Pintura de automodelos com tintas automotivas
Este roteiro não é um curso completo de pintura de modelos. O objetivo é passar aos montadores de automóveis os procedimentos para aerografar com tintas automotivas. O resultado do trabalho com essas tintas refletirá a adaptação do modelista a uma tinta com nível de viscosidade e velocidade de secagens diferentes do material específico para modelismo. Com o tempo, ele descobrirá a pressão e largura do leque de spray ideal para cada situação.
As tintas automotivas, duco e acrílica, mencionadas neste texto, são baseadas em resina nitrocelulose.
Porque usar tinta Automotiva?
Essas tintas apresentam muitas vantagens em relação às feitas exclusivamente para modelismo. Uma das mais importantes é permitir que todos os detalhes da carroceria continuem bem visíveis, mesmo depois de várias demãos. Além de excelente cobertura, elas secam quase que instantaneamente e podem ser polidas depois de 24 horas. Essa secagem rápida também reduz quase a zero a chance de partículas de poeira aderirem à superfície. As cores são quase ilimitadas. Os fabricantes de automóveis as renovam anualmente.
PROCEDIMENTOS
a) Diluição da tinta:
Como aplicar tinta Automotiva sobre o plástico estireno, se ela é diluída com thinner, que é feito basicamente de tolueno? O tolueno também entra na composição da cola usada em modelismo porque funde o plástico. Nessa aplicação deve-se tomar cuidados especiais. Existem kits (AMT, Revell, Tamiya e Monogram) que são quase insensíveis a esses solventes. Outros, como os da Gunze Sangyo, reagem terrivelmente. Em nossas pesquisas chegamos a um thinner que praticamente não ataca o plástico. A tinta da Automotiva já vem na diluição correta para que a aplicação resulte numa superfície lisa, seja ela duco ou acrílica. Não seja econômico nas demãos, pois na hora do polimento, se você aplicou pouca tinta, irá ter a ingrata surpresa de ver, nas quinas do modelo, a cor de fundo ou o plástico. Não se preocupe com a possibilidade de ficar com uma película muito grossa de tinta sobre o modelo. A tinta Automotiva é bastante diluída, seriam necessárias dezenas de camadas para que os detalhes desaparecessem. Prepare bem a carroceria, pois um pequeno arranhão não será escondido pela tinta.
b) Tinta de base:
Nossas pesquisas e experiências demonstraram que a duco proporciona uma péssima aderência se aplicada diretamente sobre o plástico estireno. O que fazer para pintar um modelo com tinta duco? Aplica-se sobre a carroceria (depois da correção de possíveis defeitos ou modificações) algumas demãos de tinta acrílica. Essa tinta adere perfeitamente ao plástico. Pode-se ter certeza de que a tinta está perfeitamente seca quando não se sente mais o cheiro no modelo. É sinal de que o solvente evaporou completamente. Pequenos defeitos ou partículas de poeira aderidas à superfície podem ser eliminadas passando, de leve, uma lixa 600 usada e molhada. Depois da correção, secar e continuar o trabalho. A aplicação da base não se relaciona apenas à questão da aderência. Se a carroceria for vermelha e a tinta também, fica difícil definir se já foi aplicado um número suficiente de camadas. Utiliza-se então a tinta acrílica prateada como base para qualquer cor. Ela cobre o plástico com menos camadas porque tem micro partículas de alumínio que, inclusive, ajudam a criar uma barreira isolante entre o plástico e a tinta definitiva. Sobre essa base, pode-se aplicar, sem susto, a tinta desejada, seja ela acrílica ou duco. A aplicação de tinta automotiva sobre tinta acrílica da Tamiya pode ser feita. Esta última, aplicada em camada fina, pode servir de base protetora para o plástico.
c) Aplicação:
Este item deve ser lido com a devida calma, e como tudo no modelismo, testado até o domínio da técnica. Não se assuste se no começo não sair como você queria. A tinta pode ser retirada do modelo sem causar danos, como veremos adiante. A aplicação de tintas automotivas deverá ser feita apenas com aerógrafo. Não utilize pincel porque a tinta seca tão rápido que o pincel endurecerá em curto espaço de tempo. Para utilizar aerógrafo, o compressor deve ter regulador de pressão para a saída de ar e filtro de água e óleo.
