SAAB diz que vitória no Brasil fez o Gripen ‘virar o jogo’ no mercado mundial
A corporação sueca SAAB está comemorando até agora – decorridos 17 meses da escolha do caça Gripen NG pela Força Aérea Brasileira (FAB) – sua vitória no disputadíssimo programa FX-2.
De acordo com o articulista Christopher P. Cavas, do respeitado site noticioso americano defensenews.com, em função da compra fechada pela FAB, em outubro, de 36 unidades das versões E e F, e da encomenda de mais 60 feita pela própria aviação militar sueca, o Gripen, de ator “coadjuvante” passou a protagonista no sofisticado cenário dos modernos caças supersônicos.
Cavas foi a Linköping – cidade-sede da linha de produção do Gripen –, e ouviu dois importantes executivos do programa Gripen dentro da SAAB: o vice-presidente de negócios, Jerker Ahlqvist, e o diretor, Ulf Nilsson.
Entusiasmado, Nilsson definiu a venda do avião no Brasil como “uma virada de jogo”. E acrescentou: “antes disso [vitória no programa FX-2] o Gripen era uma aeronave à procura de um mercado. Agora é o mercado que vem procurando o Gripen”, completou o executivo.
A longa reportagem de Cavas – intitulada “O Gripen da SAAB entra em uma zona de voo mais alta” (Saab’s Gripen Enters a New High-fly Zone) –, informa que sete forças aéreas operam ou estão, neste momento, avaliando o caça sueco.
Este ano a Força Aérea da Suécia recebeu o seu 75º e último Gripen C. O próximo fornecimento dessa aeronave já será o da versão NG, do modelo E – monoplace.
Entre os países que optaram pelo Gripen estão:
•Suécia – 75 modelos C e 25 D (com 60 versões E e F encomendadas);
•África do Sul – 17 modelos C e nove aeronaves Gripen D;
•Tailândia – 8 Gripen C e quatro modelos D;
•Brasil – 36 encomendados (28 modelos E e oito F);
•República Checa – 12 C e dois D;
•Hungria – 12 Gripen C e dois D;
•Reino Unido – uma aeronave arrendada a uma escola de pilotos de teste;
•Eslováquia – acordo com a SAAB ainda sendo finalizado.
Europa – O vice-presidente Ahlvqist diz que a SAAB trabalha para fechar a venda de, pelo menos, 96 novas aeronaves, e que a empresa vislumbra um mercado de 300 a 450 aviões de caça, ao redor do globo, nos próximos 20 anos
O dirigente sueco analisou, ainda, outros casos específicos, como o da Finlândia:
“A Finlândia é um país muito interessante para nós. Sabemos que eles têm um processo longo, mas que é também bastante encorajador. Esperamos receber um pedido de informações no início do próximo ano, um pedido de proposta em 2018 e um contrato por volta de 2020”.
Ahlvqist revelou que sua companhia trabalha com a possibilidade de a aviação militar finlandesa requerer de 40 a 60 aeronaves de combate, e está otimista apesar de sua aeronave ter que competir com os modelos F-35 e Eurofighter Typhoon.
A Croácia já avisou que, no próximo ano, precisará escolher uma aeronave para substituir os seus caças MiG-21, e a Bulgária terá de aposentar os seus MiG-29.
Na aviação militar búlgara o executivo prevê uma “competição feroz” do Gripen com o caça F-16: “mas acreditamos que há um futuro para nós lá [na Bulgária]”, completa ele, otimista.
O executivo da SAAB admitiu que sua companhia não é muito ativa na Áustria, mas insinua que isso mudará, porque “em três ou quatro anos”, os militares austríacos precisarão renovar a sua aviação de caça.
Ásia – A região “Ásia-Pacífico” é outra que a SAAB considera como de grande potencial de vendas para o Gripen.
“Sabemos que a Malásia está interessada”, diz o vice-presidente Ahlqvist, “e a Indonésia iniciou um programa de substituição de F-5”. O executivo sueco informa, entretanto, que não espera que o governo de Jacarta se movimente antes de 2019. “Sabemos que há uma tradição lá [na Indonésia] de se comprar o [produto] russo, mas o novo presidente quer um processo de licitação transparente, e acreditamos que temos uma boa chance de vencer lá”.
