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Amigos, seguindo a minha tradição de traduzir textos (já traduzi e publiquei alguns aqui, notadamente sobre o ataque que liberou gás mostarda na Segunda Guerra Mundial, a história do B-24 Lady Be Good, a introdução do livro Ivan da historiadora Catherine Merridale entre outros) começo hoje a publicar aqui mais uma história dentre as várias que compõe as batalhas da Segunda Guerra Mundial.

O texto em questão é sobre o desembarque na praia de Omaha no Dia D (6 de junho de 1944) e que faz parte do livro The Dead and Those About to Die (Os mortos e aqueles que vão morrer) do autor John McManus.   Este livro em especial trata sobre o desembarque da 1ª Divisão de Infantaria dos EUA (The Big Red One) no local.  Ao contrário do que muitos imaginam, a maior cobertura sobre este desembarque foi feita com relação à outra divisão, a 29ª de Infantaria (inclusive é a divisão e o local onde ocorre o desembarque mostrado no filme O Resgate do Soldado Ryan).  Essa é uma das razões que levou o autor a trabalhar com a Divisão que não recebeu tanta cobertura assim.

Traduzi dois capítulos sendo que o primeiro trata sobre as defesas do local (Parte 1) e o no segundo desembarque em si (Parte 2).  Vou aproveitar e colocar algumas imagens (que não estão no livro) e que ajudarão a mostrar melhor tanto o local quanto as disposições das defesas. 

Aviso que o texto é longo e, como sempre, o disponibilizarei em tópicos para tornar a leitura mais agradável.  Não sei quantos tópicos serão ao todo, mas serão bastantes! 

Espero que gostem.

Abrsssss,

A Raguenet

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Tópico 1

Parte 1 - O cenário

O mar batia incessantemente contra as pedras e os cascalhos na praia de Omaha.  O cheiro do mar salgado, da areia e da vegetação molhada impregnava o ar.  Para a guarnição alemã, o som ritmado das ondas tinha se tornado tão familiar que os soldados nem mais prestavam atenção.  O mesmo acontecia com relação às gaivotas que planavam majestosamente ao longo da costa, mergulhando contra as suas presas, atingindo a água para então voltar rapidamente ao céu.  Seus guinchos estridentes tinham se tornado parte do ambiente deste trecho de costa úmido, açoitado pelo vento, enevoado e nublado tanto quanto o solo argiloso e compacto, o pasto verde, o cheiro intenso dos produtos derivados do leite e as pequenas e pitorescas cidades de casas sólidas de pedra e das igrejas com seus campanários.  No entanto, os alemães também tinham acrescentado a sua própria contribuição para este pedaço da Normandia.  Através de um esforço árduo e exaustivo – a ponto dos homens se sentirem mais como obreiros do que como soldados – eles construíram um conjunto formidável de fortificações para defender esta parte da costa de Calvados.  As defesas foram projetadas em torno de pontos fortificados que os alemães chamavam de Widerstandsnest ou simplesmente WN; os aliados eventualmente os chamavam de “ninhos de resistência”.  Os WNs estavam localizados geralmente no entorno das cinco saídas naturais da praia, cada uma criada como vales em meio a encostas formadas ao longo de milhares de anos de vento, chuva e erosão.  Cada uma das três saídas no setor da 1ª Divisão, de leste a oeste e identificadas respectivamente como F-1, E-3 e E-1, possuía um pequeno caminho mas nenhuma das três estava pavimentada o suficiente, ou era mesmo larga o suficiente para suportar blindados ou outros veículos pesados.  Tanto os americanos quanto os alemães compreendiam que estas Saídas, ou Eixos, proporcionavam a única maneira viável para sair da praia.  A infantaria teria que tomar estes Eixos; os engenheiros viriam depois para transformar em verdadeiras estradas, capazes de suportar uma grande quantidade de veículos e o fluxo de tropas.

Omaha é uma praia em formato de lua crescente, quase côncava, incrustada entre penhascos localizados nas suas pontas (Rommel uma vez comentou que ela o lembrava de Salerno, na Itália, onde os aliados desembarcaram no ano anterior).  A praia se inclina por vários metros a partir do mar até uma estreita faixa de cascalhos composta por uma camada de pedras do tamanho de um punho e que se projeta para cima em um ângulo de 45°.  Para além desta faixa há penhascos e vales.  “Penhascos de 30 a 50 metros de altura se elevam abruptamente a partir do solo e dominam toda a área da praia” escreveu um historiador oficial do Exército.  “As encostas são geralmente íngremes, mas de formato variável.  A grama que cobre as encostas, apenas quando vista de perto, é mais desnivelada do que aparenta ser.  Da Saída E-1 em direção a leste (no setor da 1ª Divisão), as paredes dos penhascos são cobertas por uma mata rasteira e por arbustos.  Ao longo da maior parte do trecho, os penhascos terminam em uma crista bem definida quando passa a fazer parte da extremidade do platô que se estende ao interior; na ponta a leste onde as encostas são mais extensas e menos inclinadas, a crista não é tão bem definida.” Basicamente, um par de elevações salientes dominavam a praia – era um terreno ideal para defesa proporcionando aos alemães belos campos de tiro e de observação.  Para além da praia se estendem planícies e as cidades de Carbourg, Colleville-sur-Mer e Saint Laurent-sur-Mer além dos campos delimitados pelas cercas vivas.

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Tópico 2

Ao longo da metade leste da praia de Omaha, em uma extensão de 3.500 jardas (3.200 metros) onde a 1ª Divisão estava programada para desembarcar, os alemães tinham preparado 6 pontos distintos de resistência numerados de WN-60, na ponta leste, a WN-65 na Saída E-1 a oeste.  Cada um dos WN estava rodeado de minas, arame farpado e valas anti-tanques.  Todos continham numerosas fortificações que eram comumente e indistintamente chamadas pelos soldados americanos de bunkers, casamata e abrigos.  Geralmente elas eram construídas à base de ferroconcreto em uma consistência mais áspera do que lisa e reforçada com barras de aço.  O WN-60 estava localizado em um penhasco a mais de 100 pés (30 metros) acima da praia e possuía vários redutos de concreto, todos interligados por meio de trincheiras em forma de ziguezague.  A parte sudeste do WN-60 era ancorada em um Tobruk (denominado dessa maneira em função das posições italianas no norte da África).  Um Tobruk era basicamente uma trincheira feita de concreto reforçado onde poderiam ser instalados morteiros, metralhadoras ou, como era o caso aqui, a torre de um tanque Renault.  Um outro Tobruk no centro deste ponto de resistência continha um morteiro.  Perto dali havia um canhão flak de 20mm com um campo de visão dominante sobre toda a praia.  Mais dois Tobruks de morteiros estavam localizados na face oeste, enquanto que outro ficava atrás, no lado voltado para o interior.  A peça principal do WN-60 era uma casamata com um canhão de 75mm virado para oeste, exatamente para a praia.  Havia igualmente um ponto de observação de concreto e abrigos para as tropas também de concreto.  Um grupo do tamanho de um pelotão de 40 homens sob o comando do Sargento Eberhardt guarnecia o WN-60.  Eles tinham uma visão espetacular de toda a extensão da praia de Omaha.

Um pouco para oeste, no outro lado do vale conhecido pelos americanos como Eixo Carbourg ou Saída E-1, o WN-61 estava localizado diretamente de frente para o mar e para a praia plana que se espalhava em direção a oeste partir do penhasco.  WN-61 continha três Tobruks, um com uma torre de tanque Renault e dois com metralhadoras e lança-chamas.  Um canhão anti-tanque de 50mm em uma casamata ficava apontado para oeste.  A arma mais poderosa do WN-61 era, sem dúvida, um canhão PAK de 88mm localizado em uma casamata de concreto que fornecia quase que proteção completa para sua equipe e que tinha apenas uma pequena fresta pela qual se projetava o cano ameaçador.  A casamata tinha sido projetada para proteger os artilheiros do fogo dos canhões de tanques e navios.  O seu campo de tiro controlava toda a praia de Omaha.  O canhão poderia enfrentar tanto tanques quanto lanchas de desembarque e soldados.  Na realidade este 88 cobria toda a praia em combinação com outro localizado no WN-71 que vigiava o eixo Vierville-sur-Mer na ponta oeste de Omaha, setor da 29ª Divisão.  Doze soldados alemães, sob o comando do Sargento Major Schnuell, constituíam a guarnição do WN-61.

