terra.  Os oficiais não entendiam o motivo pois já havia homens suficientes para a tarefa.  No dia seguinte os paraguaios desistiram de atirar no balão e passaram a atirar no pessoal de terra e vários homens foram feridos, ficando assim claro que uma reserva era necessário.  O Marechal mais uma vez enxergou a frente os fatos que iriam ocorrer durante a operação do balão.

O movimento do lado paraguayo foi levantado, embora de maneira lenta e intermitente por ser afetado pela fumaça, nuvens e ventos contrários.   Os paraguaios para disfarçar o reposicionamento de alguns canhões e morteiros atearam fogo a mata rasteira para encobrir o solo com fumaça e esta foi a primeira vez que se usou um método de camuflagem de um objetivo militar contra a observação aérea.   O Marechal Caxias por fim atingiu seu objetivo em 12 de julho.  O reconhecimento por balão mostrou que a água do pântano tinha sido drenada em diversos pontos e o solo era visivelmente sólido.   Poucos dias depois um avanço geral foi tomado em direção ao forte de Humaitá para lá do Rio Hondo, sempre acompanhado pelo balão de observação.  Os fortes que só podiam  ser tomados de assalto foram contornados usando as passagens levantadas através da observação aérea, e o assalto principal recaiu sobre a retaguarda mais desprotegida.  O Marechal Caxias provou que estava certo em muitas outras ocasiões durante a guerra, ele provavelmente estaria aqui com seu exército, mas de balão.  

Eu penso o mesmo Gemerim, é muito pobre o conhecimento sobre a história deste país, as escolas deveriam pautar melhor o ensino para além do período da descoberta e colonização.  O que mais me surpreendeu é o fato de este artigo estar inserido em uma revista publicada pela Alemanha do 3º Reich durante a guerra, e quem o escreveu conhecia sobre a nossa história, talvez já tivesse morado por aqui.

Há vários livros da Biblioteca do Exército sobre o assunto da Guerra contra o Paraguay, embora sejam de tiragem limitada e alguns raros, mas vale pesquisar nos sebos.  Um que recomendo por ter uma descrição detalhada de toda a campanha e da vida do soldado em campo em que participou o autor é "Reminiscencias da Campanha do Paraguai" de Dionisio Cerqueira (Bibliex).

Foi uma guerra duríssima em um terreno péssimo e condições climáticas terríveis, é admirável o desempenho das tropas brasileiras que praticamente sustentaram toda a campanha, os contingentes Uruguaios e Argentinos eram pequenos e não decisivos.Os muitos mortos do lado brasileiro já é um atestado da ferocidade.  No início erraram muito, mas com o tempo e experiência e comando correto tornou-se o exército vencedor, e isto deu um novo sentido corporativo ao exército, o que culminou no golpe militar contra o Imperador Dom Pedro II.  

Neste link fala-se sobre as armas disponíveis à época do conflito no Brasil ... https://bndigital.bn.gov.br/do...-guerra-do-paraguai/

Last edited by Wolf

Perfeito, Wolf!

Eu havia visto apenas uma referência sobre o uso de balões mas nada mais específico.

Vou gastar os olhos neste link...muito obrigado!

Abraços,

Gemerim, aproveito para dizer que há uma passagem no livro que indiquei em que o autor faz uma descrição e análise do comportamento das tropas vindas do Rio Grande do Sul pouco antes de ocuparem Asuncion, algo bem selvagem...

Last edited by Wolf

Wolf,

alguns autores classificam a Guerra do Paraguay como sendo um genocídio americano por conta do que aconteceu no final. Nada bonito!

Estou interessado nas unidades que empregaram mercenários alemães pois há um possível parente de minha família envolvido. No retorno ao RGS, após a guerra, ele solicitou um aumento de soldo ao governador (intendente) da época, pois pretendia contrair matrimônio com uma determinada donzela. Sabe-se que ele não alcançou o aumento desejado e acabou alugando a sua espada para outra bandeira (Uruguay e Itália), mas não estou bem certo ainda.

Aqui no Museu do CMS encontraram uma espada desta época e que continha marcas da 7ª Cavalaria Americana (General Custer). Esta unidade, segundo relatos de Dee Brown (Enterrem meu Coração na Curva do Rio e Massacre), continha enorme número de estrangeiros que rodavam o mundo em busca de aventura e fortuna. 

Interessante.

Abraços,

Gelson

 

Mas até hoje temos mercenários e aventureiros, principalmente na África...

Tem uma turma que deprecia o soldado brasileiro e fica pondo o paraguaio como vítima e isto é balela.  Não sei o que buscam mas o que surpreende mesmo é que nós aqui não reagimos, e esta entre nós os maiores detratadores. Os paraguaios eram brutais, comandados por um sanguinário que executou até mesmo os irmãos e a mãe, e contra toda uma série de dificuldades as tropas brasileiras foram até aquela região pantanosa e quente, e venceram.