Antes de qualquer coisa, a carroceria deve ser lavada com água e detergente (o mesmo que é usado para lavar pratos) para eliminar vestígios do desmoldante utilizado no processo de injeção. Não utilizar panos na secagem da carroceria para evitar a deposição de fiapos na superfície. Deixe secar naturalmente. A pressão do ar no aerógrafo deve promover a total pulverização da tinta. Ela deve sair como uma nuvem, e não como um chuveiro. Algo em torno de 20 - 25 psi dará bons resultados.
A aplicação da primeira tinta, ou base, deve ser feita com cuidado, porque, como já foi explicado, alguns plásticos são mais sensíveis ao solvente. Nesse caso, a aplicação deve ser bem "poeirada", ou seja, muito ar e pouca tinta, que deve chegar quase seca ao modelo. Isso minimiza o efeito do thinner. Essa técnica deve ser usada em todos os modelos, mas no caso de kits da Gunze Sangyo é especialmente recomendada. O spray mais seco é obtido com pressão entre 25 e 30 psi, com o bico regulado para permitir a saída de pouca tinta. Comece a jatear o modelo sem pressa. Não pare o jato de tinta num único ponto. Isso possibilita a "fervura" do plástico. Uma cobertura uniforme significa que a carroceria está protegida. A base está pronta para receber a cor final. Nesse ponto, os defeitos que tenham passado despercebidos podem ser corrigidos com a mesma massa (putty, epoxi etc.) que foi usada antes da aplicação da base. Caso seja necessário, duas ou três camadas de primer automotivo universal cinza podem ser aplicadas. O primer é eficiente para encher e ocultar pequenos arranhões ou defeitos. Depois das demãos de tinta prateada ou da final de primer, é bom dar uma passada cuidadosa com lixa 600 um pouco usada ou 1200 nova. Para as camadas da cor definitiva, a pressão do aerógrafo deve ser diminuída para 20 - 25 psi. Assim as camadas serão mais molhadas, com mais tinta e menos ar. Comece pelas quinas e frestas da peça ou carroceria, para depositar uma boa camada de tinta nos pontos críticos. A idéia é evitar que o polimento atinja a tinta base ou o plástico. Para as camadas finais, diminua a pressão para 14 - 18 psi e molhe bem, mas sem deixar escorrer. Isso proporcionará uma superfície lisa e fácil de polir. Se a pintura estiver com a superfície semelhante à casca de laranja, pare. Algo está errado. Alisar tal superfície com polimento é quase impossível. A retirada da tinta, se necessária, será vista mais adiante.
d) Cor definitiva:
As tintas duco são sempre lisas, ou não metálicas. As acrílicas podem ser metálicas, perolizadas ou lisas. As acrílicas metálicas possuem partículas de alumínio que dão aquele efeito interessante na cor, reforçando brilho e reflexos. As acrílicas perolizadas possuem micro partículas de mica, mineral responsável pela iridescência. Essas tintas dão efeito diferente das metálicas, mas não menos interessante. Durante a pintura, o depósito deve ser agitado com mais freqüência, porque as micro partículas se depositam muito rápido no fundo. As lisas, duco ou acrílica, não possuem partículas de alumínio ou mica. Somente os pigmentos que compõem a cor. Os dois tipos de tinta - duco ou acrílica lisa - podem receber uma cobertura de verniz transparente (clear) para se obter um brilho mais líquido e vitrificado. Fica a critério do modelista. Já as tintas acrílicas metálicas e perolizadas requerem as camadas finais de verniz. Por isso são chamadas de "dupla camada". Não pinte com cores metálicas ou perolizadas sem aplicar o verniz. Mais esclarecimentos no parágrafo Verniz.
e) Correção de defeitos:
Caso o modelo, depois de concluída a pintura, apresente algum pequeno defeito, corrija-o com uma lixa 600 usada, ou melhor ainda, com uma 1200 (difícil de encontrar). O local lixado ficará fosco, mas o polimento restaurará o brilho e removerá os sinais de lixamento. Se o resultado for insatisfatório e a tinta tiver que ser removida, basta colocá-lo dentro de um recipiente com tampa (como um Tupperware) cheio de álcool de farmácia por uns dois dias e escová-lo com uma escova de dentes. A tinta será removida sem danificar o plástico. Outra opção bem mais rápida, porém mais cara, é o fluido de freio automotivo. Age em aproximadamente oito horas.
