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Buenas,

em busca de mais informações a respeito encontrei este texto, de autoria de James Bjorkman, e gostei muito da abordagem que ele deu ao assunto. Assim, achei interessante compartilhá-la com os colegas, a partir de uma tradução informal. 

Se nós formos imparciais, poderemos prestar tributo a antigos inimigos que tiveram um alto desempenho nos campos de batalha sem relacioná-los com as causas que defenderam. O famoso "Barão Vermelho", Manfred Albrecht Freiherr von Richtofen, da I Guerra mundial é um exemplo. Assim como o General Robert E. Lee da Guerra de Secessão norte-americana e o Marechal Erwin Rommel, da II Guerra Mundial. Embora possamos acertadamente condenar as causas por eles defendidas não podemos deixar de admirar os seus feitos e tampouco a sua lealdade como patriotas e soldados. Muito além de apenas ater-se às citações das batalhas ou aos números envolvidos, as individualidades encontradas em ambos os lados das trincheiras conseguiram conferir uma dimensão mais humana e essencial para a compreensão dos fatos.

Kurt Knispel. O guerreiro irreverente.

O Ás dos tanques alemão Kurt Knispel (20 de setembro de 1921 - 28 de abril de 1945) não sobreviveu à guerra por apenas alguns dias. Não teve a oportunidade de escrever estórias memoráveis de seus feitos, não serviu no Exército Alemão pós-guerra ou pode fazer coisas que gravassem o seu nome na História ou no reconhecimento popular. Kurt Knispel hoje é apenas lembrado pelos estudiosos da arte militar.

Knispel podia parecer um herói como qualquer outro - quando queria. Mas ele não desejava isto frequentemente.

Entretanto, Knispel tornou-se legendário justamente entre os historiadores militares, se não do público em geral. É verdade que a sua morte não foi heróica numa batalha legendária  para adquirir notoriedade; não comandou grandes exércitos; não recebeu um funeral oficial ou teve algumas de suas façanhas exaltadas e exageradas pela habilidade propagandística do Dr. Goebbels. Mesmo a sua morte passou desconhecida. Ele morreu num hospital após ser ferido num combate insignificante no meio do nada enquanto um continente inteiro estava em pleno caos. Era uma época em que não havia mais ninguém que se importasse e Knispel foi enterrado numa vala coletiva. Não apenas homens mas uma nação inteira estava morrendo e isto é um passaporte garantido para a obscuridade, a menos que fosse um herói alardeado como foi Rommel. Knispel foi apenas um entre tantos outros; mas, que "apenas um" foi. Eles escreveram a "Canção do Homem Comum" para os homens esquecidos como Kurt Knispel. Aqui ele será lembrado e vai representar todos os guerreiros desconhecidos de ambos os lados que lutaram como leões, sangraram e morreram e então foram relegados ao esquecimento.

Observar que Kurt Knispel pode ter sido o mais baixinho da turma, mas os seus camaradas soldados o colocaram no centro da foto. Esta é a maior honraria que um soldado como Knispel poderia receber de seus orgulhosos companheiros. Eles estavam orgulhosos de conhecê-lo.

Knispel é reconhecido por ter destruído mais tanques inimigos - soviéticos, britânicos e americanos, no seu caso - do que qualquer outro na História. Quantos? Ninguém sabe exatamente. Mas isto realmente não importa. Foram muitos. Muitos! E como qualquer um pode pensar. Não se luta constante e frequentemente, anos a fio, contra inimigos poderosos - em combate cerrado dia após dia com cada inimigo determinado a explodi-lo sem destruir a sua parte. Knispel passou a maior parte de sua carreira no front russo, a zona mais dura da guerra. Às vezes as pessoas tendem a desmerecer a qualidade dos combates no front oriental; como por exemplo a Luftwaffe que considerava as vitórias sobre os soviéticos como de "segunda-classe". Entretanto, para o Exército Alemão (Heer), os tanques soviéticos eram os melhores, nem americanos ou britânicos eram considerados. Os soldados soviéticos eram fanáticos e destemidos. E contra os tanques soviéticos, contra as massas soviéticas, Kurt Knispel teve um desempenho superior a todos os outros.

