Bom dia.
A China, nesse momento, pode enviar navios ao Mediterrâneo mas, em hipótese alguma, irá tomar partido num hipotético confronto armado entre EUA e Rússia.
O motivo é bem simples, apesar de ainda pouco conhecido atualmente.
Após inundarem o mundo, principalmente os EUA, com seu produtos, ruins ou não, eles produzem divisas, a China está solapando a base russa na Ásia Central, inicialmente, com os tratados de compra de petróleo e trigo do Cazaquistão, há alguns anos.
O passo seguinte foi, aproveitando a sua influência e estabilidade no país, mais o seu poder econômico, firmar novos tratados em infraestrutura com os outros países da área (Uzbequistão, Quirquistão, Tajiquistão e Turcomenistão).
A China estava criando o que seu presidente Xi Jinping denominou, pela primeira vez, num discurso em Astana, em 2013, o Economic Belt, a ser construído ao longo da antiga Rota da Seda.
Com esse pensamento macro, dinheiro, vontade política e a parceria dos países da área, a China pode projetar, executar e estar em vias de concluir uma autoestrada de 10.000 km de extensão que levará seus produtos desde as suas fábricas, na China central até a Alemanha, passando pelos países acima, mais um trecho dentro da própria Rússia, numa concessão perigosa de Putin, pelas implicações estratégicas e políticas.
Hoje, já existe uma ferrovia, que não passa pelo território russo (alternativa à rodovia, na verdade, um plano B chinês) que transporta 1000 containers por dia para à Europa (diga-se Alemanha), em 16 dias, ao invés das 8 semanas que os enormes porta-containers (não tão grandes pois não passariam pelo Canal de Suez) levam, via Mar da China, Estreito de Malaca, Índico, Canal do Suez e Rotterdam.
Ao colocar alternativas logísticas ao seu comércio exterior, a China alivia as pressões nas suas disputas fronteiriças, físicas e políticas, com Coréia do Norte, Tajiquistão, Índia, Vietnam e Japão. Com a Rússia, essas disputas foram resolvidas com o Tratado de Boa Vizinhança e Cooperação Amistosa assinado em 2001.
O projeto todo, tanto terrestre quanto marítimo, custará à China um investimento de US$4-8 trilhões. É muito dinheiro para arriscar com as miopias políticas e econômicas de Putin e Trump.
Nesse imenso jogo estratégico e comercial, quem acabou se ferrando foi o Egito que, apesar da duplicação do Canal de Suez, verá diminuir a tonelagem/ano com a significativa ausência de cargas chinesas e também a Grécia que estava com a forte esperança de se transformar em um gigantesco centro de distribuição de bens chineses vindos por via marítima e agora verá grande parte desses bens passarem, via férrea, "lá por cima".
É por isso e muito, muito mais que a China praticamente entronizou o presidente Xi Jinping no cargo de presidente da República chinesa visando dar estabilidade política e unidade à cúpula diretiva do partido comunista.
Os desafios internos e externos da China no futuro são muito grandes. Com o segundo orçamento militar, segundo alguns analistas, o primeiro segundo outros, é, porém, na diplomacia e no uso das suas imensas reserva monetárias que a China planeja firmar-se como a maior economia do mundo até, talvez, 2030.
Por outro lado, essa situação na Síria esta sendo usada pelo países ocidentais, em especial os Estados Unidos, e alguns países do Oriente Média, Arábia Saudita à frente, para desgastar a combalida economia russa.
Fizeram isso na Guerra Fria. Para dar "segurança à Europa", os americanos criaram um cinturão armado ao redor do Pacto de Varsóvia, que procurou, capitaneado pela então USSR, ir em busca de novos armamentos, novas estratégias, novos desafios militares, destruindo as suas economias e até hoje sem recuperar-se totalmente.
E aí o tolo e perigoso Putin resolve tornar-se um novo Stálin, o paizinho de todos os russos, e recriar a grandeza territorial dos tempos mais negros da história russa...
Com o preço do óleo baixo e a comercialização das suas riquezas naturais tendo que arcar com grande parte do orçamento público russo, inclusive militar, as coisas estão se encaminhando rapidamente para uma encruzilhada que, independente do caminho seguido, irá dar ao povo russo muita dor e sofrimento. Mais uma vez...
Esperemos que tudo não passe apenas da morte de alguns sírios gazeados miseravelmente como ratos nos desertos áridos de um país perdido num canto qualquer do tabuleiro geopolítico do mundo.
Quem viver...verá.
Abs.