Skip to main content

 

          O ataque surpresa realizado pelos japoneses contra Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941 foi um duplo choque para os Estados Unidos da AmÉrica. A populaÇão sentiu-se ultrajada pelo ataque sem uma declaraÇão de guerra. A Marinha americana tambÉm ficou atÔnita com a naÇão japonesa, que era considerada hÁ muito tempo como sendo incapaz de produzir algo alÉm de cÓpias de qualidade inferior dos armamentos ocidentais. Como os japoneses puderam realizar algo desta magnitude?

 

 

Um Nakajima B5N2, pilotado pelo tenente comandante Shigeharu Murata do porta-aviÕes Akagi, lanÇa um torpedo contra o USS West Virginia durante o ataque a Pearl Harbor. Esta aviation art do artista Stan Stokes tem o tÍtulo “Battleship Row”.

 

          A imagem que marcou este ataque a Pearl Harbor É provavelmente a explosão do USS Arizona, que sofreu as piores perdas de vidas durante o ataque. Sua destruiÇão, que foi bastante divulgada, aconteceu por causa de um único bombardeio de grande altitude, e deu crÉdito excessivo para a bomba perfuradora de blindagem que pesava 800kg. Esta bomba utilizada no ataque era uma peÇa de artilharia naval modificada. A impressão que ficou foi que este tipo de bomba foi eficiente. Na verdade, sua eficiÊncia inexistiu. Outras bombas deste tipo lanÇadas contra os encouraÇados USS CalifÓrnia e o USS Nevada erraram seus alvos. Repetidos lanÇamentos contra o USS West Virginia e o USS Tennessee causaram poucos danos. Estas bombas foram igualmente ineficientes contra o USS Maryland. As unidades japonesas de bombardeio de grande altitude deixaram de atacar o USS Pennsylvania que estava em reparos em um dique seco, este sim era um alvo perfeito para este tipo de bomba.

 

          Na verdade, a grande destruiÇão de encouraÇados americanos atracados em Pearl Harbor foi causada pelos torpedos tipo 91, modelo 2.

 

          ApÓs a guerra, um oficial de alta patente da Marinha japonesa que esteve envolvido no ataque a Pearl Harbor, comandante Tadakazu Yoshioka, descreveu sua participaÇão no desenvolvimento deste torpedo e das tÉcnicas especiais para seu lanÇamento. Yoshioka, que serviu no Primeiro Arsenal TÉcnico da Marinha japonesa prÓximo da cidade de Yokosuka, disse que as Águas rasas de Pearl Harbor foram o maior desafio para os tÉcnicos japoneses.

 

          Yoshioka explicou: “De marÇo 1938 atÉ abril 1939, eu conduzi experiÊncias para saber de qual altitude estes torpedos poderiam ser lanÇados dos aviÕes e serem eficientes. Em setembro de 1941, uma vez que o ataque a Pearl Harbor estava em planejamento, realizamos novos testes. NÓs não conseguÍamos fazer os torpedos funcionarem corretamente quando lanÇados abaixo de 20 metros de altitude. Então me lembrei dos dispositivos que utilizamos nos testes anteriores. Quando nÓs adaptamos estes dispositivos e realizamos novos ensaios, fomos capazes de alcanÇar 100% de eficiÊncia com estes torpedos.

 

O torpedo tipo 91 - modelo 2 que foi lanÇado pelos aviÕes japoneses possuÍa 522mm de diâmetro. Era uma modificaÇão do torpedo tipo 91, modelo 1, e esta modificaÇão foi realizada pelo Arsenal Mitsubishi localizado na cidade de Nagasaki. Este torpedo base era fabricado pelo Arsenal Naval em Kure. O torpedo modificado foi chamado de modelo 2, e era do tipo de corrida reta, com detonador mecânico de impacto, e propulsado por vapor. O sistema de propulsão utilizava um cilindro contendo Água fria que era misturada com um Óleo fino que ocasionava a pressão propulsora. A Água do mar era utilizada para resfriar o motor do torpedo. Descrito como tendo um peso de 800kg, na verdade seu peso real era de 834,6kg. Sua ogiva recebia uma pintura na cor preta, tinha o comprimento de 116,84cm, e acomodava 205 quilos de explosivos (60% de TNT, 24% de HND e 16% de alumÍnio ou pÓlvora de zinco). A adiÇão de mais 4 lemes deu a estabilidade necessÁria na Água, mas tambÉm causaria uma demora maior ao mergulhar e no movimento de ascensão do torpedo.

 

          único nos torpedos japoneses era o instrumento do sistema de seguranÇa tipo 90, cuja montagem do acionador da hÉlice de impulsão precisava ser realizada no hangar interno. O freio aerodinâmico era forÇado para trÁs por meio de pressão de ar no momento do lanÇamento e permitia que esta alta pressão de ar fluÍsse para o giroscÓpio, desbloqueando-o e girando-o com velocidade. Depois este curto jato de ar era bloqueado. No momento da entrada na Água, o sistema destravava a hÉlice de impulsão que rotacionava pela distância de 200 metros para armar o torpedo.

 

          O torpedo modelo 2 iniciou o uso de aletas separadas anti-rolamento e controladas por giroscÓpios que contribuÍam para manter a direÇão contra o alvo e ajudavam a evitar que o torpedo atingisse ou ficasse preso no leito marinho quando utilizado contra alvos em Águas rasas. O sucesso desta modificaÇão se tornou padrão para todos os torpedos japoneses lanÇados por aviÕes desenvolvidos posteriormente. Adicionalmente, as equipes de manutenÇão dos aviÕes anexavam estabilizadores horizontais e verticais feitos de madeira, e pintados na cor prata, aos estabilizadores de aÇo do torpedo, alÉm de extensÕes de madeira nas aletas laterais anti-rolamento. Estas modificaÇÕes garantiram um melhor controle durante o lanÇamento aÉreo e acabavam soltando quando o torpedo atingia a Água. Os estabilizadores horizontais de metal controladores do giro eram regulados na posiÇão “para cima” ainda no hangar para auxiliar a manter a estabilidade de trajetÓria do torpedo ao entrar na Água.