Lopez e seus comandantes sempre diziam aos seus soldados que se caíssem prisioneiros sofreriam torturas e a morte, e eles lutavam em grande parte por medo, tanto de Lopez que não vacilava em executar seus soldados, como dos soldados brasileiros. Mas ficavam surpresos quando eram rendidos ao descobrir que eram bem tratados.

O povo paraguaio é que foi deixado em miséria e o soldado brasileiro a medida que avançava e alcançava as cidades eram logo cercados por gente miserável pedindo comida, o que eles dividiam de bom grado.

Alguns elementos do sul descrito no livro mencionado eram bem originais, tanto pelo uniforme, armas e pelo comportamento diferente em relação ao que autor, vindo do Rio de Janeiro, estava acostumado. Mas é apenas em relação a estas coisas, não eram brutamontes.

Wolf,

é bem isso! O que nunca gostei foi aquela "patriotada" que nos empurravam guela abaixo como sendo verdade.

Encontrei o livro num sebo. Vou encomendar.

Abraços e obrigado,

Gelson

realmente  alguns  autores  como o chiavenatto que  fez genocidio  americano tem a mesma  ma  fama, tal como o filme radio auriverde entre os febianos  entre historiadores serios ,...outra dica de andre toral e o grafic adeus meu chamigo brasileiro também muito interessante sobre os  aspectos da guerra do py do ponto de vista dos  baixos  escaloes -  outro livro reminiscencias da guerra do paraguai -de dionisio cerqueira ---outro livro   maldita guerra de  diodorato  também são muito  bons...

de resto quem  nao sabe  do passado nao entende  o presente e  tera talvez  um pior  futuro..

plastiresiabços paulo r morgado sp -sp

Buenas,

acabei de ler o livro do Dionísio Cerqueira - Reminiscências da Guerra do Paraguay".

É bom e esclarece algumas nebulosidades a respeito do assunto apesar de não ser muito específico. Usa uma linguagem muito rebuscada e perde, no meu modo de ver, a acuidade dos fatos por ter sido escrito 40 anos após o final da guerra. Mas, é uma obra interessante onde se pode notar como as forças armadas do Brasil se estruturam diante de uma crise. Os mesmos problemas apontados em Canudos, Guerra dos Farrapos, do Paraguai, da Primeira e Segundas Guerras Mundiais e ainda a Guerra da Lagosta estão aparecendo agora diante da crise da Venezuela. Ou seja, nunca estão ou estiveram realmente preparados e equipados para ação alguma. Quando a necessidade se torna premente então é que as "autoridades" resolvem se movimentar de modo amadorístico e, muitas vezes, desastrado, com as óbvias consequências...

Acabo de ler que nenhum dos cinco submarinos da MB estão operacionais! O patrulhamento da costa brasileira está à cargo do Deus Netuno e tão somente à ele. O EB possui um enorme contingente de pessoal conscrito mal treinado e pobremente equipado. A FAB está no aguardo de seus sonhados Gripen e enquanto isso o velho e já muito ultrapassado F-5 é o seu melhor meio.

Ou seja, a nossa História sempre mostra as mesmas mazelas. Os escalões mais baixos fazendo ou tentando fazer o que não tem meios para tal enquanto uma seleta elite aristocrática administra a situação em proveito próprio as custas do sangue alheio.

E, na hora de dividir os louros da vitória, poucos são os reconhecidos...

Mas, assim como foi a dica do colega Wolf, também recomendo a leitura desta obra.

Abraços e muito obrigado,

Gelson

Outro dia acessei o site russo Sputnik e logo na manchete estava escrito "Exército Brasileiro é uma espécie de Brinquedo"...

Texto no site : "O Brasil não corre ameaça nenhuma de fora, a sério. Lá, o exército é uma espécie de brinquedo. Às vezes é caro, às vezes não. Olhe para o mapa — parece uma ilha. Quem vai ameaçar eles, Uruguai ou Paraguai? Tem selva em todo o redor."

Não é preciso dizer mais nada...

Last edited by Wolf

Triste!

Uma grande pena ver um país riquíssimo em recursos e com grande potencial para se tornar uma nação altiva e orgulhosa (e também poderosa), estar jogado neste "faz de contas" que nós sabemos nunca vai dar em nada de positivo.

Uma pena!

Muito obrigado pela dica do livro e pelo post.

Abraços,

Gelson

Wolf posted:

Olhe para o mapa — parece uma ilha. Quem vai ameaçar eles, Uruguai ou Paraguai? Tem selva em todo o redor."

Pensando assim, olhe o mapa e me diga quem vai ameaçar os EUA, Canadá ou México ?

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