Veteranos de uma guerra dura. Knispel aparece carregado com munição e preparado para qualquer coisa. Acredita-se que ele esteja conversando com o seu amigo e comandante Hans Fendsack mas não temos muita certeza.

Kurt Knispel nasceu na região dos Sudetos (Zlaté Hory Zuckmantel), na antiga Tchecoeslováquia, que na época era de maioria alemã. Numa região que foi perdida pela Alemanha ao fim da I Guerra Mundial e a sua população não sabia ao certo a quem pertencia. Muitos os consideravam inteiramente alemães e eles agiam como tal  a maior parte do tempo. Ele seguiu os passos de seu pai que trabalhava numa indústria automobilística. Depois de um longo tempo como parte da Tchecoeslováquia a região voltou a pertencer à Alemanha, pelo Tratado de Munique de 1938. Em princípio, isto não efetou Knispel, que continuou a trabalhar na fábrica de automóveis. Após completar o seu aprendizado Knispel alistou-se no Exército Alemão. Não era época para se envolver em empreendimentos normais pois os tambores da guerra já estavam rufando. Ele escolheu a especialidade de blindados, talvez devido a sua experiência com veículos automotores. O seu conhecimento sobre mecânica veio bem a calhar nesta especialidade. 


À direita está Knispel com o seu comandante de tanque Hans Fendsack. Fendsak morreu na Normandia. Obviamente eles eram grandes amigos, uma amizade forjada em sangue e aço.

O treinamento básico foi em Sagan na Baixa Silésia, que então fazia parte da Alemanha e hoje da Polônia, não distante do Rio Oder. Após aprender o básico sobre armas regulares, como a MG 34 e MP 40, receber treinamento em veículos Panzer I, II e IV, Knispel foi aceito em 1º de outubro de 1940 na 3ª Companhia do 29º Regimento Panzer, que fazia parte da 12ª Divisão Panzer. Ele treinou como carregador (municiador) e artilheiro no Panzer IV, o MBT daquela época, até 11 de junho de 1941. Estes foram tempos promissores em que os alemães se envolveriam em coisas grandes.

 

Knispel com um colega não identificado. Parece ser o velho Hans....mas não dá para afirmar com certeza.

O primeiro comandante de Knispel no Panzer IV foi o Tenente Hellmann. A divisão deles fazia parte do Panzergruppe 3, LVII Corpo de Exército. Este Corpo fazia parte o Grupo de Exércitos Centro durante a primeira fase da Operação Barbarossa,  a invasão da Rússia, que começou em 22 de junho de 1941. O Panzergruppe 3 formou a parte norte da pinça que envolveria Moscou durante a Operação Tufão, a tentativa de capturar Moscou. Foi a parte do ataque que esteve mais próximo de obter sucesso. A captura de Klin e de Solnechnogorsk, subúrbios ao norte de Moscou em 25 de novembro esteve entre os últimos sucessos conquistados pelos alemães em 1941. A resistência dos russos tornou-se mais dura e a direção do ataque alemão moveu-se mais para o centro, que também falhou com os russos começando os seus contra-ataques. O Panzergruppe (renomeado Panzerarmee em 1º de janeiro de 1942) então teve que retrair da cidade evitando ser cercado e formando novas linhas de frente baseadas nos rios existentes mais para Oeste.

Pergunte aos soldados da linha de frente porque eles lutam e eles invariavelmente dirão que lutam pelos seus camaradas. Knispel parece muito confortável e relaxado junto com os seus colegas. Notar que a maioria está bem barbeada e com o cabelo aparado mas - a desculpa de não ter tempo suficiente ou água quente para fazer a barba aplica-se somente à ele, o homem que não se importa com esta informalidade.