 

Shigeo Motoki, especialista em torpedos do porta-aviÕes Soryu, observou que o sistema de regulagem da profundidade possuÍa 10 graduaÇÕes com 2 metros de intervalo, e podia ser regulado a bordo dos porta-aviÕes. Os porta-aviÕes Kaga e Soryu utilizavam a opÇão de regulagem para 4 metros, enquanto o Akagi e o Hiryu regulavam para 6 metros. A profundidade era regulada por um pendulo e um sistema hidrostÁtico. O movimento inicial de ascenÇão/descida (sobe e desce) do pendulo do torpedo era regulado para pouco mais de meio metro de oscilaÇão durante sua corrida de 600 a800 metros. Motoki observou ainda que um torpedo ajustado para a regulagem de 4 metros poderia mergulhar atÉ a profundidade de 6 metros se fosse lanÇado muito prÓximo do alvo antes do ajuste do padrão de oscilaÇão de ascenÇão/descida.

 

 

Esta foto registra os 92 pilotos e tripulantes do porta-aviÕes Kaga um dia antes do ataque de 7 de dezembro 1941. No final do dia seguinte, 15 deles estariam mortos (ColeÇão de Takeshi Maeda).

 

          Os treinamentos das unidades torpedeiras comeÇaram nas bases aÉreas de Kanoya e Omura, em 31 deoutubro 1941. Inicialmente os raigekiki (aviÕes torpedeiros) voavam com seus flapes e trens-de-pouso abaixados para diminuir a velocidade, mas o perigo de estolar levou ao abandono deste mÉtodo. Seria muito perigoso sua utilizaÇão em combate. AltÍmetros não funcionavam nas baixas altitudes em que os torpedos eram lanÇados, portanto, o piloto precisaria estimar sua altitude comparando a ponta da asa com a superfÍcie da Água. Um lanÇamento muito alto e o torpedo mergulharia demaise acabaria atolando no fundo da baÍa; um lanÇamento muito baixo e o torpedo poderia saltar no impacto com a Água e ser danificado. Mesmo uma pequena inclinaÇão no lanÇamento poderia fazer com que o torpedo fosse em direÇão errada. Este tipo de armamento possuÍa maior eficiÊncia se atingisse um casco apÓs seguir numa linha de impacto de aproximadamente 90º do eixo longitudinal de um navio. A penetraÇão diminuÍa quando o ângulo mudava. PorÉm, os pilotos dos torpedeiros Nakajima tipo 97 - B5N2 eram os mais bem treinados de toda a forÇa de ataque.

 

          ApÓs os porta-aviÕes lanÇarem seus aviÕes na madrugada de 7 de dezembro, o lÍder de toda a formaÇão, o comandante Mitsuo Fuchida, observou a costa norte da ilha de Oahu às 7h40, e lanÇou um sinalizador “Dragão Negro” para avisar  que a sequÊncia de ataque seria “surpresa”. Quando o lÍder dos caÇas Mitsubishi tipo 0 - A6M2, tenente comandante Shigeru Itaya, não respondeu entrando em formaÇão, Fuchida lanÇou um segundo “Dragão Negro”, na direÇão dele.

 

 

Esta foto em close mostra uma shotai de B5N2 se dirigindo para o ataque na ilha de Oahu. O avião a direita mostra o estabilizador de madeira adicionado ao torpedo.

 

O tenente comandante Kakuichi Takahashi, lÍder das formaÇÕes de bombardeiros de mergulho Aichi tipo 99 - D3A1, viu o segundo sinalizador riscar o cÉu. Dois sinalizadores significavam “surpresa perdida” e sua unidade deveria liderar o ataque contra as bases aÉreas antes do ataque aos navios. Fuchida sabia que a fumaÇa que subiria por causa dos ataquescontraas bases aÉreas poderia obscurecer os alvos para seus bombardeiros de grande altitude e os torpedeiros. O lanÇamento de dois sinalizadores foi um erro.

 

          Fuchida liderou sua unidade por uma rota não planejada na direÇão oeste, ao longo da costa norte devido as nuvens sobre a cadeia de montanhas Ko’olau. Isto permitiu que suas forÇas mudassem para a formaÇão de ataque “surpresa”, mas o ataque dos torpedeiros não pÔde ser alterado. No plano de ataque “surpresa”, os aviÕes torpedeiros atacariam Pearl Harbor de quatro direÇÕes diferentes ao mesmo tempo, enquanto o restante das forÇas de ataque circulariam. Liderando seus bombardeiros de grande altitude pela costa oeste de Oahu, Fuchida acabou alterando a tÁtica de tal maneira que os dezesseis B5N2 dos porta-aviÕes Soryu e Hiryu acabaram atacando primeiro o atracadouro dos porta-aviÕes (Carrier Row) na parte norte da ilha Ford antes dos torpedeiros do Akagi e do Kaga pudessem lanÇar seus ataques contra o atracadouro dos encouraÇados (o famoso Battleship Row), no lado sul da ilha Ford.

 

 

O tenente Hirata Matsumura, que liderou as alas dos porta-aviÕes Hiryu e Soryu, não queria desperdiÇar seu torpedo em nada menos que um porta-aviÕes ou um encouraÇado. O tenente JúNIOR Jinichi Goto do porta-aviÕes Akagi lanÇou o segundo torpedo contra o atracadouro dos encouraÇados (Batlleship Row).

