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O romper das hostilidades entre o Japão e a China no verão de 1937 pegou a Marinha japonesa despreparada para lidar com uma guerra de proporÇÕes continentais e interrompeu os planos organizados de expansão da sua aviaÇão naval.

Do planejado, apenas metade dos grupos aÉreos baseados em terra estava completa pelo final de 1936. A vantagem japonesa nos primeiros meses de campanha aÉrea seria a introduÇão de uma nova geraÇão de aviÕes navais – projetos monoplanos de construÇão metÁlica com desempenho sem precedentes.

 

 

Bombardeiro G3M1 sendo preparado para um raide.

 

Na Época do incidente da ponte Marco Polo, o poderio aÉreo naval japonÊs orientado para o teatro de operaÇÕes consistia dos grupos aÉreos de trÊs porta-aviÕes que navegavam no Mar do leste da China – o IJN Kaga, o IJN Ryujo e o IJN Hosho – totalizando cerca de 80 aviÕes embarcados, mais alguns hidroaviÕes a bordo de cruzadores. Enquanto estes aviÕes poderiam e seriam utilizados contra alvos da costa chinesa, seu limitado alcance e a falta de bases avanÇadas em territÓrio chinÊs limitariam os ataques contra os alvos mais distantes no interior do continente.

 

 

G3M1 decolando para uma missão.

 

Por sorte, a Marinha japonesa possuÍa dois grupos aÉreos baseados em solo pÁtrio – um na base de Kisarazu, a sudeste de TÓquio e outro na base de Kanoya, mais ao sul na ilha Kyushu. Recentemente estes grupos tinham sido equipados com os novos bombardeiros mÉdios bimotores Mitsubishi tipo 96 G3M1. No meio de Julho, quando a ameaÇa de um conflito crescia a cada dia, os dois grupos aÉreos foram colocados sob um comando único e enviados para bases mais prÓximas do territÓrio chinÊs. Os 24 bombardeiros G3M1 do Grupo AÉreo Kisarazu estavam baseados em Omura, a sudoeste da ilha Kyushu. Os 18 bombardeiros G3M1 do Grupo AÉreo Kanoya voaram para a ilha de Taiwan, e estavam baseados em Taihoku (Taipei).

Vinte e quatro horas apÓs o inÍcio dos combates em Shangai, o almirante Kiyoshi Hasegawa ordenou ataques utilizando os aviÕes embarcados. Este tipo de ataque utilizando porta-aviÕes se repetiria nos prÓximos meses. Mas foram os ataques de longo alcance, missÕes de bombardeio que cruzavam o oceano, realizados pelos bombardeiros mÉdios G3M1, que chocaram o mundo! Voando de Taihoku, em Taiwan, e Omura, em Kyushu, contra alvos chineses baseados cerca de 640km a 800km distantes, os G3M1 lanÇaram não apenas bombas contra alvos chineses, mas tambÉm destruÍram a complacÊncia ocidental sobre o progresso japonÊs na questão do poderio aÉreo.

 

 

Apesar do mal tempo os bombardeiros japoneses se dirigem para seu alvo.

 

Apesar desta capacidade de ataque a longa distância ser empolgante, estes primeiros esforÇos de bombardeio estratÉgico encontraram muitas dificuldades, e uma delas foi um clima extremamente hostil. No dia 14 de Agosto, quando as tripulaÇÕes receberam suas ordens, a aproximaÇão de um tufão ameaÇava as operaÇÕes aÉreas. Ventos fortes impediram a decolagem dos aviÕes embarcados, e os bombardeiros baseados em Omura foram obrigados a ficar em terra. Decolando da base de Taihoku, em Taiwan, os bombardeiros G3M1 do Grupo AÉreo Kanoya, voaram em direÇão da cidade chinesa de Kuang-te e da base aÉrea localizada em Hang-chou. Os caÇas chineses atacaram e abateram trÊs bombardeiros, e um quarto ficou bastante danificado. Os resultados do ataque foram decepcionantes. No dia seguinte, apesar da piora do clima, o Grupo AÉreo Kanoya enviou seus 14 G3M1 operacionais contra alvos em Nan-ch’ang. Voando no meio de nÉvoa espessa e turbulÊncia, tiveram grande dificuldade de localizar seu objetivo, e os danos causados pelas bombas foram pequenos. Estes aviÕes retornaram sem sofrer perdas.

