Não conhecia essa histÓria que li no site do Estadão:
Era para ser uma histÓria de heroÍsmo. Os soldados gaúchos Adão Damasceno Paz, de 26 anos, e Luiz Bernardo de Morais, de 21, no entanto, voltaram presos da ItÁlia. Eles comeÇaram a virar vilÕes às 20h30 de 9 de janeiro de 1945, quando entraram na casa 231 de Madognana, vilarejo medieval da comuna de Granaglione, provÍncia de Bolonha, à procura de Giovanna Margelli, de 15 anos.
Na noite de inverno rigoroso, moradores se aqueciam perto da lareira - Giovana, a prima Tonina, de 23, o filho de Tonina, Ferdinando, de 3, os primos Stefano, de 20, e Giuseppe, de 14, e a avÓ doente, Maria Rita.
Os soldados vestiam farda e "passa montanha", gorro com abertura apenas nos olhos. No inquÉrito militar que investigou o que ocorreu naquela noite, disseram que tomaram vinho e foram "convidados" a entrar. Luiz Bernardo sentou perto da lamparina a querosene, Adão ficou de pÉ, prÓximo a Giovanna. "Vamos apagar a luz de uma vez para pegar a mulher no escuro", disse Adão. Luiz Alberto mandou Stefano apagar a lamparina; o rapaz não entendeu. O soldado, então, disparou a metralhadora na luz.
No depoimento, os soldados disseram que, à exceÇão de Giovanna, todos "fugiram". Giuseppe deu outra versão. Relatou que foi trancado no banheiro por Luiz Bernardo e depois empurrado a um quarto, onde foi obrigado a pular da janela. O soldado ainda teria disparado, sem acertÁ-lo. Todos relataram que Adão agarrou Giovanna. Ela pediu socorro a Stefano, que alegou nada ter feito por estar desarmado.
Enquanto Adão violentava a jovem, Luiz Bernardo fazia guarda do lado de fora. Leonardo Vivarelli, de 57 anos, tio da adolescente, se aproximou. O soldado atirou nele. O projÉtil atingiu ouvido e pescoÇo. Luiz Bernardo gritou para Adão "andar ligeiro", pois tinha matado um "homem".
Em depoimento, Luiz Bernardo disse que atirou no escuro e depois viu que havia matado Leonardo. Stefano sustentou outra versão. Afirmou que ouviu o soldado gritar: "Andare via (vÁ embora)!". "ApÓs uns segundos, ouvi a descarga de metralhadora. Depois, o silÊncio."
Os soldados inverteram os papÉis. Adão foi fazer sentinela. Luiz Bernardo seguiu para o quarto, onde passou meia hora com Giovanna. Depois, disse a Adão que a havia violentado. Mas admitiu em depoimento, versão confirmada pela jovem, que estava embriagado e não conseguiu praticar o ato. Mentiu por "amor-prÓprio", ressaltou o auditor do inquÉrito - uma junta mÉdica da FEB confirmou, sete dias depois, a violÊncia praticada por Adão. Aos mÉdicos, Giovanna disse que foi "tomada pelo terror".
Embora ressalte a embriaguez, forma de evidenciar o desrespeito às normas militares, o processo destaca que o crime ocorreu logo apÓs o jantar, não deixando claro quando e quanto tomaram de vinho.
Provas. Na saÍda de Madognana, Luiz Bernardo deixou cair um cachecol e uma lanterna. Stefano os achou e entregou no Quartel-General da 1.ª Divisão de Infantaria ExpedicionÁria, em Porreta Terme, cidade cercada por montanhas controladas pelo exÉrcito nazista.
Ouvido no inquÉrito, o cabo Renan Alves Pinheiro disse que, na tarde do dia do crime, os dois soldados perseguiram Giovanna pelo vilarejo. Perguntados se podiam justificar sua inocÊncia, Adão e Luiz Alberto ficaram em silÊncio. O advogado deles, 2.º tenente Bento Costa Lima Leite de Albuquerque, chegou a afirmar que não houve crime doloso pois Giovanna não teria reagido. O auditor do inquÉrito, tenente-coronel EugÊnio Carvalho do Nascimento, condenou os dois à morte por matar um homem para garantir violÊncia carnal. Uma dezena de estupros praticados por pracinhas ocorreu na ItÁlia. O caso de Adão e Luiz Bernardo sÓ foi julgado pelo assassinato de Leonardo.
HistÓricos dos dois registravam prisÕes por embriaguez e saÍdas sem autorizaÇão do quartel. Eles chegaram à ItÁlia em outubro de 1944, trÊs meses antes do crime. A guerra acabou em maio. A euforia que tomou o PaÍs na volta dos pracinhas criou clima favorÁvel ao perdão. Luiz Bernardo, gaúcho de São Borja, e Adão, de Santiago, cidade vizinha, foram indultados em 3 de dezembro de 1945 por decreto de Getúlio Vargas. Os dois morreram nos anos 1990. SolitÁrio, Adão vivia em dificuldades. Anos depois da guerra, foi acusado de furto. Na audiÊncia, o juiz perguntou se jÁ havia sido processado. "Fui condenado à morte." O juiz se assustou: "Que histÓria É essa? Brasil não tem pena de morte".
Fonte: <cite class="bc">www.estadao.com.br › Brasil</cite>