 

          As 7h49 Fuchida telegrafou o sinal “TO”, significando “atacar”, passando assim o controle das aÇÕes para os comandantes das unidades. O tenente comandante Shigeharu Murata, hikotaicho (o lÍder de cada uma das unidades de torpedeiros, bombardeiros de mergulho ou caÇas) do Akagi, era o lÍder dos torpedeiros. O avião de Murata (cÓdigo de cauda AI-311) era facilmente identificado pelas trÊs faixas horizontais na cor amarela pintadas no leme de seu bombardeiro. Ele balanÇou as asas sinalizando para o segundo comandante, o tenente Hirata Matsumura, buntaicho (o lÍder de uma formaÇão de vÔo composta por 9 aviÕes) do porta-aviÕes Hiryu, para liderar o ataque dos oito bombardeiros torpedeiros do Hiryu e dos oito bombardeiros torpedeiros do Soryu contra seus alvos. Os doze bombardeiros torpedeiros do Akagi e os doze bombardeiros torpedeiros do Kaga entraram em nova formaÇão, fazendo uma linha única do lado direito da formaÇão dos porta-aviÕes Hiryu e Soryu. Os pilotos deveriam manter uma distância de 500 metros entre o avião que ia a frente, mas a maioria dos pilotos estava voando a uma distância muito maior. O buntaicho Matsumura, no comando das unidades do Hiryu e do Soryu, estava voando diretamente acima da cadeia de montanhas Wai’anae. Seu operador de rÁdio, suboficial de primeira classe (PO1c) Sadamu Murai, tentou observar o lado norte da ilha Ford com seu binÓculo. Murai estava olhando quase na direÇão do Sol e não conseguiu determinar os tipos de navios ancorados.

 

          O tipo de formaÇão escolhida impediu que os outros lÍderes de vÔo mantivessem contato com Matsumura, que tambÉm viu o buntaicho tenente Tsuyoshi Nagai, do Soryu, de repente aumentar a velocidade do seu avião, e passar sobre o lado esquerdo do seu avião. Nagai sinalizava com as mãos para que o ataque fosse acelerado. Matsumura concordou com o pedido e balanÇou suas asas. Avidamente, o avião de Nagai inclinou-se a esquerda, e assim liderou sua formaÇão composta de oito aviÕes para baixo em direÇão ao lado leste da cadeia de montanhas, a uma altitude de 45 metros. Ele passou tão prÓximo da base aÉrea de Wheeler que um artilheiro traseiro abriu fogo contra os caÇas P-40 estacionados.

 

          A baixa altitude, olhando na direÇão do Sol, Nagai foi capaz de reconhecer que o encouraÇado estava desarmado, pois fora convertido para ser um navio-alvo. Era o USS Utah. AlÉm do mais, ele constatou que não existiam alvos de valor no lado norte da ilha Ford. Depois ele observou outro “encouraÇado” prÓximo da doca 1010, mais a sudeste. Como Nagai inclinou levemente para a direita em direÇão a este novo alvo, o suboficial de primeira classe (PO1c) Juzo Mori, piloto do avião que estava logo atrÁs de Nagai, observou que o shotaicho (o lÍder de uma formaÇão de vÔo composta por 3 aviÕes) tenente JúNIOR Tatsumi Nakajima liderava os últimos quatro aviÕes da formaÇão para a esquerda para atacarem, o USS Utah. “Que idiota”, Mori pensou consigo mesmo. “Eles não conseguem ver que aqueles navios não passam de cruzadores? É um crime desperdiÇar torpedos neles quando os encouraÇados estão exatamente ali à vista, um pouco mais a frente”. Depois Mori viu dois outros aviÕes de sua formaÇão seguirem Nakajima.

 

          A formaÇão de Nakajima estava num ângulo extremo do USS Utah, e seu torpedo em particular passou adiante do USS Utah e atingiu o cruzador leve USS Raleigh. Quase ao mesmo tempo, seu ala, o aviador de primeira classe (F1c) Karoku Fujiwara, voando a sua direita e atrÁs, lanÇou seu torpedo que atingiu o USS Utah. A esquerda de Nakajima, e mais atrÁs, o suboficial de primeira classe (PO1c) Yasuo Sato e seu ala, o suboficial de terceira classe (PO3c) Koji Kawashima, lanÇaram seus torpedos. Um atingiu a linha costeira prÓxima do cruzador leve USS Detroit. O outro torpedo se perdeu no fundo da baÍa. Ficando para trÁs, o suboficial de primeira classe (PO1c) Masazumi Tadashi e o suboficial de segunda classe (PO2c) Tadashi Kimura lanÇaram seus torpedos. O primeiro atingiu a linha costeira atrÁs do USS Raleigh, mas o segundo atingiu a parte dianteira do USS Utah.

 

          Matsumura diminuiu a sua altitude e passou prÓximo do engenho de aÇúcar Ewa. A fumaÇa que subia do incÊndio em um hangar que foi atacado na ilha Ford bloqueou sua visão do porto. Então, ele e seu ala viraram para a direita e sobrevoaram o canal de entrada para o porto para se aproximarem do atracadouro dos encouraÇados, da mesma forma que faziam as unidades do Akagi. Os dois prÓximos B5N2 pilotados pelo suboficial de terceira classe (PO3c) Takuro Yanagimoto (cÓdigo de cauda BII-306) e aviador de primeira classe (F1c) Sunao Urata (cÓdigo de cauda BII-322), perderam a manobra e acabaram fixando a atenÇão na aproximaÇão de Nagai contra o “encouraÇado” atracado na doca 1010.

 

          No mesmo momento em que o lÍder do Akagi, tenente comandante Murata, lanÇou o primeiro torpedo contra o atracadouro dos encouraÇados, do lado sul da ilha Ford, o tenente Nagai, do Soryu, fez sua passagem de ataque. Mori presenciou este ataque: “Sua aproximaÇão foi perfeita, levantou apenas um pequeno esguicho e um rastro branco na Água indicavam que seu torpedo se dirigia para o alvo...  Eu vou atingir este monstro pela segunda vez, e, decidido, seguiu atrÁs de Nagai”. O torpedo de Nagai ainda estava subindo em direÇão ao alvo, que na verdade era o cruzador leve USS Helena e o navio-mineiro USS Oglala. O torpedo passou por baixo do USS Oglala e atingiu o USS Helena.

 

          “NÓs estÁvamos prÓximos, a menos de 600 metros quando de repente vi que não era um encouraÇado, mas um cruzador. Nagai agiu tão mal quanto Nakajima, desperdiÇando um torpedo em um alvo tão pequeno”. Mori decidiu manobrar para a esquerda em direÇão ao braÇo de mar sudeste para atacar um novo alvo que ele encontrou ao sul do atracadouro dos encouraÇados  - o USS California que ainda não havia sido atacado.

