Tópico 3
Algumas centenas de jardas a oeste, o chão suavemente se inclina para baixo por 70 jardas (64 metros) a partir de um vale (Saída E-3 ou Eixo Colleville) em direção à praia agora completamente aberta. Lá os alemães construíram o formidável WN-62. Em função da sua localização ideal e da variedade de armamentos, WN-62 era um dos mais desafiadores de todos os pontos de resistência, não apenas em Omaha mas de toda a Normandia. A partir deste ponto, a guarnição alemã composta por uma mistura de 35 soldados da 716ª e da 352ª Divisões de Infantaria podia cobrir cada centímetro da praia com suas as armas. O WN-62 era um sistema fortificações de concreto em anéis concêntricos com uma circunferência de 500 jardas (457 metros) dentro de um cinturão de minas, arame farpado e valas anti-tanques. Este ponto de resistência era pontilhado com uma variedade alarmante de dispositivos letais: um trio de Tobruks com morteiros de 50mm (embora um dos Tobruks tivesse apenas um par de soldados ao invés de um morteiro); uma casamata com um canhão anti-tanque de 50mm camuflado; um bunker anti-aéreo com um par de metralhadoras; um bunker de observação perfeitamente localizado para artilharia (conhecido entre os alemães como B-Stelle) de onde o tenente Bernhard Frerking poderia requisitar, a partir do interior, o apoio preciso de 4 canhões de 105mm da 1ª Bateria do 352º Regimento de Artilharia; dois lança-chamas automáticos que dominavam o Eixo; outro canhão anti-tanque de 50mm voltado para o Eixo; três bunkers com metralhadoras localizados de forma a saturar a praia, mais um par de casamatas de concreto reforçadas ao extremo que abrigava canhões tchecos de 75mm, ambos posicionados para controlar a praia e se proteger contra a artilharia naval. Atrás do WN-62 um bunker subterrâneo de dois cômodos era utilizado como alojamento completo com beliches de madeira para as tropas. Cada cômodo poderia abrigar 8 homens que dormiam em finos colchões de palha. Trincheiras em ziguezague conectavam a maioria das posições embora elas não estivessem prontas até o dia 6 de junho. Os alemães botaram abaixo a maioria das edificações ao longo da praia de Omaha. Porém, a leste do WN-62, eles mantiveram uma antiga residência de forma a usarem como quartel-general e refeitório. Soldados tanto do WN-62 quanto do WN-61 faziam suas refeições neste local. Inicialmente um deles, que na vida civil tinha sido um confeiteiro, foi empregado como cozinheiro. Mas ele foi dispensado quando um dia o Cabo Valentine Lehrmann encontrou dois ratos dentro de uma panela de sopa. Porém, o cozinheiro substituto era tão ruim que, ao final das contas, o confeiteiro foi readmitido a pedido dos seus companheiros.
O WN-63 estava localizado mais para o interior, na periferia de Colleville e, na realidade, era um pouco mais do que um bunker subterrâneo de concreto que servia de comando. Dois centros de resistência, WN-64 e WN-65, cobriam o vale Ruquet, conhecido pelos americanos como Eixo Saint-Laurent ou Saída E-1. O WN-65 vigiava a parte leste do Eixo, mais ou menos onde hoje está localizado o cemitério americano. As defesas originalmente estavam voltadas para oeste, diretamente para o vale. Elas incluíam um par de Tobruks para morteiros, um canhão flak de 20mm, um canhão de fabricação soviética de 76.2mm situado junto a uma casamata inacabada, além das costumeiras trincheiras em ziguezague e outros abrigos. Do outro lado do Eixo estava o WN-65. Nele, as fortificações estavam voltadas para leste cobrindo também o vale e a praia. O ponto principal desta fortificação era uma casamata inteiramente nova que abrigava um canhão anti-tanque de 50mm pronto para destruir qualquer veículo que entrasse pelo vale. À frente da casamata, havia dois Tobruks de morteiro que poderiam cobrir toda a praia com suas granadas. Perto dali, um outro canhão de 50mm foi colocado dentro de um fosso, camuflado e o local reforçado com terra. Mais para o interior, outro canhão de 75mm, protegido apenas por troncos de madeira, defendia o Eixo. Felizmente para os americanos nem o WN-64 e o WN-65 estavam completos quando do Dia D embora ambos fossem obviamente pontos ainda de resistência relevante mesmo considerando o seu estado inacabado.
Assim, somando à praia repleta de obstáculos e minas, Eixos permeados com mais minas, fossos anti-tanques, pântanos, arame farpado além de um terreno difícil, a 1ª Divisão deveria encarar uma gama de armas inimigas: pelo menos 13 canhões localizados em abrigos bem preparados e bem posicionados, dois Tobruks com torres de tanques, dois canhões de 20mm, dois lança-chamas automáticos, uma dúzia ou mesmo uma dúzia e meia de morteiros (cada um deles podendo atirar entre 15 e 25 granadas por minuto) e mais de 40 metralhadoras, muitas das quais protegidas em abrigos de concreto além de vários soldados. O equivalente a quatro Companhias alemãs, número próximo a um batalhão desfalcado de aproximadamente 400 a 500 homens vindos de ambas as 716ª e 352ª divisões, defendiam o setor de desembarque da 1ª Divisão dos EUA. Isso sem mencionar as companhias reservas da 352ª estacionadas no interior e posicionadas para contra ataques. Mais ainda, a praia estava sob total mira da artilharia alemã localizada também no interior. Além das baterias de Nebelwerfer em Saint-Laurent, 24 canhões de 105mm estavam posicionados de modo a atirar contra os locais de desembarque da Big Red One. Felizmente os alemães não tinham uma efetiva cobertura naval nem aérea para defender a praia. Mesmo assim as defesas, quando combinadas com este terreno hostil, eram letais o suficiente para infligir um grande número de baixas e impedir o próprio desembarque especialmente se os alemães conseguissem reforçar o relativo pequeno número de soldados estacionados nas posições à praia. Era este o desfecho planejado por Rommel embora, no início de junho, ele ainda achasse que as defesas de Omaha não eram ainda sólidas o suficiente para realizar o seu sonho.
Figura 1 - Uma foto atual da Praia de Omaha mostrando da esquerda para a direita a faixa de areia, os cascalhos e, logo depois, as elevações de onde os alemães tinham uma posição privilegiada de todo o entorno
Figura 2 - Um mapa detalhado com o posicionamento dos pontos de resistência (WNs). Reparem que, na parte de cima de cada setor da praia, está teoricamente a disposição do desembarque de cada regimento. A 1ª Divisão (Big Red One) estava alocada para desembarcar entre o WN-60 e o WN-65.
Porém, na praia em si, está a disposição em que realmente cada regimento desembarcou mostrando o aglomerado que deu lugar à subsequente desorganização.
C O N T I N U A