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Tópico 3

Algumas centenas de jardas a oeste, o chão suavemente se inclina para baixo por 70 jardas (64 metros) a partir de um vale (Saída E-3 ou Eixo Colleville) em direção à praia agora completamente aberta.  Lá os alemães construíram o formidável WN-62.  Em função da sua localização ideal e da variedade de armamentos, WN-62 era um dos mais desafiadores de todos os pontos de resistência, não apenas em Omaha mas de toda a Normandia.  A partir deste ponto, a guarnição alemã composta por uma mistura de 35 soldados da 716ª e da 352ª Divisões de Infantaria podia cobrir cada centímetro da praia com suas as armas.  O WN-62 era um sistema fortificações de concreto em anéis concêntricos com uma circunferência de 500 jardas (457 metros) dentro de um cinturão de minas, arame farpado e valas anti-tanques.  Este ponto de resistência era pontilhado com uma variedade alarmante de dispositivos letais: um trio de Tobruks com morteiros de 50mm (embora um dos Tobruks tivesse apenas um par de soldados ao invés de um morteiro); uma casamata com um canhão anti-tanque de 50mm camuflado; um bunker anti-aéreo com um par de metralhadoras; um bunker de observação perfeitamente localizado para artilharia (conhecido entre os alemães como B-Stelle) de onde o tenente Bernhard Frerking poderia requisitar, a partir do interior, o apoio preciso de 4 canhões de 105mm da 1ª Bateria do 352º Regimento de Artilharia; dois lança-chamas automáticos que dominavam o Eixo; outro canhão anti-tanque de 50mm voltado para o Eixo; três bunkers com metralhadoras localizados de forma a saturar a praia, mais um par de casamatas de concreto reforçadas ao extremo que abrigava canhões tchecos de 75mm, ambos posicionados para controlar a praia e se proteger contra a artilharia naval.  Atrás do WN-62 um bunker subterrâneo de dois cômodos era utilizado como alojamento completo com beliches de madeira para as tropas.  Cada cômodo poderia abrigar 8 homens que dormiam em finos colchões de palha.  Trincheiras em ziguezague conectavam a maioria das posições embora elas não estivessem prontas até o dia 6 de junho.  Os alemães botaram abaixo a maioria das edificações ao longo da praia de Omaha.  Porém, a leste do WN-62, eles mantiveram uma antiga residência de forma a usarem como quartel-general e refeitório.  Soldados tanto do WN-62 quanto do WN-61 faziam suas refeições neste local.  Inicialmente um deles, que na vida civil tinha sido um confeiteiro, foi empregado como cozinheiro.  Mas ele foi dispensado quando um dia o Cabo Valentine Lehrmann encontrou dois ratos dentro de uma panela de sopa.  Porém, o cozinheiro substituto era tão ruim que, ao final das contas, o confeiteiro foi readmitido a pedido dos seus companheiros.

O WN-63 estava localizado mais para o interior, na periferia de Colleville e, na realidade, era um pouco mais do que um bunker subterrâneo de concreto que servia de comando.  Dois centros de resistência, WN-64 e WN-65, cobriam o vale Ruquet, conhecido pelos americanos como Eixo Saint-Laurent ou Saída E-1.  O WN-65 vigiava a parte leste do Eixo, mais ou menos onde hoje está localizado o cemitério americano.  As defesas originalmente estavam voltadas para oeste, diretamente para o vale.  Elas incluíam um par de Tobruks para morteiros, um canhão flak de 20mm, um canhão de fabricação soviética de 76.2mm situado junto a uma casamata inacabada, além das costumeiras trincheiras em ziguezague e outros abrigos.  Do outro lado do Eixo estava o WN-65.  Nele, as fortificações estavam voltadas para leste cobrindo também o vale e a praia.  O ponto principal desta fortificação era uma casamata inteiramente nova que abrigava um canhão anti-tanque de 50mm pronto para destruir qualquer veículo que entrasse pelo vale.  À frente da casamata, havia dois Tobruks de morteiro que poderiam cobrir toda a praia com suas granadas.  Perto dali, um outro canhão de 50mm foi colocado dentro de um fosso, camuflado e o local reforçado com terra.  Mais para o interior, outro canhão de 75mm, protegido apenas por troncos de madeira, defendia o Eixo.  Felizmente para os americanos nem o WN-64 e o WN-65 estavam completos quando do Dia D embora ambos fossem obviamente pontos ainda de resistência relevante mesmo considerando o seu estado inacabado.

Assim, somando à praia repleta de obstáculos e minas, Eixos permeados com mais minas, fossos anti-tanques, pântanos, arame farpado além de um terreno difícil, a 1ª Divisão deveria encarar uma gama de armas inimigas: pelo menos 13 canhões localizados em abrigos bem preparados e bem posicionados, dois Tobruks com torres de tanques, dois canhões de 20mm, dois lança-chamas automáticos, uma dúzia ou mesmo uma dúzia e meia de morteiros (cada um deles podendo atirar entre 15 e 25 granadas por minuto) e mais de 40 metralhadoras, muitas das quais protegidas em abrigos de concreto além de vários soldados.  O equivalente a quatro Companhias alemãs, número próximo a um batalhão desfalcado de aproximadamente 400 a 500 homens vindos de ambas as 716ª e 352ª divisões, defendiam o setor de desembarque da 1ª Divisão dos EUA.  Isso sem mencionar as companhias reservas da 352ª estacionadas no interior e posicionadas para contra ataques.  Mais ainda, a praia estava sob total mira da artilharia alemã localizada também no interior.  Além das baterias de Nebelwerfer em Saint-Laurent, 24 canhões de 105mm estavam posicionados de modo a atirar contra os locais de desembarque da Big Red One.  Felizmente os alemães não tinham uma efetiva cobertura naval nem aérea para defender a praia.  Mesmo assim as defesas, quando combinadas com este terreno hostil, eram letais o suficiente para infligir um grande número de baixas e impedir o próprio desembarque especialmente se os alemães conseguissem reforçar o relativo pequeno número de soldados estacionados nas posições à praia.  Era este o desfecho planejado por Rommel embora, no início de junho, ele ainda achasse que as defesas de Omaha não eram ainda sólidas o suficiente para realizar o seu sonho.

Praia om pedras

Figura 1 - Uma foto atual da Praia de Omaha mostrando da esquerda para a direita a faixa de areia, os cascalhos e, logo depois, as elevações de onde os alemães tinham uma posição privilegiada de todo o entorno

Mapa 1

Figura 2 - Um mapa detalhado com o posicionamento dos pontos de resistência (WNs).  Reparem que, na parte de cima de cada setor da praia, está teoricamente a disposição do desembarque de cada regimento.  A 1ª Divisão (Big Red One) estava alocada para desembarcar entre o WN-60 e o WN-65.

Porém, na praia em si, está a disposição em que realmente cada regimento desembarcou mostrando o aglomerado que deu lugar à subsequente desorganização.

 

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Até hje não entendi do por que tanto desperdicio de recursos nesta praia sendo que os demais setores não ofereciam grande resistência, será que não poderiam ter isolado este setor, garantir as demais praias e só depois avançar sobre este ?

Tópico 4

Enquanto isso, o plano de assalto da 1ª Divisão do Exército dos EUA era constituído por uma interação entre treinamento intenso, coordenação integrada entre tropas, cooperação inter-serviços, poder de fogo e inovação.  A praia foi dividida de forma aproximadamente similar entre o setor Fox Green a oeste, adjacente ao penhasco defendido pelo WN-60, e o setor Easy Red cujas areias a oeste faziam limite com a Saída E-3 e os WN-64 e WN-65.  Após o bombardeamento naval e aéreo (de aproximadamente 40 minutos), o desembarque nessas duas praias deveria acontecer em um cronograma extremamente preciso.  Às 0625, 5 minutos antes da Hora H, duas companhias de tanques anfíbios especialmente projetados (denominados DD ou Duplex Drive), depois de cruzarem o mar por 5.000 jardas (4,5 km) até a costa, atacariam as praias Fox Green e Easy Red respectivamente.  A Companhia B do 741º Batalhão de Blindados estava designada para Easy Red e a Companhia C, do mesmo Batalhão, para a Fox Green.  Cada Companhia possuía 16 tanques.  Sua função era de se espalhar ao longo da margem e desferir fogo de cobertura a partir dos seus canhões de 75mm contra as posições alemãs.  Eles seriam seguidos, 5 minutos mais tarde (às 0630, ou Hora H) pela Companhia A do 741º Batalhão de Blindados, uma unidade não anfíbia equipada com tanques M4 Shermans normais e Shermans Tratores (Dozers) especialmente preparados para limpar o terreno e obstáculos.  Estes seriam desembarcados em ambas Fox Green e Easy Red por oito navios de assalto anfíbio conhecidos como Landing Craft Tanks, ou LCT.  Tal como os seus companheiros das Companhias B e C, as tripulações dos tanques da Companhia A deveriam também desferir fogo de cobertura.  O mesmo se aplicava aos canhões alto propulsados a bordo dos navios de desembarque localizados ao largo da costa.  Enquanto esperavam para serem desembarcados, eles deveriam abrir fogo contra alvos ao longo da praia.  Um minuto mais tarde, às 0631, quatro companhias de infantaria do 2º e 3º Batalhão, 16º Regimento de Infantaria, chegariam nos barcos Higgins para iniciar o assalto principal - a Companhias I e L na Fox Green, Companhias E e F na Easy Red.  Dois minutos mais tarde, as Equipes de Assalto desembarcariam para lidar com obstáculos e minas.  Toda esta sequência constituía a primeira leva, embora houvesse equipes pioneiras da Divisão compostas por engenheiros, observadores de artilharia, tropas de reconhecimento entre outros.

A segunda leva, consistindo nas Companhias K e G, só desembarcaria às H + 30 minutos, ou seja, às 0700.  Elas seriam apoiadas pelas metralhadoras dos meia-lagartas M16 pertencentes ao 397º Batalhão de Artilharia Anti-Aérea.  Dez minutos mais tarde as Companhias M e H com metralhadoras pesadas e morteiros deveriam desembarcar em Fox Red e Easy Green respectivamente.  Às H + 50 minutos, as Companhias A e C do 81º Batalhão de Morteiros desembarcariam fornecendo mais apoio de morteiros aos soldados que, segundo as expectativas dos planejadores, já deveriam estar avançando pelos Eixos naquele momento.  Aproximadamente uma hora depois do início do desembarque, às H + 70, o 1º Batalhão da 16º Regimento de Infantaria desembarcaria com as Companhias A e C à frente.  A Companhia B seguiria 10 minutos depois.  Às H + 90, a Companhia D de Armamentos Pesados do Batalhão desembarcaria seguida pelo 62º Batalhão de Artilharia de Campo.