 

          O avião (cÓdigo de cauda BII-327) do buntaicho tenente júnior Hiroharu Kadono, do porta-aviÕes Hiryu, possuÍa duas faixas horizontais na cor azul pintadas no leme, iguais as do avião de Matsumura.  Ele não viu a manobra de Matsumura, e acabou sendo seguido por Yanagimoto e Urata, na direÇão contrÁria sobre a vila Ewa. O shotaicho suboficial de primeira classe (PO1c) Toshio Takahashi (cÓdigo de cauda BII-321), e o suboficial de segunda classe (PO2c) Toshio Kasajima (cÓdigo de cauda BII-326), chegaram no meio desta manobra e acabaram tambÉm seguindo Yanagimoto e Urata, ao invÉs do ala de Kadono, o suboficial de primeira classe (PO1c) Hachiro Sugimoto.

 

          Kadono viu o torpedo de Nagai acertar o alvo, e liderou os seis aviÕes do Hiryu contra o mesmo alvo, atÉ que viu Mori desistir deste ataque e notar que o alvo eram os navios USS Helena e o USS Oglala, e não um encouraÇado. Ele e Sugimoto abortaram seus ataques, e neste momento um projÉtil das baterias antiaÉreas passou pela cabine, vindo do lado esquerdo, atingindo um duto de combustÍvel. Seu navegador, suboficial encarregado (CPO) Masaji Inada, tamponou o cano furado com um pedaÇo de pano e assim impediu o vazamento atÉ retornarem ao seu porta-aviÕes.

 

Os prÓximos quatro B5N2 do Hiryu não deram a devida atenÇão aos seus alvos como Mori e Kadono, provavelmente devido ao fogo das baterias antiaÉreas, e lanÇaram seus torpedos contra o USS Helena e o USS Oglala. Voando no fim da formaÇão, Kasajima viu que a bateria antiaÉrea acabou forÇando o lanÇamento incorreto do torpedo de Takahashi, que desceu para o fundo da baÍa. O fogo antiaÉreo, possivelmente vindo do USS Pennsylvania ou do destrÓier USS Shaw, a sua direita, foi direcionado contra o avião de Kasajima. Ele fez o lanÇamento a apenas 200 metros, e imediatamente subiu virando para a sua direita. Neste ponto as baterias antiaÉreas do USS Helena e do USS Oglala atingiram sua asa direita. Depois ele contou 29 perfuraÇÕes no seu avião, sendo que um dos buracos tinha mais de 15 centÍmetros de diâmetro.

 

          Um dos torpedos atingiu o dique de proteÇão embaixo da doca e inundou uma estaÇão de transformaÇão de energia situada abaixo do nÍvel do solo. Um terceiro torpedo se dirigiu para o USS Helena e o USS Oglala, e provavelmente tambÉm atingiu o solo embaixo da doca 1010. Dois outros torpedos atolaram no fundo da baÍa, e seus motores ainda funcionando causavam uma agitaÇão na superfÍcie da Água.

 

          O tenente Matsumura lembra da frustraÇão que sentiu mais tarde ao relatar: “Quando alcanÇamos a base aÉrea de Hickam, e perguntei ao meu navegador se todos os aviÕes de nossa formaÇão estavam nos seguindo”. O suboficial de primeira classe (PO1c) Takeo Shiro respondeu que ele apenas conseguia ver o nosso ala, o suboficial de terceira classe (PO3c) Yasumi Oku (cÓdigo de cauda BII-302). “Eu sabia que isso era ruim. É claro que eu não podia fazer nada para mudar esta situaÇão”.

 

          Igual a Matsumura, Shiro e Oku, o tenente Kadono e seu ala estavam se dirigindo para o atracadouro dos encouraÇados, mas por um trajeto um pouco diferente. Como consequÊncia, cinco B5N2 dos porta-aviÕes Soryu e Hiryu entraram no meio da formaÇão de duas dúzias de bombardeiros do Akagi e Kaga enquanto estes se dirigiam para o atracadouro dos encouraÇados.

 

 

Uma coluna de Água causada pelo impacto do torpedo de Murata no USS West Virginia sobe ao lado de uma explosão a esquerda causada pelo torpedo do seu ala, e outra coluna de Água a direita marca o impacto do torpedo de Goto no USS Oklahoma.

 

          Durante o planejamento do ataque, os japoneses temiam que as redes de proteÇão anti-torpedo pudessem arruinar o ataque, e a confirmaÇão feita por um espião do Consulado japonÊs em Honolulu de que esta proteÇão não estava sendo utilizada ainda não tinha chegado quando os aviÕes decolaram para o ataque. O tenente Murata e o comandante Fuchida discutiram sobre este problema representado pelas proteÇÕes anti-torpedo. Eles concordaram que os primeiros torpedos deveriam ser lanÇados contra este tipo de proteÇão, e caso falhassem em destruÍ-la, eles estariam preparados para lanÇar seus prÓprios aviÕes contra estas proteÇÕes.

 

          O avião do segundo shotaicho do porta-aviÕes Akagi, o tenente júnior Jinichi Goto (cÓdigo de cauda AI-308), se posicionou cerca de 100 metros a esquerda e atrÁs do avião do tenente comandante Shigeharu Murata. “Com um intervalo de 500 metros, cada raigekiki da minha shotai (ala composta por trÊs aviÕes) estava posicionado a cerca de 100 metros à esquerda e atrÁs do respectivo avião da ala de Murata”.

 

“NÓs passamos sobre a base aÉrea Barbers a 500 metros de altitude. Na base estavam estacionados e enfileirados muitos aviÕes pequenos. Eu me lembro claramente. NÓs continuamos para o sul e fizemos uma manobra à esquerda sobre o oceano para nos aproximarmos da base de Hickam pelo sudoeste. Neste ponto nossa altitude era de 50 metros”.

