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Reminiscências do piloto Kenji Yanagiya sobre os combates aéreos do dia 18 de abril de 1943.

 

Nós tivemos um esboço da nossa missão de escolta nas instruções dadas pelo Tenente JG Morisaki, 24 anos, veterano do porta-aviões Soryu na batalha de Midway, no aeródromo do Leste (aeroporto Lakunai), em Rabaul. Dois bombardeiros G4M1 decolariam do aeródromo Oeste, também em Rabaul. Eles estariam em missão de transporte do Almirante Isoroku Yamamoto, seu assessor pessoal vice-almirante Matome Ugaki, e diversos oficiais do estado maior.

Os seis membros da missão de escolta pertenciam ao Grupo Aéreo 204. A primeira shotai (Ala) era formada pelo Tenente JG Takeshi Morisaki, PO1c Toyomitsu Tsujinoue e F1c Shoichi Sugita. A segunda shotai era formada pelo líder CPO Yoshimi Hidaka, PO2c Yasushi Okazaki e F1c Kenji Yanagiya.

 

 

Às 6h os seis caças "Zero" decolaram do aeródromo Leste e estavam esperando no ponto de encontro já determinado sobre o porto Simpson. Os dois bombardeiros G4M1 decolaram do aeródromo Oeste e se reuniram conosco.  Os dois “Betty" subiram a 2.500 m de altitude, e nossos caças de escolta voavam a 3.000 m de altitude. O objetivo de voar nesta altitude superior visava dar cobertura para eles e para melhor interceptar algum caça aliado que aparecesse.

Os dois bombardeiros voavam em fila e nossos seis caças "Zero" voavam em duas formações VIC, ao estibordo. Ouvi dizer mais tarde que o relatório oficial da ação deste dia feito pela Marinha Imperial Japonesa, informava que nossos caças "Zero" escoltavam dos dois lados, estibordo e bombordo, e a ré dos dois bombardeiros, mas a verdade é que estávamos acompanhando-os na posição "four o'clock high". Era um dia de tempo bom, sem rajadas de vento e nem nuvens "Cumulus", bastante confortável para voar. Mantivemos nossa atenção olhando para o mar na direção sul. Podíamos ver navios de transporte com seus destróieres de escolta, singrando o mar azul várias vezes.

Depois de algum tempo, nós já conseguíamos ver a ilha de Bougainville, a nossa frente. Nós seguiamos os bombardeiros de uma determinada distância. Pouco tempo depois os dois bombardeiros sobrevoavam a Ilha Bougainville e nós os seguíamos. Mais a frente, visualizamos a base aérea de Buin, da Força Aérea da Marinha Japonesa, que estava localizada no extremo sudeste da ilha de Bougainville. Para mim a base parecia uma pequena caixa com fósforos no meio de um mar verde - a selva.  A base de Buin era conhecida como uma pista empoeirada e seu solo sempre seco. Mais tarde eu ouvi o resmungo de algum membro da equipe de apoio no solo que tinham pulverizado água sobre a pista na parte da manhã, pois estavam esperando a chegada do almirante Yamamoto. Pensei então que era por este motivo que a pista tinha uma cor escura.

Nossa formação estava voando no horário e a nossa previsão era para pousar na pista da ilha Ballale às 7h45.

 

 

Cerca de 10 minutos se passaram e já era o momento da aproximação final para aterrissar na pista. Então nós observamos vários aviões vindo da direção da ilha Shortland, ao sul da base Buin. Eram alas de caças P-38 voando em uma altitude de cerca de 1.500 m. Suas fuselagens e asas estavam camufladas com tinta verde, e posicionados em baixa altitude. Estes dois fatores contribuíram para a surpresa e era óbvio que já estávamos atrasados para interceptá-los. Observei os caças P-38 ejetarem seus tanques de combustível extra e já estavam subindo rapidamente para atacar os nossos bombardeiros.

O tenente JG Morisaki, balançou as asas do seu caça para sinalizar, e mergulhou para progeger o bombardeiro do Almirante Yamamoto. Nós todos aceleramos em direção ao primeiro grupo de caças P-38s que se aproximavam de nossos bombardeiros. Nós repelimos o primeiro grupo de P- 38, enquanto outro P-38 se aproximou à ré dos dois bombardeiros G4M1. Estes caças P-38 evitaram entrar em combate conosco e se concentraram em seu objetivo principal, que eram apenas os dois "Betty". Nós tinhamos somente seis caças para defender os nossos dois bombardeiros, e os inimigos eram muito mais numerosos. Ouvi dizer que havia dezesseis caças P-38 nos atacando naquele dia. Quando me recuperei e voltei, eu vi um dos nossos bombardeiros expelindo fumaça e caindo ao meu bombordo, e outro bombardeiro caindo em direção ao mar, no meu lado estibordo. Eu vi o primeiro bombardeiro se chocar no solo, desaparecendo no meio da selva - fogo e fumaça subiram do local. Eu também vi o outro bombardeiro caindo no oceano. Eu estava temeroso de que um incidente extremamente grave acontecera. Voei em direção da base Buin, dei uma rápida rajada de tiro para alertar sobre a emergência. Dois caças estavam decolando e se reuniram a nós, mas todos os caças inimigos estavam fugindo em alta velocidade.

