Oi pessoal. Quem já me conhece sabe como eu gosto de fazer vários modelos ao mesmo tempo. Não me imponho prazo algum para termina-los, pois já chega os que eu tenho com o meu trabalho de ilustrador. Meu prazer no modelismo é o de testar os limites da minha habilidade em reproduzir coisas em escala, o melhor que eu puder. E o modelo que ficar pronto primeiro, ficou.
Isso não impede de mostrar o progresso de alguns deles aqui. Vou postar um de cada vez, e todos neste mesmo tópico. Vamos ao primeiro.
Mercedes 170 V
O Mercedes 170 V foi projetado para uso civil apenas, e não era adequado para os rigores do emprego militar. Mas sendo tão bem fabricado (afinal, era um Mercedes- Benz), foi amplamente adotado pela Wehrmacht como transporte de oficiais, servindo com distinção em toda as frentes de guerra. Os 170V que vemos em fotos eram veículos civis requisitados ou comprados pelas forças armadas. A maioria deles recebeu pintura por cima das cores civis de fábrica, assim como a instalação das lâmpadas Notek, e mais uma ou outra pequena alteração. A mecânica do carro não sofreu modificação. Não confundir este modelo civil com aquele modificado pela fábrica, a pedido dos militares. Durante a guerra, a produção para os civis cessou em favor do modelo com carroceria simplificada, como os lançados pela Masterbox.
Este é um carro que eu sempre quis ter na minha coleção. Antes de o kit da Miniart ser lançado, eu cogitei em comprar um de resina feito no Brasil, mas depois de ver o modelo montado, creio que aqui no fórum, mudei de ideia por ser o kit completamente tosco.
O kit da Miniart, lançado há poucos anos, é superior ao Mercedes da Masterbox, lançado quase ao mesmo tempo, mas também tem altos e baixos. É bem detalhado, mas a engenharia de alguns encaixes é ruim. As linhas do veículo estão bem representadas, mas faltam partes importantes do design. Algumas peças, como a capota dobrada de lona, ficam melhores na lixeira. É bem injetado, porém o plástico macio pode dar problemas com cola em demasia. Como eu pretendo detalhar bem o modelo, vejamos na prática o que pode ser feito para resolver esses problemas e miniaturizar um Mercedes 170V à altura do nome.
Começando pela carroceria, a primeira coisa foi lixar toda a lataria do carro. Uma textura inexistente no Mercedes real, foi aplicada no kit, sem necessidade. Fui lixando e polindo, à medida que a montagem prosseguiu. Nas fotos adiante, a maior parte da textura já foi eliminada.
1- O kit da Miniart omite esta extensão em cima das quatro portas. Fiz os acréscimos com plasticard, deixando a devida abertura para as janelas de vidro.
2- Novos apoios de braço foram fabricados de plástico, com os acabamentos da costura em alto relevo feitos em sprue esticado.
3- A área onde o assento traseiro deve ser colado é precária. Com enchimento de plasticard, a colagem do assento pode ser feita depois, com mais firmeza.
4- Um novo tanque de gasolina foi feito em plasticard. O original do kit não está legal, então só aproveitei as duas extremidades.
1- Os pilares do para-brisa são muito finos e foram engrossados com plasticard de 0,2mm, colados atrás e nos lados externos de cada um.
2- Faltava este estofamento no kit. Como estava, parecia com o interior de um Kubelwagen, com a chapa de metal exposta. Um Mercedes é todo estofado e acarpetado. Fiz o enchimento com Durepoxi e muita lixa.
3- O túnel da transmissão estava incorretamente mais largo na frente, quando deveria ser reto. O excesso foi cortado, lixado e o buraco resultante preenchido com plástico, Durepoxi e Superbonder. E mais lixa ainda.
Só reparei nestes dois últimos problemas quando a carroceria já estava montada, como na foto, por isso deu trabalho consertar. É melhor fazer esta correção antes , para facilitar a vida.
Também iniciei a abertura de pedais e outros controles, que serão melhoradas mais adiante.
Aqui vemos o mesmo tratamento que apliquei no assento traseiro. Um bloco de plástico torna muito mais fácil colar os bancos dianteiros ali depois de pintados, sem correr o risco de borrar aquela área com cola. Furos e pinos garantem que os bancos vão ficar na posição desejada.No lado externo do carro, os debruns entre a lateral e os para-lamas são feitos de sprue esticado e cuidadosamente colados.
Agora vou fazer alguns carpetes. Cortei gabaritos em papel sulfite e transferi os contornos para o verso de uma lixa d’água, depois recortei com tesoura e estilete todas as reentrâncias. O carpete sob os pés do motorista é o mais complicado, mas com paciência todos os ângulos acabam ficando certos.