 

          “ApÓs passarmos por esta base aÉrea e pelo setor das fÁbricas da base de Pearl Harbor, nÓs fizemos uma curva rÁpida de cerca de 90 graus à esquerda antes da baÍa, onde a base de submarinos estava localizada (braÇo sudoeste), depois descemos para 20 metros de altitude, utilizando mais a visão do que o altÍmetro que era inútil neste tipo de altitude”. Goto continua: “ajustando a velocidade para cerca de 296km/h e o horizonte pelos meus instrumentos. Quando nos dirigimos para o atracadouro dos encouraÇados, a altitude, a velocidade e o posicionamento do avião estavam em nÍveis crÍticos. AlÉm do mais, nÓs estÁvamos debaixo de uma chuva de balas das baterias antiaÉreas. Neste momento nÓs fomos capazes de ver com nossos prÓprios olhos o atracadouro dos encouraÇados  a nossa frente e a poucas centenas de metros distante. TÍnhamos que lanÇar nossos torpedos imediatamente”.

 

          Murata lanÇou seu torpedo às 7h57 - horÁrio do HavaÍ - e retornou com uma perfuraÇão de bala em seu avião. O avião de Goto escapou sem danos. “A resposta da Marinha americana foi impressionante”, Goto exclamou: “Apesar de ser um ataque surpresa no inÍcio de uma manhã de domingo, Murata e eu vimos balas de metralhadoras vindo em nossa direÇão antes de lanÇarmos nossos torpedos!”.

 

          Goto relembra: “O hikotaicho Murata lanÇou seu torpedo contra o USS West Virginia e a sua esquerda, quase na mesma altitude eu lancei meu torpedo contra o USS Oklahoma”. “Eu vi duas grandes colunas de Água subirem lentamente dos dois navios quase ao mesmo tempo”.

 

          AtrÁs de Murata, estava seu segundo ala, o aviador de primeira classe (F1c) Fujuki Murakami, pilotando seu B5N2 (cÓdigo de cauda AI-313) em direÇão ao seu alvo, o USS West Virginia, com o segundo ala de Goto, o aviador de primeira classe (F1c) Kazuto Ikumoto, à sua esquerda, cujo alvo era o USS Oklahoma. Nenhum destes aviÕes foi atingido, mas o terceiro ala de Goto encontrou problemas. “Os artilheiros americanos estavam mais calmos e sua pontaria ficando mais precisa”, relembra Goto: “Eu pensei que foi por este motivo que o avião do aviador de terceira classe (F3c) Tomoe Yasue, foi atingido 21 vezes”. Ambos os aviÕes, o de Yasue e o do terceiro ala de Murata, o aviador de primeira classe (F1c) Sadasuke Katsuki, tinham como alvo o USS Oklahoma, sendo que Katsuki virou à esquerda e entrou no mesmo rumo de Yasue. Um deles - provavelmente Yasue - lanÇou seu torpedo e ganhou altitude. A despeito dos danos causados pela defesa antiaÉrea em seu avião e de uma quase colisão no ar, nem Yasue e nem um dos seus tripulantes ficou ferido, e ambos, Yasue e Katsuki retornaram ao Akagi. 

 

          Quando Mori desistiu de sua corrida para lanÇar seu torpedo contra o USS Helena e o USS Oglala e manobrou à esquerda em direÇão ao canal sudoeste, aproximava-se a sua direita a segunda unidade do Akagi, liderada pelo tenente Asao Negishi em uma longa formaÇão em fila única. Os bombardeiros estavam mantendo um intervalo de 500 metros, mas a maioria dos pilotos manteve distância de 1,500 a1,800 metros porque muitos pilotos sabiam da possibilidade de atingir a coluna de Água causada pelo ataque anterior. Isto trabalhou em favor dos aviÕes do Soryu e do Hiryu que puderam assim entrar no meio das formaÇÕes do Akagi e do Kaga. Isto tambÉm ajudou os artilheiros americanos, sendo possÍvel para eles obter uma melhor aquisiÇão dos alvos.

 

          Observando a aÇão contra o USS Oklahoma e o USS West Virginia, Negishi escolheu um novo alvo, o USS California, ancorado mais a esquerda do grupo principal de encouraÇados. Negishi e seu segundo ala, o suboficial de terceira classe (PO3c) Gunji Kaido, lanÇaram seus torpedos. Eles quase atingiram uma lancha do USS California que cruzava o canal sudoeste vinda da ponta Merry.

 

          Mori ainda estava a caminho para atacar o USS California quando viu as baterias antiaÉreas de terra e dos navios focarem sua atenÇão no terceiro ala de Negishi, o aviador de primeira classe (F1c) Keigo Hanai. Hanai mudou de alvo, do USS California para um mais fÁcil, o USS West Virginia, porque seu navegador o suboficial de segunda classe (PO2c) Shigeharu Sugaya, foi ferido gravemente; ele viria a falecer naquela noite.

 

 

Atingido pelo fogo antiaÉreo, o B5N2 do porta-aviÕes Akagi, pilotado pelo aviador de primeira classe (F1c) Keigo Hanai, se afasta do atracadouro dos encouraÇados, enquanto um avião do porta-aviÕes Soryu se aproxima pelo lado direito.

 

          Ignorando o fogo da antiaÉrea, Mori pensou consigo mesmo: “Se eu conseguir manobrar de uma vez, talvez eu consiga atingi-lo”. “Portanto, eu dei todo leme ao meu lento avião, e pressionei o controle bem firme, e me senti igual a um piloto de acrobacias, inclinado em direÇão a minha asa esquerda”. “Por um momento eu tive a impressão que a asa iria tocar na Água ou que o pesado avião iria estolar e girar, caindo na baÍa”. Mori gritou pelo tubo de comunicaÇão para o seu navegador: “Segure o torpedo, Kato, não acione o lanÇamento! NÓs estamos muito prÓximos. NÓs vamos circular e tentar um novo ataque!”

 

          Liderando a última ala do Akagi, estava o shotaicho suboficial de primeira classe (PO1c) Shigeo Suzuki. Seu B5N2 (cÓdigo de cauda AI-307) foi atingido trÊs vezes. Ele tentou conduzir sua shotai para um alvo mais fÁcil, o USS Oklahoma, mas seus dois alas foram interrompidos por dois aviÕes do Hiryu, pilotados por Matsumura e Oku. “NÓs entramos na frente de uma unidade do Akagi para lanÇar nossos torpedos”, Matsumura explicou: “Depois fomos envolvidos por uma pesada turbulÊncia criada pelo avião a nossa frente (Suzuki). Meu avião balanÇou tão descontrolado que eu não consegui fixar no alvo”. “Todavia, fiz uma manobra para a direita para tentar um novo ataque”. O B5N2 de Oku (cÓdigo de cauda BII-320) que estava atrÁs de Matsumura conseguiu lanÇar seu torpedo contra o USS West Virginia.

