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Kit da Airfix do Sherman Crab na escala 1/76...

Usa o kit do Sherman M4A4 e faz a variante do mesmo com o sistema anti-minas que tinha um rolo preso ao casco e que fazia girar uma linha de correntes que ao bater no solo detonava as minas que porventura estivessem no caminho.   Não gostei do que seria no kit as correntes que ficavam presas ao rolo, aqui são finos sprues com uma bolinha na ponta com a intenção de parecer em movimento.  É uma boa substituir por uma corrente de elos pequeníssimos para dar um realismo maior.

Abaixo vou colocar a tradução do depoimento de uma pessoa que presenciou uma ação sangrenta envolvendo o uso desta arma...

 

Sherman Crab, Canhões e Tanques na Normandia

 

Nota do editor: Os alemães empregaram minas extensivamente na Normandia, usando minas antipessoal e anti-tanque. O uso aliado do mangual, tanques equipados com correntes rotativas, foi uma medida eficaz na limpeza desses obstáculos, embora o processo fosse inevitavelmente longo e cheio de perigos.

A entrevistada deste depoimento  era uma civil francesa de 25 anos à época dos fatos e vivia em uma fazenda na área do desembarque aliado em 1944

Transcrição da entrevista

Entrevistada :   Nós tivemos muitos problemas com os alemães durante a ocupação, culminando com a prisão  de meu primo acusado de atividades junto a resistência.    Nunca mais o vimos durante a guerra ou depois da guerra.  Por esta razão ficamos felizes quando chegou a invasão,  apesar do pesado bombardeio em toda a área por aeronaves aliadas. Estávamos alojadas então em um porão que nós cercamos com sacos de areia durante esta fase da guerra.

 

Nós vivíamos em uma fazenda na zona rural ao norte de Caen,  junto de um cruzamento de estradas vicinais, e nas semanas seguintes após a invasão assistimos a passagem de um grande número de tropas alemãs em retirada.  Nem todos eram alemães, havia muitos voluntários russos e de outras nacionalidades do leste europeu.   Os campos ao norte da nossa fazenda tinham sido minados pelos alemães na primavera, e as tropas em retirada derrubaram os sinais de alerta.

Nós pensamos que eles eram os últimos alemães que veríamos e estávamos na expectativa da chegada das tropas aliadas, no entanto, cerca de três semanas após o desembarque, com a situação ainda confusa, nós saímos do abrigo as primeiras luzes da manhã e nos deparamos com uma unidade com vários veículos e blindados alemães na estrada.  Eu já havia observado atividade alemã na região no ano anterior e passei várias notas informativas a respeito do tipo de armas e ações para a resistência, portanto estava familiarizada sobre nomes e detalhes técnicos dos equipamentos.

Neste dia, por volta das cinco da manhã, havia vários tanques do tipo denominado Panzer IV, com placas de blindagem presas ao lado e nas torres.   Eles estavam cobertos de galhos e folhagem, e os canos da arma estavam cobertos com redes.  Três desses tanques pararam em nosso pátio, fazendo frente para o lado norte, e começaram a carregar munições tiradas de um veículo tracionado por lagartas.

 As tropas usavam uniformes camuflados que nunca tínhamos visto antes em alemães, e as insígnias do crânio nazista em seus quepes e colares,  então percebemos que eles eram alguma forma de SS.

 Os soldados que iam fazendo o transbordo da munição eram extremamente jovens,  eu estimaria que a idade média deles era por volta de dezesseis anos de idade.     Eles trabalhavam neste carregamento freneticamente, gritando comandos e respostas em alemão. Alguns deles foram até nossa bomba de água e encheram seus cantis com água.  Outros entraram na nossa cozinha e saíram com pão e maçãs; nós não discutimos, é claro.

