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VOCÊ VOOU COM ESTAS ROUPAS?

 

Viver na base aÉrea do campo Wheeler em 1941 era como estar no “paraÍso”. NÓs estÁvamos temporariamente acampados na praia de Haleiwa, decolando de uma pista rústica durante nossa tentativa de qualificaÇão de tiro. O Curtiss P-36 era ideal para este tipo de missão porque tinha uma metralhadora calibre .30 e outra calibre .50 (o solenoide para a .50 foi desconectado e apenas a .30 estava funcionando) sincronizadas para atirar atravÉs do giro das hÉlices.
VocÊ poderia se preparar para entrar em combate fazendo uma curva fechada e acelerando o motor de uma vez, esta prÁtica iria aumentar consideravelmente suas chances em um combate. Johnny Dains e eu terminamos esta qualificaÇão e estÁvamos livres para retornar para a civilizaÇão para aproveitar nossa noite de sÁbado. Fomos para Honolulu na noite de 6 de dezembro.
NÓs retornamos para Wheeler nas primeiras horas da manhã e encerramos a noite batendo papo.

 

 

NÓs estÁvamos sentados alÍ se preparando para dormir quando ouvimos o ronco do motor de um avião em mergulho, seguido de uma explosão. Os pilotos da Marinha tinham o costume de algumas vezes voar baixo sobre a nossa base nas manhãs de domingo. Isto era parte da rivalidade que existia entre nÓs, agravada pelas ressacas que poderiam acontecer. Em seguida uma grande explosão ocorreu, fazendo tremer o alojamento onde estÁvamos. Pensei que o infeliz piloto tinha se acabado e saÍ para ver alguÉm morto. Antes de chegar a porta, eu olhei para cima e vi o cÉu cheio de aviÕes - todos largando suas bombas e depois metralhando logo apÓs o momento de recuperaÇão de seus mergulhos. AlguÉm gritou: “Japas! Eles são Japas!”. Outra explosão quase me derrubou. Eu procurei proteÇão instintivamente e corri para meu quarto. Johnny jÁ estava procurando por suas meias. Eu gritei: “Vamos!”, mas ele insistiu em esperarmos atÉ que conseguisse encontrar as meias. Quando ele finalmente conseguiu, nÓs entramos em meu carro e nos dirigimos para a linha de vÔo. Um avião lanÇou sua bomba e depois perseguiu a baixa altitude o meu carro tentando nos atingir. Sua pontaria não foi tão boa e as balas das metralhadoras passaram muito alto, indo atingir as janelas no andar superior de uma residÊncia prÓxima
É claro que a linha de vÔo estava um caos! Todos os aviÕes estavam estacionados num único local em espaÇo aberto, enfileirados num canto e deixando espaÇo para a cerimÔnia do desfile da tropa que ocorria todo sÁbado. O “efeito dominÓ” teve inÍcio quando a primeira bomba explodiu entre os aviÕes enfileirados e uma grande destruiÇão comeÇou. Todavia, homens de grande bravura estavam neste local e fizeram o seu melhor de maneira corajosa, tentando literalmente carregar nas costas aqueles aviÕes condenados. Eu vi um destes bravos continuar tentando salvar um destes aviÕes atÉ que foi cortado ao meio por uma rajada de metralhadoras! Johnny gritou “Haleiwa!” e eu dirigi na direÇão da saÍda. A explosão de uma bomba que caiu bem prÓxima quase terminou a guerra para mim. O impacto da explosão quase suspendeu o meu carro. No caminho da saÍda de Wheeler, nÓs passamos em frente da residÊncia do tenente Bob Rogers, no setor do quartel destinado aos casados, e paramos para pegÁ-lo.

 

 