 

          Atrapalhados de alguma maneira pela interrupÇão feita por estes dois B5N2 do Hiryu, os segundo e terceiro alas de Suzuki, o suboficial de segunda classe (PO2c) Isao Tateyama e o suboficial de terceira classe (PO3c) Kaoru Goto, continuaram em sua corrida de ataque contra o USS Oklahoma, sem sofrerem danos causados pelo fogo antiaÉreo. Logo depois, o segundo buntaicho do Hiryu, tenente Kadono, e seu ala, suboficial de primeira classe (PO1c) Hachiro Sugimoto, tambÉm lanÇaram seus torpedos contra o USS Oklahoma. Matsumura completou sua manobra de 360º e ficou em linha no exato momento que a formaÇão de 12 torpedeiros do Kaga, que seguia a formaÇão do Akagi distante cerca de 5 quilÔmetros, entrou no canal sudoeste. Matsumura diz: “ApÓs confirmar que meu torpedo atingiu o alvo (USS West Virginia), nos dirigimos para o ponto de encontro.

 

 

O navegador de Matsumura, suboficial de primeira classe (PO1c) Takeo Shiro, fotografou o impacto do torpedo do suboficial de terceira classe (PO3c) Yasumi Oku no USS West Virginia, que estÁ adernando. É possÍvel observar a Água agitada em forma circular causada por um torpedo que atolou no fundo da baÍa.

 

          Seguindo a direÇão de Matsumura, o buntaicho do Kaga, tenente Ichiro Kitajima lanÇou seu torpedo contra o USS West Virginia e escapou sem danos.  No segundo avião pilotado pelo suboficial de terceira classe (PO3c) Kashiro Yoshikawa (cÓdigo de cauda AII-312), o artilheiro suboficial de segunda classe (PO2c) Takeshi Maeda relembra: “DiminuÍmos a altitude, e nos mantemos voando para o leste ao longo da costa sul da base Hickam. Eu girei meu assento para a esquerda e vi o monte Diamond Head e notei que nosso rumo era em direÇão a Pearl Harbor. Eu apontei minha metralhadora para a esquerda e atirei enquanto passÁvamos sobre a base Hickam, mas não consegui atingir o alvo escolhido porque estÁvamos alÉm do alcance da minha arma”.

 

          “Eu podia ver muitos navios pequenos e grandes no lado leste do porto. NÓs voamos a baixa altitude, cerca de 10 metros, e lanÇamos nosso torpedo. Naquele exato momento, o USS West Virginia tinha inclinaÇão para um dos lados por causa dos danos causados por torpedos que o atingiram anteriormente”. “Era possÍvel ver as ondas, em forma concÊntrica sobre o Óleo cru espalhado sobre a Água, e causadas por uma explosão ocorrida anteriormente. Vi tambÉm trÊs lanchas navegando velozmente pelo local. Naquele momento ouvi um barulho: Minha asa esquerda tinha sido atingida por um projÉtil”.

 

          Maeda conclui: “Não senti medo enquanto eu estava cumprindo minha missão. Todavia, eu ainda me lembro como fiquei aterrorizado depois do ataque ao retornarmos para o nosso navio”.

 

          Atingido quatro vezes pelo fogo das baterias antiaÉreas, o terceiro torpedeiro do Kaga, pilotado pelo suboficial de segunda classe (PO2c) Yoshiyuki Hirata atacou o USS West Virginia. O prÓximo shotaicho, suboficial de primeira classe (PO1c) Shigeo Sato, mudou seu ataque para um alvo mais fÁcil, o USS Oklahoma, mas foi atingido mais oito vezes durante sua corrida. O B5N2 pilotado pelo segundo ala, o suboficial de primeira classe (PO1c) Ichiji Nakagawa, tambÉm foi atingido oito vezes enquanto seguia no ataque para lanÇar seu torpedo contra o USS Oklahoma. Seu artilheiro, aviador de primeira classe (F1c) Mitsuo Kawasaki, ficou tão ferido que posteriormente deu baixa da Marinha por invalidez.

 

          O terceiro B5N2, pilotado pelo aviador de primeira classe (F1c) Syuzo Kitahara, foi alvo de intensa artilharia, e balas incendiÁrias atingiram tubulaÇÕes vitais de combustÍvel. Compreendendo o perigo, ele pressionou seu manche contra o estÔmago e acionou firmemente o estabilizador esquerdo. O avião comeÇou a se incendiar, e o artilheiro do avião de Kitahara, o suboficial de segunda classe (PO2c) Haruo Onishi, decidindo não morrer queimado, pulou do avião incendiado, sem o seu pÁra-quedas, e atingiu a Água na Área do pÍer prÓximo dos cruzadores pesados USS San Francisco e USS New Orleans. Ele foi retirado da Água ainda com vida, mas morreu poucos minutos depois por causa dos ferimentos.

 

          Kitahara quase atingiu um alto guindaste em sua tentativa de ganhar altitude. Os observadores em terra notaram que a fumaÇa deu lugar a chamas enquanto o bombardeiro se dirigia para sudoeste, voando em paralelo a doca 1010. Tentando aliviar algum peso, Kitahara ejetou o torpedo, que foi cair na praia prÓxima das docas secas. O sistema hidrÁulico falhou e o trem de pouso comeÇou a baixar. O avião parecia estar escolhendo o seu rumo “diretamente contra a parte frontal do principal prÉdio do hospital”, escreveu o capitão Reynolds Hayden, um mÉdico. No momento final, Kitahara ficou em pÉ na cabine e abandonou os controles. “O avião guinou repentinamente à esquerda, atingindo a quina do prÉdio do laboratÓrio e se chocou entre o laboratÓrio e os quartÉis dos suboficiais encarregados. Hayden continuou: “Os dois aviadores japoneses estavam mortos”.