Um deles me disse em francês: "Quand tu viens chez moi, je te paye bien. '(‘Quando você vier a minha casa, eu te pago de volta’),  entretanto esses garotos estavam fixados em seu trabalho, seus olhos estavam cansados e seus rostos carregados. Eles exalavam um forte cheiro de suor, alguns deles bebiam água de cantis preso ao quadril. Eles davam a impressão de que poderiam fazer algo ruim, esse foi o meu sentimento na época.

O sol ainda não estava totalmente erguido no horizonte ao norte quando começamos a ver daquela direção flashes de luz e chamas junto com o som forte de explosões.  Eu estimo que a distância era de uns 3 quilômetros.  Estes alemães evidentemente sabiam sobre o campo minado na encruzilhada, porque eles estavam no nosso portão, apontando para os lados  e para os mapas. Um oficial que era mais velho que os rapazes olhou para mim e me disse em francês para deixar a fazenda.  No entanto, eu disse a ele que minha mãe, que estava no porão, não era capaz de se mover e eu não iria deixá-la. Ele deu de ombros e então me ignorou.

Mais dessas tropas começaram a chegar em caminhões, e um grupo deles montaram uma arma muito grande atrás de uma sebe na encruzilhada; Eu identifiquei isso como uma arma anti-tanque de 88 mm.

Eles cercaram a área com sacos de areia e entulho em torno dele rapidamente, e esconderam tudo sob uma rede.  Estava tão bem escondido que era difícil de ver, mesmo de perto. Os três tanques Panzer IV se afastaram ao longo da estrada entre os campos de minas, com grupos de rapazes armados sentados e agachados na parte de trás.

Entrei no meu porão e vi minha mãe.  Fui capaz de olhar através de uma janela da adega apenas um pouco acima do nível do solo, e que me dava uma visão das encruzilhadas, dos campos minados e da área ao norte.

De repente, todo o horizonte para o norte foi iluminado com uma cor vermelha e flashes brancos explodiam acima do solo. Estas foram explosões maiores do que qualquer coisa que eu já tinha visto ou ouvido,  e as ondas de choque das explosões sacudiram as ardósias no telhado, fazendo com que algumas delas caíssem e quebrassem na frente da minha janela.  Isso não foi nada comparado aos minutos seguintes, no entanto, ouvi  barulho de aeronaves, e eu vi que a estrada através do campo minado estava sendo coberta por chamas brancas de grande intensidade de brilho.  Essas chamas cuspiam línguas de fogo em longas espirais de fumaça; os britânicos disseram-me mais tarde que eram bombas de fósforo.

Eu não aguentei  olhar por muito tempo tal a intensidade do clarão e meus olhos começaram a arder.

Pensei então nos três tanques que estavam naquela estrada e que provavelmente haviam sido atingidos. Após alguns minutos em que nuvens ardentes subiam aos céus,  vi um desses tanques fazendo marcha-a-ré.

 Ele estava revertendo ao longo da estrada em chamas, e deixava um rastro de destroços e material em chamas  que lançavam faíscas brancas.  Suas placas de armadura lateral foram arrancadas do casco, e os trilhos de fixação ficaram retorcidos em uma posição louca, enquanto a placa da blindagem da torre estava em ângulos também impossíveis. Havia alguns soldados em cima do tanque, mas eles estavam caídos e seus uniformes em chamas.  Este tanque desacelerou no cruzamento, perto do canhão de 88mm, e começou a atirar na direção norte. Eu não podia ver através das chamas na estrada, mas eu via as linhas traçantes vermelhas dos projéteis que vinham da direção norte e que passaram voando por cima do canhão de 88mm e do tanque.  Depois de alguns segundos, uma dessas granadas atingiu o Panzer IV e suas placas de blindagem remanescentes voaram pelo campo minado.  Os corpos dos soldados que ainda estavam queimando em cima do tanque voaram longe e foram cair na estrada.      O Panzer IV continuou disparando, e também o 88mm, agora ambos aparentemente visando uma força atacante vinda do norte.