Os pilotos de caça da base aérea em Buin não tinham sido informados sobre a visita do almirante Yamamoto, exceto os oficiais do alto escalão...

Senti um grande remorso, e imediatamente jurei vingança contra os pilotos americanos. Voei para sudeste sozinho. O caça "Zero" tinha capacidade de longo alcance... Eu sabia que estes caças americanos estavam baseados em Guadalcanal, e no retorno estes caças P-38 voariam em uma velocidade de cruzeiro a baixa altitude para economizar gasolina. Eu tinha a minha chance, e logo encontrei um P-38 voando no caminho de volta em baixa velocidade. a cerca de 3.500 m de altitude sobre a ilha de Kolombangara. Ele não me notou. Subi cerca de 1.000 m acima do caça americano e ataquei, acertando em cheio. Minhas balas atingiram o caça P-38, que desceu em direção do mar com o seu combustível vazando em uma expessa fumaça branca que parecia uma longa cauda. Eu considero que este P-38 foi abatido porque ele estava seriamente danificado e não poderia voltar para sua base. Manobrei meu "Zero", retornando em direção da base Buin, onde aterrissei. O caça do PO2c Yasushi Okazaki fora danificado no motor e precisou descer na pista da ilha Ballale, vizinha da base Buin. Ouvi dizer que o registro oficial dos EUA confirmou que dois caças "Zero" japoneses foram derrubados naquele dia, mas isto não é verdade. PO2c Okazaki reparou o motor de seu "Zero" e retornou para Rabaul no dia seguinte.

O piloto F1c Yanagiya desembarcou do "Zero" e alinhou com seus colegas. O clima da base aérea de Buin estava tenso. Os membros de base lhe perguntavam sobre o que tinha acontecido. Ele não poderia ajudar a responder estas perguntas. Logo apareceu um oficial que fez a seguinte observação: "Este incidente irá influenciar todas as operações da Marinha. Mantenha esta informação em segredo".

O tenente JG Takeshi Morisaki precisou prestar relatório ao comandante da base Buin, e demorou a sair do posto de comando... Yanagiya observou vários aviões decolarem para fazer buscas sobre a selva e o mar.

 

 

Pouco depois o tenente JG Morisaki estava de volta, com o rosto pálido. Ele disse bastante desapontado: "Vamos voltar para Rabaul".  Yanagiya e seus colegas iriam retornar com seus caças "Zero". Os cinco caças de escolta decolaram e se reagruparam sobre a base aérea Buin. Era meio-dia. Eles tomaram a direção noroeste e rumaram para Rabaul. O tempo estava bom e o céu azul. Eles chegaram em Rabaul às 13h50. O líder de seu esquadrão, o tenente Zenjiro Miyano, estava à espera deles, bastante chateado. O tenente Miyano tinha oferecido inicialmente para a missão de escolta não apenas seis caças, mas vinte caças "Zero" da sua unidade, mas sua oferta foi rejeitada pelo tenente-comandante Ryoji Nomura, chefe do pessoal da Divisão Sudeste da Frota Aérea de Rabaul, na véspera da missão. O tenente Miyano levou tenente JG Morisaki o posto de comando do Grupo Aéreo 204 localizado na pista leste. O comandante do Grupo Aéreo 204, capitão Ushie Sugimoto estava esperando por eles. Yanagiya ficou alinhado e esperando com seus colegas do lado de fora do posto de comando. O interrogatório levou muito tempo, enquanto os quatro pilotos foram mantidos do lado de fora sob o sol tropical. Eles foram chamados para dentro do posto de comando após a apresentação do tenente JG Morisaki ter acabado.

O capitão Sugimoto,  comandante do Grupo Aéreo 204, disse-lhes de maneira severa, "Este incidente  foi terrível. Poderá influênciar o futuro do Japão. Vocês não devem falar sobre isso".

Quando estes pilotos de caça de escolta retornaram da sala de reunião, seus amigos perguntaram o que tinha acontecido, e por que os caças de escolta voltaram sem os dois bombardeiros "Betty". Isto aconteceu porque todos os seus amigos viram eles alinhados tanto tempo fora do posto de comando, e em seguida, entraram para ouvir o que o comandante capitão Sugimoto tinha para lhes falar. Assim, foram questionados sobre o que havia acontecido com o bombardeiro do almirante Yamamoto e o bombardeiro do vice-almirante Ugakii, além do "Zero" do piloto Okazaki, que não retornara. Yanagiya respondeu: "Um acidente leve aconteceu e os dois bombardeiros efetuaram pousos de emergência. Eles não sofreram grandes danos".

