Vamos focar em alguns aspectos sobre o livro em si e cores...
Primeiramente, a premissa do livro é; Uma pesquisa sem precedentes de cores e padrões de camuflagem de veículos militares da segunda guerra, das principais frentes de guerra. Pra isso foram usados o expertise de 4 dos maiores sábios do assunto, cada um na especialização de um país (Alemanha, USA, Inglaterra e Rússia). Steven Zaloga por exemplo é um ícone do nosso mundo a décadas, como Tony Greenland, Shepard Payne e tantos outros que escrevem a história do Hobby. Esse tipo de gente reunida resulta em trabalho sério, de pesquisa avançada e com a conta bancária e boa vontade de uma marca como a AK Interactive, key player no hobby atual bancando o projeto. Um dos autores é dono de uma empressa de aviação e pintura de aeronaves, que inclusive começa com o nome RLM. Estes autores respiram pesquisa sobre o assunto em pauta. O segundo ponto a destacar é a primeira página do livro, onde diz que a edição é limitada (Não diz a quantas unidades ainda) e que o livro foi impresso com as mais recentes e criteriosas tecnologias para que possamos ter um resultado equivalente ao das cores da época. Logicamente isto é impossível de realizar, ainda, mas eles dizem também que a margem de erro da impressão no livro pro chart de cores RLM original obtidos para pesquisa, teste e conclusão do livro é de 4% (Quatro Por Cento), ou seja, pro nosso uso como hobby é mais que suficiente. Além disso cada livro é individualmente assinado a mão por um vistoriador para garantir ainda mais a impressão dentro da margem de erro pré determinada. Aston Martin's tem esse nível de vistoria antes de serem despachados aos consumidores. Isso é inédito na publicação especializada em nosso hobby, pelo menos ao meu conhecimento.
Tendo dito isso, temos obviamente as variantes de cada fábrica, como temos um Quarteirão com queijo com gosto diferente no Brasil, da França (O de lá é bem mais gostoso), como temos do sabor da coca cola de máquina pra lata, mas tudo isso segue uma palavra mencionada aqui : Normatização.
A guerra e artigos militares são o ápice da normatização de produtos, logística e padrão de qualidade final. Tudo hoje que é militar é feito em um padrão de qualidade superior a produtos "consumer". Lanternas Surefire são as melhores do mundo. As botas da Oakley Elite Standard Issue são as melhores (e não vendidas a civis) do mercado. Um Hummvee é mais robusto que um H1 civil, e assim por diante. A normatização de produtos militares é a mais avançada hoje, e isso se extende a empresas que lidam com os dois mundos, como exemplo a empresa americana mencionada acima Surefire, que faz lanternas pra pesca e pra montar na .50 em veículos de guerra (Procurem a Surefire hellfighter no google). São chamadas empresas com contrato GSA.
Uma coisa que o livro mostra extesivamente, e talvez nem todos tenham lido a resenha completa e visto com detalhes as fotos com as partes extensas de texto, que mostram documentos e mais documentos alemães sobre diretrizes específicas (que eu nunca imaginei) de pintura de veículos. Cada pelotão tinha uma quantidade pré determinada de tinta a, b, c, com ratio medidos em quilos, e divididos por categorias intermináveis de peso, tração, artilharia e tudo mais que possamos imaginar. Os documentos originais alemães estão no livro, traduzidos integralmente, mostrando o nível de precisão ditada pelo Reich a pintura e fabricação dos veículos. É um trecho em que eu me impressionei muito, exatamente por não imaginar tanta diretriz, regras e precisão imposta a pintura de um Steyr por exemplo, em German Grey. Com essa informação vinda de documentos originais temos a concepção de que sim, eles estavam a procura de normatização e perfeição, seja lá qual fosse na época e pra eles.