f) Polimento:
As tintas automotivas, por mais bem aplicadas que sejam, necessitam polimento. Esse passo é importante, representa a etapa final de seu trabalho. Destacaremos dois métodos de polimento:
1) Uso de materiais encontrados em lojas de tintas automotivas. 24 horas depois da última demão ter sido aplicada, a pasta para polir Coral branca nº 2 deve ser passada com um algodão. A função da pasta é alisar a superfície. Ela deve ficar lisa, nesse estágio o brilho é secundário. Feito isso, o modelo deve ser lavado com água e sabão e uma escova de dentes macia deve ser passada suavemente, nas frestas e reentrâncias, para eliminar os resíduos da pasta. Agora, polidores finos como Kaol ou cera Grand Prix podem ser usados. Eles eliminam o embaçamento deixado pela pasta. O modelo deve ser lavado novamente com água e sabão e os resíduos da cera e do Kaol devem ser eliminados. Por fim, o polidor líquido Auto Brilho, da 3M, deve ser aplicado. Ele dará o brilho final à pintura. Trata-se de um produto importado, embalado aqui e vendido nas lojas de tintas automotivas. Esse produto deve ser usado no último estágio da pintura, pois seu poder de abrasão é mínimo. Pode-se ainda aplicar, sobre o polidor 3M, um pouco de cera Tamiya Modeling Wax. Ela evita que marcas de impressões digitais marquem o acabamento.
2) Uso das lixas para polimento. Aqui a técnica é outra, mas com resultados também excelentes. Usam-se os kits importados para polimento de modelos das marcas Milenium 2000 ou Micromesh, que consistem de panos abrasivos nas seguintes graduações: 1800, 2400, 3600, 4000, 6000, 8000 e 12000. O processo consiste em usar, cuidadosamente, o pano mais abrasivo para alisar a superfície, e a partir daí, utilizar os subseqüentes, que removem os riscos do anterior até finalizar com o 12000. Após esse último, aplica-se os polidores que vêm no kit ou polidores finos (Kaol ou Grand Prix) e o polidor líquido da 3M para finalizar.
g) Verniz:
A camada de verniz deve ser generosa. Uma camada fina pode ser consumida em alguns pontos e quando a cor é atingida surge uma mancha no local. O uso do verniz dá impressão de profundidade à cor sobre a qual é aplicado. Sua aplicação sobre uma cor lisa é facultativa. Em carros antigos, onde se procura reproduzir o acabamento original, o verniz é dispensável.
h) Verniz sobre decal:
Aqui um teste é necessário, porque decais diferentes têm reações diferentes. Teste sempre num decal que você não irá usar. Usualmente, a folha traz o número do kit e o nome do mesmo. Isso pode ser usado como "cobaia". Se o teste for bem sucedido, o verniz pode ser usado. O procedimento para o teste e para a cobertura definitiva dos decais é o que se segue: aplica-se os decais sobre a última demão de tinta. Deixe a carroceria guardada, com os decais aplicados, durante uma semana. Assim qualquer resquício de umidade desaparecerá. Isso é especialmente necessário em lugares muito úmidos ou quando soluções para acamar decais são usadas. Depois desse período, aplique o verniz em uma camada fina e bastante poeirada e deixe secar por 24 horas. Aplique mais duas demãos bem finas e poeiradas em intervalos de 24 horas. Agora chegou o momento de aplicar duas demãos mais molhadas com intervalos de 12 horas entre cada uma. Para finalizar, aplique duas demãos finais, mais molhadas ainda. Com isso, os decais estarão selados e daí para frente o verniz pode ser aplicado normalmente.
Precauções: As tintas e solventes automotivos são bem mais tóxicos do que o material fabricado especificamente para modelismo. Pinte sempre em local arejado e use sempre máscara protetora com filtros de carvão ativado. Não deixe tintas destampadas e guarde-as longe do alcance de crianças e animais domésticos.