Eu estava desesperada preocupada que os Aliados pudessem não saber sobre o campo minado.

O canhão de 88mm disparava a cada dez segundos, com um som alto parecendo algo rachando.  O Panzer IV disparava com uma frequência maior e então uma das granadas aliadas atingiu nossa casa de fazenda, e eu senti o prédio tremer e vi a alvenaria cair no pátio e na estrada.

 Após alguns minutos desse barulho e caos, o tanque Panzer IV foi atingido na torre. De onde eu estava assistindo, no nível do solo, eu vi a torre levantar do casco, levantou-se e girou no ar. Eu vi claramente dois tripulantes ainda dentro da torre, completamente em chamas, seus corpos sendo lançados para a esquerda e para a direita como sacos de areia.  A torre aterrissou na estrada de cabeça para baixo, ao lado dos corpos das tropas que já tinham caído, e do casco do panzer  veio uma explosão enorme, com escombros atirados em todas as direções.

Eu pensei que este seria o fim da batalha, pois certamente a arma restante, o canhão de  88 milímetros, poderia fazer pouco contra este ataque, mas na verdade a violência escalou em torno de nós....

 

Continua...

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Eu vi um dos outros tanques Panzer IV voltar a estrada, soltando fumaça e estremecendo descontroladamente. Ele passou sobre os corpos de seus companheiros que estavam caídos na estrada, e empurrou para fora do caminho a torreta explodida do outro tanque. Eu ainda me lembro até hoje do tanque passando sobre os corpos e do rastro sangrento que ia deixando e dos pedaços de corpos que rodopiavam pelas suas rodas...

Não agüentei e vomitei, e quando olhei de novo, este segundo Panzer IV foi atingido pelos projeteis traçantes, fazendo com que as escotilhas da torre voassem para fora e aterrizassem a muitos metros de distância. Este tanque agora parecia estar fora de controle.  Ele desviou da encruzilhada e entrou no campo minado, espalhando terra por toda parte. Nada aconteceu por um momento, e depois houve uma explosão embaixo da sua lagarta que rolou fora das rodas.  Este segmento da lagarta que saltou fora tinha aproximadamente uns 10 metros de comprimento e se agitava como um chicote, enquanto o tanque girava em círculos. Finalmente a lagarta partiu-se e foi atirada longe, indo tão longe que voou em nossa casa, uma distância de cerca de 50 metros.  Eu acredito que outra mina explodiu, porque as rodas do tanque voaram para fora do casco, e então o tanque começou a expelir uma grande chama que partia da parte de trás onde fica o motor. Eu vi um homem, ou melhor, um garoto que tentava escapar do casco através de uma escotilha, mas ele estava preso abaixo da cintura, e lutava freneticamente para escapar até que as chamas começaram a fluir em sua volta,  jorrando através da escotilha em que ele estava.

Uma tempestade de projéteis traçantes vermelhos caia na posição do canhão de 88mm.   Mais telhas e reboco foram arrancadas da minha casa, e o tanque em chamas no campo minado foi atingido novamente várias vezes fazendo com que ele se partisse, mesmo quando o tripulante preso ainda lutava na escotilha em chamas. O convés do motor voou, e o motor queimava em uma chuva de fagulhas causando uma nuvem de fumaça oleosa.  O canhão de 88mm continuou a disparar, mas acho que a visão deles estava prejudicada pela fumaça dos tanques destruídos porque disparava mais intermitantemente.