 

 

FormaÇão japonesa se aproximando do alvo.

 

JÁ os 20 bombardeiros do Grupo AÉreo Kisarazu que decolaram de Omura não tiveram tanta sorte. Lutando contra ventos violentos na rota para Nanking, foram interceptados pelos caÇas chineses duas vezes – uma vez a caminho do alvo e outra vez sobre o alvo. No ataque a Nanking, os bombardeiros foram obrigados a fazer suas passagens de ataque a baixa altitude por causa das densas nuvens. Antes de conseguirem se proteger nestas nuvens, os caÇas chineses atacaram, abatendo 4 bombardeiros. A forÇa japonesa retornou para uma base aÉrea provisÓria localizada na ilha Cheju, prÓxima da penÍnsula coreana. No dia 16 de Agosto, o Grupo AÉreo Kanoya perdeu outros aviÕes no raide contra Yang-chou, incluindo o avião do seu lÍder, o tenente comandante Shin’ichi Nitta, que foi vÍtima de um tipo de caÇa que ele considerava obsoleto e tecnologicamente inferior. Em apenas trÊs dias de combates, os japoneses perderam metade de sua forÇa de bombardeiros baseados em terra.

 

 

DestroÇos da asa de um G3M1 em solo chinÊs

 

A comprovaÇão da alta vulnerabilidade do G3M1 quanto ao perigo dos tanques de combustÍvel sem proteÇão se incendiarem parecia um agouro. Esta falha fatal não seria corrigida nos prÓximos modelos do G3M a serem construÍdos, e nem no seu sucessor o G4M. As consequÊncias fatais destas falhas de projeto e de construÇão são descritas por uma testemunha ocular destes raides. No primeiro raide realizado em 15 de Agosto, quando vinte G3M do Grupo AÉreo Kisarazu atacaram as bases aÉreas prÓximas de Nanking. Durante a corrida de bombardeio os aviÕes japoneses foram atacados por caÇas chineses. Um dos tripulantes destes bombardeiros era Hajime Hosokawa. Anos mais tarde ele relembrou esta missão, e o momento quando o quarto avião de sua ala explodiu em chamas apÓs ter sido atingido em um dos tanques de combustÍvel localizado na asa. Voando em paralelo ao avião atingido, Hosogawa observou com horror a tripulaÇão deste bombardeiro se acomodando na cabine frontal para escapar das chamas que consumiam a fuselagem. O calor era tão intenso, que o piloto, em desespero, arrancou a janela da cobertura superior da cabine. Hosogawa e seus companheiros observaram então o avião despencar atÉ o solo. Depois o terceiro avião de sua ala foi tambÉm atingido nos tanques de combustÍvel localizados nas asas. Com o avião envolto em chamas, os tripulantes ficaram todos juntos na cabine que jÁ estava com suas janelas abertas. O comandante do avião foi visto abraÇando seus jovens tripulantes quando de repente as chamas tomaram a cabine e o avião caiu indo chocar-se com o solo.

 

 

DestroÇos do estabilizador vertical de um G3M1 nas proximidades de uma base aÉrea chinesa.

 

As primeiras semanas de guerra tiveram resultados modestos no que diz respeito ao bombardeio efetuado pelos japoneses contra as bases aÉreas chinesas. A inexperiÊncia japonesa em bombardeio de longo alcance e a realidade dura do combate aÉreo tornaram estas missÕes altamente perigosas. O pequeno número de aviÕes utilizados nestas missÕes e as altas expectativas quanto ao potencial dos bombardeiros baseados em terra foram alguns dos motivos para este resultado decepcionante. A falta de proteÇão de caÇas tambÉm contribuiu para as perdas excessivas.