Knispel sofreu durante o brutal inverno de 1941-42 na linha de frente como qualquer outro, evitando o enregelamento e a morte por ação inimiga que vitimou vários de seus camaradas. Ele recebeu a Cruz de Ferro de 2ª Classe durante este período. O 3º Panzerarmee permaneceu no flanco norte do front e Knispel foi acumulando vitórias tendo 12 creditadas até o final de 1942. Os alemães eram positivamente precisos a respeito da confirmação de vitórias (kills), somente dando o crédito com a apresentação de provas e negando em caso contrário. Todo o sistema de promoções era baseado nisso e portanto, havia uma pressão geral para que ele fosse exato. Assim, estes números de vitórias são apenas uma pequena demonstração do que era a realidade dos combates. Knispel também granjeou a reputação de não reclamar estas vitórias que não fossem claras e muitas vezes abriu mão em favor de seus camaradas. Ele era um grande colega para se ter ao lado.

Foto de alguns Ases tanquistas. Kurt Knispel teve mais vitórias do que qualquer outro. O escore somado desta turma passa de 2.000 veículos inimigos destruídos.

Apenas uma nota geral a respeito da Wehrmacht: existiam duas maneiras para se galgar na sua hierarquia, o sistema de promoções normal e o do sistema de medalhas e condecorações. O posto ou graduação era importante também, sem dúvida. Mas, o status alcançado através do segundo método que fazia o detentor ser olhado com verdadeiro respeito e não apenas saudado, era muito mais importante. Ele incluía um sistema meio obscuro que passava muito além das medalhas. Ter o seu nome mencionado nos comunicados da Wehrmacht  e ser ouvido pelo rádio em toda a nação era uma das maiores honras que qualquer soldado de qualquer posto podia receber.


Kurt Knispel, pelas razões mencionadas (indisciplina e confronto com oficiais superiores), não recebeu as medalhas que merecia. Entretanto, foi o único oficial não comissionado da arma blindada do Exército Alemão a ser mencionado nestes despachos. O único!

Hans-Ulrich Rudel quando da rendição da Luftwaffe. Atrás dele está Adolf Galland, outra lenda da aviação.

Eu vou martelar neste ponto porque é muito importante. Para provar isto, vou dar um par de exemplos da vida de outras lendas. O piloto e Coronel da Luftwaffe não teve um cargo importante. Entretanto, ele se tornou o melhor piloto de ataque ao solo de todos os tempos, alcançado recordes de todos os tipos e que provavelmente jamais serão batidos, e todos sabem disso. Ele perdeu a perna direita numa missão..e em seguida já estava voando em missão novamente durante os últimos dias do Reich porque sabia que poderia fazer a diferença. Rudel foi tão homenageado pelos seus camaradas que, em 1976, muito tempo depois que a Alemanha virou-se contra o regime Hitlerista tanto em espírito quanto legalmente, Rudel foi convidado a palestrar num evento de veteranos. Este convite criou um grande escândalo que custou o cargo a muitos generais da Bundeswehr. A causa defendida por Rudel não diminuiu a admiração que os seus colegas tinham por ele.

Dez anos mais tarde, no funeral de Rudel em dezembro de 1982, pilotos alemães fizeram uma revoada e uma passagem (fly-by) com Phantons para homenageá-lo uma última vez, apesar de terem sido proibidos e correndo o risco de punição. Duvida-se que teriam feito o mesmo por um General ou Marechal de Campo.

Apenas o posto não faz com que os soldados se sacrifiquem por ele. Já o respeito faz. E Knispel também granjeou este tipo de admiração.

Continua...

Abraços,

Gelson

 

Original Post

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Buenas,

valeu Rodrigo e Luciano!

seguindo com o texto...

Kurt Knispel recebendo uma condecoração. O tanque ao fundo é um King Tiger.

De volta à vida de Knispel. Novos tanques estavam sendo introduzidos, assim Knispel e outros tanquistas promissores foram enviados de volta à escola de blindados em Putlos para treinar com eles. A melhor novidade foi o Tiger I. O grupo de treinamento do Knispel foi designado para a 1ª Companhia do 503º Batalhão de Tanques Pesados. Knispel, agora como comandante de tanque, tomou parte na Batalha de Kursk onde destruiu 27 tanques T-34 russos em 12 dias. Por ter então já destruído um total de 50 tanques inimigos lhe foi concedida a Cruz de Ferro de 1ª Classe. Esta batalha tornou-se uma vitória tática para os alemães, se considerarmos o número de inimigos destruídos. 