Neste ponto, através das nuvens de fumaça e das bombas de fósforo, apareceu um grande tanque inglês, ele era um tanque do tipo Sherman, com uma silhueta muito alta. Tinha uma pintura surpreendentemente brilhante, de uma cor verde, e ainda se destacava contra a linha do horizonte iluminado. Veio até o limite da estrada e disparou contra a posição do 88mm, mas a arma anti-tanque disparou imediatamente, enviando dois tiros em sequência rápida. Eu podia ver o Sherman apenas no limite da minha visão, na estrada, e eu vi os dois projéteis de 88mm baterem na placa frontal, onde se inclinava para cima.  Um projétil ricocheteou e voou a uma grande distância, mas o segundo tiro parecia ter perfurado a couraça e o Sherman sacudiu visivelmente. Parou de avançar e atirar e alguns momentos depois as escotilhas se abriram e nuvens de fumaça saíram de dentro dele ao mesmo tempo que dois homens saíram e saltaram. Um intenso fogo de metralha partiu do posto do 88mm e pegou os homens que escapavam enquanto  eles ainda estavam pulando e pendurados no ar. Mesmo antes de eles alcançarem a terra, o tanque explodiu.  Um barulho alto e estridente veio do tanque atingido e uma chama muito alta veio da parte de trás onde fica o motor. Esta chama se espalhou rapidamente e engoliu a torre e os lados do casco, com gasolina queimando descendo o casco e atingindo os tripulantes que foram baleados quando saltaram.

O sol estava nascendo agora, e havia uma luz avermelhada surgindo da direção leste, contra o qual este tanque em chamas se destacava com uma clareza terrível,  com as chamas subindo mais alto que uma casa, cobrindo toda a máquina e os soldados caídos.   Eu estava tremendo, chorando e apavorada com o que presenciei, sem entender toda a violência a minha volta. Mas a coisa toda não cessou, de fato, depois de apenas um minuto,  uma série de explosões começaram a acontecer ao nosso redor e que eu imaginei que fosse fogo de artilharia vindo dos Aliados. Os impactos levantaram nuvens altas de terra e pedras no campo e ao mesmo tempo parecia que várias minas enterradas foram detonadas.  Uma das últimas explosões pegou a posição do 88mm em cheio e fez voar a grande placa quadrada  de proteção em uma direção e o cano da arma em outra, destruindo toda a rede de camuflagem.  Explosões começaram na posição do 88mm que eu penso deveriam ser as munições que lá estavam armazenadas.  Estas explosões duraram por cerca de meio minuto e então veio o silêncio, uma calma só quebrada pelos estalidos e as chamas dos tanques destruídos.  Fui até minha mãe e tentei tranqüilizá-la, e subi da adega para a própria casa. Havia buracos nas paredes e no teto, , mas sem fogo.  Eu podia ouvir gritos em alemão e espiei através de uma das nossas janelas quebradas.  Os soldados alemães estavam se reagrupando perto do 88mm destruído e ocupando posições atrás do Panzer IV que queimava na estrada, entre os corpos mutilados dos seus companheiros. Eles começaram a apontar na direção do campo e eu me esforcei  para ver o que se aproximava agora.

Eu ouvi um barulho louco e rítmico, um barulho de metal batendo e ao mesmo tempo a terra começou a vibrar sob meus pés e as cortinas se agitaram. Eu vi uma nuvem de poeira no campo, e pedaços de terra sendo espalhados como se um tornado estivesse vindo pelo chão. Foi assim por um instante e logo vi que este era outro tanque, mas diferente de qualquer tanque que eu já tinha visto antes.

Este era um Sherman com um enorme tambor giratório fixo na frente que estava girando em alta velocidade. Neste tambor havia muitos cabos ou correntes, com muitos metros de comprimento, que eram impressionantes e que alcançavam o chão antes do tanque e que detonavam  as minas com uma chuva de terra e de detritos.

Tudo o que este tanque tocava era esmagado e triturado, esta foi a primeira vez que vi este tipo de tanque e eu acho que deve ter sido a primeira vez também para os alemães  porque alguns deles se afastaram e começaram a correr.  Um dos soldados alemães, o mais velho, disparou contra os fugitivos e abateu um deles usando uma pistola-metralhadora do tipo que chamamos de “Schmeiser”,  os outros se reuniram em torno deste líder, que era um rapaz alto, muito loiro, vestido com um uniforme camuflado e que não devia ter mais de 17 anos de idade. Ele tinha sangue escorrendo do rosto de uma ferida na cabeça e ele gritou ordens enquanto o grande tanque avançava na direção onde estavam agrupados os soldados, esmagando o chão com suas correntes giratórias. Claramente estava limpando o caminho através do campo minado para os outros seguirem, e por trás dele, esse tanque ia desenrolando linhas de fita branca para marcar a passagem segura. Essas fitas brancas esvoaçavam  sopradas pela brisa.