 

DD-Tank

Figura 3 - Foto da época de um Sherman Duplex Dive (ou Sherman DD) com a "saia" feita de lona arriada.

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Figura 4 - Outra foto da época mostrando um Sherman Duplex Drive com a "saia" levantada.  É possível ver, no canto inferior à esquerda, as hélices propulsoras que eram utilizadas uma vez que o tanque estivesse na água.  O nome Duplex Drive significa que o tanque tinha duas forças propulsoras, a original através das esteiras (lagartas) e a secundária através de hélices quando o blindado estivesse na água.

 

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Tópico 5

Das H + 105 até H + 130 desembarcariam os destacamentos do QG, as Companhias de Artilharia, elementos de retaguarda, veículos das Companhias de Infantaria, mais meia-lagartas de apoio pertencentes ao 197º Batalhão de Artilharia Anti-Aérea, três baterias do 7º Batalhão de Artilharia de Campo além de engenheiros e médicos da Divisão.  À esta altura, já estaria em terra a maioria do 16º Regimento de Infantaria do Coronel George Taylor (frequentemente chamado de "Equipe de Combate Regimental" em razão de se caracterizar pelo uso integrado de tropas necessárias à invasão).  Sua missão era de guardar a praia, os Eixos, o terreno elevado acima da praia de Omaha e patrulhar em direção ao interior.  Além disso, os soldados do 16º deveriam dar cobertura aos desembarques subsequentes de outros dois regimentos da Divisão.

O 18º Regimento de Infantaria do Coronel George Smith (ou "Equipe de Combate Regimental") estava programado para iniciar o seu desembarque na Easy Red três horas após a Hora H.  Sua missão era de juntar-se ao 16º e, de acordo com as ordens recebidas antes da invasão, "avançar o mais rápido possível para o setor alocado, capturar os objetivos, preparar o terreno elevado a leste de Trevieres para defesa".  Isto queria dizer, basicamente, que o 18º deveria investir para o interior enquanto mantinha contato com o resto da Divisão e, gradualmente, avançar para leste de modo a estabelecer contato com a 50ª Divisão de Infantaria britânica vinda da praia Gold.  O 26º Regimento de Infantaria (e que também poderia ser chamado de "Equipe de Combate Regimental") funcionaria como reserva do V Corpo e desembarcaria na Fox Green e na Easy Red assim que os Generais Gerow e Huebner determinassem.

O planejamento era, é claro, mais detalhado, mais minucioso e mais sincronizado do que este pequeno sumário.  Havia muitas outras pequenas unidades especializadas envolvidas.  Havia instruções complexas para comunicações, para o corpo médico e para os engenheiros que vinham em seguida com a missão de organizar a praia e começar a construção das estradas ao longo dos Eixos.  Havia procedimentos de contato entre unidades, planos de desembarque ao longo do dia para as tropas do V Corpo, para a Polícia Militar, além daqueles que vinham em seguida: suprimentos, veículos e equipamento de comunicação, sem mencionar planos complexos para o desembarque e embarque de tropas, veículos e mais suprimentos.  De qualquer maneira, na sua essência esse era o modelo para o ataque à praia de Omaha embora representasse o melhor e o pior do pensamento do Exército dos EUA à época.  Seu sucesso dependia de: uma ação rápida, uma mistura letal entre poder de fogo, uma minuciosa - e quase desesperadora - multiplicidade de funções especializadas por parte das tropas de ataque e, mais do que tudo, de uma boa liderança à frente das pequenas unidades e coragem.  Tudo isso estava presente em quantidade substancial nas unidades de ataque, especialmente da 1ª Divisão.

Porém, o plano também revelava a tendência norte-americana para superestimar as competências dos bombardeiros pesados, dos navios e, em termos gerais, do poder de fogo para neutralizar a resistência inimiga.  Mais ainda, o planejamento confiava em demasia no material bélico pesado ao invés do número de soldados, algo que seria cobrado durante a missão.  Isso significava que o soldado comum iria lutar pela sua vida sobrecarregado com muito equipamento e com a mobilidade restrita pela quantidade excessiva de veículos e de material, todos alvos perfeitos para os alemães.  Para piorar, o planejamento subestimou o comprometimento dos alemães em defender Omaha na orla ao apresentá-los com uma variedade de tropas, defesas e poder de fogo de qualidade duvidosa.  Apesar disso, mesmo o plano mais perfeito não poderia preparar os soldados de forma absoluta para aquilo que estava por vir ou, mais ainda, garantir o sucesso.  Só os próprios soldados é que poderiam fazer acontecer.  "De repente e pela primeira vez, eu comecei a perceber a magnitude da invasão e de sua força implacável" escreveu deslumbrado o respeitado correspondente de guerra Don Whitehead que estava previsto para desembarcar junto com o 16º de Infantaria.  "Era como se o homem, por séculos, tivesse vivido, criado seus filhos e trabalhado especialmente para este momento que definiria a história do mundo e do futuro.  Eu me perguntei quão fácil seria e quão vermelha ficaria a areia antes do pôr-do-sol.  Eu imaginei quantos desses milhares de jovens veteranos, saudosos de seus lares, sacudindo à nossa volta nas lanchas de desembarque, conseguiriam ir para além da praia.".  Assim que as lanchas começaram a se encaminhar para os setores Fox Green e Easy Red da praia de Omaha, muitos outros pensavam a mesma coisa.  Depois de meses de preparação, deliberação e planejamento - permeados com dúvidas, camaradagem, trabalho duro, entusiasmo e ansiedade - o momento da decisão estava perto.

 

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Tópico 6

Parte 2 - O desembarque

Praticamente, desde o primeiro momento, a catástrofe espreitava como um assassino escondido nas sombras.  O céu estava nublado.  Um vento frio de cortar os ossos assoprava implacavelmente.  O mar estava bravio.  Grandes ondas batiam nas proas dos LCTs carregados com tanques enquanto que abriam caminho em direção à praia de Omaha embora esta, localizada à 6.000 jardas (5.400 metros), permanecesse ainda invisível devido à bruma do mar, às nuvens e à fumaça.  A bordo do LCT-537, o baixo e musculoso Capitão James Thornton, nascido na Carolina do Sul e graduado pela Citadel (Citadel é o nome dado à Academia Militar localizada no estado da Carolina do Norte nos EUA - N. do T.) em 1940, observava o oceano com seus olhos azuis penetrantes.  Como comandante da Companhia B do 741º Batalhão de Blindados, ele havia treinado seus homens para lançarem os tanques Sherman "Duplex Drive" (DD) em mares não necessariamente calmos, mas nunca em águas tão agitadas.  O comandante de 26 anos considerou se ordenava ou não a tripulação do barco em levantar a bandeira amarela, o sinal pré-combinado para o lançamento dos tanques da Companhia.  Ele entrou em contato pelo rádio com o Capitão Charles Young, comandante da Companhia C que estava a bordo do LCT-598 em meio à coluna de oito LCTs que carregavam as duas Companhias.  De acordo com o relatório posterior do 741º Batalhão, os dois oficiais conversaram rapidamente e concordaram que "a vantagem a ser ganha com o lançamento dos tanques justificava o risco de lançá-los ao mar agitado".  Mais ainda, ambos sentiam que era seu dever dar andamento à missão conforme planejado.  Sendo o mais velho entre os dois, a decisão final pertencia a Thornton.  Sem consultar o Tenente J. E. Barry, o oficial da marinha pertencente ao grupo e que estava no LCT-549 à frente da coluna, Thorthon deu a ordem para o lançamento.  De acordo com a opinião de Barry, foi uma pena pois "era óbvio que, mesmo antes do lançamento, o mar naquela distância estava agitado demais para os tanques".  Na realidade Barry só tomou conhecimento da decisão quando percebeu que o LCT-537 parou e começou a descer a rampa.

Os tanques DD eram equipados com saias de lona infláveis permitindo que boiassem além de duas hélices na parte de trás para impulsionarem uma vez que entrassem na água.  Era um equipamento inovador, porém apropriado apenas para água calmas e sob boas condições climáticas.  Mesmo nas condições ideais, eles eram vulneráveis às ondas dos barcos e dos navios bem como às ondas de choque dos tiros de artilharia.  Não era uma boa ideia lançá-los a uma distância superior a 4.000 jardas (3.600 metros) da praia pela razão óbvia de que quanto mais tempo ficassem na água, maiores as chances de sofrerem uma inundação e afundarem.  Sua função - além de dar apoio à infantaria - era de surpreender e deixar os alemães atônitos.  Tendo os desembarques aliados anteriores como referência, os alemães estavam acostumados a verem LCTs chegarem à praia e desembarcarem tanques, mas eles nunca tinham visto tanques cruzando o mar.  O Capitão Thornton acreditava que a chance de surpreender os defensores inimigos combinada com os vários meses de treinamento dele e de seus homens para se tornarem tripulantes de tanques anfíbios justificava o risco de enfrentar as condições adversas.  Ele fez a escolha errada.  A bandeira amarela foi içada e os tanques anfíbios do 741º foram colocados em ação.

