Graças à determinação e entusiasmo do então Capitão de Cavalaria Mendes Paulo, três velhinhos carros de combate M5 A1 "Stuart" da 2ª Guerra Mundial, foram os protagonistas de uma aventura sem igual em terras africanas, ficando para a história como os únicos Tanques usados na guerra do Ultramar e os únicos a terem combatido em toda a história do Exército Português. Resgatados a muito custo do Depósito de Material em Beirolas onde enferrujavam, estes veteranos de muitas batalhas tiveram nova oportunidade de emprego. Embarcaram 3 ( o Gina, o Milocas e o Licas) para Angola em 1967, e até 1972 distinguiram-se em muitas missões de escolta e reconhecimento, sendo apelidados pelos guerrilheiros da FNLA "Elefante Dundum".Noventa M5 A1 vieram para Portugal em 1956 ao abrigo da NATO. Quando chegaram ao nosso pais, estes carros eram já obsoletos. O Exército Português estava já nessa altura equipado com os mais modernos M-24 "Chaffee" e M-47 "Patton".Produzidos em 1943, em Detroit,os M5 A1, seguiram para Inglaterra onde foram baptizados "Stuart" e preparados para a iminente invasão de França, desembarcaram na Normandia, entraram em Paris com a 2ª Divisão Blindada do General Jacques Leclerc, rolaram pela Bélgica e terminaram a guerra na Alemanha, onde receberam a rendição de Neustadt a 16 de Abril de 1945. Foram depois vendidos ao Canadá, tendo servido no Exército Canadiano como blindados de instrução até 1956, ano em que após terem sido completamente revistos, recondicionados e motorizados de novo, receberam "guia de marcha" para Portugal. Em 1967, dos noventa M5 A1 Portugueses, o Regimento de Cavalaria 6 (RC6) possuía 2, a Academia Militar (AM) tinha 3, a Guarna Nacional Republicana (GNR) tinha 20 e finalmente o Depósito Geral de Material de Guerra (DGMG) em Beirolas albergava os restantes 65, dos quais apenas 13 estavam operacionais, ou seja prontos para serviço imediato. Destes 13, apenas 10 tinham lagartas de ferro, as ideais para o tipo de terreno que iriam encontrar em África embora menos confortáveis do que as de borracha, mas mais resistentes ao desgaste. O Capitão Mendes Paulo, acompanhado de um condutor e de um mecânico, estiveram em Beirolas durante uma semana tendo sido seleccionados seis M5 (os carros já não estavam no parque mas sim no "cemitério", última etapa antes de serem desmantelados pelo maçarico do ferro velho). Os carros eram sujeitos a um primeiro exame , e se aprovados,eram tirados do cemitério para testes de andamento mais completos. Escolhidos os três definitivos, foram levados para às Oficinas Gerais de Material de Engenharia (OGME) em Belém, onde se procedeu a uma revisão completa. Na Direcção do Serviço de Transmissões (DST) foram equipados com rádios iguais aos dos M-24 e M-27. No Paiol de Sacavém estavam as munições-1.500 perfurantes de 37mm e 61.500 de 7.62mm para as metralhadoras Browning, que embarcaram com os carros no navio "Beira" a 26 de Setembro de 1967 (mais tarde foram recebidas as munições explosivas porque estas na altura estavam adstritas à GNR).
O carro ME-08-98 Milocas ficou no Grafanil, o ME-08-77 Gina em Luanda e o ME-07-70 Licas em Zala.
São hoje esqueletos de ferro ferrugento,relíquias de uma guerra muito particular. Actualmente em Portugal existem 13 M5 A1 distribuídos da seguinte forma:
-2 na Escola Prática de Cavalaria
-2 no Quartel de Cavalaria (ex-RC4)
-1 no Museu Militar do Porto
-1 no Regimento de Lanceiros nº2
-4 no Regimento de Cavalaria 6
-1 na Escola Prática de Serviço de Material
-1 (transitou do Regimento de Cavalaria 3) no Museu da Liga dos Combatentes no Forte do Bom Sucesso em Belém.
In "Cadernos Militares do Lanceiro n.º 3". Autor do artigo:Alexandre Gonçalves
Nambuangongo Meu Amor
Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo
Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.
Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu. Tu
não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.
Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.
É justo que me fales de Hiroxima.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima
do nosso tempo. Ai tempo onde a palavra vida rima
com a palavra morte em Nambuangongo.