Buenas,
em busca de mais informações a respeito encontrei este texto, de autoria de James Bjorkman, e gostei muito da abordagem que ele deu ao assunto. Assim, achei interessante compartilhá-la com os colegas, a partir de uma tradução informal.
Se nós formos imparciais, poderemos prestar tributo a antigos inimigos que tiveram um alto desempenho nos campos de batalha sem relacioná-los com as causas que defenderam. O famoso "Barão Vermelho", Manfred Albrecht Freiherr von Richtofen, da I Guerra mundial é um exemplo. Assim como o General Robert E. Lee da Guerra de Secessão norte-americana e o Marechal Erwin Rommel, da II Guerra Mundial. Embora possamos acertadamente condenar as causas por eles defendidas não podemos deixar de admirar os seus feitos e tampouco a sua lealdade como patriotas e soldados. Muito além de apenas ater-se às citações das batalhas ou aos números envolvidos, as individualidades encontradas em ambos os lados das trincheiras conseguiram conferir uma dimensão mais humana e essencial para a compreensão dos fatos.
Kurt Knispel. O guerreiro irreverente.
O Ás dos tanques alemão Kurt Knispel (20 de setembro de 1921 - 28 de abril de 1945) não sobreviveu à guerra por apenas alguns dias. Não teve a oportunidade de escrever estórias memoráveis de seus feitos, não serviu no Exército Alemão pós-guerra ou pode fazer coisas que gravassem o seu nome na História ou no reconhecimento popular. Kurt Knispel hoje é apenas lembrado pelos estudiosos da arte militar.
Knispel podia parecer um herói como qualquer outro - quando queria. Mas ele não desejava isto frequentemente.
Entretanto, Knispel tornou-se legendário justamente entre os historiadores militares, se não do público em geral. É verdade que a sua morte não foi heróica numa batalha legendária para adquirir notoriedade; não comandou grandes exércitos; não recebeu um funeral oficial ou teve algumas de suas façanhas exaltadas e exageradas pela habilidade propagandística do Dr. Goebbels. Mesmo a sua morte passou desconhecida. Ele morreu num hospital após ser ferido num combate insignificante no meio do nada enquanto um continente inteiro estava em pleno caos. Era uma época em que não havia mais ninguém que se importasse e Knispel foi enterrado numa vala coletiva. Não apenas homens mas uma nação inteira estava morrendo e isto é um passaporte garantido para a obscuridade, a menos que fosse um herói alardeado como foi Rommel. Knispel foi apenas um entre tantos outros; mas, que "apenas um" foi. Eles escreveram a "Canção do Homem Comum" para os homens esquecidos como Kurt Knispel. Aqui ele será lembrado e vai representar todos os guerreiros desconhecidos de ambos os lados que lutaram como leões, sangraram e morreram e então foram relegados ao esquecimento.
Observar que Kurt Knispel pode ter sido o mais baixinho da turma, mas os seus camaradas soldados o colocaram no centro da foto. Esta é a maior honraria que um soldado como Knispel poderia receber de seus orgulhosos companheiros. Eles estavam orgulhosos de conhecê-lo.
Knispel é reconhecido por ter destruído mais tanques inimigos - soviéticos, britânicos e americanos, no seu caso - do que qualquer outro na História. Quantos? Ninguém sabe exatamente. Mas isto realmente não importa. Foram muitos. Muitos! E como qualquer um pode pensar. Não se luta constante e frequentemente, anos a fio, contra inimigos poderosos - em combate cerrado dia após dia com cada inimigo determinado a explodi-lo sem destruir a sua parte. Knispel passou a maior parte de sua carreira no front russo, a zona mais dura da guerra. Às vezes as pessoas tendem a desmerecer a qualidade dos combates no front oriental; como por exemplo a Luftwaffe que considerava as vitórias sobre os soviéticos como de "segunda-classe". Entretanto, para o Exército Alemão (Heer), os tanques soviéticos eram os melhores, nem americanos ou britânicos eram considerados. Os soldados soviéticos eram fanáticos e destemidos. E contra os tanques soviéticos, contra as massas soviéticas, Kurt Knispel teve um desempenho superior a todos os outros.
Veteranos de uma guerra dura. Knispel aparece carregado com munição e preparado para qualquer coisa. Acredita-se que ele esteja conversando com o seu amigo e comandante Hans Fendsack mas não temos muita certeza.
Kurt Knispel nasceu na região dos Sudetos (Zlaté Hory Zuckmantel), na antiga Tchecoeslováquia, que na época era de maioria alemã. Numa região que foi perdida pela Alemanha ao fim da I Guerra Mundial e a sua população não sabia ao certo a quem pertencia. Muitos os consideravam inteiramente alemães e eles agiam como tal a maior parte do tempo. Ele seguiu os passos de seu pai que trabalhava numa indústria automobilística. Depois de um longo tempo como parte da Tchecoeslováquia a região voltou a pertencer à Alemanha, pelo Tratado de Munique de 1938. Em princípio, isto não efetou Knispel, que continuou a trabalhar na fábrica de automóveis. Após completar o seu aprendizado Knispel alistou-se no Exército Alemão. Não era época para se envolver em empreendimentos normais pois os tambores da guerra já estavam rufando. Ele escolheu a especialidade de blindados, talvez devido a sua experiência com veículos automotores. O seu conhecimento sobre mecânica veio bem a calhar nesta especialidade.
À direita está Knispel com o seu comandante de tanque Hans Fendsack. Fendsak morreu na Normandia. Obviamente eles eram grandes amigos, uma amizade forjada em sangue e aço.
