Felipe,
Gostei de seu comentário e gostaria de fazer um adendo.
Há uma questão de natureza social / cultural no mercado brasileiro.
Desde que pratico os dois hobbies (plasti e ferreo) tem algumas coisas interessantes a serem refletidas.
Enquanto a Kikoler injetava kits aqui, eles eram relativamente acessíveis.
Depois, com o lento declínio e ascensão de marcas importadas o mercado mudou.
Explico:
Quem abastecia de kits e trens "importados" (o famoso importabando), determinava o preço.
Cansei de escutar do vendedor, quando questionava o preço, o seguinte: "só tem este, num vem mais..."
Assim, o vendedor colocava o desejo do comprador contra a parede e pressionava pelo preço que ele impunha.
Era pegar ou largar!
Sabe Deus quantas vezes paguei por revistas importadas o preço de uma nova com importação e tudo.
A economia abriu, mas a lógica de vendedor se manteve, pois, na verdade, são os mesmos que continuam aí. Era uma questão cultural.
Quando comecei a comprar pela internet, conseguia driblar um pouco a diferença de preços.
Mas aí vem a adaptação do vendedor, que coloca o preço na loja dele, pressupondo que seja o preço que o consumidor vá comprar um único kit, mais o frete, mais a diferença do dólar, e o imposto de importação.
Para o lojista, não há economia de escala.
Em parte seria plausível do lojista que faz compras ocasionais, em vários fornecedores e de pequeno valor.
Também, no final dos anos 1990 e começo de 2000, com a economia melhor, alguns lojistas compravam lá fora com descontos, estoques encalhados e os revendia aqui com bons preços (bem baratos), mas ainda assim, bem acima do preço de desconto nas lojas lá fora.
Comprei um punhado de coisas neste período, a preços condizentes.
Com o passar do tempo, os estoques em promoção lá fora acabaram, ao mesmo tempo que saturou a demanda reprimida aqui dentro.
O comprador ficou mais exigente, pois está saciado de quinquilharia e experiências com produtos importados.
Agora deseja novidade e qualidade.
Para piorar o quadro, temos os famosos "back order" em quase tudo; produções limitadas; etc.
Assim, montar uma loja aqui se tornou temerário, pois exige investimento e pouca perspectiva de retorno do investimento, pois não se tem uma ideia do que o cliente vai entrar na loja e comprar.
Produzir aqui idem. fazer o ferramental é caro. Veja o caso do Elaga/Ipanema.
Injetar também é caro, pois são pequenas produções.
Produzir para o mercado brasileiro não pagaria o investimento.
Vender no mercado mundial, sofre a competição de custos e preferência.
Enfim, o contexto social/cultural do mercado brasileiro é que é peculiar.
Quem tem mostrado isto na prática hoje é a Frateschi, que para desenvolver material de ferreomodelismo nacional, precisa ficar dividindo o produto entre o consumidor ferreomodelista e o comprador de brinquedos.
Ainda assim, não é barato, mas é um preço possível para o mercado de brinquedo, ao mesmo tempo em que mira os modelistas.
Em relação aos representantes e importadores de plasti, eles tem um público muito pequeno para justificar uma compra significativa, que permita repassar as economias de custos ao consumidor final.
Abraço,
Wilson