Os garotos alemães tinham com eles uma arma do tipo bazuca,  e o líder se ajoelhou, apontou e disparou contra o tanque que avançava.  Estava talvez a uns 250 metros de distância no campo. O foguete da bazuca moveu-se devagar, lembro-me, mas foi preciso, e atingiu o tanque de lado, no tambor girando, fazendo com que o braço de suporte se soltasse.

Por um momento, os garotos alemães ficaram olhando o que haviam conseguido, talvez incapaz de acreditar. O tambor inteiro, um invólucro de aço de vários metros ergueu-se de suas montagens e se estendeu no ar, ainda rodopiando em alta velocidade, com as correntes e cabos voando no céu azul da manhã.  Ele caiu a certa distância no campo, e o próprio tanque, que o carregava e que continuava a avançar, bateu em uma mina que as correntes do tambor ainda não tinham tocado.   As lagartas do Sherman romperam  e embora ele parasse em uma nuvem de poeira, sua principal arma, o canhão, moveu e se inclinou em um ângulo que apontava para os alemães, disparando sobre eles.

Os garotos da SS se dispersaram e correram.  Devo dizer que eles se pareciam muito com crianças naquele momento,  mas estas eram crianças que passavam por um momento terrível....

 

Continua...

Last edited by Wolf

O Sherman atingido começou a queimar lentamente, com o combustível vazando e pegando fogo em poças ao redor do chão. Vi três tripulantes escalarem para fora das escotilhas, mas a cada vez que eles se levantavam na torre ou no topo do casco, os alemães atiravam neles. Um tripulante permaneceu caido sobre sua torre, segurando uma submetralhadora, enquanto as chamas cresciam em volta do tanque. Atrás do tanque, as fitas brancas que ele tinha aberto estavam à deriva através da fumaça no campo.   Um barulho de tambores e vibração na terra foi crescendo, e outra nuvem de poeira surgiu, outro tanque Sherman com correntes girando estava se aproximando para terminar a tarefa de seu companheiro. Este tanque apareceu rapidamente, o tambor girando em um frenesi absoluto, e vi que seu cano da arma já estava abaixado e disparando através das correntes girantes para os grupos dispersos de jovens alemães ao redor da encruzilhada.   Este tanque desviou seu caminho ao redor do companheiro que estava queimando e ia se aproximando, imprudente do perigo do lançador de foguetes que acabara de destruir a primeira tentativa.

Os alemães dispararam um foguete, mas ele passou longe do tanque que vinha se aproximando, e eu vi o seu rastro de faíscas desaparecendo no céu pálido além da fumaça. Antes que a SS pudesse disparar outra, o Sherman atirou sobre os alemães com alto explosivo e muitos dos alemães foram lançados no ar entre a terra empoeirada do campo.

Eu pensei que esta batalha terrível poderia finalmente estar no fim, mas ainda não.  O jovem alemão loiro ainda estava ativo, e ele correu para o campo, segurando apenas a Schmeiser, onde se plantou com os pés separados em frente ao tanque, não se importando com as pedras e terra que caiam sobre ele vindo daquele turbilhão provocado pelas correntes ao girar. Este rapaz disparou muitos tiros de sua Schmeiser, mas as balas, claro, eram irrelevantes para o tambor gigantesco que girava em sua direção.

O Sherman não hesitou ou desviou do seu caminho. As muitas correntes, girando a sua velocidade poderosa, desceu sobre o alemão enquanto ele estava tentando recarregar sua arma e ele foi simplesmente cortado em pedaços pela força dos links de metal.