Após a Batalha de Kursk a Wehrmacht estava em plena retirada. Entretanto, Adolf Hitler se recusava a aceitar este fato e insistia que as tropas defendessem o terreno a qualquer custo em linhas indefensáveis. Uma dessas ocasiões ocorreu no Bolsão de Korsun-Cherkassy. A última parte da linha do Rio Dniepr que Hitler acreditava ser impenetrável ao ataque soviético caiu no meio do inverno, após a queda de Kiev, grande parte do Grupo de Exércitos Sul foi cercado ali. Estas forças sob o comando do General Wilhelm Stemmermann, com cerca de 50.000 soldados, repetiam outro Stalingrado. O Comandante Georgy Zhukov estava bem a par deste precedente e apressou a formação de dois anéis fortemente blindados em torno das forças alemãs. Ele basicamente esperava que os alemães tentassem resgatar as tropas cercadas. Os alemães seriam obrigados a fazer isto.

Os Tigers de Knispel estavam sob o comando do III Corpo Panzer para a tentativa de resgate e atacaram o Bolsão a partir do sudoeste, com outro grupo atacando pelo noroeste. Eles fizeram um lento avanço mas as outras tentativas falharam e o grupo de Knispel tornou-se a única chance de liberar as tropas cercadas. O terreno estava barrento e os tanques estavam consumindo uma enorme quantidade de combustível, que precisava ser levado até os tanques manualmente por soldados que caminhavam com barro à altura do joelho. Os Tigers finalmente conseguiram chegar a poucas milhas dos homens cercados, exatamente como o General Hoth havia feito em Stalingrado. Houve combate feroz pelas elevações com os homens de Knispel tomando as posições mas sendo incapazes de mantê-las. Desta vez, porém, Hitler e os seus Generais autorizaram, ao contrário de Stalingrado, que seus homens rompessem o cerco de dentro para fora. Perto de 35.000 homens conseguiram sair (números contestados pelos soviéticos), e isto foi apenas possível devido aos ferozes combates travados por Knispel e seus homens contra as formações blindadas e de artilharia soviéticas. Os soviéticos sentiram-se humilhados por ver o seu prêmio fugir por entre os dedos.

continua...

Abraços,

Gelson

Last edited by gemerim

interessante , seguindo  o texto....afinal não  são sozinhas que as armas  ganham a  fama...mas  sim pela habilidade humana de os manipular.......  afinal nem sempre o  melhor  é o  o  mais  habilitado (posto - condecorações- hierarquia)   mas é muito mais dificil ser  reconhecidamente  hábil no que  faz ...plastiresiabço paulo r morgado  - sp - sp 

Pois é, Paul!

Também foram criadas algumas lendas em torno deste personagem. Uma delas diz respeito a ter destruído um veículo inimigo a 3.000 metros de distância. Esta façanha certamente teria sido conquistada com um King Tiger e o seu poderoso "88" Kwk 43 L71 e provavelmente foi um tiro fortuito pois, mesmo hoje, com todos os aparatos modernos de pontaria (telêmetro laser, sensores, etc.) não é um tiro fácil de se fazer.

Estou adquirindo também o livro de Franz Kurowsky, Panzer Aces 2, que tem um capítulo totalmente dedicado ao Kurt Knispel. 

Abraços e obrigado pelo seu comentário,

Gelson

Seguindo...

Foto colorizada. Na torreta de um Tiger I.

Após isto, houve várias ações similares a esta, batalhas esquecidas em lugares como Vinnitsa, Jampol e Kamenets-Podolsk (outro sucesso alemão na ruptura de ação de cerco, desta vez sob o comando do Primeiro Exército Panzer do General Hube). Generais como Walther Model ganharam fama como sendo os "Bombeiros do Führer", mas foram soldados como Knispel que colocaram as suas vidas em risco, dia após dia, na linha de frente. Foram chamados muitas e muitas vezes para realizar o trabalho e o fizeram.

