É muito fÁcil, ante fatos moralmente difÍceis, "cumprir o dever e seguir ordens".
Os nazistas, os fascistas, os comunistas, os stalinistas fizeram isso.
O difÍcil É ter estatura moral para dizer NãO.
Paul GrÜninger (27 de Outubro de 1891- 22 de Fevereiro de 1972) foi comandante da polÍcia do cantão de St. Gallen, na SuÍÇa, na fronteira com a Alemanha e a Áustria.
ApÓs a anexaÇão da Áustria pela Alemanha nazista, a SuÍÇa fechou sua fronteira explicitamente aos refugiados judeus que chegavam sem os vistos de entrada adequados. Eles deviam ser sumariamente mandados de volta pela polÍcia suÍÇa.
Quando a situaÇão piorou e o número de refugiados que tentavam cruzar a fronteira aumentou, o então policial de 47 anos, Paul GrÜninger, decidiu não os devolver ao seu paÍs pois uma feroz polÍtica estatal antissemita estava em andamento, mesmo que para isso tivesse de enfrentar as consequÊncias de não cumprir as ordens explÍcitas recebidas do governo suÍÇo.
E fez mais.
Para "legalizar"o status de refugiados, ele falsificou os vistos de refugiados, mostrando em seus passaportes que eles tinham entrado na SuÍÇa antes de MarÇo de 1939, quando a imigraÇão tinha sido restringida.
Essa manipulaÇão de datas possibilitou aos recÉm-chegados serem tratados como legais e serem levados ao campo de internamento de Diepoldsau.
Ali, ajudados por organizaÇÕes judaicas, os refugiados esperavam autorizaÇão para permanÊncia temporÁria ou a sua partida para um destino final.
GrÜninger forjou falsos relatÓrios sobre o número de chegadas e o status dos refugiados no seu distrito e impediu os esforÇos para rastreamento dos refugiados que eram conhecidos como tendo entrado ilegalmente na SuÍÇa.
Ele atÉ mesmo pagou do seu prÓprio bolso roupas de inverno aos refugiados necessitados.
As autoridades alemãs informaram às autoridades suÍÇas as atividades de GrÜninger e ele foi demitido da forÇa policial em MarÇo de 1939.
Seus privilÉgios foram suspensos e foi levado a julgamento acusado de ter permitido a entrada ilegal de 3600 judeus na SuÍÇa e a falsificaÇão de seus papÉis de registro. A promotoria adicionou à acusaÇão ele ter ajudado indivÍduos judeus , escondendo-os da detecÇão e tÊ-los ajudado a manter seus bens.
Seu julgamento iniciou em Janeiro de 1939 e arrastou-se por dois anos.
Em MarÇo de 1941, foi considerado culpado de não ter cumprido o seu dever. Teve sua pensão e benefÍcios cancelados, foi multado e teve de pagar as custas do julgamento. A corte reconheceu o seu altruÍsmo, mas isso não era atenuante pois, como funcionÁrio do Estado, seu dever era seguir as ordens recebidas.
Obscuro e esquecido, GrÜninger viveu o resto de sua vida com dificuldades. Apesar disso, jamais se arrependeu de suas aÇÕes em benefÍcio dos judeus.
Em 1954, ele explicou os seus motivos:
"Basicamente, era uma questão de salvar vidas humanas ameaÇadas de morte. Como poderia eu levar em consideraÇão esquemas burocrÁticos e estatÍsticas?"
Em Dezembro de 1970, como resultado de protestos da imprensa, o governo suÍÇo enviou à Grueninger uma carta particular de desculpas sem considerar a reabertura do caso e a reinstalaÇão da sua pensão.
Somente apÓs a sua morte, em 1972, É que a histÓria de Paul GrÜninger foi sendo trazida ao conhecimento público gradualmente, por algumas publicaÇÕes e um movimento para reabilitÁ-lo foi iniciado.
A primeira tentativa foi rejeitada pelo governo suÍÇo e somente no final de 1995, o governo federal suÍÇo finalmente anulou a condenaÇão de GrÜninger. A corte distrital de St. Gallen revogou o julgamento contra ele
e inocentou-o de todas as acusaÇÕes.
TrÊs anos mais tarde, o governo do cantão pagou uma indenizaÇão a seus descendentes e, em 1999, o assim chamado relatÓrio da Comissão Bergier procedeu a reabilitaÇão de GrÜninger assim como reabilitou todos aqueles que tinham sido condenados na SuÍÇa durante o perÍodo do nazismo na Alemanha, por sua ajuda a refugiados.
127 mulheres e homens tiveram reabilitaÇão pública em 2009.
Em 1971, FundaÇão do Memorial do Holocausto Yad Vashem de Israel honrou GrÜninger como um dos Justos Entre as NaÇÕes.
Em honra do seu sacrifÍcio, uma rua, localizada no bairro Pisgat Ze'ev ao Norte de JerusalÉm recebeu o seu nome.
Diversas ruas na SuÍÇa hoje tem o seu nome.