 

 

Um dos bombardeiros que foi bastante danificado conseguiu retornar e fez um pouso de emergÊncia em uma base aÉrea japonesa.

 

Nada disto, porÉm, impediu os japoneses de continuarem suas missÕes de bombardeio a longa distância. Assim como os aliados em sua campanha de bombardeio estratÉgico contra a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, as tripulaÇÕes dos bombardeiros mÉdios G3M se tornaram a maioria das vÍtimas dos combates aÉreos. Em quatro anos de guerra aÉrea na China (1937-1941), 680 tripulantes de aviÕes japoneses morreram em combate. Destes, 379 eram de bombardeiros G3M.

 

 

Perfil colorido de um G3M1 do Grupo AÉreo Kanoya durante estes raides iniciais.

 

TraduÇão livre: JaponÊs(19/10/2014)

 

Bibliografia:

- SUNBURST: THE RISE OF JAPANESE NAVAL AIR POWER, 1909-1941, by Mark R. Peattie, ano 2007

Last edited by japonês
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Grande Sidnei!

 

Prazer revê-lo virtualmente! Como está a família, tudo bem?

 

Mais um grande texto, devidamente salvo.

 

E Pearl Harbour, ficou apenas naquele arquivo postado já há um bom tempo?

 

Grande abraço,

Luciano

Oi pessoal.

E estava por aqui aguardando uma oportunidade para voltar a escrever.

Depois de quase 6 anos sendo síndico do meu prédio, entreguei o cargo e voltei a ser um mero mortal...kkkkkk

Vamos ver se consigo colocar outros artigos...

O fato é tão inusitado que até começou a chover aqui em São Paulo...kkkkk

Japonês

 

Originally Posted by japonês:

Oi pessoal.

E estava por aqui aguardando uma oportunidade para voltar a escrever.

Depois de quase 6 anos sendo síndico do meu prédio, entreguei o cargo e voltei a ser um mero mortal...kkkkkk

Vamos ver se consigo colocar outros artigos...

O fato é tão inusitado que até começou a chover aqui em São Paulo...kkkkk

Japonês

 

Muito interessante, nunca tinha visto nada sobre este assundo , aproveitando vc teria algo sobre o segundo ataque japonês a Pearl Harbour, com um hidroavião acho que era da Kawanishi, lembro de ter visto uma matéria no Acredite se Quiser na Rede Manchete .... faz tempo rs.

Originally Posted by Vétão:
Originally Posted by japonês:

Oi pessoal.

E estava por aqui aguardando uma oportunidade para voltar a escrever.

Depois de quase 6 anos sendo síndico do meu prédio, entreguei o cargo e voltei a ser um mero mortal...kkkkkk

Vamos ver se consigo colocar outros artigos...

O fato é tão inusitado que até começou a chover aqui em São Paulo...kkkkk

Japonês

 

Muito interessante, nunca tinha visto nada sobre este assundo , aproveitando vc teria algo sobre o segundo ataque japonês a Pearl Harbour, com um hidroavião acho que era da Kawanishi, lembro de ter visto uma matéria no Acredite se Quiser na Rede Manchete .... faz tempo rs.

Oi Vetão,

Ocorreu um ataque de dois aerobotes japoneses que chegaram a bombardear PH. Um terceiro raide de reconhecimento seria realizado as vésperas da batalha de Midway mas foi cancelado porque o local onde os aerobotes fariam o reabastecimento com submarinos japoneses estava sendo vigiado por navios americanos. Na internet tem um artigo em inglês sobre estes raides. Existe inclusive um livro sobre estes ataques.

http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_K

http://books.google.com.br/boo...MAAJ&redir_esc=y

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