Rapidamente nos dirigimos para a saÍda da base e outro avião japonÊs nos escolheu como alvo e comeÇou a nos metralhar. Esse piloto nos perseguiu pela estrada que cortava as plantaÇÕes de cana-de-aÇúcar atirando, e depois manobrou para que o artilheiro traseiro pudesse atirar tambÉm. Rogers gritava “O canavial! Entra no canavial!”, mas por alguma razão, Johnny estava achando graÇa de toda aquela situaÇão e ria descontroladamente. NÓs alcanÇamos a velocidade de 160 quilometros e, É claro, acabamos conduzindo nosso perseguidor à nossa base aÉrea “secreta”! ApÓs parar meu carro eu me escondi embaixo da asa de um P-36 que estava estacionado. Foi aÍ que me lembrei que o avião estava carregado de combustÍvel altamente inflamÁvel. O piloto japonÊs prontamente comeÇou a metralhar os aviÕes estacionados na base enquanto eu corri para me proteger debaixo de algumas Árvores. Eu estava convencido que a “missão de vida” deste piloto era me pegar! Um membro da equipe de apoio da base e eu comeÇamos a municiar as metralhadoras de um P-36 que parecia ser o único alvo da metralha do avião japonÊs. Todavia, apÓs atingir alguns aviÕes, ele partiu para uma direÇão desconhecida. Eu entrei no P-36 e decolei rapidamente. Assim que estava no ar, eu ouvi pelo rÁdio alguma referÊncia sobre o campo Bellows e comecei a me dirigir para lÁ, mas pensei não ser muito sensato ir para lÁ. Eu manobrei e retornei, me dirigindo para a ponta Kahuku quando observei outro avião. Eu me aproximei para interceptÁ-lo quando vi que era outro P-36. Eu me aproximei voando ao seu lado e vi que era o avião do tenente Rogers. Ele sinalizou para baixo indicando que o inimigo estava alÍ. Eu não conseguia entender porque Rogers não atacava! Finalmente, de maneira relutante, ele iniciou seu mergulho para o ataque atirando a cerca de 270 metros. Quando ele saiu do mergulho, eu me aproximei do alvo. Ele manobrou, dirigindo-se para baixo, depois saindo de um mergulho quase vertical. Ele manobrou para a esquerda tentando escapar. Eu acelerei e acabei passando dele, consegui apenas uma rajada de tiro muito rÁpida durante a passagem. Neste momento eu jÁ estava voando horizontalmente e observei o avião inimigo voando pouco abaixo tentando escapar. Eu mergulhei para o ataque. De repente, ele cortou a aceleraÇão e acionou os freios de mergulho. Eu passei zunindo e rapidamente percebi que estava com problemas! Eu estava mergulhando verticalmente em alta velocidade e me aproximando muito do solo a ponto de ver o “chapÉu na cabeÇa de uma pessoa”. Eu puxei o manche com a maior forÇa possÍvel e, voltei a voar horizontalmente novamente. Eu apaguei completamente. Instintivamente eu manobrei e não consegui mais ver meu oponente que conseguiu escapar.

 

 

Eu ouvi pelo rÁdio Rogers gritar mas não foi possÍvel entender o que ele dizia. Eu manobrei lentamente para a direita e de repente observei trÊs aviÕes sobre a ponta Kaena. Me aproximando deste local pude ver dois aviÕes japoneses em combate aÉreo com um P-36, presumi que era o avião de Rogers. Eles estavam um pouco abaixo de mim e mergulhei contra o segundo avião japonÊs. Ele manobrou em minha direÇão, deixando o outro avião japonÊs na minha mira. Ele tinha cometido um erro! Ele tentou desfazer este erro, mas acabou passando diretamente na minha linha de tiro. Como eu não estava a mais de trÊs ou quatro metros e meio atrÁs dele, não pude errar a rajada de balas. Eu vi o artilheiro traseiro se encolher e a asa esquerda comeÇar a se incendiar. Então, eu cortei para a direita subindo para me posicionar para outro ataque. Então eu vi este avião que tinha sido atingido mergulhar verticalmente e cair no mar. Eu manobrei à esquerda procurando pelo outro avião inimigo quando me percebi voando na direÇão contrÁria a uma formaÇão de 10 ou 12 aviÕes japoneses. Penso ter causado uma grande surpresa entre eles pois todos fugiram em vÁrias direÇÕes enquanto eu passava diretamente no meio da formaÇão japonesa. Eu vi um avião desgarrado e me aproximei apenas para descobrir que era outro P-36. Eu me aproximei pensando ser o avião de Rogers. Mais tarde descobri que o piloto se chamava Mike Moore.
Mais tarde Mike me disse que eu estava falando tão alto pelo rÁdio que era impossÍvel entender as instruÇÕes. Eu estava, É claro, avisando ele sobre os aviÕes japoneses que estavam voando abaixo de nÓs. De qualquer forma, ele atacou de maneira agressiva o mesmo avião que eu estava tentando perseguir. NÓs o perseguimos pelo cÉu, mas Mike estava tão prÓximo que eu não conseguia atirar. Finalmente, Mike deixou o combate apÓs gastar toda a sua muniÇão. Eu ataquei logo apÓs ele e consegui trÊs boas passagens de tiro antes que ficasse tambÉm sem muniÇão. Eu sei que causei sÉrios danos apÓs a minha primeira passagem de tiro. Eu vi a cabine ser atingida e o motor receber alguns tiros. A última vez que vi o avião japonÊs, ele estava se afastando da ponta Kaena deixando um rastro de fumaÇa preta e rapidamente perdendo altitude.

 

 