Knispel manteve a sua contagem elevada. Num dado momento recebeu O Distintivo de Assalto Blindado em Ouro pela participação comprovada em 100 batalhas de tanques. Convenhamos que foram muitas batalhas.

Algum tempo após o sucesso obtido em Kamenets-Podolsk nos fins de março de 1944, Knispel foi transferido para o Front Oeste e recebeu o comando de um novo Tiger II, o mais temido tanque em qualquer exército. Participou da defesa de Caen (Normandia), o ponto forte alemão que manteve as linhas de retirada alemãs, após os Aliados terem rompido em Avranches.

Embora esquecido pelos historiadores agora, a defesa determinada de Caen foi um grande sucesso. Knispel retornou para o front Oriental e combateu em Budapeste, palco dos mais sangrentos combates do último ano da guerra. Knispel estava lá no seu tanque em cada batalha, e os soviéticos não foram nada gentis com: ele relatou 24 disparos recebidos no seu tanque durante um único combate (a blindagem do KT era ótima).

Houve alguns dos mais violentos combates a curta distância nos acessos de Budapeste incluindo a maior tentativa frustrada de rompimento mas que chegou muito próximo do sucesso. Por volta de 1945 somente os tanques alemães mais poderosos conseguiam fazer frente às poderosas forças soviéticas. Estes tanques poderosos proporcionaram a chance de sobrevivência das suas tripulações treinadas que, do contrário, teriam sucumbido. Aqueles que ainda acham que o King Tiger foi um desperdício de recursos devem reconsiderar a questão.

Aqui eu gostaria de acrescentar uma nota pessoal. O fato dos projetistas alemães sempre considerarem a sobrevivência das tripulações dos veículos como fator fundamental. Dispondo sempre de blindagens adequadas e escotilhas individuais para as tripulações saírem rápido são fatores que ajudaram muito na sobrevivência das tripulações.

Kurt Knispel lutou na linha de frente até o final, embora a frente estava entrando em colapso ao seu redor ele não desistiu, como muitos o fizeram. Knispel foi ferido mortalmente durante as batalhas finais no sul da Tchecoeslováquia após a queda de Budapeste e de Viena, morreu em Wostitz em 28 de abril de 1945, quando a guerra já estava perdida porém as balas não haviam parado ainda de voar. Foi enterrado (uma marca de respeito por ele naquele estágio da guerra) numa cova comum no cemitério local juntamente com outros quinze soldados desconhecidos. Os seus restos mortais foram reencontrados décadas após (17 de abril de 2013), por pesquisadores do Museu da Morávia junto ao muro de uma igreja na cidade de Vrbovec/Urbau, município de Znojmo. Foi identificado pela sua dog tag e por uma tatuagem que usava no pescoço - a tatuagem era proibida pelos regulamentos.

Um homem como Kurt Knispel, um verdadeiro guerreiro, não iria sobreviver a uma guerra por uma causa perdida não importa o quão próximo estava do final. Ele se empenhou de corpo e alma para tentar salvar a situação enquanto pode - e o conseguiu em algumas ocasiões. As suas atitudes destemidas pelo orgulho em cumprir o seu dever. Entretanto, ninguém pode mudar as mãos do destino. As areias do tempo correm inexoravelmente. O inimigo estava entrando em sua terra natal e ele seria a única coisa a se interpor a eles para defender a sua própria família. Ele caiu a 100 milhas de seu lar. Não haveria mais retiradas, nenhuma derrota, e Kurt Knispel montou a sua última defesa no seu próprio torrão natal. Isto é o que significa e o que é necessário para ser chamado de Guerreiro.

continua...

Abraços,

Gelson

Last edited by gemerim

Valeu, Wolf!

seguindo...

A dog-tag de Kurt Knispel, encontrada na sua sepultura em 2013.