O treinamento básico foi em Sagan na Baixa Silésia, que então fazia parte da Alemanha e hoje da Polônia, não distante do Rio Oder. Após aprender o básico sobre armas regulares, como a MG 34 e MP 40, receber treinamento em veículos Panzer I, II e IV, Knispel foi aceito em 1º de outubro de 1940 na 3ª Companhia do 29º Regimento Panzer, que fazia parte da 12ª Divisão Panzer. Ele treinou como carregador (municiador) e artilheiro no Panzer IV, o MBT daquela época, até 11 de junho de 1941. Estes foram tempos promissores em que os alemães se envolveriam em coisas grandes.
Knispel com um colega não identificado. Parece ser o velho Hans....mas não dá para afirmar com certeza.
O primeiro comandante de Knispel no Panzer IV foi o Tenente Hellmann. A divisão deles fazia parte do Panzergruppe 3, LVII Corpo de Exército. Este Corpo fazia parte o Grupo de Exércitos Centro durante a primeira fase da Operação Barbarossa, a invasão da Rússia, que começou em 22 de junho de 1941. O Panzergruppe 3 formou a parte norte da pinça que envolveria Moscou durante a Operação Tufão, a tentativa de capturar Moscou. Foi a parte do ataque que esteve mais próximo de obter sucesso. A captura de Klin e de Solnechnogorsk, subúrbios ao norte de Moscou em 25 de novembro esteve entre os últimos sucessos conquistados pelos alemães em 1941. A resistência dos russos tornou-se mais dura e a direção do ataque alemão moveu-se mais para o centro, que também falhou com os russos começando os seus contra-ataques. O Panzergruppe (renomeado Panzerarmee em 1º de janeiro de 1942) então teve que retrair da cidade evitando ser cercado e formando novas linhas de frente baseadas nos rios existentes mais para Oeste.
Pergunte aos soldados da linha de frente porque eles lutam e eles invariavelmente dirão que lutam pelos seus camaradas. Knispel parece muito confortável e relaxado junto com os seus colegas. Notar que a maioria está bem barbeada e com o cabelo aparado mas - a desculpa de não ter tempo suficiente ou água quente para fazer a barba aplica-se somente à ele, o homem que não se importa com esta informalidade.
Knispel sofreu durante o brutal inverno de 1941-42 na linha de frente como qualquer outro, evitando o enregelamento e a morte por ação inimiga que vitimou vários de seus camaradas. Ele recebeu a Cruz de Ferro de 2ª Classe durante este período. O 3º Panzerarmee permaneceu no flanco norte do front e Knispel foi acumulando vitórias tendo 12 creditadas até o final de 1942. Os alemães eram positivamente precisos a respeito da confirmação de vitórias (kills), somente dando o crédito com a apresentação de provas e negando em caso contrário. Todo o sistema de promoções era baseado nisso e portanto, havia uma pressão geral para que ele fosse exato. Assim, estes números de vitórias são apenas uma pequena demonstração do que era a realidade dos combates. Knispel também granjeou a reputação de não reclamar estas vitórias que não fossem claras e muitas vezes abriu mão em favor de seus camaradas. Ele era um grande colega para se ter ao lado.
Foto de alguns Ases tanquistas. Kurt Knispel teve mais vitórias do que qualquer outro. O escore somado desta turma passa de 2.000 veículos inimigos destruídos.
Apenas uma nota geral a respeito da Wehrmacht: existiam duas maneiras para se galgar na sua hierarquia, o sistema de promoções normal e o do sistema de medalhas e condecorações. O posto ou graduação era importante também, sem dúvida. Mas, o status alcançado através do segundo método que fazia o detentor ser olhado com verdadeiro respeito e não apenas saudado, era muito mais importante. Ele incluía um sistema meio obscuro que passava muito além das medalhas. Ter o seu nome mencionado nos comunicados da Wehrmacht e ser ouvido pelo rádio em toda a nação era uma das maiores honras que qualquer soldado de qualquer posto podia receber.
Kurt Knispel, pelas razões mencionadas (indisciplina e confronto com oficiais superiores), não recebeu as medalhas que merecia. Entretanto, foi o único oficial não comissionado da arma blindada do Exército Alemão a ser mencionado nestes despachos. O único!
Hans-Ulrich Rudel quando da rendição da Luftwaffe. Atrás dele está Adolf Galland, outra lenda da aviação.
Eu vou martelar neste ponto porque é muito importante. Para provar isto, vou dar um par de exemplos da vida de outras lendas. O piloto e Coronel da Luftwaffe não teve um cargo importante. Entretanto, ele se tornou o melhor piloto de ataque ao solo de todos os tempos, alcançado recordes de todos os tipos e que provavelmente jamais serão batidos, e todos sabem disso. Ele perdeu a perna direita numa missão..e em seguida já estava voando em missão novamente durante os últimos dias do Reich porque sabia que poderia fazer a diferença. Rudel foi tão homenageado pelos seus camaradas que, em 1976, muito tempo depois que a Alemanha virou-se contra o regime Hitlerista tanto em espírito quanto legalmente, Rudel foi convidado a palestrar num evento de veteranos. Este convite criou um grande escândalo que custou o cargo a muitos generais da Bundeswehr. A causa defendida por Rudel não diminuiu a admiração que os seus colegas tinham por ele.
Dez anos mais tarde, no funeral de Rudel em dezembro de 1982, pilotos alemães fizeram uma revoada e uma passagem (fly-by) com Phantons para homenageá-lo uma última vez, apesar de terem sido proibidos e correndo o risco de punição. Duvida-se que teriam feito o mesmo por um General ou Marechal de Campo.
Apenas o posto não faz com que os soldados se sacrifiquem por ele. Já o respeito faz. E Knispel também granjeou este tipo de admiração.
Continua...
Abraços,
Gelson