Aquele Sherman não parou por aí. Eles continuaram a operar seu cilindro rolante, tamborilando as enormes correntes ao redor da encruzilhada, e, para meu choque, através dos corpos dos soldados mortos, feridos e queimados na estrada, passando mesmo sobre a torre do Panzer IV destruído e dos restos do canhão de 88mm e sua tripulação. As partes de metal do canhão, os corpos dos soldados e outros detritos foram lançados em torno a muitos metros de distância em nosso campo.

Fiquei em choque com este ato da tripulação dos tanques aliados. Para mim, que esperara tanto tempo pela libertação, isso parecia uma forma de vingança, ou como uma profanação desnecessária de cadáveres e o massacre dos feridos, embora os alemães  fossem meus inimigos também.

Quando o tanque finalmente parou, e mais tanques e a infantaria vieram através dos caminhos no campo minado para garantir a encruzilhada,  sai correndo e gritando de casa, desesperada, confrontei o comandante do tanque Sherman, vermelho de sangue e sujo com partes de corpos e detritos.  Eu estava confusa e estressada, e gritei com ele enquanto descia da torre do tanque. Ele era um canadense, com cerca de vinte e cinco anos, e embora falasse francês canadense,  não estava interessado em meus protestos.

Enquanto eu gritava para ele, ele colocou a mão sobre sua pistola. Seus olhos estavam raivosos e aturdido, e me olhou como se eu fosse um inimigo.

Um dos oficiais de infantaria canadense, que falava francês, me levou de lado e explicou que haviam perdido muitos homens para esses SS, e que eles escondiam bombas pelo caminho, entre veículos, objetos e mesmo cadáveres e que por esse motivo eles não arriscariam com eles vivos ou mortos.

Ainda em lágrimas fui examinar os destroços da minha casa, minha fazenda, focos de fogo e os tanques e os corpos que estavam espalhados por toda parte ao nosso redor.

Mais tarde, no dia seguinte, os canadenses trouxeram uns poucos prisioneiros alemães para limpar as partes  e os corpos dos alemães espalhados, sob escolta armada.  Havia muitas moscas ao redor, e os pássaros estavam pegando em muitos pedaços de carne. Isso foi acontecer na minha fazenda inocente, que era como um jardim do Eden antes da guerra. Os corpos das tropas canadenses mortos foram levados por médicos canadenses sob a direção de um padre do exército.

Este padre era católico, e ele fez algumas orações comigo e com minha mãe na nossa adega, entre as ruínas da nossa casa.

Uma última coisa que tenho a dizer sobre essa batalha.   Alguns anos depois da guerra, acho que foi em 1948, eu recebi  uma carta pessoal do comandante do tanque anti-minas canadense que eu tinha protestado tanto sobre a dilaceração dos feridos e dos cadáveres.   Ele escreveu em francês e endereçou apenas para a minha região de referência na encruzilhada, mas ainda assim foi entregue.  Eu lembro-me que o endereço postal era de Vancouver.

Sua carta dizia que, apesar de sua aparente indiferença na época, ele agora estava muito perturbado com os acontecimentos na Normandia, especialmente com relação aos jovens soldados alemães que ele matou, muitos ainda parecendo crianças. Ele me perguntou em sua carta o que mais ele poderia ter feito para proteger seus próprios homens. Ele me disse que achava difícil dormir e que ele estava infeliz.

Devo confessar que peguei a carta dele e rasguei, jogando o papel picado ao vento que espalhou os pedaços pelo campo...

 

Last edited by Wolf

Excelente achado, Wolf!

Narrativas de testemunhas oculares de combates com esta proximidade e até mesmo com muito mais detalhes são um verdadeiro tesouro para quem gosta do assunto.

Muito obrigado por compartilhar!

Abraços,

Gelson 

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