1- Gabarito feito em papel sulfite e carpetes dianteiros recortados de lixa d’água. Cada gabarito serve para o lado esquerdo e para o direito, bastando inverte-lo.
2- Carpetes traseiros.
3- Carpete do motorista com primer aplicado.
4- Esta foto mostra a escala da textura do “carpete” em relação a uma lapiseira comum. Eu guardei um retalho com a gramatura da lixa anotada no verso. Preciso procurar para afirmar o número, mas deve ser uma lixa 300. Tem uns 3 anos que fiz isso e não se pode guardar tudo de cabeça.
Os carpetes foram colados com Araldite e os acabamentos, como os debruados nas bordas de cada um, foram feitos com fios de Durepoxi. Fotos, mais adiante.
Este método dá melhor resultado do que aplicar grama estática ou coisa similar, no piso de veículos em 1/35. Nessa escala, a tentativa de mostrar pelos individuais para simular carpete acaba parecendo um matagal (ou coisa pior) nascendo dentro de um carro, como já vi em um ou dois modelos por aí. O mais importante de tudo é o efeito de escala, não se deve descuidar disso.
As portas dianteiras também tiveram aquele acréscimo de plasticard em cima. A parte interna das portas não parece em nada com as fotos de época que encontrei, então foi tudo lixado e coberto com plasticard.
Na foto acima vemos a cavidade da bolsa da porta e os buracos onde entrarão as maçanetas. Também vemos os filetes em relevo em redor da porta. O pino de metal irá fixar a porta que vou deixar entreaberta , sem o risco de ela se soltar.
A bolsa com elástico foi feita de Durepoxi. Depois eu vou inserir nela alguns objetos, e talvez uma granada de mão. Repare a lingueta da fechadura e outros detalhes. Esta é a porta do motorista, que ficará entreaberta.
Esta é a porta do carona. A bolsa vai conter só alguns papéis, talvez um envelope. O resto é similar à outra. Mas esta vai ficar fechada, portanto, sem lingueta, etc.
Um primerzinho básico, só para checar se tudo ficou bem. Mas ainda faltam uns pequenos detalhes, como o puxador da porta. Os lugares que receberão cola foram mascarados com fita veda-rosca amassada e tubo de plástico.
A face externa das portas também merece cuidados, como novas entradas para as maçanetas (na posição correta) e novas dobradiças. É difícil encontrar dobradiças decentes em kits. A maioria delas vem desalinhada, com espaços gigantes entre cada seção, ou simplesmente erradas de todo. Zerei tudo e fiz novas dobradiças com plasticard e tubo fino de plástico. A broca da foto serve apenas para alinhar as dobradiças enquanto a cola seca, e não para furar as peças. A dobradiça de baixo é mais alta que a de cima, por causa da curvatura da carroceria.
A porta do motorista, já com primer, maçaneta e dobradiças prontas. Repare a lingueta da fechadura.
O assento traseiro não deu muito trabalho. Só fiz o debruado da costura/acabamento com sprue esticado e colei pedaços de estireno embaixo, para a colagem final mais tarde.
99% dos modelistas acredita que todo veículo alemão tinha bancos revestidos em couro. Mas este aqui terá bancos revestidos com tecido, conforme o manual da fábrica. Bancos de couro só a pedido dos clientes, e custavam, lógico, mais caro.
Os bancos dianteiros deram um pouco mais de trabalho. Comecei separando o encosto do assento, pois no kit eles são uma peça única. O acabamento liso e arredondado nas bordas serradas foi feito com lima e lixa. O debruado da costura foi feito com fio de sprue esticado, colado nos assentos e nos encostos. Dois pinos de metal em “L” unem cada encosto em cada assento, e assim não tem cola aparecendo na junção entre eles.
Embaixo de cada banco fiz um recorte onde colei uma pequena seção de tubo de plástico. Ali vai entrar, depois da pintura, a alavanca de regulagem dos bancos.
Até aqui os melhoramentos foram relativamente simples. Agora vou engrossar o caldo um pouquinho, na peça a seguir. Resolvi fabricar outra capota, protegida por uma capa, como vem de fábrica.
Essa é peça que vem no kit, e não dá nem pra salvar, de tão ruim. A capota do carro é bem tradicional: Uma armação articulada de metal e madeira, onde o tecido é costurado. Uma capa protege a capota quando ela não está em uso, envolvendo-a como um envelope. A peça que vem no kit não é uma coisa nem outra.
Continua amanhã