Eu tive a confirmaÇão desta segunda vitÓria apenas dois anos depois. Mesmo hoje, a recomendaÇão me citando para uma medalha pela aÇão ocorrida neste dia tem me causado aborrecimentos. Eu sempre atribuo o atraso para o fato desta medalha ter sido dada para um tal de Harry “M” Brown, sendo que a letra do meio estava invertida, pois o correto deveria ser “W”. Penso que a medalha foi entregue para outra pessoa com o nome Harry Brown e que estava querendo sair do anonimato. Hoje, eu realmente não me preocupo muito com isso pois sei que, o que fiz naquele dia ou se o total de vitÓrias aÉreas são seis ou sete, não irÁ afetar significativamente as coisas. Todavia, apenas para registro, uma trasmissão oficial de rÁdio confirmou minhas vitÓrias com a sÉtima e quinta forÇas aÉreas como sendo duas. Ainda mais, foi aceito pelos meus superiores e demonstrado pelo testemunho oficial do Gabinete do Comando, quando eu retornei ao continente. Meu total foi confirmado como sendo sete. Eu tambÉm fui honrado pelos meus companheiros de armas quando eu pintei duas marcas com o “sol nascente” em meu P-40 pessoal que utilizei no Havai, pois não havia nenhuma dúvida deles sobre estas vitÓrias.
Recentemente, estudantes deste ataque me perguntaram sobre as cores dos aviÕes japoneses que enfrentei. Eu tenho apenas vagas lembranÇas e não posso afirmar com certeza absoluta. Eu penso que cada um dos aviÕes que eu derrubei possuÍam uma faixa vertical na cor azul na fuselagem, e um deles possuÍa uma lista horizontal amarela ou amarelo-alaranjado, em seu estabilizador vertical e leme. Ambos eram “Kates” apesar de meu formulÁrio 5 de registro de combate aÉreo descrever como sendo “Vals”.
Eu retornei para Weeler e aterrissei. O chefe da equipe de apoio em terra tirou um sarro de mim, apontando para a maneira como eu estava vestido. Neste momento percebi que voei em minha primeira missão de combate com a blusa do pijama, a calÇa do traje a rigor, calÇados que se usam somente em casa, capacete e Óculos de vÔo! Enquanto o avião era preparado, eu troquei minha roupa pelo traje de vÔo. Taylor e Welch decolaram novamente para outra missão. Cerca de cinco minutos depois Johnny Dains taxiou em um P-36 e eu fiz sinal de positivo para ele. Esta foi a última vez que pude vÊ-lo vivo, porque ele queria rapidamente se juntar com Taylor e Welch naquela nova missão. Acabou sendo abatido por nossas prÓprias tropas. Eu penso que estes nervosos artilheiros confundiram seu P-36 com um avião japonÊs que estava perseguindo os dois P-40 de Taylor e Welch! Eu voei apenas uma outra missão naquele dia mas não encontrei nenhuma oposiÇão aÉrea.
Harry Brown faleceu no final de 1991.

 

Autor: Stan Cohen
TraduÇão livre: JaponÊs (05/02/2010)

 

PS.
1. Os combates iniciais de Harry Brown e Bob Rogers foram contra bombardeiros de mergulho Aichi D3A1 “Val” do porta-aviÕes Soryu, que possuÍam uma faixa vertical azul na fuselagem. Os lÍderes de vÔo do Soryu tinham faixas horizontais (uma, duas ou trÊs) na cor amarelo-ouro. Observamos que a memÓria de Brown estava correta. Apenas um detalhe, nenhum B5N2 foi atacado ou derrubado por aÇÕes de caÇas americanos, apenas 5 torpedeiros da primeira onda de ataque foram derrubados pela anti-aÉrea.
2. O combate final de Harry Brown e Mike Moore foi contra os caÇas Mitsubishi A6M2 do porta-aviÕes Soryu. Eram os aviÕes dos dois alas do tenente Iida, que jÁ tinha morrido ao se chocar com o solo da base de Kaneohe. Estes dois aviÕes acabaram caindo no mar prÓximo da ilha de Niihau. Esta shotai (unidade formada por trÊs aviÕes) inteira foi perdida. Estes aviÕes tentaram se dirigir para lÁ para serem resgatados por um submarino japonÊs que deveria estar navegando na superfÍcie para recolher os pilotos de aviÕes danificados durante o ataque. Um terceiro piloto de caÇa do porta-aviÕes Hiryu que tentou encontrar o submarino tambÉm não conseguiu, pois o mesmo não submergiu. Ele acabou fazendo uma aterrissagem forÇada na ilha de Niihau. Os dois pilotos do Soryu cairam no mar.
3. O avião que perseguiu o carro de Brown com seus companheiros foi abatido pelo piloto Johnn Dains. Este piloto voou trÊs missÕes, sendo que na terceira missão ele trocou seu P-40 por um P-36 prateado. Ele estava fazendo sua aproximaÇão final para o pouso quando foi atingido. Este fato verdadeiro É diferente da hipÓtese descrita por Brown.
4. A informaÇão de Brown de que seu carro atingiu a velocidade de 160 quilometros parece conter um certa “dose de exagero“, pois a estrada de terra que conduzia atÉ o campo de Haleiwa não permite isto. Mr. David Aiken, em uma de suas viagens de pesquisa ao Havai, fez o trajeto de carro pela rota destes pilotos e confirmou ser impossÍvel alcanÇar tal velocidade nesta estrada.

 

BIBLIOGRAFIA:
1. Livro ATTACK ON PEARL HARBOR, quinta ediÇão, ano de 2007
2. Livro THE WAY IT WAS - PEARL HARBOR - by Donald M. Goldstein, Katherine V. Dillon e J. Michael Wenger, ano de 1995.

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