 

Ambos os tripulantes foram despedaÇados com o impacto. Um fuzileiro, que estava muito furioso, lembrou que ao chegar ao local da queda encontrou a perna de um tripulante. Ele pegou a perna e comeÇou a batÊ-la no chão, gritando que iria matar o japonÊs; quando ele percebeu o que estava fazendo, ele parou e retirou a bota do pÉ e declarou que tinha o primeiro souvenir da guerra.

 

          Enquanto Kitahara estava caindo, o tenente Mimori Suzuki, buntaicho do porta-aviÕes Kaga, liderava os seis últimos torpedeiros em direÇão das Águas do canal sudoeste – e se tornou o prÓximo alvo das baterias antiaÉreas dos navios. Seu bombardeiro estava sobrevoando a base de submarinos quando uma bala certeira atingiu a ogiva do seu torpedo. A concussão causada pela explosão derrubou os marinheiros que estavam na doca dos submarinos. O motor do avião continuou a voar sozinho, mas Suzuki foi decapitado instantaneamente e toda a parte frontal do avião desapareceu. O avião atingiu a Água prÓximo da ponta sudoeste da ilhota Kuahua. Os destroÇos do avião de Suzuki (cÓdigo de cauda AII-356) foram recuperados posteriormente, com o corpo do seu navegador, suboficial encarregado (CPO) Tsuneki Morita, ainda a bordo. Um dos marinheiros responsÁvel pela entrega do corpo ao legista queria as botas de Morita, e por causa da pressa cortou os pÉs inchados do japonÊs para conseguir mais tempo e assim retirar as botas. O B5N2 de Suzuki, sem o motor, deu aos americanos a primeira visão do bombardeiro japonÊs padrão baseado em porta-aviÕes.

 

          O suboficial de segunda classe (PO2c) Kazunori Tanaka, voando logo atrÁs do avião de Suzuki, foi atingido apenas duas vezes durante seu ataque ao USS West Virginia. Entretanto, Juzo Mori, do porta-aviÕes Soryu, tinha completado sua manobra de 360º e entrou na frente da formaÇão do Kaga. Concentrando no USS CalifÓrnia, Mori desceu a altitude de 15 metros e lanÇou seu torpedo. O suboficial de primeira classe (PO1c) Toyonori Kato gritou: “EstÁ indo na direÇão do alvo”, quando Mori manobrou a direita e reverteu o rumo. Depois Kato gritou: “Atingimos o alvo! Banzai!”.

 

          O choque causado pela explosão do torpedo de Suzuki ainda no ar diminuiu um pouco o fogo das baterias antiaÉreas, dando a chance ao piloto suboficial de segunda classe (PO2c) Kenichi Kumamoto, de observar os encouraÇados ainda não danificados. Com Mori a sua frente e à esquerda, Kumamoto desviou para a sua direita, mirando no USS Nevada. Ele voou cruzando a ilhota Kuahua e lanÇou seu torpedo no canal principal. Todavia, o atracadouro dos encouraÇados queria vinganÇa. Assim que Kumamoto ganhou altitude, os tanques de combustÍvel do seu B5N2 ficaram em chamas. Os tripulantes foram vistos abrindo o canopie enquanto o B5N2 caÍa pouco atrÁs do seu alvo. Os corpos de Kumamoto e seu artilheiro suboficial de segunda classe (PO2c) Nobuo Umezu, foram depois resgatados das Águas da baÍa. Eles morreram afogados.

 

          Entretanto, o suboficial de segunda classe (PO2c) Isamu Matsuda, terceiro membro da tripulaÇão, conseguiu nadar e levado pela corrente foi visto alcanÇando a praia da ilha Ford, prÓximo do lado boreste do USS Tennessee. Ele foi morto a tiros por um fuzileiro que estava prÓximo. Sua pistola Nambu e seu cronÔmetro foram tomados como sendo seus souvenires pessoais.

 

          Liderando a última ala do Kaga, o suboficial de primeira classe (PO1c) Hirotake Iwata (cÓdigo de cauda AII-324), assim descreveu sua aproximaÇão: “A frota americana estava ao nosso alcance e pude ver uma grande coluna de Água que subia do meio dos navios ancorados”.

 

“Durante nossa aproximaÇão sobre a base Hickam nÓs perdemos o contato visual dos alvos por causa da fumaÇa. Depois eu vi o USS Oklahoma e mirei em sua direÇão. Quando estava prÓximo cerca de 750 metros, lancei o torpedo de uma altitude de 10 metros. Assim que lancei, eu pressionei o manche de comando com toda forÇa e voei sobre o mastro do navio que fora alvo do nosso ataque. O USS Oklahoma jÁ estava inclinando e a Água subia em seu convÉs.

 

“Ao mesmo tempo, o raigekiki que estava voando a minha frente e a direita comeÇou a cair em chamas. Eu olhei para trÁs de mim, a minha esquerda e vi o meu segundo ala, o aviador de primeira classe (F1c) Ohashi, que fora atingido ao virar a direita. Seu B5N2 estava caindo soltando fumaÇa”.

 

          Mori viu a queda de Ohashi: “Eu vi um dos nossos aviÕes cair, com seu torpedo ainda preso pelo suporte! Estava tão prÓximo que pensei ser possÍvel tocÁ-lo. Imediatamente eu percebi onde estava. Ele tinha feito um ataque contra um encouraÇado inimigo enquanto eu tentava me afastar dele. NÓs estÁvamos no meio da pior concentraÇão de fogo antiaÉreo”. Ohashi caiu prÓximo da ilhota Kuahua no canal principal. Seu avião e torpedo nunca foram recuperados.

 

          O avião de Mori foi atingido em ambas as asas e na cabine pela artilharia antiaÉrea baseada em terra. A almofada do assento do seu operador de rÁdio, o suboficial de segunda classe (PO2c) Junichi Hayakawa, pegou fogo, e uma bala incendiÁria passou por baixo do seu uniforme de vÔo e queimou seu traseiro sem contudo cortar a pele. Os danos causados pela bateria antiaÉrea no trem de pouso do avião de Mori o obrigaram a amerrissar prÓximo de um destrÓier japonÊs.