Knispel sempre estava envolvido nos combates - alguém precisava fazê-lo. Ele não gostava quando alguém levantava a questão de quantos tanques ele havia destruído ou em quantas batalhas havia participado. Parecia não ter fim, apenas morte. Cada batalha vencida e cada tanque destruído trazia mais e mais. O pior dia era sempre o próximo. Ele usava o seu cabelo comprido e detestava a interferência de qualquer autoridade em seu trabalho, mas por ser considerado como o melhor no que fazia era deixado em paz. Existe alguma ironia no fato de que os seus restos mortais tenham sido finalmente identificados por uma tatuagem que foi feita apenas para agradar o seu espírito independente, uma natureza rebelde que o tornou imortal. Ele não dava nenhuma importância aos regulamentos e isto foi o que o tornou grande e uma inspiração para os demais.

Os alemães preferiam prestar honras ao mais bem apresentável Michael Wittmann. Ele seguia as regras do jogo.

Supostamente, Knispel foi recomendado para receber a Cruz de Cavaleiro quatro vezes, e foi rejeitado todas elas em virtude de suas atitudes excêntricas. As autoridades alemãs preferiam tipos como Michale Wittmann, outro ás dos tanques que não sobreviveu tanto como o mal-barbeado Knispel, mas que seguia os regulamentos. Mas não há necessidade de denegrir Wittmann, outro verdadeiro e audacioso tanquista para elevar Knispel.  Knispel teve a seu crédito muito mais vitórias pois sobreviveu à ele (Wittmann) em cerca de oito meses num período de mais combates e assim teve muito mais oportunidades. Os dois possuíam estilos pessoais e relacionamentos muito diferentes, assim um tornou-se herói nacional e o outro não. Parece que era pedir demais ao Ministro da Propagando do Reich tornar um cidadão tcheco (tecnicamente), rebelde e desrespeitoso, num herói de guerra.

Otto Carius foi outro altamente reconhecido ás dos tanques. Ele recebeu a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho (Ritterkreuz des Eisernen Kreuzes mit Eichenlaub), uma condecoração negada à Kurt Knispel. Carius, um excelente tanquista, teve menos vitórias do que Knispel. Carius nasceu no Palatinado na então República de Weimar. Ele sobreviveu à guerra com muitos ferimentos graves e escreveu o clássico "Tigers in the Mud", publicado não muito antes de sua morte em janeiro de 2015.

Embora a maioria dos registros alemães seja relativamente precisa, existem razões para acreditar que os feitos de Knispel se devem mais ao respeito que tinham por ele do que pelos números registrados. Existem rumores de que muitas "vitórias" conquistadas por formações inteiras tenham sido creditadas a algum "herói" preferido pela propaganda, de forma a criar uma grande "estória" nos despachos oficiais e no Wehrmachtbericht (jornal diário). Desde que Kurt Knispel não era um favorito dos propagandistas, é possível que possamos considerar o seu impressionante número de vitórias como sendo correto e mesmo, diminuído (pois algumas poderiam ter sido dados ao seu comandante). Não estamos tentando aumentar as habilidades de Knispel, apenas colocando como as coisas poderiam ter acontecido; muitos historiadores tendem a considerar apenas os números. Se a lista dos maiores Ases Tanquistas for analisada, veremos que todos tem postos de Oficiais, exceto Kurt Knispel.

continua...

Abraços,

Gelson

Last edited by gemerim

Ayres e Castro,

muito obrigado pela presença!

última parte...

Obter condecorações e honrarias não era o objetivo de Knispel, ele simplesmente queria cumprir o seu dever e sobreviver. Consta que Knispel teria agredido um oficial que maltratava prisioneiros russos. Ele poderia ter sido transferido para uma unidade penal onde a morte teria sido a única saída. Mas ele safou-se disto porque os alemães precisavam dele. É isto o que os verdadeiros guerreiros fazem. Qual foi a última vez que você arriscou a sua vida para defender um princípio?