De acordo com Jerker Ahlqvist, mesmo a Índia, que, optou pelo caça francês Rafale no programa de aeronave de combate multifunção de médio porte, parece “sempre interessada” no Gripen.
“Sabemos que há mais alguma coisa necessária”, adverte o sueco. “Eles [indianos] estão lutando pelo programa Light Combat Aircraft ( LCA, na denominação em inglês), e nós estamos lá com a proposta de transferência tecnológica e de cooperação industrial”.
O programa LCA poderá envolver de 150 a 200 aeronaves, observou o vice-presidente da SAAB, “por isso é muito interessante para nós. Estamos prontos a fazer um projeto muito abrangente na Índia”.
Os suecos monitoram, igualmente, o que acontece nas Filipinas. “Não há nenhum processo formal [de aquisição de caças] em curso”, explica Ahlvqist, mas sua empresa está vigilante.
África – No chamado “continente negro”, a SAAB concentra suas atenções na República da Botswana, que, segundo o executivo sueco, tem “uma forte relação com a África do Sul (usuária do Gripen) e uma das economias de mais rápido crescimento da África. A Botswana se prepara para substituir o seu fighter F-5 dentro de dois a cinco anos.
“O Quênia tem um forte interesse no Gripen”, observa Ahlqvist, “mas há incerteza sobre quando eles poderiam encontrar o dinheiro para um programa desse tipo”.
O executivo é menos otimista com as perspectivas do Gripen na Namíbia. “Eles [namibianos] querem se livrar dos seus aviões chineses e encontrar outra coisa. Mas, novamente, existe incerteza sobre onde se irá encontrar o dinheiro, embora recentemente eles tenham descoberto petróleo e gás. Mas nós provavelmente estamos falando de um período de cinco a dez anos antes que aconteça alguma coisa lá [na Namíbia]”.
Brasil – Os dirigentes da SAAB também elogiaram sua parceria com a companhia brasileira Embraer.
“Vemos a Embraer como outra linha de produção para o Gripen”, declarou à Defense News Jerker Ahlqvist. “Caso mais pedidos venham a se materializar, os Gripens poderiam ser produzidos no Brasil para a venda a outros países, no âmbito dos acordos de joint venture que firmamos”. Ulf Nilsson, contudo, lembra: “nesse caso nós teríamos que aplicar as regras de exportação suecas [que incluem a proibição de venda de armas para certos países]”.
Do ponto de vista puramente comercial, Ahlqvist também é cauteloso acerca da clientela do Gripen na América do Sul.
“Sabemos que a Colômbia vai substituir sua frota de [caças] Kfir, e recebemos algumas perguntas da parte deles”, revelou o sueco, mas ele acredita que se passem ainda uns cinco anos “antes que eles [colombianos] precisem de entregas [de aviões de combate].
O vice-presidente da SAAB também aludiu à necessidade da FAB de obter mais de 100 unidades do Gripen. “Acreditamos que eles [brigadeiros brasileiros] estejam examinando essa compra em três lotes”.
Nesse momento, a SAAB está oferecendo o Gripen no mercado internacional com grande intensidade.
Alguns modelos A e B, usados, são propostos modernizados para a versão C e D, em uso pela própria Força Aérea sueca. A modernização é feita por meio de um kit de controle de armas e de sensores denominado MS19.
Mas a SAAB já está se preparando para oferecer, no mercado de caças usados, um Gripen com o kit MS20, que inclui a capacidade de a aeronave disparar os mísseis MBDA Meteor.
O Meteor vai se tornar operacional nos Gripens da aviação sueca em 2016.
E a SAAB não para de propor soluções arrojadas.
A companhia está desenvolvendo a versão Mk.4 do seu radar PS-05/A para os modelos C e D do caça. De acordo com Ahlqvist, o Mk.4 duplica os espectros de detecção do equipamento nos modos ar-ar e ar-terra.