 

LCT-Mk5

Figura 5 - Uma foto aérea de um LCT carregando 5 tanques M3 Lee

LCT[5)

Figura 6 - Planta de um LCT com a visão lateral e superior.

 

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Tópico 7

Minutos após a ordem de lançamento, enquanto os tanques DD cautelosamente beiravam o limite da rampa e entravam na água, um trágico desastre se descortinava.  "Na maioria dos casos" afirmou um relatório posterior "o mar estava tão agitado que os DDs foram danificados após avançarem uma pequena distância em direção à costa.  Os danos se resumiam na sua maioria em suportes quebrados, lonas rasgadas e motores funcionando inadequadamente devido ao entupimento pela água do mar que havia inundado o compartimento dos motores".  O mar rebelde começou a sobrecarregar e romper as saias de lona.  Os tanques começaram a perder sua flutuabilidade.  Enquanto começavam a fazer água e perder sua estabilidade, os motores falhavam e os monstros de 30 toneladas de aço passaram a ficar abaixo das ondas e a afundar como rochas.  O comandante do LCT-602, guarda-marinha R. L. Harkey, assistia sem poder fazer nada enquanto quatro tanques da Companhia C deixavam o seu barco e logo começaram a enfrentar problemas.  Ele viu um deles entrar na água, "virar para a direita, passar pelo castelo da proa.  Ele sacudiu por um momento e de repente afundou.  Os soldados que estavam nele rapidamente inflaram o bote salva-vidas de borracha.  O terceiro e o quarto tanques foram lançados e quando ambos estavam no mar, um afundou.".  O quarto tanque também logo afundou para o desânimo de Harkey.  "Desnecessário dizer que eu não me orgulho e nem vou me perdoar pelo fato de não ter levado aqueles tanques até a praia.".  O mesmo se aplicava aos outros comandantes dos LCTs.

As tripulações dos tanques estavam equipadas com coletes salva-vidas Mae West e com, como Harkey mencionou, botes salva-vidas.  Cada homem também carregava o Aparelho de Respiração Davis (algumas vezes também chamado de "Pulmão Davis" pelas tripulações) para que pudessem respirar caso eles não conseguissem escapar de forma imediata enquanto o tanque afundava.  Esta engenhoca apertava o nariz da pessoa enquanto que uma mangueira de borracha com ar se conectava à boca.  A mangueira ficava acoplada a uma bolsa com oxigênio.  O dispositivo era desconfortável e difícil de usar.  Por um lado era complicado passar com ele pela escotilha do tanque.  Por outro lado, se as extremidades já eram difíceis de encaixarem confortavelmente na boca e no nariz em condições normais e em terra firme, menos ainda seria dentro do espaço caótico de um tanque que afundava.  Dessa maneira, a maioria dos tanquistas não deu a mínima importância para o aparelho.  Ao invés disso, eles apostaram suas fichas em escapar do tanque, inflar o colete e achar o bote.  Na realidade muitos deles ficaram sentados em cima das torres dos seus tanques após o lançamento; assim ficava mais fácil escapar caso o tanque fosse inundado.

Sentado na torre de um dos Shermans da Companhia B, o Sargento Millard Case ouviu o desagradável som da saia de lona do seu tanque rasgando.  Ele olhou em volta, viu a água passando por cima da lona e sabia exatamente o que isto significava.  "Eu sabia bem que (o tanque) estava afundando.  E com o bote salva-vidas que nós tínhamos, eu criei uma maneira para que, ao puxarmos uma corda… ele inflaria".  Ele puxou a corda mas o bote inflou pela metade.  A enorme sucção provocada pelo tanque que afundava puxou Case para baixo.  De alguma maneira ele se segurou no bote.  Quando chegou à superfície, ele e outro tripulante pularam para dentro do bote.  Os outros três membros da tripulação morreram afogados.

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Figura 7 - Um "Pulmão Davis".  Na realidade era uma invenção inglesa destinada às equipes de submarino para um eventual abandono da embarcação.

 

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Tópico 8

Enquanto isso, o Soldado Primeira Classe Ralph Woodward estava sentado no assento do assistente do motorista no tanque do Capitão Young quando as ondas começaram a quebrar acima da cobertura de lona.  "Nós tivemos sorte em não sermos arremessados de volta contra a rampa (do LCT) quando entramos na água.  Não acho que avançamos mais do que 100 pés (30 metros) e logo os canos começaram a dobrar, os suportes começaram a quebrar no centro e a lona começou a rasgar.".  Eles estavam afundando e o Capitão deu a ordem para abandonar o tanque.  Woodward inflou o colete salva-vidas.  Ele saiu parcialmente pela escotilha deslocando o seu braço esquerdo mas acabou se enroscando na metralhadora .50 do tanque.  Com uma rapidez estarrecedora, o Sherman mergulhou debaixo das ondas e foi direto para o fundo do mar levando Woodward com ele.  "Quando atingimos o chão, a areia atingiu o meu rosto.  A primeira coisa que me veio à cabeça foi de que os meus pais nunca saberiam pelo inferno que eu estava passando.".  Ele estava tão convencido que iria morrer que nem se importou em utilizar o Pulmão Davis.  "Eu pensei que não valia a pena preparar, ajustar, testar, esperar funcionar… nessas horas você pensa tudo muito rápido.  Então comecei a engolir a água do mar.".  Porém, de alguma maneira, ele se soltou da .50 e o colete salva-vidas inflado o impulsionou para cima.  A água começou a ficar mais clara até que finalmente ele chegou na superfície.  Um pequeno bote resgatou tanto ele quanto o Capitão Young.  Woodward cuspiu água e sangue, foi necessário que recolocassem o seu braço de volta no lugar mas de resto estava bem.  O motorista do tanque não chegou a sair do seu assento e morreu afogado.

O tanque do Sargento Phil Fitts atravessou até a metade do caminho para a praia quando o motor parou devido à ingestão de água e as ondas começaram a inundar a torre.  O comandante do tanque ordenou que a tripulação inflasse o bote salva-vidas e que abandonasse o blindado.  "Eu fui o último a pular fora do tanque para dentro do bote" contou Fitts mais tarde.  "O tanque desapareceu debaixo dos meus pés num redemoinho de água, se foi.".  Em alguns casos, a sucção causada pelos tanques que afundavam fazia com que os botes virassem ou que tripulantes desafortunados fossem sugados para debaixo das ondas, embora aqui não fosse o caso.  Fitts e seus companheiros ficaram balançando no mar por mais de meia-hora até que um barco patrulha os resgatou.  Muitos outros tanquistas conseguiram o mesmo.  Havia tantos deles na água que as tropas de assalto logo notaram a sua presença enquanto se deslocavam para a praia dentro dos barcos Higgins.  Inicialmente os soldados pensaram que aqueles homens na água eram pilotos abatidos mas, por fim, a verdade veio à tona.  Desnecessário dizer que, perceber que os tanques DD estavam no fundo do Canal da Mancha e não na praia de Omaha não era exatamente um incentivo para aqueles que estavam prestes a desembarcar na primeira leva.

No total, 29 tanques das Companhias B e C foram lançados nas águas inóspitas.  Apenas dois, sob o comando dos Sargentos George Geddes e Turner Sheppard da Companhia B, conseguiram chegar à margem.  Ironicamente, outros três também conseguiram depois de um acidente a bordo do LCT-600 quando estes três tanques colidiram entre si e danificaram as estruturas de lona.  O guarda-marinha Henry Sullivan, comandante da embarcação, decidiu então em abortar o lançamento, içar as rampas e levar os tanques até a praia.  Ou seja, apenas cinco dos 32 tanques DD estavam disponíveis para as tropas de assalto.  Entre aqueles que afundaram, a maioria dos tripulantes sobreviveu.  Mesmo assim o Tenente Coronel Robert Skaggs, comandante do 741º, estimou mais tarde que a média foi de um tripulante morto por afogamento em cada tanque.

 

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Tópico 9

Enquanto as tripulações dos blindados lutavam contra Poseidon, duas dúzias de botes carregando as Companhias de assalto do 2º e 3º Batalhões sacudiam e abriam caminho através das águas turbulentas em direção à costa da Normandia.  Os homens a bordo já estavam completamente encharcados pela água do mar e em estado deplorável por causa do enjôo.  Em muitos casos eles tinham dificuldades em se manter em pé dentro dos barcos agitados.  Ambos Batalhões lutavam para permanecer no curso e dentro do prazo mas os dois estavam fracassando, especialmente o 3º.  Este tinha sido transportado da Inglaterra a bordo do HMS Empire Anvil, um navio britânico.  Isto significava que as Companhias de Infantaria estavam sendo transportadas em LCAs (Landing Craft, Assault - Barco de Desembarque, Assalto), a versão britânica do barco Higgins e que eram pilotadas por timoneiros da Marinha Real.  O LCA era equipado com blindagem em ambos os lados e tinha uma cobertura parcial sobre o compartimento principal onde as tropas sentavam em três fileiras de bancos toscos.  Na fileira do meio,  eles sentavam voltados para frente com os joelhos encostados nas costas ou no lado de quem estava à frente.  Ao longo das laterais, eles sentavam de frente para o lado oposto do barco olhando diretamente para quem estava na fila do meio e com os joelhos muitas vezes encostando contra equipamento, armas ou mesmo contra quem estava nesta fila.  Os mais altos da fila nas laterais tinham que ficar com as cabeças abaixadas para evitar que o capacete ficasse batendo contra a cobertura superior.  "Parecia que estávamos mais apertados do que sardinhas dentro de uma lata" relatou o Cabo Albert Mominee da Companhia I.

