Piloto brasileiro testa Gripen na África e relata impressÕes sobre caÇa
Major É 1º piloto da FAB a voar caÇa sueco apÓs Dilma anunciar decisão.
Governo assina atÉ dezembro compra de 36 Gripen por US$ 4,5 bilhÕes.
Sentado na cabine de comando do novo caÇa comprado pelo Brasil, o Gripen, da empresa sueca Saab, e que sÓ deve chegar ao Brasil oficialmente em 2018, o major da AeronÁutica Renato Leal Leite mira o alvo. Voando a 6 mil metros de altitude e a 1.000 km/h, ele muda a direÇão da aeronave, sem saber o que encontrarÁ pela frente.
![Piloto da FAB, major Leite (à direita na foto) voou o Gripen na África do Sul (Foto: Força Aérea Brasileira/Divulgação) Piloto da FAB, major Leite [à direita na foto) voou o Gripen na África do Sul [Foto: Força Aérea Brasileira/Divulgação)](http://s2.glbimg.com/nOgxxV2VUA6q942qPXxLIE9Hn5s=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2014/07/29/aeronautica.jpg)
Neste momento, informaÇÕes chegam ao painel e uma luz verde se acende. A 50 km de distância, bem fora do seu alcance de visão, mas na direÇão para a qual segue, estÁ um avião amigo. Se o alvo ficasse vermelho, haveria perigo: a codificaÇão da aeronave não havia sido decifrada e o caÇa seria um inimigo.
“Tive a sensaÇão de estar em um dos caÇas mais modernos, talvez o mais moderno, do mundo. A certeza de que foi a melhor escolha para o Brasil, sem dúvida. É impressionante as informaÇÕes que chegam com facilidade ao piloto. Uma sensaÇão profissional de estar na ponta da lanÇa e que estaremos no mais alto nÍvel para defender o paÍs”, afirma o major Leite em entrevista ao G1.
Leite foi o primeiro piloto brasileiro a voar o Gripen desde que a presidente Dilma Rousseff anunciou o modelo sueco como o novo avião de combate brasileiro, em dezembro de 2013, deixando para trÁs os concorrentes F-18, da norte-americana Boeing, e o Rafale, da francesa Dassault. Serão compradas 36 unidades ao custo de US$ 4,5 bilhÕes (R$ 10,8 bilhÕes).
O voo ocorreu em junho, quando uma comitiva da AeronÁutica visitou a base de Makhado, no extremo norte da África do Sul. A AeronÁutica sul-africana usa o Gripen para vigilância aÉrea desde a Copa do Mundo de 2010. Antes disso, um piloto da AeronÁutica sÓ tinha voado Gripen em 2009, na SuÉcia, quando houve a avaliaÇão dos trÊs concorrentes durante a negociaÇão.
Segundo o brigadeiro JosÉ Augusto Crepaldi Affonso, o contrato com a Saab serÁ assinado atÉ dezembro de 2014 prevendo transferÊncia de tecnologia para que a indústria nacional aprenda como produzir o avião e tenha participaÇão no projeto.
AlÉm disso, o governo negocia com a SuÉcia a cessão de 4 a 6 aviÕes, que deverão chegar ao paÍs no primeiro trimestre de 2016, a tempo das OlimpÍadas, diz o brigadeiro.
“VÁrios sensores, radares e infra-vermelhos estão fundidos no sistema no Gripen, sendo os olhos do piloto lÁ fora. Eu enxergo fÁcil o que ocorre ao redor e consigo identificar as coisas no ambiente externo. Nos aviÕes antigos, não havia esta interface. O piloto tem que gastar energia intelectual para entender o que estÁ acontecendo”, explica o piloto brasileiro.
“No Gripen, as informaÇÕes chegam prontas e claras. Ele me diz se, naquela posiÇão no espaÇo, tem uma aeronave amiga ou inimiga. Se por ventura eu faÇa alguma coisa errada, ele entende o que eu queria fazer e corrige”, explica o major. “Ao voar um caÇa, a primeira coisa que queremos saber É o que eu não posso fazer? Basicamente, se pode fazer tudo com o Gripen”.
Alcance e precisão são diferenciais
O alcance da visão do Gripen, que chega atÉ 50 mil pÉs de altitude (15 mil metros), e a forma como ele pode mostrar aos pilotos dados – com sensores capazes de identificar pessoas e locais em terra ou outras aeronaves e mÍsseis distantes – com precisão, foram fatores que interferiram na escolha do sueco como o novo caÇa do Brasil. A aeronave atinge mais de duas vezes a velocidade do som (cerca de 2.400 km/h).
![arte gripen [Foto: Arte G1) arte gripen [Foto: Arte G1)](http://s2.glbimg.com/VptQsSMB9eqe8e0M5T-Ge14qtLE=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2014/07/29/gripenngv8.jpg)
“VocÊ jÁ voou Gripen? Voar uma aeronave desta, para quem ama aviaÇão e É piloto, É uma satisfaÇão enorme. Por isso ele estÁ transbordando de alegria”, afirma o brigadeiro sobre a vibraÇão do major que testou o Gripen na África do sul.
ConsciÊncia do ambiente externo
No Brasil, o major Leite pilotou os caÇas Mirage, que foram aposentados no fim do ano passado e eram analÓgicos e não conseguiam captar informaÇÕes desta forma.
Atualmente, a AeronÁutica opera o F-5, que comeÇou a ser adquirido na dÉcada de 70 e apresenta limitaÇÕes de velocidade e alcance. “No Mirage, eu não conseguia identificar quem era o outro avião”, diz.
A Base AÉrea de AnÁpolis, em GoiÁs, que abrigava os Mirage, passarÁ por reformas para abrigar novas bancadas de testes de motores e tambÉm um simulador de voo, segundo o brigadeiro Crepaldi. LÁ serão instalados dois esquadrÕes para receber os 36 novos caÇas, fabricados especialmente para o Brasil, a partir de 2018.
Seis pilotos brasileiros irão à SuÉcia, no primeiro trimestre de 2015, aprender a pilotar a aeronave, em um curso de sete meses de duraÇão.