Mas não há necessidade de glorificar Kurt Knispel e este não é o objetivo aqui. Ele era um simples combatente que conseguiu sobreviver por um longo período em ação. Kurt sobreviveu onde outros pereceram devido às suas habilidades e determinação. Foi feliz também quanto ao momento de sair pois estava já contra a parede e sem outras alternativas de retirada.

A última frase sobre Kurt Knispel é que ele possuía um talento natural para matar seguindo as normas de combate, e isto é fato. Também não o tornam bom ou mau... apenas único. Homens como Kurt Knispel que faziam o que precisava ser feito é o que faz qualquer exército funcionar, e isto serve também para outras organizações, não apenas militares.

Kurt Knispel teria sido um magnífico trabalhador da indústria automobilística.

Ich hatt' einen Kameraden. (Eu tinha um camarada).

Algumas fotos que foram creditadas a Kurt Knispel.

Knispel com a sua tripulação. Acredita-se que esta foi uma foto de propaganda.

O trabalho do tanquista podia ser frio e solitário. O tanque era o seu lar. Era bem melhor do que dormir ao relento, mas não muito melhor. No frio intenso era necessário ligar o motor do tanque a cada quatro horas para que não congelasse durante a noite.

Você não permitiria ser fotografado assim se almejasse subir na hierarquia. Knispel provavelmente desejou posar para esta foto. "Este sou eu, é pegar ou largar" . E os alemães o pegaram.

Fim.

Abraços e muito obrigado pela oportunidade!

Gelson

Muito legal esta postagem,independente de ideologia o ser humano é assim ou luta por prazer ou necessidade.Tem aquele filme 2001 uma odisseia no espaço que começa com aqueles hominideos errantes que em determinado momento descobrem que um osso pode ser uma vantagem e ai começa o conflito.Já comentei aqui que uma vez conheci um senhor  hungaro que participou da guerra sem querer foi obrigado,ele era engenheiro florestal e foi engajado na artilharia e serviu na Russia ele me mostrou o que a guerra fez com ele no seu corpo,quase morreu no Don, E também lamentou o que as ideologias fizeram com ele,primeiro os nazistas mandaram ele para a guerra depois os comunistas o puniram por ter  ido a guerra e depois os democratas deixaram ele sem qualquer pensão ou indenização por ter servido ao seu pais é mole ou quer mais.

Valeu, Ayres!

PAK43,

em suma...na briga entre o mar e o rochedo quem leva a pior é sempre o marisco.

Também tive um amigo que era natural de um destes países e que, por sua ascendência, optou por combater no Exército Alemão. Foi mais ou menos o que aconteceu com o teu conhecido. No final ficou no meio do nada, sem opções....perdeu até a cidadania do seu país natal.

E assim existem muitos "mariscos" por aí.

Abraços,

Gelson

Excelente texto Gelson.

Acho que é a primeira vez que encontro um texto sobre Kurt Knispel em português na internet. Já li muito sobre ele em artigos em inglês na internet e no livro "Panzer Aces" da Stackpole Books, os quais eu recomendo a leitura sem restrições. É muito interessante saber das histórias dos vários guerreiros, muitas vezes esquecidos por seus compatriotas, independente de sua ideologia, país ou política.

Pessoas que cumpriram seu dever e que muitas vezes estavam no combate para proteger suas famílias com o front próximo de casa em muitos casos. Isso me faz lembrar as histórias de colegas meus que vivenciaram a desintegração da Iugoslávia e suas várias guerras, onde a luta passou a ser na defesa não só da independência de seus países (Eslovênia, Bósnia e Sérvia) como na defesa de seus lares e suas famílias.

AÇO!!!

Rogerio,

desde pequeno e que fui atraído para este assunto (e hobby - nem soa bem este termo), procuro entender o porque desta fixação por este assunto que provocou já tanta dor e destruição no nosso planeta. Nunca consegui uma resposta plausível e, apesar de saber do sofrimento envolvido causado não consigo me livrar dele, pelo contrário. O interesse parece aumentar com a idade. Estranho...!

Mas, como humano falível e pouco inteligente que sou, prossigo nesta jornada sem entender as razões.