A foto postada acima sobre uniformes é um ótimo exemplo, que encontramos também no livro sobre uniformes alemães que cito na resenha, do Jean De laGarde, que é maior bíblia de pesquisa de cores de uniformes alemães, um dos livros mais preciosos que tenho. Ou seja, uniformes, tecidos, variantes diversas de cores do mesmo "tipo". Mas isso pelo que o livro da AK nos prova que era mais rígido as "regras" de pintura de veículos, pelo menos até 1943, onde a pintura em campo, pressa e sinais de derrota apareciam na Alemanha, país onde estou exemplificando estes fatos. O resumos é, o livro nos prova que a variação de cor era mínima, a princípio. Tudo se baseia nas diretrizes e cartões de cores RLM / RAL e etc.
Vamos ao último aspecto, que é a reprodução de cores no kit. Eu tenho German Grey por exemplo de umas 8 marcas diferentes, de Tamiya a Polly Scale (extinta) e tudo que passa no caminho como Vallejo, AK, Ammo, Sets de modulação e demais (Não há acrilex ;-) ) e cada uma tem um tom. Cada um tem um resultado diferente. E isso é bom, eu escolho o tom predominante do kit se eu vou fazer o modelo muito sujo, com destaques de linha de painel, e etc. As cores que saíram junto com o livro (que estão a caminho para review) são formuladas na maior proximidade que a AK conseguiu fazer com base na pesquisa acima mencionada, e isso é muito bacana, pra nós. É uma empresa de produtos de hobby, chamando especialistas de história militar pra ajudar a criar um produto mais fiel ao nosso hobby, pelo menos aos que buscam fazer réplicas em escala. Mas entramos no fator artístico, que como todos sabemos, não há dois kits pintados iguais, nem por nós mesmos e nem por modelistas diferentes. Há novas técnicas de linha de painel, de modulação, de preto e branco, de alto contraste (mais usado em figuras, com acrílicos), luz zenital, e etc. Isso tudo é o toque artístico de cada um de nós ao nosso trabalho. E é também uma balança entre realidade e arte. A balança é imprecisa e a cada trabalho fazemos mais de um e menos do outro. Demorei pelo menos uma década de montagem séria pra abolir o dry brush do meu leque de técnicas, e hoje em dia meus trabalhos são mais realistas como réplica aos meus olhos do que antes com dry brush tradicional, sendo mais artístico pra criar o contraste e a simulação de luz e sombra como dizem os primeiros manuais de modelismo. Sou apaixonado pelos trabalhos em figuras de alto contraste com acrílicos, mas não sigo essa técnica, gosto de resultados meus com menos contraste, mas gosto de aerografar linhas de painel sutis e áreas mais claras nos modelos, e isso também é uma balança artística. Muitas vezes fica lindo (como alguns exemplo de modulação) mas é irreal como réplica. Muitas vezes vemos modelos extremamente realistas, mas que nos parece frios, sem contraste e visualmente sem apelo. Sempre haverá essa balança.
Sendo assim temos que olhar o livro acima pelo que é, um guia de informações e pesquisa de guerra sobre como eram pintados as nossas referências para realizar uma miniatura, nos dando fotos de documentos originais inéditos, argumentos e fatos de especialistas, e um guia que nos diz "este é o german grey normatizado, impresso e reproduzido da melhor maneira pela nossa fábrica e repassado a tinta que fizemos junto", mas em nenhum momento é uma regra ou lei sobre como devemos pintar nossos kits, nem sobre qual resultado você deveria ter e as consequências que você teria por ter feito um kit mais claro que o chart de cores impresso no livro. Se pensarmos no livro como um enorme prazer visual a nós que amamos o período, ele realizou a função. É um aglomerado de informações inéditas, fotos inéditas (e algumas confidenciais nunca antes publicadas) e história em geral. É apaixonante neste sentido e nunca há uma foto de um veículo dizendo "este é o german grey que você deveria usar a partir de hoje".
Com certeza virou um dos livros mais precisos da minha coleção, e espero que quem o tenha, veja essa perspectiva.
Abraços
julian