Todos os membros da sua unidade ficaram em silêncio. Seus amigos então perceberam o que tinha acontecido. O restante daquele dia transcorreu bem. Estas aeronaves estavam em boas condições mecânicas e seus pilotos eram aviadores bem qualificados. Algo muito mais sério deve ter acontecido além de um simples acidente leve.

 

 

Yanagiya e seus jovens companheiros não foram acusados e nem criticados. Yanagiya foi promovido PO2c em 1º de maio de 1943, conforme agendado anteriormente. O comandante e os oficiais do Grupo Aéreo 204 sabiam que dificilmente eles poderiam ter defendido os dois bombardeiros contra o ataque de 16 caças maericanos, tendo apenas 6 caças "Zero"! Todavia, os seis pilotos se consideravam responsáveis pelo sério incidente que acontecera, e queriam derrubar o máximo número possível de aviões aliados.

Em 7 de junho de 1943, num ataque contra a base aérea aliada localizada nas ilhas Russell, Yanagiya foi ferido gravemente, tendo sua mão esquerda arrancada por tiros .50 de um caça F4F. Sangrando bastante e quase perdendo a consciência, conseguiu retornar e fazer um pouso forçado na pista japonesa da base de Munda, na ilha Nova Georgia. Após ser retirado do caça, foi levado rapidamente ao cirurgião que precisou amputar o que sobrara de sua mão. Yanagiya foi hospitalizado e precisou retornar ao Japão para se recuperar. Em outubro de 1944 Yanagiya estava bem melhor e pode voltar às atividades como instrutor, mas nunca mais pode entrar em combate. Ele sobreviveu a guerra com o crédito oficial pela derrubada de 8 aviões. Yanagiya casou-se com a enfermeira que cuidou dele no hospital.

 

Em abril de 1988, Yanagiya participou do encontro realizado no Museu Nimitz, em Fredericksburg, Texas. Este evento realizou o encontro de Yanagiya e os veteranos pilotos americanos sobreviventes da missão Yamamoto. Rex Barber cumprimentou Yanagiya.

Yanagiya e os outros pilotos que voram naquela fatídica manhã alegaram a derrubada de seis caças americanos, sendo que dois apenas provavelmente. Apenas um caça americano não retornou.  Tentando se redimir por haverem falhado na proteção do almirante Yamamoto, vários deles encontraram a morte em apenas 3 meses. CPO Hidaka e PO2c Okazaki morreram em combate em 7 de junho de 1943, próximo das ilhas Russell. Neste mesmo dia o PO1c Tsujinoue foi considerado desaparecido em missão (MIA). Yanagiya ferido em combate retornou ao Japão.  Os líderes tenente Miyano e tenente JG Morisaki também morreram em ação no mesmo dia, 16 de junho de 1943. O jovem Sugita continuou a combater ferozmente contra os americanos, e em agosto de 1943 seu avião foi abatido em chamas. Ele conseguiu saltar de para-quedas, mas ficou bastante ferido. precisou retonar ao Japão para se recuperar. Acabou morendo em ação no dia 15 de abril de 1945.  

 

Yanagiya considerava a falha de proteger o avião de Yamamoto com algo vergonhoso, e ficou em silêncio por décadas.Foi somente em meio da década 1970 que ele permitiu ser entrevistado por um escritor, e falou sobre este incidente.

Depois desta entrevista, outras foram concedidas. Yanagiya alega que apenas um P-38 atacou o avião de Yamamoto, por trás. Incendiado e soltando bastante fumaça, o avião se chocou com a floresta em cerca de 20 ou 30 segundos após ser atingido. Entre seu primeiro contato com os caças P-38 e queda do avião de Yamamoto, passaram-se pouco menos de dois minutos.

Yanagiya viveu sua aposentadoria em Tóquio, vindo a falecer em 29 de fevereiro de 2008, aos 88 anos de idade.

 

Tradução e compilação: Japonês (26/09/2010)

 

BIBLIOGRAFIA

site: http://en.wikipedia.org/wiki/Kenji_Yanagiya

site: http://en.wikipedia.org/wiki/D..._of_Isoroku_Yamamoto

site: http://syma.org/

livro: Imperial Japanese Navy Aces 1937-1945, Osprey Publishing, by Henry Sakayda

livro: Japanese Naval Aces and Fghter Units in WW2, NIP Annapolis, by Ikuhiko Hata, Yasuho Izawa, traduzido por Don C. Gorham.

Last edited by japonês
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Replies sorted oldest to newest

Muito obriado pela postagem...

 

Muito interessante se ter um ponto de vista "do outor lado" da coisa...

 

Muitos dizem que essa missão para eliminar Yamamoto foi "assassinato"...mas esquecem-se que na guerra vale tudo!...e que ela afetou muito o moral e tambem a capacidade estratégica japonesa dai para frente!...

 

Edilson 

Originally Posted by Wolf:

Excelente, mais um artigo ótimo e boa fonte de consultas.

Obrigado por postar.

Parabéns pela postagem.

Artigos assim servem para dar uma amplidão maior aos fatos.

Abs e obrigado.

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