O LCA era mais maneável que o LCVP fabricado nos EUA mas por outro lado era mais baixo em relação ao nível da água tornando-o propenso a inundações.  "Eles ficavam facilmente "inundados" uma vez na água" afirmou o Major Edwin Elder, oficial de operações do Batalhão.  Ainda mais quando o mar estava revolto como acontecia naquele momento ao largo da praia de Omaha; vários barcos já estavam com um nível alarmante de água no seu interior.  Soldados tiravam os capacetes e freneticamente removiam a água do mar para evitar que afundassem.  Mais ainda, a bruma do mar juntamente com o tempo nublado e as colunas de fumaça do bombardeamento reduziam a visibilidade substancialmente.  Os timoneiros tinham grande dificuldade em ver para onde iam.  Para piorar, a correnteza estava na direção leste, então a tendência para todas as lanchas de desembarque era de enveredar naquele rumo.

As condições desfavoráveis e a confusão arruinaram por completo o cronograma de desembarque que fora planejado de forma tão meticulosa.  Com o aproximar da Hora H, os LCAs do 3º Batalhão estavam imersos em uma confusão e longe de suas posições de desembarque.  A Companhia I do Capitão Kimball Richmond estava na pior posição possível.  Os timoneiros tentaram desembarcar a Companhia numa pequena praia em Port-en-Bessin, a umas 6.000 jardas (5.400 metros) a leste de Fox Green que era o principal alvo do destacamento.  Richmond era um oficial com experiência de combate e reconhecido no regimento por sua determinação e competência.  Ele imediatamente percebeu o erro e ordenou que os marinheiros levantassem e rampa, levassem a Companhia de volta ao mar e se dirigissem para o local correto na Fox Green. Descontente ao extremo, Richmond entrou em contato pelo rádio com o comandante do Batalhão, Coronel Charles Horner, o informou sobre o contratempo e disse para ele que não havia como a Companhia I desembarcar dentro do cronograma.  Horner entrou em contato pelo rádio com o Capitão Anthony Prucnal, comandante da Companhia K e ordenou que ele assumisse o lugar de Richmond.  Prucnal iria tentar mas seu destacamento também estava atrasado bem como a Companhia L do Capitão John Armellino.  Basicamente o Batalhão seria desembarcado com atraso, de forma fragmentada e com os comandantes já não tendo muito mais o que fazer.

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Figura 8 - Um LCA de fabricação inglesa.

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Figura 9 - Foto de um LCA mostrando o interior apertado.

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Figura 10 - Um LCVP, ou barco "Higgins".

 

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Tópico 10

Nos pontos de resistência localizados acima da praia de Omaha, os defensores alemães estavam grogues devido ao sono.  A maioria estava de pé desde as 0100 e em estado de alerta em função dos relatos das aterrissagens de para-quedistas na Península de Cotentin além dos vários ataques de aviões bombardeiros pela Normandia.  Seus ouvidos ainda estavam zunindo devido ao barulho causado pelo bombardeio naval que precedia a invasão e seus olhos ardiam com a poeira e a sujeira levantadas após tantas explosões.  Agora, enquanto olhavam para o mar através da neblina, da fumaça e da névoa, eles começavam a divisar a frota aliada e os barcos de desembarque que se aproximavam.  No WN-62, localizado acima da Saída E-3, o Tenente Bernhard Frerking, um observador de artilharia do 1º Batalhão do 352º Regimento de Artilharia, estava de pé no lado de fora do bunker de observação olhando o horizonte através do binóculo quando começou a se dar conta do tamanho daquela cena.  Ele abaixou o binóculo e murmurou: "Mas isso não é possível, não é possível".  Ele jogou o binóculo para o seu ordenança, Soldado 1ª Classe Hein Severloh, e correu para dentro do bunker para preparar a barreira de artilharia.  Severloh correu avisando aos outros soldados para estarem a postos.  Frerking entrou no bunker, pegou o telefone com linha direta para a sua bateria de canhões de 105mm localizada a uns dois quilômetros de distância em Houtteville e teve uma grata surpresa ao saber que tudo estava em ordem apesar do intenso bombardeio.  Ele também ficou surpreso ao saber que todas as baterias do batalhão estavam intactas e prontas para atirar.  "Alvo Dora, todos os canhões, distância 4-8-5-0, direção padrão 20 +, detonador de impacto" ordenou ele para o oficial responsável pelo posicionamento dos canhões.  "Esperem pela minha ordem de atirar!"  O procedimento padrão do Regimento era de não atirar até que as lanchas de desembarque atingissem a orla.

A algumas jardas dali, em um abrigo de concreto hexagonal acima da Saída, o Cabo Franz Gockel, um recruta de 18 anos e com menos de um ano de serviço no Exército, se debruçou sobre a metralhadora de 7.9mm sMG 248 refrigerada a água e fabricada na Polônia.  Sua posição era protegida por um metro de terra entre tábuas de madeira mas ele não se sentia seguro.  Ele olhava para os barcos que se aproximavam e checava repetidamente a sua metralhadora para ter certeza que estava pronta para atirar.  O medo subia pela sua coluna.  Ele vinha de uma família de católicos devotos.  Durante os bombardeamentos na sua cidade natal, Hamm, sua família invariavelmente se aglomerava em um abrigo e pedia proteção para Jesus, Maria e José.  Enquanto Gockel verificava a sua arma e olhava para as embarcações que se aproximavam, ele murmurava preces católicas repetindo-as várias vezes tentando acalmar seus nervos.  Em retrospecto, ele sentia como se estivesse "meio que me colocado em transe".  O Cabo Siegfried Kuska, que estava passando pela posição de Gockel a caminho do canhão anti-tanque de 50mm em um abrigo camuflado perto da Saída, parou por um momento, olhou para Gockel e gritou: "Te cuida Franz, eles estão chegando!".  Gockel olhou para o seu companheiro e depois para a praia.  Os barcos estavam quase na orla.  Ele segurou firme a metralhadora e começou a atirar.  No WN-62, bem como em várias outras posições, muitos alemães começaram a fazer o mesmo.

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Tópico 11

Nesses barcos reinava a confusão.  Tanto quanto o 3º Batalhão, os LCVPs levando as Companhias E e F tinham perdido o senso mínimo de organização.  Seus soldados supostamente deveriam botar o pé na areia simultaneamente no meio da praia Easy Red entre as Saídas E-3 e E-1.  Ao invés disso, todos foram carregados muito para leste na direção da Fox Green, do WN-62 e no lado leste da Saída E-3.  A bordo dos LCVPs que balançavam freneticamente, os soldados enjoados e em estado deplorável lutavam para se manter em pé nos conveses cobertos pela água do mar e pelo vômito.  Seus comandantes, também enjoados e encharcados, observavam atentamente por sobre as rampas e pelos lados dos barcos Higgins vislumbrando a praia que se aproximava em meio à névoa.  Seus ouvidos eram assolados por vários sons - o rugir dos motores, o espirrar da água, o grito dos homens - mas que, pouco a pouco, começaram a prestar atenção em espirros estranhos na água, no zunido e nas explosões abafadas que indicavam a presença do fogo inimigo.  Muitos líderes nos barcos bem como seus suboficiais estavam conscientes que suas embarcações estavam fora da rota.  A bordo do barco com o Comando da Companhia E, o Primeiro Sargento Lawrence Fitzsimmons e vários outros oficiais gritaram para o timoneiro: "Você está indo para a esquerda!".  Para seu desespero, o timoneiro ignorou os avisos e continuou mantendo a direção errada.  À frente do barco, o Capitão Edward Wozenski, comandante da Companhia só conseguia balançar a cabeça em desespero.  "Eu nunca vou entender como uma pessoa, que foi devidamente instruída, conseguiu cometer tal erro" contou ele mais tarde "uma vez que a casa que marcava tão bem a Saída E-3 estava pegando fogo e sua silhueta era perfeitamente visível.".  Essa era a mesma casa que o Cabo Franz Gockel e os outros defensores do WN-62 usavam para fazer suas refeições.  Wozenski ordenou para que a tripulação do LCVP atirasse com as metralhadoras localizadas na popa do barco.  "O marinheiro em uma das metralhadoras da embarcação deu uma rajada para o céu enquanto se escondia a cabeça atrás do convés - uma performance sofrível, se é que se pode chamar de performance.  Não havia ninguém para manejar a outra metralhadora.".