 

          Iwata ainda relembra: “O avião do meu terceiro ala, o suboficial de primeira classe (PO1c) Izumi Nagai, estava soltando fumaÇa, ele ejetou seu torpedo e depois diminuiu a altitude em direÇão da Água”. Um tiro certeiro destruiu o suporte dianteiro do torpedo, causando ainda um grande dano ao avião. O torpedo foi arrancado do avião e caiu sobre uma pilha de madeiras que estava na doca prÓxima do destrÓier USS Bagley. Livre do peso do torpedo, Nagai conseguiu ganhar altitude apenas para planar sobre o canal do porto e cair prÓximo do lado norte do forte Weaver.

 

          Iwata continua a descrever os acontecimentos: “ApÓs observar meu torpedo atingir o alvo, não consegui ver mais nada porque entrei no meio da fumaÇa que subia de um hangar de hidroaviÕes na ilha Ford”. “ApÓs chegar em seguranÇa ao Kaga, investiguei nosso avião e encontrei quatro buracos de bala, que não tinha visto enquanto estava em aÇão”.

 

          Iwata lanÇou o último torpedo contra o atracadouro dos encouraÇados. Uma foto tirada às 8h06, durante o ataque dos bombardeiros de grande altitude do Kaga contra o USS Arizona mostra um vazamento de Óleo do USS Nevada, causado por um torpedo lanÇado. A falta deste tipo de vazamento de Óleo do USS Arizona prova que ele não foi atingido por nenhum torpedo!

 

          No segundo ataque de grande altitude contra os encouraÇados, bombas despejadas pelos aviÕes do Hiryu acabaram com o navio. Uma delas produziu uma coluna de Água que um tripulante a bordo do navio de reparos USS Vestal, que estava prÓximo, confundiu com um impacto de torpedo. Isto foi um milÉsimo de segundo antes da explosão de outra bomba lanÇada junto que destruiu o USS Arizona.

 

          Apenas onze minutos tinham se passado desde que o feroz ataque comeÇou. Para muitos que estiveram envolvidos, pareceu durar a vida toda! E para aqueles que perderam suas vidas, literalmente durou uma eternidade.

 

 

Esta foto do encouraÇado USS Nevada, sofrendo reparos no estaleiro da Marinha em Pearl Harbor no inÍcio de 1942, mostra o dano causado pelo impacto de um torpedo.

 

          O USS Helena entrou na doca seca imediatamente para efetuar reparos, e retornou a ativa em junho 1942. A tripulaÇão do USS Raleygh trabalhou rÁpido e conseguiu impedir que o cruzador emborcasse. Seu bravo esforÇo ajudou na rÁpida recuperaÇão e volta a ativa em julho 1942. O casco do USS Oglala rachou com a forÇa do impacto no USS Helena, e não foi completamente recuperado atÉ fevereiro 1944.

 

          TrÊs impactos de torpedos mandaram o USS CalifÓrnia para o fundo, mas apesar de tudo retornou a frota em julho 1944. O USS Nevada sofreu apenas um impacto de torpedo, que danificou o navio que acabou encalhado ao tentar sair do porto. SÓ retornou a ativa em dezembro 1942. Em 1943 recebeu uma das baterias de canhão do USS Arizona. Ele utilizou estes canhÕes com fúria no desembarque da Normandia, em 6 de junho 1944, e depois no apoio as invasÕes de Iwo Jima e Okinawa em 1945.

 

          O USS Oklahoma não conseguiu se recuperar dos nove impactos de torpedos que recebeu. O torpedo final lanÇado por Iwata se aproximou e explodiu quando o  navio jÁ estava inclinado, atingindo seu convÉs. Foi vendido como sucata apÓs a guerra, mas afundou quando em rumo para o continente.

 

          Iwata abaixou seu semblante ao falar: “Em 1955 e novamente em 1992, eu visitei Oahu e fiz questão de ir ao Memorial USS Arizona em Pearl Harbor. Eu fiz minhas preces pelos combatentes, tanto americanos como japoneses, que perderam suas vidas naquele dia”.

 

          Ainda temos torpedos japoneses completamente armados no fundo da baÍa. Um deles, que atolou ao lado do USS Oklahoma, foi recuperado em maio de 1991, quando uma draga trabalhava no local. Ele serve de lembranÇa que muitos morreram naquele dia que ficou marcado para sempre como o Dia da Infâmia.

 

          O USS Utah continua a servir como cemitÉrio. Em cada dia de comemoraÇão do ataque a Pearl Harbor são enviadas mensagens por meio de sinalizaÇão com bandeiras a todos os navios que ainda estão de serviÇo, dizendo: “A todos os navios: bom trabalho”. A única resposta são as bolhas de Óleo que sobem para a superfÍcie.

 

          Desde 1966, Mr. David Aiken - diretor da AssociaÇão de HistÓria de Pearl Harbor, pesquisa sobre este ataque e tenta localizar, identificar e recuperar os aviadores americanos e japoneses perdidos em aÇão.

 

ARTIGO: Revista MILITARY HISTORY, december 2001.

TRADUÇãO LIVRE: JaponÊs (21/08/2011)

Com a colaboraÇão/revisão de Marcus Silva

 

Acesse estes links para ver mais fotos e os perfis coloridos dos bombardeiros japoneses:

 

http://japanese-aviation.forum...gi-s-torpedo-bombers

 

http://japanese-aviation.forum...ga-s-torpedo-bombers

 

http://japanese-aviation.forum...yu-s-torpedo-bombers

Last edited by japonês
Original Post

Replies sorted oldest to newest

Sidnei, por sinal tomei a liberdade de reproduzir(dando os devidos créditos, naturalmente) esse teu excelente trabalho nas duas comunidades de Segunda Guerra que eu administro lá na facebook, e te mandei convite para que que você faça parte de uma delas(a maior, que tem 9.500 membros) e reproduza os teus excelentes trabalhos lá https://www.facebook.com/group...gundaguerra/members/

Incluir Resposta

×
×
×
×
Link copied to your clipboard.
×