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Em CrÔnica de uma guerra secreta (Record, 2005), o embaixador SÉrgio Correa da Costa (1919-2005) conta a histÓria de um espião nazista, Josef Jacob Johannes Starziczny, doutor em engenharia eletrÔnica, cujas atividades estenderam-se atÉ Santos e São Vicente. A histÓria tambÉm pode ser lida em A guerra secreta de Hitler (Nova Fronteira, 1983), do historiador norte-americano Stanley Hilton.

 

Como se sabe, o Estado Novo, de Getúlio Vargas, flertou durante um bom tempo com o nazismo, permitindo o livre trânsito de espiÕes nazistas pelo territÓrio brasileiro. Na Capital da República, por exemplo, o trânsito de espiÕes não era dificultado.

 

E, assim, Starziczny estabeleceu-se na cidade em 1941 e logo encontrou apoio da filial da empresa Theodor Wille, que destacou um funcionÁrio para lhe servir de intÉrprete. Afinal, o engenheiro chegara com uma carta de recomendaÇão da Theodor Wille, de Hamburgo.

 

TrÊs dias depois, conta o diplomata, Starziczny veio a Santos para ver o cÔnsul Otto Uebele, que seria seu chefe imediato. Embora nascido no Brasil, Uebele sempre estivera ligado a Alemanha, tendo colaborado com o impÉrio alemão durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). E, assim, facilitou contatos para o engenheiro eletrÔnico estabelecer uma rede de espiÕes em Santos e São Vicente.

 

Starziczny, segundo Correa da Costa, era um espião um tanto trapalhão, tendo se envolvido com mulheres brasileiras, mas não É isto o que interessa aqui. Não seria mesmo uma pessoa muito arguta, a ponto de ter deixado incompleto o trabalho que pretendia desenvolver, o que provocou muitos desentendimentos com seus superiores.

 

Em dezembro de 1941, o serviÇo de Starziczny chegava ao fim, pouco depois de ter deixado um transmissor na casa de Gerard Schroeder, um simpatizante nazista que morava na Rua Ipiranga, 13, em São Vicente. O serviÇo de Starziczny era fornecer informaÇÕes sobre a entrada e saÍda de navios nos portos do Rio de Janeiro e de Santos. Com base em suas informaÇÕes, muitos navios aliados podem ter sido bombardeados por submarinos alemães.

 

Enquanto a polÍcia carioca, praticamente, ignorava as atividades dos agentes do Eixo, o mesmo não acontecia em São Paulo, graÇas à atuaÇão do delegado adjunto na Delegacia de Ordem Pública e Social, ElpÍdio Reali, pai do jornalista Reali Júnior, correspondente de O Estado de S.Paulo em Paris, e avÔ da atriz Cristiana Reali.

 

Logo, Reali chegaria a Starziczny, que, um tanto desajeitado, facilitaria a aÇão da polÍcia. Ao tentar comprar na firma Sayão & Sayão, na rua Dom Bosco, em São Paulo, um ondÔmetro para o transmissor que deixara em São Vicente, o alemão, falando em inglÊs, iria apresentar-se como O. Mendes, deixando como endereÇo o Hotel Santos, em Santos. Tudo isso iria despertar suspeitas no comerciante, que sabia muito bem que a peÇa que o estrangeiro queria era usada em transmissores potentes. E achou melhor avisar a polÍcia.

 

Logo, a polÍcia chegou a OdÉlio Garcia, que, mais tarde, iria telefonar para a loja, perguntando pelo ondÔmetro. Detido, Garcia não negou que havia adquirido não sÓ a peÇa como uma estaÇão radiotransmissora, fazendo-o por encomenda de Ulrich Uebele, gerente da exportadora de cafÉ Theodor Wille e filho do cÔnsul alemão em Santos. Detido, Uebele entregou seu patrÍcio Gerard Schroeder, da seÇão de navegaÇão da Theodor Wille, que confirmou que a estaÇão havia sido passada a um funcionÁrio do consulado alemão.

 

O delegado Reali não levou em conta imunidades diplomÁticas e colocou em cana todos os envolvidos, inclusive, um brasileiro, na casa de quem fora localizada a estaÇão retransmissora. SÓ faltava o principal elo, o espião Starziczny. Com o pai de Uebele, Oto, o delegado ainda iria encontrar filmes de navios ingleses e americanos e de pontos estratÉgicos do litoral de São Paulo e ainda uma pista que o levaria ao Rio de Janeiro, mais especificamente a um sobrado no Leblon.

 

LÁ, finalmente, iria encontrar Niels Christensen, engenheiro civil, nome atrÁs do qual se escondia Starziczny. Na casa, a polÍcia iria descobrir muitos equipamentos e, dentro de uma caixa de madeira, informaÇÕes que partiam diretamente do Leblon para o almirantado alemão, em Hamburgo.

 

A aÇão rÁpida de Reali permitiu que o navio britânico Queen Mary, que deixara havia poucos dias o Rio de Janeiro levando a bordo oito mil soldados canadenses, mudasse de rota e escapasse de um ataque.

 

http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0292i.htm

 

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Originally Posted by Milan:

A guerra secreta de Hitler (Nova Fronteira, 1983), do historiador norte-americano Stanley Hilton.

 

Livro excelente, muito bem documentado, que está se tornando uma raridade e merecia uma reedição.

 

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