Em um barco próximo, um tripulante do LCVP gritou para o oficial comandante: "Estão atirando na gente!".  O Tenente virou a cabeça e berrou: "Bem, então atire de volta!".  O Tenente John Kersey, líder de pelotão na Companhia E, estava preocupado com o fato de que a direção em ziguezague do seu LCVP pudesse terminar com a tripulação da lancha largando seus homens em alto mar e indo embora.  Ele disse para o timoneiro: "Olha, ou você vai até o final ou eu vou largar esta granada contigo".  A bordo de outra lancha da Companhia E, o timoneiro estava tão confuso que acabou perguntando para ao Sargento Calvin Ellis: "Qual o nosso objetivo?".  Ellis apontou na direção de Easy Red mas parece que a informação não tinha sido bem assimilada.  Ellen então "disse ao timoneiro que ele estava conduzindo muito para à esquerda mas o homem manteve o mesmo curso.".  O Capitão John Finke, comandante da Companhia F, também ficou preocupado ao perceber que seu barco estava sendo direcionado muito à esquerda.  Ele transmitiu instruções de correção para a popa da embarcação onde o timoneiro ficava sentado guiando o barco, mas sem sucesso.  No barco que transportava a segunda seção de assalto da Companhia, o Tenente Bernard Rush tentou fazer o mesmo: "O timoneiro se recusou a seguir as correções até que fosse tarde demais" contaram depois os sobreviventes da seção em um relatório pós-combate.  A bordo da lancha que transportava a quarta seção de ataque da Companhia, o Tenente Glendon Siefert e o timoneiro estavam ambos confusos.  O marinheiro acreditava que estavam fora da rota; Siefert pensava que eles estavam certos.  Na hora que perceberam, eles estavam a 1.100 jardas (1 km) à esquerda do ponto correto de desembarque.

De acordo com o relato dos soldados, os erros no desembarque poderiam ser creditados em grande parte pelos enganos dos timoneiros - é claro que apenas as perspectivas dos soldados é que ficaram para a posteridade e não as dos marinheiros - se bem que, por outro lado, tais problemas eram simplesmente inevitáveis dadas as circunstâncias.  De qualquer maneira, sem dúvida que a discrepância entre o plano original de desembarque e o que acontecia era um mau presságio.  As embarcações deveriam chegar juntas ao mesmo tempo e no ponto mais vulnerável da praia de modo a tirar proveito dos pontos cegos dentre os campos de tiro dos alemães e, ao mesmo tempo, oferecer ao inimigo um número de alvos maior do que sua capacidade de retaliar.  Toda esta coreografia cuidadosa foi jogada no lixo (essa metáfora também se aplica ao desembarque na praia de Omaha como um todo).  Com a exceção de uma lancha, todos desembarcaram de forma irregular com um atraso variando de 10 a 15 minutos, entre 0640 e 0645 e em uma média de 1.000 jardas (915 metros) à esquerda, ou seja na Fox Green, bem no campo de tiro entre os WN-62 e WN-61.  Mais especificamente, 3 lanchas com a Companhia F chegaram na ponta leste de Fox Green, três outra na ponta oeste no ponto de interseção com a Easy Red bem à vista do WN-62.  Cinco lanchas com a Companhia E chegaram no meio da Fox Green e à frente da Saída E-3.  Em resumo, como um todo, não tinha como eles estarem no pior lugar e na posição mais vulnerável.

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Tópico 12

Pandemônio e tragédia logo se abateram sobre as duas companhias mal-afortunadas.  A lancha transportando a primeira seção da Companhia F sob o comando do Tenente Aaron Dennstedt Jr. ficou presa em um obstáculo a umas 30 jardas (27 metros) da praia e o timoneiro não conseguia soltar a embarcação.  Balas de metralhadoras começaram a atingir tanto as laterais quanto a rampa.  Se sentindo como alvos fáceis, os homens berraram para que a tripulação baixasse a rampa e logo foram atendidos.  Assim que a rampa baixou e os soldados começaram a entrar na mar com água no queixo, uma onda mortal de rajadas de metralhadoras vindo da esquerda (provavelmente do WN-61) varreu tanto o lado quanto a frente do LCVP.  Dois soldados foram atingidos ainda na rampa e caíram.  Outros foram atingidos na água e desapareceram por debaixo das ondas.  Os sobreviventes desesperadamente se debatiam e nadavam em direção à praia, uma tarefa árdua devido ao peso de tanto equipamento e, para muitos, prejudicados pelo forte enjôo.  O Tenente Dennstedt, um jovem universitário matriculado na UCLA, era novato em combate.  Ainda na Inglaterra durante os treinamentos, ele ganhou a  reputação entre os sargentos de ser, para um oficial, extremamente humilde e de fala mansa.  O Sargento Andrew Nesevitch, um líder de pelotão com experiência de combate, o descreveu:  "Ele diria: 'Você sabe o que fazer, eu vou ficar só olhando e caso precise de alguma coisa, eu te ajudo'.".  Nesevitch acabou por se afeiçoar ao Tenente e gostava do fato de que "ele nunca se impunha pela patente".  Os homens carinhosamente o chamavam de Denny ou Tenente Denny.

Em meio a tiros e rajadas precisas, Nesevitch e o Tenente instintivamente avançaram pelas águas o mais rápido que podiam até a orla onde eles se jogaram exaustos e passaram a olhar para o banco de cascalhos.  A praia era, obviamente, um emaranhado de obstáculos alguns dos quais com minas no topo.  Enquanto os soldados permaneciam lá e pensavam em o que fazer, o Sargento Nesevitch sugeriu para o Tenente que este deveria enveredar pela direita enquanto que ele iria pela esquerda.  "Os homens vão dispersar e vamos chegar até aquele banco" disse Nesevitch.  O Tenente Dennstedt concordou.  Assim que levantaram, a metralhadora alemã começou a ressoar de novo.  Dennstedt se virou para exortar os homens para avançarem.  Uma bala atravessou o seu capacete e o atingiu bem no meio dos olhos.  "Ele caiu com as costas para cima" lembrou Nesevitch "e com a cabeça abaixada."  Ele imediatamente tombou vergando-se em uma posição anti-natural com a cabeça encostada entre os joelhos.  Sangue escorria pelo lado do capacete destroçado.  Nesevitch correu até ele mas logo percebeu que o Tenente morreu instantaneamente.  "Esse já era", sussurrou calmamente o jovem sargento para si mesmo.

Um Sargento do pelotão, Sargento Técnico Edward Zukowski, tinha sido o último homem a sair do LCVP, certificando-se de que todos tinham abandonado a lancha.  Ele atravessou pela água e chegou ao lado de Nesevitch.  Este apontou para o corpo do Tenente.  "Zuk", disse ele, "é melhor você assumir porque Dennstedt levou uma no meio dos olhos.".  Zukowski tentou organizar um pequeno grupo e liderá-los praia acima em direção ao arame farpado perto de uma das Saídas.  "Eu acabei acionando uma das minas antipessoal e ela explodiu mesmo" lembrou Zukowski.  "Ambos meus braços e pernas quase foram arrancados.  Minha perna esquerda sofreu fratura exposta.  A direita estava cheia de estilhaços.".  Mais fragmentos rasgaram um dos seus braços e o quebraram.  Seu rifle estava despedaçado.  Ele estava imóvel, sangrando e na esperança de que algum médico o alcançasse embora estivesse bem no meio do campo de tiro.  Apenas 14 de 32 soldados da lancha de Dennstedt conseguiram chegar até os cascalhos.  O resto foi morto na água, se afogou ou estava ferido na orla.

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Tópico 13

Bem ao lado da lancha com a seção de Dennstedt, a segunda seção desembarcou na praia com água pelo joelho, uma profundidade bem rasa se levarmos em conta o padrão enfrentado pela primeira leva.  Os homens saíram correndo do LCVP espirrando água para todos os lados indo em direção à areia (a localização da orla variava de acordo com a maré e os bancos de areia).  Eles foram direto ao encontro de uma tormenta de fogo de morteiros e metralhadoras.  "Ambos os soldados que operavam o BAR (BAR é o acrônimo dado ao Browning Automatic Rifle, ou Rifle Automático Browning, um rifle automático ou metralhadora leve de calibre .30 que servia como arma de apoio para cada pelotão - N. do T.) foram atingidos quase que imediatamente" relatou uma entrevista pós-combate com os sobreviventes da Companhia.  "O soldado à direita, Soldado Primeira Classe Frank DeBellis foi morto enquanto que o da esquerda, Soldado Primeira Classe George Bert perdeu a perna devido a um estilhaço de obus."  A equipe de morteiro era liderada pelo Sargento Joe Zukowski, irmão mais novo do Sargento Técnico Ed Zukowski que estava ferido.  Os irmãos eram bem próximos e seu vínculo só tinha estreitado durante os combates na batalhas no Mediterrâneo.  Ainda na Inglaterra, Joe tinha confidenciado para o seu irmão mais velho de que achava que não sobreviveria ao desembarque na praia de Omaha.  Como não poderia deixar de ser, uma chuva de granadas de morteiros engoliu Joe Zukowski e seu grupo enquanto que eles lutavam para avançar pela praia e que provavelmente provocou uma reação em cadeia com o detonar de minas antipessoais.  O mais jovem dos Zukowski caiu com o rosto para baixo e com ferimentos no peito.  Ele tentou levantar e continuar avançando.  Outro obus explodiu perto ferindo-o de novo.  Ele tentou levantar mais uma vez mas estava muito fraco.  Três dos seus homens, Soldado Primeira Classe Reuben Schatz e os Soldados Goza Fazekas e P. L. Wells estavam mortos próximos dali.  Zukowski sangrava muito em função das múltiplas feridas, a vida esvaindo do seu corpo.  "O último ato do Sargento Zukowski foi de repassar a mira do morteiro para o Sargento (George) Hammond" lembrou um sobrevivente.  Zukowski caiu e morreu.  Hammond olhou para a mira - estava em pedaços, inútil.  Ele jogou para o lado e avançou.  Cerca de vinte homens que estavam na lancha conseguiram chegar no banco de cascalhos.  Metade deles já estava ferida.  O resto estava morto ou ferido perto da orla com a água fria da maré avançando e envolvendo seus corpos, rolando-os para frente e para trás.