Por isso, já está a caminho o Panzer Aces II e outro livro sobre Kursk da Stackpole Books... Se houver algo a acrescentar sobre Kurt Knispel (tem um capítulo sobre ele), vou postar por aqui.

Abraços e obrigado pelo comentário,

Gelson

gemerim posted:

Rogerio,

desde pequeno e que fui atraído para este assunto (e hobby - nem soa bem este termo), procuro entender o porque desta fixação por este assunto que provocou já tanta dor e destruição no nosso planeta. Nunca consegui uma resposta plausível e, apesar de saber do sofrimento envolvido causado não consigo me livrar dele, pelo contrário. O interesse parece aumentar com a idade. Estranho...!

Mas, como humano falível e pouco inteligente que sou, prossigo nesta jornada sem entender as razões.

Por isso, já está a caminho o Panzer Aces II e outro livro sobre Kursk da Stackpole Books... Se houver algo a acrescentar sobre Kurt Knispel (tem um capítulo sobre ele), vou postar por aqui.

Abraços e obrigado pelo comentário,

Gelson

Somos dois então.

Parece que a cada dia aumenta ainda mais o interesse por conhecer este assunto.

Um abração!

Rogerio Kocuka posted:
gemerim posted:

Rogerio,

desde pequeno e que fui atraído para este assunto (e hobby - nem soa bem este termo), procuro entender o porque desta fixação por este assunto que provocou já tanta dor e destruição no nosso planeta. Nunca consegui uma resposta plausível e, apesar de saber do sofrimento envolvido causado não consigo me livrar dele, pelo contrário. O interesse parece aumentar com a idade. Estranho...!

Mas, como humano falível e pouco inteligente que sou, prossigo nesta jornada sem entender as razões.

Por isso, já está a caminho o Panzer Aces II e outro livro sobre Kursk da Stackpole Books... Se houver algo a acrescentar sobre Kurt Knispel (tem um capítulo sobre ele), vou postar por aqui.

Abraços e obrigado pelo comentário,

Gelson

Somos dois então.

Parece que a cada dia aumenta ainda mais o interesse por conhecer este assunto.

Um abração!

Três!

E quanto mais leio, mais desejo ler. E a idade e a experiência proporcionada pela leitura há muito me fez deixar de ver esse "hobby" pela leitura militar com o gosto de quando menino (comecei bem cedo, por volta de 11/12 adquiri os primeiros livros).

O porém/senão é que as pessoas que me conhecem, especialmente familiares, acham que simplesmente gosto de guerra...

Se soubessem quanto mudou minha opinião sobre ela...

Lucianocf posted:
Rogerio Kocuka posted:
gemerim posted:

Rogerio,

desde pequeno e que fui atraído para este assunto (e hobby - nem soa bem este termo), procuro entender o porque desta fixação por este assunto que provocou já tanta dor e destruição no nosso planeta. Nunca consegui uma resposta plausível e, apesar de saber do sofrimento envolvido causado não consigo me livrar dele, pelo contrário. O interesse parece aumentar com a idade. Estranho...!

Mas, como humano falível e pouco inteligente que sou, prossigo nesta jornada sem entender as razões.

Por isso, já está a caminho o Panzer Aces II e outro livro sobre Kursk da Stackpole Books... Se houver algo a acrescentar sobre Kurt Knispel (tem um capítulo sobre ele), vou postar por aqui.

Abraços e obrigado pelo comentário,

Gelson

Somos dois então.

Parece que a cada dia aumenta ainda mais o interesse por conhecer este assunto.

Um abração!

Três!

E quanto mais leio, mais desejo ler. E a idade e a experiência proporcionada pela leitura há muito me fez deixar de ver esse "hobby" pela leitura militar com o gosto de quando menino (comecei bem cedo, por volta de 11/12 adquiri os primeiros livros).

O porém/senão é que as pessoas que me conhecem, especialmente familiares, acham que simplesmente gosto de guerra...

Se soubessem quanto mudou minha opinião sobre ela...

Quatro e contando...

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