Coisas estranhas acontecem o tempo todo. Vou contar uma que recém aconteceu.
Estou montando um Sherman M-32 TRV da Tasca, cheio de peças minúsculas, um prato cheio para alimentar o monstro do carpete. Na semana passada eu fui checar o encaixe de uma peça misteriosa, com 3mm de comprimento, segurando-a com a pinça.
As instruções não são muito claras em algumas partes, de modo que eu experimentava a peça em posições variadas, quando esbarrei a pinça de mau jeito no modelo.
Vi uma trajetória no ar igual a um disparo de morteiro, quando a pecinha saiu voando da pinça e foi cair no meio do leve caos da minha bancada. Eu pensei "beleza, caiu aqui perto". Então eu tirei da frente tudo o que eu pensei estar no ponto de queda. Nada. Tirei da mesa todas as peças soltas, todas as ferramentas, todos os resíduos, etc., e também nada.
Achei que podia ter caído dentro da caixa aberta do kit. Retirei todo o conteúdo e examinei cada canto da caixa. Xongas. Em cima da mesa tinha mais três caixas cheias de ferramentas, tralhas, retalhos de plástico, de lixas, e mais um monte de resíduos que o modelismo produz. Esvaziei tudo e limpei o fundo das caixas. Nada (estou ficando repetitivo, eu sei).
Só podia estar no chão. Passei mais de uma hora na posição em que Napoleão perdeu a guerra, escovando cada centímetro do chão numa boa área em torno da mesa, passando o lixo aos poucos para uma folha de papel e examinando bem, antes de jogar na lixeira. E pi*as!
Para tudo existe um limite, então eu decidi que fazer uma peça nova ia ser muito mais rápido e mais fácil. Só fiquei procurando por teimosia mesmo.
Dois dias depois eu varri o ambiente todo e limpei a bancada com álcool e outros produtos, como sempre faço aos Sábados. Ela fica limpinha, sem nada em cima, e pronta para mais desordem urbana. Eu nem pensava mais na bendita peça.
Hoje eu abri uma gaveta (longe da bancada), peguei o pacote de papel sulfite, puxei uma folha novinha da resma e a prendi na mesa com fita crepe. Faço isto quando vou trabalhar com Durepoxi. Passei um bom tempo fazendo fios de epoxi, que simulam cordões de solda. Quando terminei de aplicar esse material no casco do Sherman, parei para examinar o trabalho. E ao limpar as sobras quase secas do Durepoxi que restaram em cima do papel, notei uma pequena forma retangular ali no meio, diferente das formas arredondadas dos fios roliços de Durepoxi. Era a danada da peça, limpa e sem danos. E parada exatamente no mesmo ponto de onde foi ejetada uma semana antes.
Eu digo não a drogas e bebidas, e sou razoavelmente são. Mas ainda estou tentando explicar isso.