Perto dali, a lancha com a quarta seção da Companhia F sob o comando do Tenente Siefert desembarcou com a água quase na cabeça e sob intenso fogo de metralhadoras, fuzis e morteiros.  A tripulação do LCVP dava fogo de cobertura com as metralhadoras enquanto os soldados deixavam a lancha mas, segundo as memórias de um deles, "os tiros eram extremamente  imprecisos." O Sargento de Equipe Donald Wilson gritou para que seus homens se espalhassem e que avançassem o mais rápido possível.  A profundidade da água era tanta que ele teve que inflar sua boia salva-vidas para não correr o risco de afogar.  As boias eram infladas ao se espremer um par de tubos contendo CO2 localizado no cinto.  Pelo fato de que as tropas de assalto estavam assoberbadas com tanto material pesado, a tendência era de que essas boias fossem colocadas não na cintura, mas sim no peito, bem próximo ao queixo.  Isso não era uma boa ideia pois quanto mais alta a boia estivesse quando inflada, menos flutuabilidade ela proporcionava.  Mais ainda, ela poderia se agarrar no pescoço da pessoa; em alguns casos ela quase levou soldados à morte.  Felizmente para Wilson sua boia estava na posição correta e o projetou para o alto de modo que sua cintura ficasse acima da água.  Com sua cabeça oscilando por sobre as ondas, ele avançou da melhor maneira possível.  Balas de metralhadoras estouravam à sua volta e ele conseguia ouvir os estilhaços das explosões dos tiros de morteiros atingindo a água.  Através de sua visão periférica ele podia ver outros homens sendo atingidos e sumindo na água.  "Para reduzir a minha exposição" ele contou, "eu usei a minha faca de trincheira para furar a minha boia e, de alguma maneira, eu consegui encontrar a areia sob o meus pés.".  Ele chegou em terra firme cambaleando, se protegeu atrás de um obstáculo anti-tanques, mirou contra os alemães invisíveis nas escarpas acima da praia e deu vários tiros inúteis.  À sua volta, outros rapazes da mesma lancha enfrentavam o fogo devastador enquanto atravessavam a praia.  "Vários fuzileiros avançaram tentando correr por umas 10 jardas (9 metros), se jogar na areia para então correr por mais 10 jardas, mas as metralhadoras já estavam mirando neles na segunda tentativa.".

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Figura 11 - Soldados norte-americanos durante o desembarque de tropas depois do Dia D.  Repare, no soldado ao centro, a boia salva-vidas pessoal de CO2 envolta na cintura.

 

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Tópico 14

A umas dezenas de jardas à esquerda de onde Wilson se protegia atrás de um obstáculo, os componentes do quartel-general ainda lutavam contra a água tentando chegar na praia.  A rampa do LCVP de onde vinham estava demorando a baixar acarretando em um pequeno atraso.  Quando a rampa finalmente baixou, eles se lançaram na água liderados pelo Capitão Finke, o comandante, que pulou em um local particularmente profundo onde a água quase lhe cobriu a cabeça.  Em uma área de triagem ainda na Inglaterra, Finke torceu gravemente o seu tornozelo esquerdo o qual agora estava enfaixado e bem apertado embora ainda estivesse instável.  Ao invés de carregar um fuzil, o Capitão se agarrava em uma bengala.  Ele e outros homens da mesma lancha atravessaram a água mas se depararam perto da orla com um paredão de tiros das metralhadoras e dos morteiros.  "Eu tive sorte em chegar tão longe porque tínhamos que correr e eu não estava muito bem para tanto." contou Finke.  Os homens sobrecarregados já estavam exaustos e, é claro, extremamente enjoados depois da deplorável viagem dentro da lancha de desembarque (para a maioria das seções a bordo das lanchas, a viagem durou mais de duas horas).  Naturalmente o fogo inimigo dispersou os soldados e jogou por terra qualquer tentativa que se assemelhasse a um ataque organizado.  "O sujeito ao meu lado, o ordenança da Companhia, (Soldado Primeira Classe) Ed Cox, gritou para mim que ele tinha sido atingido, caiu e rolou sobre as suas costas" lembrou o operador de rádio do Capitão, James Thompson. Thompson e outros sobreviventes arrastavam-se da melhor maneira possível praia acima, as balas inimigas ricochetando nas pedras sob as suas botas.  Os fragmentos zumbiam de forma ameaçadora.  Thompson reparou no Tenente Howard Pearre, o oficial administrativo da Companhia correndo à frente quando, depois de duas explosões, aparentemente ele simplesmente desapareceu.  "Eu olhei para cima e ele já não era mais um ser vivo.".  Pearre levou um tiro certeiro de um dos canhões anti-tanques de 50mm.  Duas equipes de metralhadoras da Companhia F montaram suas armas na orla e começaram a atirar contra as escarpas controladas pelos alemães.  Após alguns instantes, rajadas certeiras e mortais das metralhadoras inimigas rasgaram as duas equipes matando ou ferindo todos os soldados.

Diante de um fogo tão avassalador, os homens procuravam abrigo em qualquer lugar que fosse e a única alternativa nesta praia desolada eram os obstáculos.  Os ouriços (Ouriço ou Ouriço Tcheco é o nome dado a um obstáculo anti-tanque composto de três perfis de aço cruzados e unidos entre si - N. do T.) e os tetraedros (Tetraedro eram também um obstáculo anti-tanque feito a partir de concreto - N. do T.) eram as alternativas mais seguras mas eram pequenos e proporcionavam pouca proteção.  Assim, os portões Belgas (Portão Belga é um outro tipo de obstáculo no formato de uma cerca com vigas na parte de trás as quais, fincadas no solo, faziam com que ele permanecesse ereto e impedindo o avanço de blindados - N. do T.) e as rampas feitas de toras de madeira eram as opções mais atraentes para as tropas assustadas.  "Na hora do desespero, qualquer solução é bem vinda" explicou Finke "e os sujeitos tentavam se abrigar atrás daqueles postes.  Eram postes como os de telefone com uns 10 a 12 pés (3 a 3,6 metros) de comprimento e com uma mina Teller no topo.  Não era um lugar muito agradável para ficar.".  Finke sabia que essa era a receita para um desastre.  Por pior que fosse o fogo inimigo e por mais vulneráveis que os homens ficassem enquanto avançavam, seria fatal se eles simplesmente se escondessem naqueles locais virando alvos estacionários em uma zona de tiro previamente preparada, ainda mais nas sombras das minas Teller.  Então Finke começou a circular bradando a sua bengala como um verdadeiro chicote.  "Eu a usei de forma eficaz, batendo nas pessoas até que elas se mexessem.".  Em várias ocasiões ele bateu em figuras deitadas de bruços para só então descobrir que estavam mortos.  Em outras ocasiões, ele bateu com a bengala em alguns soldados por várias vezes, não obteve nenhuma reação e pensou que estavam mortos até perceber seus rostos petrificados e então compreender que eles estavam aterrorizados demais para se mexer.  "Vamos! Levantem! Mexam-se!" gritava ele enquanto golpeava com sua bengala.  Finke ponderou que se ele gritasse sem bater com a bengala, então cada homem poderia assumir que ele estava berrando com outra pessoa.  Mas se ele pessoalmente batesse com sua bengala em alguém, não havia dúvida - mexa-se - e ele tinha razão.  Dessa maneira ele, sem piedade, botou muitos deles para correr por várias centenas de jardas até a relativa segurança do banco de cascalhos.  Ao chegar no próprio banco, Finke estimou que tinha perdido 25% dos seus comandados.

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Figura 12 - Foto feita durante o desembarque do Dia-D em uma das praias de Omaha aonde soldados se protegem atrás de Ouriços.

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Figura 13 - O autor da tradução (no caso, eu... ) ao lado de um tetraedro na parte externa do museu anglo-canadense na praia Juno, Normandia, setembro de 2014.

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Figura 14 - Um portão belga preservado.

 

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Muito obrigado por compartilhar o texto. Achei interessante os detalhes sobre a participação dos Shermans DD norte-americanos e seu infortúnio no desembarque. Também digno de nota é o ponto de vista dos defensores da praia e as ilustrações acima.

Um abraço!

 

Tópico 15

As perdas foram ainda piores na Companhia E.  As cinco lanchas errantes carregando a seção desembarcaram os soldados na pior parte do campo de tiro, em plena praia aberta bem à frente da Saída E-3 e praticamente sob a mira de todas as frenéticas armas alemãs do WN-61 e WN-62.  "As lanchas foram esvaziadas rapidamente - os homens pulando no mar com água na altura dos ombros" explicou um relatório pós-combate "sob intenso fogo de metralhadoras e canhões anti-tanque.".  O Soldado Primeira Classe Earl Chellis, um operador de BAR, presenciou horrorizado quando os três homens à sua frente foram atingidos mesmo antes de deixarem a rampa do barco Higgins.  "Eu pulei da lancha de desembarque direto na água.  Fui reto para o fundo.  A profundidade devia ser de uns 8 a 9 pés (2,4 a 2,7 metros) … e tinha todo aquele peso comigo.  Eu imediatamente afundei até o chão.".  A correnteza o levou para a praia e ele conseguiu engolir ar apenas o suficiente para se manter vivo.  Mesmo que Chellis e os outros soldados pudessem correr na praia como coelhos, ainda assim eles estariam em apuros; ao invés disso, eles chegaram em terra firme ao passo de tartaruga.  Quase que mortos por afogamento, encharcados, enjoados e sobrecarregados com equipamento, eles eram alvos perfeitos enquanto tentavam avançar de forma vacilante, curvados, muitas vezes cambaleando como estivessem bêbados ou zonzos.  Arcos justapostos de tiros das metralhadoras perpassavam no meio deles (nas memórias de um soldado, eles soavam "como um enxame de abelhas").  Tiros de morteiro explodiam praticamente nos seus pés ou junto ao tronco.  Os obuses dos canhões anti-tanques, provavelmente endereçados às lanchas de desembarque, cruzavam os céus e caíam na água ou ao longo da praia.  "Muitos tombavam à esquerda e à direita e a água ficou vermelha com o sangue deles" descreveu um relatório pós-combate.  "Uma simples explosão em algum do tipo de mina que estava sob a água e tudo ia pelos ares.  Os outros soldados se escondiam atrás dos obstáculos" Homens tombavam por todos os lados mas os sobreviventes continuavam avançando.

A própria ideia de superar as 400 jardas (365 metros) de obstáculos em uma praia aberta até o banco de cascalhos parecia um completo absurdo.  Para o Tenente Rob Huch ela parecia tão impossível que "foi ali mesmo e naquela hora que me lembrei de cada pecado que tinha cometido e nunca, na minha vida, eu rezei tanto.  Eu avançava umas 30 jardas (27 metros) e me jogava no chão, as balas por todos os lados.".  Como Huch, os homens moviam através de uma corrida curta, se jogar ao chão, recompor e tentar a sorte de novo.  De acordo com os sobreviventes, os veteranos aparentemente pareciam ter uma melhor percepção de como fazê-lo diferentemente dos soldados substitutos.  É claro que isto significava que inicialmente os novatos eram mais propensos a serem atingidos até que conseguissem pegar o jeito de como fazer.  Huch chegou no banco de cascalhos, recuperou o fôlego e olhou para trás para ver quantos homens de sua seção que vieram na lancha estavam a caminho.  "Foi horrível" escreveu ele "soldados no chão por todos os lados - os feridos sem poderem se mexer e afogando com a subida da maré.  Pelo menos 80% das nossas armas não funcionavam (incluindo a minha) por causa da areia e da água salgada.  Desnecessário dizer que eu perdi muitos homens e muitos amigos.". Alguns soldados estavam tão desapontados com os seus rifles emperrados que eles sacavam suas pistolas e atiravam inutilmente contra um inimigo invisível.

Algumas centenas de jardas praia acima, o Capitão Wozenski tentava abrir caminho em direção ao banco de cascalhos.  "Toda vez que eu me levantava meus joelhos dobravam e eu pensava que era por causa do medo, até que eu finalmente cheguei no banco de cascalhos e percebi que devia estar com umas 100 libras (45 quilos) de areia acumulada nos (meus) bolsos, fora as 50 a 60 libras (22,5 a 27,5 quilos) de equipamento que estávamos carregando.".  No banco, o fogo inimigo não diminuía de forma alguma.  "Eu estava imobilizado.  Todos à minha volta estavam sendo atingidos.  Você esticava um pouco o pescoço e eles atiravam com tudo."

Assim que outros soldados juntaram-se a ele, o grupo formou o que seria chamado de "cabeça de praia de 7 jardas (6,5 metros)" junto às pedras do banco de cascalhos.  Aqueles cujas as armas funcionavam começaram a atirar.  Outros desmontaram as suas armas para poder limpá-las.  Outros simplesmente ficavam parados se recompondo ou olhando as metralhadoras alemãs exterminarem seus companheiros que estavam perto da orla.  O Primeiro Tenente Edmund Duckworth, o oficial executivo da Companhia, havia recentemente casado com uma inglesa chamada Audrey Travers.  O recém-casado puxou uma garrafa de uísque e repartiu uma dose com o Sargento Benjamin Telida e com outro soldado.  "Cinco minutos depois, o Tenente levantou a cabeça acima do banco," lembrou Telida "(um) atirador de elite o acertou em cheio na têmpora espalhando os seus miolos em mim e no outro soldado.  É claro que ele morreu instantaneamente.".

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Tópico 16

Era difícil para os alemães errarem os alvos e ninguém percebeu isso mais do que o Soldado Primeira Classe Hein Severloh que despejava implacáveis rajadas letais de sua metralhadora a partir de sua posição de concreto no meio do WN-62 a uns 75 pés (23 metros) acima da praia.  Os campos de tiro eram quase que perfeitos.  Apesar das nuvens de fumaça que se espalhavam pela Easy Red formadas pelas explosões, pólvora e do fogo na grama, ele não tinha problema algum em localizar os americanos desesperados.  "Eu podia ver os espirros de água das balas da minha metralhadora e quando esses pequenos chafarizes se aproximavam dos G.I. eles se jogavam ao chão.".  Severloh tinha apenas 21 anos e estava mais interessado em ser fazendeiro do que soldado.  Ele não guardava nenhum rancor em particular contra os norte-americanos embora soubesse que isso agora não importava.  Gostasse ou não ele estava no meio de uma luta até a morte e seu maior desejo era de sair vivo daquela situação infernal.  "Eu não queria estar nesta guerra.  Eu não queria atirar contra rapazes da mesma idade que a minha.  Mas lá estávamos nós.  Eu era um soldado… que estava sendo atacado e, como tal, precisava se defender.  O que eu poderia fazer?  Era eu ou eles - isso era o que eu pensava."  Sua técnica era de, com sua metralhadora, pulverizar os grupos de soldados americanos e então, enquanto estivessem imóveis, pegar o seu rifle e matá-los um a um.  "Eu atirava em qualquer coisa que se movia fosse na água ou na areia".  Em certa hora, seus olhos focaram em um soldado em particular que cambaleava pela água.  Severloh pegou o seu rifle e mirou.  "Ele estava procurando por algum lugar para se esconder.  Eu atirei na cabeça dele.  Eu vi o seu capacete de aço cair na água.  Então ele caiu.  Eu sabia que ele estava morto.  Depois de alguns segundos o pânico se instaurou em meio aos americanos.  Todos se deitaram naquela água rasa e fria, muitos tentando chegar nos obstáculos mais próximos à praia para encontrar algum tipo de abrigo."

Severloh estava completamente fascinado pela imensa força e pelo barulho da sua metralhadora MG-42.  Ele olhava com uma admiração mórbida enquanto, a uns trezentos metros,  corpos rolavam e balançavam com o contínuo avançar da maré.  Perto dos corpos, ele viu várias outras figuras escuras se movendo levemente, se arrastando para fora do mar.  Com o ombro, ele segurava a metralhadora que ia para frente e para trás, para frente e para trás, espalhando neles rajadas controladas.  "Tinha sangue por todos os lados, gritos, mortos e moribundos.  Os feridos se espalhavam naquela lama ensaguentada, a maioria rastejando, tentando avançar praia adentro para se proteger atrás da barragem que tinha um metro e meio de altura (o banco de cascalhos)."  O canhão de 75mm e outras armas pesadas estavam dando uma surra nas lanchas de desembarque vulneráveis.  "Nós colocamos (as lanchas) sob fogo direto do nosso canhão e podíamos ver exatamente quando eram atingidas" lembrou o Cabo Han Selbach, operador de um dos canhões de 75mm.  "Foi terrível."

Outros alemães do WN-62 também estavam igualmente fascinados e horrorizados com a carnificina.  O Tenente Frerking não conseguia deixar de sentir uma compaixão pelos seus inimigos.  "Pobres desgraçados" sussurrou ele perplexo.  O Cabo Franz Gockel mal podia acreditar no que seus olhos viam embora ele tivesse pouco tempo para refletir sobre o massacre que se descortinava à sua frente.  "Meu principal pensamento… era de que eu precisava lutar para sobreviver.  Eu queria voltar para casa, para os meus 6 irmãos e irmãs."  Ele sentiu uma certa satisfação em ser capaz de retaliar contra aqueles que tinham bombardeado sua cidade natal, mas por outro lado não guardava rancor contra aqueles que morriam na praia.  "Eles tinham um longo caminho para avançar pela areia e praticamente nenhum abrigo.  Quando a maré subia, você podia ver alguns se mexendo, se arrastando praia acima para sair da água."  Ele atirava rajadas curtas com medo de que sua metralhadora emperrasse; ele se concentrava primeiramente nas rampas das lanchas de desembarque e depois nos próprios soldados estivessem eles rastejando, andando ou correndo.  Diferentemente de Severloh, ele estava recebendo o fogo inimigo com uma certa intensidade que levantava poeria e sujeira para todos os lados, porém ele estava ileso.  Gockel estava plenamente ciente dos tiros provenientes de pontos localizados no entorno do WN-62.  A algumas jardas abaixo e para a esquerda, o Cabo Kuska atirava com o seu canhão anti-tanque de 50mm (possivelmente a arma que matou o Tenente Pearre).  À sua esquerda, os Cabos Faust e Kwiatkowsky atiravam constantes rajadas com suas MG-42.  Gockel presumiu que os outros soldados para além do seu campo de visão estavam fazendo o mesmo e ele estava certo.  A maioria deles orientava os seus tiros para a sua direita (leste) em direção às sofridas Companhias E e F cujas lanchas haviam desembarcado as seções perto ou em frente à Saída.

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